Radiohead domina corações e mentes e incita nova era de shows no Brasil
Tanto no Rio quanto em São Paulo, foi em “Idioteque” que bateu. Por mais que já tivessem hipnotizado o público em “There There”, o cortejado de perto com “Karma Police” e “All I Need” e lhe arrebatado em “The National Anthem” e “Jigsaw Falling Into Place”, o Radiohead tornava-se real no terço final da primeira parte dos shows, quando, pela primeira vez em ambos shows, soltava nossos corações ou mentes, deixando-os finalmente livres para dançar. Os tubos acima do palco eram iluminados com pouca luz, com tonalidades entre o roxo e o azul escuro, o suficiente para dar o ar de pista de dança que a música de Kid A exigia. Os blips do início drenavam toda a ênfase de show de rock que vinha até ali – saía o piano, saía a dinâmica entre as guitarras, violão e teclados que dava a tônica da apresentação e a força do som era reduzida ao diálogo entre a ruídos eletrônicos disparados pelo guitarrista Jonny Greenwood e a bateria metronômica de Phil Selway. Ao lado do baterista, o baixista Colin Greenwood iniciava a seqüência de acordes gelados no teclado que identificavam a canção para as multidões, que saudaram o reconhecimento com o mesmo urro com que havia recebido os hits anteriores. Mas a ausência do miolo instrumental clássico da banda, reduzindo as canções a beats, ritmo e frios acordes de teclados (traçando aí o paralelo genético com o Kraftwerk que abriu os shows) enfatizou a presença solene de um público embasbacado. Ed O’Brien, ainda com seu instrumento em punho, preferiu grunhidos elétricos do que os solos e acordes clássicos que caracterizavam sua participação, enquanto Thom Yorke entregava seu vocal ao delírio robô dançado pela platéia.
“Isso está realmente acontecendo”, soltava-se Thom, baixinho, braços movendo-se para o lado entre saltos e olhos fechados, dança reprisada pelo público, balançando-se sem acreditar. Estava realmente acontecendo – o Radiohead estava finalmente fazendo um show no Brasil, doze anos depois de OK Computer, dois anos depois de In Rainbows, reprisando o disco mais importante da década na íntegra, enquanto repassava as principais faixas de um dos discos mais importantes da década anterior e costurava o resto do show com faixas tiradas dos três álbuns lançados entre estes e dois hits sacados de seus dois primeiros discos. Mas independentemente das músicas que foram escolhidas, eis um paradigma vencido. A vinda do Radiohead talvez tenha encerrada uma adolescência do Brasil em relação a shows, sejam internacionais ou brasileiros, iniciada com o primeiro Rock in Rio – mas depois eu falo mais disso.
O Radiohead é uma banda cujo carisma e apelo popular não está em gestos ou na comunicação com o público – e sim através das canções e na forma como estas foram dispostas nos shows. Sua apresentação não conta com um vocalista populista e sorridente, que veste a camisa da seleção brasileira e tenta balbuciar agrados em português. Seus dois heróis da guitarra são pouco usuais – embora Ed O’Brien esteja mais próximo do que se espera de um guitarrista clássico, ele sabe que seu papel é coadjuvante (é o principal cavaleiro de Sir Yorke, seu Lancelot) e secundário, enquanto o verdadeiro guitar hero da banda, Jonny, seja um magrelo tão chegado aos beats eletrônicos e efeitos de dub do que aos solos de guitarra. A cozinha formada por Colin e Phil é avessa aos holofotes e prefere olhar-se nos olhos em vez de encarar o resto da banda. Thom Yorke, por sua vez, seduz o público apenas com sua voz.
