Tecladista fundador do Soft Machine e uma das figuras mais icônicas do rock psicodélico inglês – e um dos responsáveis por transformá-lo em rock progressivo -, Michael Ratledge nos deixou nesta quarta-feira, depois de uma súbita doença, como seu amigo e ex-companheiro de banda John Etheridge escreveu em sua página no Facebook. “Mike era a espinha dorsal do Soft Machine mo início e um sujeito com uma mente absolutamente incisiva – compositor e tecladista maravilhosos. Um verdadeiro homem da renascença – tão talentoso, culto, charmoso – e uma companhia maravilhosa. Nos encontrávamos por semanas nos últimos quarenta anos – um deleite para mim.” Ratledge, conhecido pelos solos endiabrados que caracterizavam a primeira fase da banda, completava um quarteto que era formado apenas por David Allen, Robert Wyatt e Kevin Ayers, a nata da cena de Canterbury, que ainda pariu monstros sagrados como Wilde Flowers, Gong, Caravan, Khan e Camel.
Fundador do Soft Machine, Kevin Ayers era um dos grandes talentos da psicodelia britânica, ficando atrás apenas dos autores desta cena, Syd Barrett e os Beatles. Parte central da chamada cena de Canterbury, ele ganhou notoriedade depois que seu grupo Wilde Flowers se metamorfoseou no mítico Soft Machine (com Robert Wyatt na bateria e vocais, Mike Ratledge nos teclados, Daevid Allen na guitarra e Ayers no baixo), que teve seu primeiro disco produzido pelo mesmo Tony Wilson que produziu os melhores discos de Dylan e os dois primeiros do Velvet Underground. A banda ganhou certa popularidade em 1968, ao ser escolhida como o grupo de abertura da turnê de Jimi Hendrix pelos EUA naquele ano, mas sempre teve uma sonoridade bem pouco afeita ao pop. Psicodelia com “pê” maiúsculo, aquela que aos poucos se transformou no rock progressivo. Abaixo, a íntegra de um show dos caras, na época.
Ayers saiu da banda nos anos 70 e começou uma carreira solo ainda mais difícil para quem está acostumado à música pop, se distanciando cada vez mais do rock. O documentário abaixo, filmado em Paris em 1970 e exibido na TV, mostra o início de sua carreira solo e sua afeição com a França, país para onde se mudou nos anos 90, vivendo como recluso. Seu último disco foi lançado em 2007 e mostra o tamanho de sua influência a partir das participações especiais (com a presença de integrantes do Teenage Fanclub, Roxy Music, Gorky’s Zygotic Mynci, Ladybug Transistor e Neutral Milk Hotel). Morreu dormindo, na casa francesa em que morava há tempos e que tinha como seu lugar no mundo. Ave Ayers!
“Impossible knots and accidental adventures” é o nome da lista de músicas que o Thom Yorke postou em seu Spotify nesse sábado. Vamos ouvir?
Burial – “Stolen Dog”
Soft Machine – “Carol Ann”
Blo – “Chant To Mother Earth”
Brokenchord – “Lowe”
Massive Attack – “Paradise Circus”
Aloe Blacc – “Are You Ready”
Mono_Poly – “Vibrations (Alternate)”
Jacques Greene – “Another Girl”
Billie Holiday – “Guilty”