Skolba 2007

, por Alexandre Matias

Essa foi pautada mas não saiu, vai pros extras do DVD.

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Skol Beats, 4 e 5 de maio de 2007, São Paulo

Domingo, passando das seis da manhã, céu limpo, um fantástico sol nascente e o alto astral solto no ar. A dupla Simian Mobile Disco já havia deixado o público do palco principal do Skol Beats em ponto de bala quando o hit “Hustler” bateu. Aquela vibração boa e divertida de eventos de música eletrônica à luz do dia dissipava-se no ar, coroando o que deveria ser o início da parte final do evento, tradicionalmente um dos pontos altos da história do festival.

Mas há exatas vinte e quatro horas, o clima era bem diferente. O grupo brasileiro Life is a Loop parecia testar os limites da paciência na marra, fazendo o nome do grupo soar mais do que irônico tamanha repetição. O comentário já havia sido oficializado através da sala de imprensa, mas ninguém lembrou de avisar ao público os dois desfalques que aconteceram logo no primeiro dia do festival. Não bastasse o público pífio (cambistas vendiam os ingressos de 100 reais a cinco, depois de uma certa hora) e uma série de atropelos técnicos (o pior deles, nocateou o som de Afrika Bambaataa por duas vezes), duas atrações esperadas para encerrar o palco principal no primeiro dia simplesmente não vieram. Donnacha Costello e a dupla canadense MSTRKRFT, um dos principais nomes desta edição, não puderam vir por motivos distintos (problema de saúde e aeroporto congestionado, respectivamente), mas quem precisava saber? Tirou-se do ar o letreiro eletrônico que anunciava a próxima atração e ninguém foi avisado do cancelamento das duas atrações – o que obrigou o repetitivo Life is a Loop esticar-se até ninguém mais aguentar. Não bastasse isso, a surpresa ainda contou com ares macabros, quando o vocalista do Jota Quest, Rogério Flausino, subiu no palco para cantar “Pro Dia Nascer Feliz”, do Barão Vermelho. Pode ter soado como exorcismo para a produção do evento, mas para o público parecia uma enorme piada sem graça.

E assim foi o Skol Beats de 2007. Depois de criar uma expectativa gigantesca na edição anterior (quando enchia o peito para bradar que era o maior festival de música eletrônica), o SB foi surpreendido pela má repercussão do caos insuportável que foi o show do Prodigy para boa parte do público. Localizado na cabeceira da passarela do sambódromo paulistano, o palco da edição de 2006 recebeu LCD Soundsystem e os Plump DJs para recepções quentes mas civilizadas. Mas quando a banda de Liam Howlett começou sua apresentação, a passarela funcionou como um imenso funil de concreto, que espremeu a maior parte das pessoas que queriam assistir ao show. A confusão imediatamente fez com que o festival se prontificasse a dividir-se em dois dias, e a ausência de nomes grandes inéditos no país deu a tônica da edição deste ano. Outra diferença foi o inflacionamento do ingresso, que, no ano anterior, era de R$ 70 para um dia e este ano era de R$ 200 com o direito de assistir aos dois, gerando comentários sobre uma possível elitização à força do evento. A prefeitura de São Paulo ainda abriu concorrência direta contra o festival, quando marcou sua Virada Cultural (programação cultural durante 24 horas seguidas) para o mesmo fim de semana do Skolba.

A Virada não foi rival para o festival, já que aconteceu durante a segunda noite do Skol Beats – a que teve maior público. Da sexta para o sábado, a ausência de pessoas desanimava e o gigantesco número de funcionários parados de braços cruzados era o retrato da apatia das apresentações. O momento mais lastimável talvez tenha sido o pau no som durante o show de Bambaataa, obrigando o papa do hip hop a assistir técnicos arrumando equipamento enquanto seus MCs tentavam, em vão, animar o público. E o que deveria ser uma festa do groove parecia um comício político.

No dia seguinte, o público aumentou, mas fora um Simian Mobile Disco aqui e um Laurent Garnier acolá, a festa não decolou. E o retrato do que aconteceu no evento foi a apresentação do Crystal Method, que limitou-se a apertar o pause e o play e quase não encostou no equipamento, desfilando versões integrais de músicas do Prodigy e até um Rage Against the Machine – que, mesmo peixe fora d’água, funcionou.

Com os dez anos do festival se avizinhando, cabe à produção repensar urgentemente os conceitos do que é o Skol Beats e para que serve o evento. Se o sucesso da edição 2006 levou à reestruturação do festival como acontecimento, o fracasso da edição deste ano os obriga a repensar artisticamente um nome que tem importância histórica, comercial e popular – mas que corre o risco de virar um Coca-Cola Vibezone ou um Festival de Verão de Salvador da vida. E sumir.