E que voz. Mais do que o palco aceso e colorido, a voz de Thom Yorke é o principal elemento no show da banda. Não é ela quem determina o tom das canções – este quase sempre é definido pelo conjunto musical, quase sempre em discussões entre os instrumentos de Colin, Phil e Jonny – mas é o vocal quem o dissemina sobre o público. O timbre de Yorke, como os diferentes acordos instrumentais propostos pela banda, não pertence a um único território. Ele pode balbuciar como um bêbado e soar como um anjo na mesma canção (“Exit Music (for a Film)”, por exemplo), deixar sua voz atingir picos melódicos virtuosos (“Reckoner” ou o final de “All I Need”), soltar grunhidos ininteligíveis (no meio de músicas mais pesadas, como “National Anthem” ou “Bodysnatchers”) ou escárnios cínicos – em especial em “You and Whose Army?”, talvez seu momento de interação mais direta com o público, através de uma webcam posicionada em frente ao piano, deixando-o à vontade para brincar com a imagem de seus olhos tortos. Quase sem falar com o público no show do Rio, só falou com os paulistas alguns “obrigado” ditos quase sem sotaque. A única exceção veio antes de “You and…”, quando anunciou a música “para os ianques” nos dois shows e antes de entrar na segunda vez em que “Creep” foi tocada no Brasil, em São Paulo, quando perguntou se o público sabia qual era a próxima. No Rio, o diálogo ficou por conta de Ed, em português mesmo, que apresentou a banda em “Airbag” (“nós somos Radiohead”) e mandou um “bom pra caralho!” que resumiu o espírito do show depois de “Reckoner”, fechando o segundo bis na Apoteose.
Guitar hero compenetrado, Ed é instrumentista de rock clássico, herdeiro de uma genealogia de seu instrumento que inclui Eric Clapton, Jeff Beck e David Gilmour, que sabe a hora em que deve ficar no centro da canção e quando é hora de deixar outro músico brilhar. Já Jonny é o típico guitarrista pós-punk, porém destemido frente à grandiosidade – ecoa tanto a guitarra de The Edge quanto à do Public Image Ltd, do Pere Ubu e dos Talking Heads. Sabe que a eletricidade pode comunicar com ou sem a guitarra, por isso dedica-se tanto às seis cordas quanto à manipulação de ruídos em sintetizadores analógicos e pedais de efeito, jogando transmissões de rádios brasileiras para dentro de “National Anthem” e, em São Paulo, tratando-as como dub em “Climbing Up the Walls”. Completos à perfeição, ambos guitarristas ladeavam Thom Yorke como se respondessem pelas duas personalidades do cantor – às vezes mais o doutor Jeckyll (Ed), outras senhor Hyde (Jonny) – ao mesmo tempo em que agem de forma semelhante. Basta ver como se comportam em momentos distintos, longe de seus instrumentos – quando assumem a percussão em “There There” ou quando dedicam-se apenas a manipular efeitos sintéticos e a gravação com a voz de Thom em “Everything In Its Right Place”.
Eis a estrutura básica da banda – Colin e Phil agem como um mesmo instrumento, uma cozinha clássica de banda de rock inglês que evoca tanto o Led Zeppelin quanto os Smiths ou o Clash. A dupla de guitarristas conversa com o piano, a guitarra ou o violão de Thom Yorke em progressões de acordes remanescentes de clássicos ingleses dos anos 70 como Abbey Road, Dark Side of the Moon, Arthur, Phisical Grafitti, A Night at the Opera e The Lamb Lies Down on Broadway. As canções ganham aspecto épico e tratamento rebuscado que fazem muitos menosprezarem a banda como intelectualizada demais – como foram menosprezados seus antecessores. Mas o Radiohead é uma banda que, por mais que componha álbuns conceituais e acene para a música eletrônica de vanguarda, sobrevive em suas canções, na forma como eles cristalizam determinadas emoções em seqüências de acordes, refrões memoráveis, letras que traduzem sentimentos contemporâneos e a reinvenção da dinâmica instrumental do rock entre os anos 60 e 70.
E ao vivo estas faixas mostram sua força – principalmente as de seus três grandes discos, OK Computer, Kid A e In Rainbows. O repertório dos dois shows foi muito parecido e seguiu a média da turnê do ano passado. Tocaram tanto o In Rainbows na íntegra quanto as mesmas faixas de Kid A (“Idioteque”, “National Anthem”, “Everything In Its Right Place”) e do Hail to the Thief (“There There” e “The Gloaming”), além de uma única música em comum do Amnesiac (“You and Whose Army?”). Do OK Computer, só “Paranoid Android” e “Karma Police” foi tocada nos dois shows – “Airbag” e “No Surprises” só foram ouvidas no Rio, “Exit Music”, “Lucky” e “Climbing Up the Walls” apenas em São Paulo. As duas apresentações ainda contaram com faixas do segundo disco da banda (“Just” e “Street Spirit” no Rio e “Fake Plastic Trees” em São Paulo) e com o encerramento por conta de “Creep”, encerrando por vez a discussão a respeito da canção mais popular do Radiohead no Brasil. Outras sutis diferenças puderam ser sentidas – enquanto “How to Disappear Completely” só tocou no Rio, “Pyramid Song” e “Talk Show Host” só foram ouvidas em São Paulo. Mas se você acompanha o Radiohead como um todo e não é fixado em apenas um álbum, assistir a apenas um show já deu um belo panorama da carreira do grupo. Várias faixas ficaram de fora (“Wolf at the Door”, “Knives Out”, “Let Down”, “2 + 2 = 5”, “Planet Telex”, “Morning Bell”, “High and Dry”, “Electioneering”), mas quem assistiu a apenas um dos dois shows teve um belo panorama da força da banda ao vivo e de como ela coloca suas canções em primeiro plano. O público respondeu à altura: no Rio, a massa continuou “Karma Police” sozinha, cantando “for a minute there/ I lost myself/ I lost myself” mesmo depois que a banda deixou de tocar, enquanto em São Paulo o público continuou “Paranoid Android” sem a banda com seus “rain down” sendo seguidos por Thom Yorke – que quase ameaçou tocar “True Love Awaits”, mas foi levado pela força das próprias canções.
Até o cenário favorecia às músicas. Ao contrário de outros medalhões que enchem suas apresentações com efeitos especiais, fantasias, dançarinos, criaturas infláveis ou estruturas gigantescas, o Radiohead preenche o próprio palco com um efeito simples e genial. A série de tubos dispostos na vertical sobre a banda funciona como um telão projetado sobre um candelabro, uma luz refletida em código de barras, que amplificava a iluminação como as caixas aumentavam a potência sonora da banda. A cada faixa, tons fortes tomavam conta da ribalta, vinculando cores (In Rainbows, afinal de contas) a andamentos musicais – laranja, vermelho e roxo brigam nos momentos mais intensos, o azul cai sobre as baladas mais sentimentais, o amarelo anuncia climas áridos e o verde vinha nas músicas mais rápidas.
Alternando as cores com claros e escuros e as próprias imagens em telões colocados atrás e nas laterais do palco (equipamento que falhou durante as cinco primeiras músicas do show de São Paulo), a iluminação da turnê In Rainbows servia apenas para destacar as qualidades musicais da banda, usando estrobos e luzes negras para enfatizar mudanças de andamento, solos instrumentais e efeitos eletrônicos. Triste para quem não foi ao show: as gravações em vídeo quase nunca fazem jus aos tons de cores usados ao vivo.
No centro de tudo, dominando milhares de corações e mentes em pouco mais de duas horas, o Radiohead é dessas bandas que funcionam melhor quando falam às multidões. Descendentes diretos do U2 dos anos 80, eles ecoam simultaneamente a fase mais católica do grupo irlandês quanto seu período europeu do início dos anos 90 – soando quase sempre dúbio e ambíguo, entre o desespero e o conforto, o doce e o amargo, e assim conectando-se com outra importante banda em sua formação, os Smiths. O quinteto consegue fazer os dois grupos soarem próximos em canções que também remetem às carreiras solo dos Beatles, ao momento em que o Who começou a soar opulento e ao Genesis antes da saída de Peter Gabriel. O som da banda então é revestido por duas camadas diferentes de contemporaneidade ao fim do século 20 – a redescoberta do refrão proporcionada pela conjunção grunge/britpop no início dos anos 90 e à lenta diluição das diferentes facetas da música eletrônica (desde a mais séria ao seu lado mais fútil) com a música pop. Difícil imaginar que o cenário pop atual florescesse e abrisse espaço para bandas como LCD Soundsystem, TV on the Radio, Killers, The National, Bloc Party, Sigur Rós, Interpol, Modest Mouse, Árcade Fire e Franz Ferdinand não fosse a importância e o pioneirismo do Radiohead nos anos 90.
E a vinda da banda ao Brasil no início de 2009 fechou não apenas o ciclo aberto com o certa vez mítico anúncio dos shows da banda no país como talvez uma adolescência longa demais no que diz respeito a apresentações internacionais por aqui. Desde que foi cogitado pela primeira vez, logo após o lançamento de Kid A, em outubro do ano 2000, o show do Radiohead no Brasil era algo que deixava de ser um mero boato e ganhava contornos de lenda. Nesse meio tempo, vieram para o Brasil artistas que pareciam ainda mais inatingíveis que o grupo liderado por Thom Yorke, além de quase todas as bandas e novidades internacionais que apareceram neste início de século.
Se existe uma coisa de que não podemos reclamar hoje em dia, é de shows internacionais no Brasil. Quando éramos a periferia da periferia do mundo – quando “Brasil” era quase sinônimo de “Acapulco” ou “Bahamas” –, grandes nomes do showbusiness mundial só pisavam aqui de férias. Entre as visitas de Brigitte Bardot a Búzios e dos Rolling Stones ao interior de São Paulo nos anos 60, o Brasil recebeu visitas esporádicas de grandes artistas que quase nunca vinham fazer shows, apenas espairecer ao sol tropical de nossas bucólicas e desertas praias do passado. Quando vinham fazer shows, artistas como Kiss, Alice Cooper, Police e Queen causaram comoção no inconsciente coletivo na década de 70 e início dos anos 80 – pode parecer estranho, mas houve um tempo em que toda a cultura relacionada ao rock era vista como algo alienígena no Brasil. Daí a importância da geração dos anos 80 – consagrada nacionalmente em um evento (o primeiro Rock in Rio) que trazia, numa só vinda, mais artistas estrangeiros para o país em uma semana do que todos os grandes shows internacionais desde o início daquela década (Sinatra no Maracanã incluso). O festival inaugurou a era que parece encerrar agora, em que grandes artistas são capazes de arrastar multidões para estádios e reviver épocas passadas em palcos do terceiro mundo.
Se hoje rimos da décima oitava vez que o Deep Purple se apresenta em uma cidade do interior de Minas ou quando pela enésima turnê em que três ou quatro bandas australianas passeiam pelo litoral do sul brasileiro, um dia estes mesmos eventos já foram recebidos como acontecimentos históricos. De 1985 para cá, assistimos a shows de todos os principais artistas da história da música moderna –os titãs do pop, os fundadores do jazz, a nata do rock alternativo, os maiores nomes da música eletrônica, os pais do rock’n’roll, os criadores da black music, grandes bandas de heavy metal, hardcore, reggae e disco music. Esta história da música moderna foi revista enquanto vários artistas novatos puderam visitar o Brasil em seus primeiros passos e quando o circuito de shows internacional passou a ser pulverizado. Tudo bem, são menos que dez empresas que ainda trazem os grandes espetáculos internacionais para cá (juntando aos nossos shows favoritos apresentações de espetáculos da Broadway ou do Cirque de Soleil). Mas hoje já há uma segunda divisão considerável de empresários e agentes de shows que buscam shows que não necessariamente pertençam ao ambiente de negócios que se tornaram as vindas de artistas estrangeiros para cá. Assim, ano passado pudemos assistir tanto aos shows de Bob Dylan, Justice, Madonna e Kanye West quanto aos de Will Oldham, Vaselines, Young Gods, Black Lips e Yelle, que passaram pelo Brasil em apresentações bem menores – e em cidades que não são apenas o Rio de Janeiro e São Paulo.
Resta saber o que vai acontecer a partir de agora. Afinal, são 25 anos que nos colocaram no circuito de shows do mundo, que viram nossas estruturas para este tipo de evento crescer (embora ainda estejamos bem distantes do ideal) e artistas brasileiros entrarem neste mesmo mercado de shows – seja o Sepultura, o DJ Marlboro ou o Cansei de Ser Sexy. A vinda do Radiohead ao Brasil parece encerrar uma era de ineditismo de grandes shows por aqui e vem junto com o fim do Tim Festival, que viu em sua edição passada a última oportunidade de se cobrar separadamente ingressos para artistas que vêm num mesmo evento (paradigma redefinido pelo festival Planeta Terra e seguido à risca pelo Just a Fest). O próprio nome “Just a Fest” entrega a vala comum que este tipo de evento acabou se tornando: traga um grande artista, empurre mais outros dois, um brasileiro e eis um festival.
É hora de repensar esse formato. Ao mesmo tempo em que os grandes nomes da indústria do disco vão se reduzindo a um mero punhado de veteranos, o conceito de festival parece fadado a entupir palcos com dezenas de bandas que contam com duas ou três músicas legais e que são mal vistas por multidões desinteressadas. Talvez fosse hora de investir em um novo padrão, em novas experiências de contato com o público. Por que não há um festival grande destes só com artistas nacionais? Cadê o South by Southwest ou o CMJ brasileiro? Por que a Virada Cultural de São Paulo não pode se tornar tão importante quanto o festival de Roskilde, na Dinamarca? Onde estão nossos shows ao ar livre, as discotecagens que acontecem de dia, apresentações na rua, em teatros, em escolas?
Quando acabarem todos os grandes shows, quais você vai ver?
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Mais Radiohead?
– A César o que é de César: o show foi do caralho, já o Just a Fest foi um grande foda-se pro público
– In Rainbows, o disco da década
O Andrews, que já tinha feito um clipe de “Paranoid Android” ao vivo em São Paulo usando apenas vídeos feitos com as câmeras dos fãs, resolveu dar continuidade ao projeto de registrar o show do Radiohead no Brasil e transformou o esforço no blog Projeto Rain Down, em que, além de disponibilizar os vídeos, ainda conta a rotina de sua jornada. Vale acompanhar.
Olha o setlist do show dos caras ontem em Buenos Aires:
“15 Step”
“Airbag”
“There There”
“All I Need”
“Kid A”
“Karma Police”
“Nude”
“Weird Fishes/Arpeggi”
“The National Anthem”
“The Gloaming”
“No Surprises”
“Pyramid Song”
“Street Spirit (Fade Out)”
“Jigsaw Falling Into Place”
“Idioteque”
“Bodysnatchers”
“How to Disappear Completely”
Primeiro bis
“Videotape”
“Paranoid Android”
“House Of Cards”
“Reckoner”
Segundo bis
“Planet Telex”
“Go Slowly”
“2+2 = 5”
“Everything In Its Right Place”
Terceiro Bis
“Creep”
E aos poucos tou subindo os vídeos do show em São Paulo, se liga:
Resenha do show, só amanhã. Fiquem aí em cima com o vídeo que o usuário andrewsfg editou usando diferentes trechos da gravação de “Paranoid Android” em São Paulo. Acho tão legal quando neguinho canta as partes instrumentais da música, hahaahahah. E segundo o sujeito, a idéia é fazer um DVD. Vamos ver – mas a idéia é fodaça.
O torrent com o show do Kraftwerk e do Radiohead pode ser baixado aqui – só o show do Radiohead, no entanto, tá aqui. Mas ambos arquivos contém apenas o show que foi transmitido pelo Multishow – ou seja, sem os três bis (ou você não sabia que o Multishow cortou a transmissão ao vivo para exibir o Big Brother)?
O Radiohead foi do caralho, ao contrário do Just a Fest – que foi um grande foda-se pro público
Vamos separar as coisas: os shows que o Radiohead fez nesse fim de semana talvez tenham sido os melhores shows internacionais que o Brasil recebeu neste século. Catártico, profissa, emotivo e cabeça ao mesmo tempo, os shows derrubaram queixos, expectativas negativas e lágrimas, provocando comoção em até quem não acha a banda grande coisa. Mas depois eu falo disso.
Pra começar, quero falar do evento, Just a Fest.
Quando o show foi anunciado, o evento da Planmusic parecia bom demais pra ser verdade. Além da escalação que a princípio incluía “apenas” Radiohead e Kraftwerk, o festival ainda convenceu o Los Hermanos a deixar as férias de lado e ganhar uma nota preta pra fazer dois shows – alguém aí cogita o valor?. Melhor: ao comprar ingressos pela internet, o público ficou feliz não só com a facilidade da compra (ainda traumatizado com os incidentes nos shows do João Gilberto e da Madonna) como também com o o preço pago (não que pagar 200 reais para assistir a um show seja um preço justo, mas 2008 viu a cotação de ingressos entrar na casa dos quatro dígitos – e ainda perguntam de onde vem a tal “crise”).
Mas um festival não é só escolha de bandas e facilidade de compra na hora do ingresso.
E, quando foram abertas as portas para o grande evento, o Just a Fest revelou sua cara: era apenas mais um festival tosco e qualquer-nota, piores do que qualquer um desses festivais de rádio que incluem Ivete Sangalo, Marcelo D2 e Capital Inicial na escalação. Tratando o público feito merda – afinal, o ingresso já estava pago – a organização do Just a Fest revelou-se amadora e pífia, sendo sequer digna deste rótulo. “Desorganização” ainda era eufemismo.
No Rio, além do som baixo (só dava pra ouvir direito caso você ficasse de frente das caixas de som), houve gente reclamando que os banheiros não estavam abertos até a metade do show do Radiohead e a única comida disponível era um cachorro quente bem fuleiro. Na entrada, ninguém checava se os compradores tinham carteirinha de estudante. Na saída, o público disputava táxis na marra (que, por conveniência própria, só pegavam passageiros que topassem pagar preço fechado) sem saber que o metrô estava funcionando ali perto. Não havia nem um ponto de táxi indicado pela produção ou placas para avisar onde era o metrô – e que ele ainda estava funcionando.
Mas se no Rio foi complicado, em São Paulo foi caótico. Primeiro porque o público era muito maior. O som estava bem melhor, fato, mas o telão da banda deu pau nas cinco primeiras músicas (aquela tela verde que apareceu em uma determinada hora não era opção estética). Sim, havia mais do que um mero cachorro quente tosco para comer – mas a “praça de alimentação” (põe aspas nisso) fechou antes do final do show. Quem deixou pra comer algo depois que o show acabou, se deu mal.
Fora o ponto crítico de todo o evento aqui: o local. Além de ser no raio que o parta, a Chácara do Jóquei ainda tem um dos piores acessos quando se vem de São Paulo (isso, vindo de São Paulo – afinal, quase saímos do município pra chegar lá). Foi lá que aconteceu o único Claro que é Rock, que quase foi um desastre completo devido às chuvas – que transformou boa parte do lugar numa enorme poça de lama. O Just a Fest contou com a sorte da chuva só ameaçar durante o show do Los Hermanos. Se chovesse, o lugar viraria um lodaçal impraticãvel – e mesmo com a chuvinha, a lama já espalhou pelo lugar.
Eis que o público tem de sair do show e é socado, feito gado indo pro abatedouro, num único corredor até o final. “Socado” também é eufemismo – teve gente passando mal no meio do espreme-espreme da saída. Detalhe: as quatro saídas de emergência do local, que poderiam ter sido usadas para diluir a vazão da massa, seguiram fechadas. Depois de quase meia hora para pisar fora da Chácara do Jóquei, o público ainda sofreu com mais amadorismo – como no Rio, não havia área para táxis (o mínimo em qualquer grande festival em São Paulo) e o estacionamento, dito “vallet” (mais aspas), que custava 35 reais, ficou entregue à lei do mais forte – saía quem conseguia (ou seja, todos ao mesmo tempo). Além disso, os ônibus que saíam de lá demoraram a voltar para a civilização devido ao volume de trânsito. Quem ligava para chamar táxi não tinha retorno, pois os táxis não chegavam ali por causa do trânsito. Resultado: não fui o único que chegou em casa quase 4 da manhã (sendo que o show terminou meia-noite e meia).
Vai rolar Just a Fest ano que vem? Suposição: a organização pegou a banda que mais atraía mídia e bancou o evento para, num segundo momento, chegar com uma batelada de matérias e muita repercussão para possíveis patrocinadores e vender o festival para uma marca. “Olha só a exposição que seu nome pode ter em 2010”, diriam ao lado de uma pilha de matérias sobre o show do Radiohead.
Não misture alhos com bugalhos: o Radiohead foi do caralho, mas o Just a Fest foi mais do que uma bosta – foi um foda-se generalizado pro público. Se aos poucos estamos conseguindo ter níveis de “primeiro mundo” no Brasil, ainda temos uma classe de entretenimento que trabalha no esquema pão e circo, sendo que o pão é velho e murcho e o circo está caindo aos pedaços.
Você também passou por algum aperto no Rio ou em São Paulo? Contaê – amanhã eu falo do show em si (e sigo subindo os videozinhos lá na TV Trabalho Sujo).
Updeite-se: Já foram buzinar pra banda, conhecida pelo compromisso com os fãs e pelo repúdio a eventos toscos. Eis a íntegra do post na W.A.S.T.E. Central, a rede social da banda (só dá pra acessar o link quem for cadastrado no site):
The show was simply amazing. This is an undisputed fact.
But some problems arose along the evening. Very concerning ones, most particularly in regards to the environment and carbon footprint, one of the main concerns of the band in the planning of this tour.
The access to the festival site was simply terrible, causing unbelievable traffic jams when entering and exiting the official festival parking site. Even though I was driving a car with four passengers, we had to endure over an hour of traffic.
To exit the parking area was another unbearable ordeal. Almost two hours of waiting in parked cars. Some people fell asleep inside them. Others were trying to gather signatures for a combined lawsuit against the festival organization.
Please post pictures here.
The band must know about this.
Mas, além da banda, outras pessoas deviam saber disso também. Afinal, como já lembraram nos comentários, Just a Fest é um nome fantasia. Se souberem de alguma iniciativa (online ou offline) sobre o assunto, dêem um toque aí. Se postarem algo em seu blog/fotolog/myspace/flickr/youtube, etc., me manda o link na área de comentários.
Alguém anotou a placa do melhor show no Brasil em ANOS? Acho que desde o início da década (Neil Young, Pixies, Brian Wilson, entre outros que eu tou esquecendo) não se assistiu algo tão FODA quanto esse show de ontem. Ainda tou passado – e vou subindo os vídeos aos poucos lá na TV Trabalho Sujo…
E olha o setlist…
“15 step”
“Airbag”
“There There”
“All I Need”
“Karma Police”
“Nude”
“Weird Fishes/Arpeggi”
“The National Anthem”
“The Gloaming”
“Faust Arp”
“No Surprises”
“Jigsaw Falling Into Place”
“Idioteque”
“I Might Be Wrong”
“Street Spirit (Fade Out)”
“Bodysnatchers”
“How To Disappear Completely”
Primeiro bis
“Videotape”
“Paranoid Android”
“House of Cards”
“Just”
“Everything In It’s Right Place”
Segundo bis
“You And Whose Army?”
“Reckoner”
“Creep”
Já já embarco pro Rio. Ouvi falar que tá fazendo sol…
Duas das melhores bandas de rock instrumental do Brasil se encontraram mês passado para um show conjunto aqui em São Paulo – olha o estrago. A dica é do Nogueira.
TENSO.
Que tal esperar ouvindo o show deles no México, que rolou domingo passado? Vocês lembram do repertório…
“15 Step”
“Airbag”
“There, There”
“All I Need”
“Nude”
“Weird Fishes”
“The Gloaming”
“The National Anthem”
“Faust Arp”
“No Surprises”
“Jigsaw Falling Into Place”
“Lucky”
“Reckoner”
“Optimistic”
“Idioteque”
“Fake Plastic Trees”
“Bodysnatchers”
Primeiro bis
“Videotape”
“Paranoid Android”
“House of Cards”
“My Iron Lung”
“Street Spirit”
Segundo bis
“Pyramid Song”
“Just”
“Everything In Its Right Place”
E quanto tempo leva pro show de segunda aparecer online?