Show

No tal bar Secreto. “Só” 200 pila o ingresso. Vai encarar?


Little Joy – “Eat at Home”


Zombie Zombie – “Driving”


Fleet Foxes – “Mykonos”


Beck – “Bad Cartridge”


Fujiya & Miyagi – “Sore Thumb”

Sempre que se fala na carreira solo de Arnaldo Baptista, pula-se do visceral Lóki para o Singin’ Alone, o disco que inaugurou a Baratos Afins – é uma lacuna de mais de meia década que poucos comentam o que o velho mutante estava fazendo. Isso porque ninguém mais se interessou pela Patrulha do Espaço, com quem Arnaldo tocou no final dos anos 70 e gravou dois discos, o primeiro, de 77, coincidentemente batizado de O Elo Perdido e o ao vivo Faremos Uma Noitada Excelente, de 78. No documentário Lóki, o próprio Arnaldo, em imagens da época, comenta que a diferença entre os Mutantes e seu trabalho com a Patrulha é a pegada mais funky, groovy – o que, traduzindo, quer dizer que ele estava farto do rock progressivo e queria voltar à pegada crua e suja do rock dos anos 70, de bandas como Rolling Stones, Kiss e, por que não?, Tutti-Frutti.

Nos dois discos, o repertório é basicamente o mesmo que voltaria a aparecer em Singin’ Alone, com a diferença crucial que as letras, aqui, são em português, enquanto no disco de 82, passaram pro inglês. Além disso, nos discos com a Patrulha a base é bem mais pesada que a do disco solo (embora o arranjo de algumas músicas sejam idênticos nas duas épocas) e que Arnaldo, nos anos 80, já não tinha a voz que tinha antes e passa a cantar com o timbre mais grave, dando a seu segundo disco solo um ar de introspecção inexistente nas gravações com a Patrulha do Espaço.

O primeiro disco, em estúdio, começa com uma versão power de “Sunshine”, que em Singing Alone se tornaria a balada “Hoje de Manhã Eu Acordei” e é seguido por versões bem parecidas para “Emergindo da Ciência” (que viraria “Coming Through the Waves of Science”), “Corta Jaca”, “Raio de Sol” (“Sitting on the Road Side”), “Fique Aqui Comigo” (“O Sol”) e “Trem” (“Train”), além de faixas que definem o termo rock setentão, como a sensacional “Sexy Sua” e o power blues “Um Pouco Assustador”. O disco ao vivo ainda conta com uma sessão de Arnaldo ao piano (“Arnaldo Solista”), a triste “I Fell in Love One Day” e “Cowboy” (as duas últimas apareceram em Singin’ Alone, sendo que a versão da segunda, quase instrumental no disco de Arnaldo, tem direito até a solo – ruim – de bateria no disco da Patrulha). O blog Flyinghard Land descolou os dois discos pra baixar: Elo Perdido está aqui e Faremos Uma Noitada Excelente aqui.

Bruno foi conferir a passagem do LJ pelo Circo Voador e fragou – nos 0:40 do vídeo acima – ninguém menos que Marcelo Camelo empolgado e cantando as músicas no show de seu companheiro de banda – que legal. E pouco depois do fim do show, Fabrizio Moretti acompanhou o público cantar “Último Romance”, do Los Hermanos, antes de ser erguido pelo próprio Amarante, que agradeceu felizaço.

Já no Recife, último show da atual turnê brasileira da bandinha, os caras não deixaram barato – e todo mundo subiu no palco pra cantar “Brand New Start”.

Que astral.

“Crying Lightning”, que eles mostraram no Big Day Out, mês passado na Austrália, tem um quê de Last Shadow Puppets, mas não foi ainda que Alex Turner achou o equilíbrio entre seu método de composição nas duas bandas – ele erra mais que acerta nos Monkeys e quase sempre manda bem nos Puppets. Essa música nova é um bom meio termo, mas precisa maturar – não sei se o método de composição ou a própria música em si. Dica do Tiago, valeu!

Mutantes, 1972

Imagina o que era um show dos Mutantes em 1972? Peguei desse blog o seguinte relato:

O verão de 1972 em Salvador foi um dos mais efervescentes que se tem noticia. Em plena ditadura militar as coisas aconteciam num universo paralelo e a malucada sabia onde encontrar diversão e alternativas para o ambiente cinzento do Brasil da era Garrastazu Médici.

Andando pelas ruas do centro da cidade, cartazes colados nas paredes anunciavam um show dos Mutantes para o dia 28 de fevereiro daquele ano na Concha Acústica do Teatro Castro Alves e eles chamavam a atenção não apenas pelo colorido das letras, mas pela atração anunciada e pelo aviso que dizia: “1000 watts de puro som”. O burburinho daquela apresentação correu rápido naquele final do verão do underground.

Nesta altura dos acontecimentos, Rita Lee já tinha caído fora do grupo depois da gravação do LP Mutantes & Seus Cometas no País dos Baurets e de se separar de Arnaldo Baptista. Sem ela, o grupo mantinha a sua formação clássica com o próprio Arnaldo nos teclados e no vocal, seu irmão Sérgio Dias na guitarra e vocais, Liminha no baixo e Dinho na bateria..

O show estava marcado para as 21 horas e as arquibancadas da Concha já estavam completamente lotadas com mais de uma hora para o seu início. As encostas da Concha ali pelos fundos das Sacramentinas estavam repletas de invasores que pularam o muro do colégio e para lá se dirigiram.

Uma incrível ansiedade pairava no ar. As luzes da platéia se apagam, as luzes do palco se acendem e quando os Mutantes surgem o público vibra e fica de pé. Arnaldo com uma camisa de listras horizontais pretas e brancas se dirige ao teclado e fala ao microfone um sonoro “boa noite”. Dinho inicia uma marcação inacreditável, os vocais puxam “uláriii…uláriiii”… e a banda vai atrás. “Top top”. Pronto, o rock´n´roll baixou de com força na terra da magia e ninguém mais ficou parado. Os hits se alternavam e aqueles anunciados 1000 watts de puro som se confirmavam a cada segundo. Tudo perfeitamente equalizado – instrumental e vozes, e o carisma da banda impressionava todos os presentes.

O repertório selecionado a dedo não deixava a peteca cair. “Balada do Louco”, “Minha Menina”, “2001”, “Dunne Buggy”, “Não Vá Se Perder Por Aí”, “It’s Very Nice Pra Chuchu”, “Batmacumba”, “Panis et Circenses”, “Beijo Exagerado” e chegava ao ponto de ebulição com “Ando Meio Desligado”, “Posso Perder Minha Mulher Minha Mãe Desde Que Eu Tenha o Rock and Roll” sendo que esta era emendada com um medley de rockões antigos: “Blue Suede Shoes”, “Jailhouse Rock”, “Rua Augusta”, “Banho de lua”, “Johnny B. Goode”. Durante o show eles também inseriam covers: coisas dos Beatles, Stones, “You’re So Vain” de Carly Simon, “Listen To The Music” do Doobie Brothers, “Angel” de Hendrix. A banda não escondia a emoção pela calorosa recepção que recebia e alguns mais afoitos e doidões não hesitavam em pular de cabeça naquela rasa piscininha da Concha que separava o público do palco.

Dava para perceber que os caras da banda estavam completamente chapados e Arnaldo era o que dava mais bandeira. E já perto do final da apresentação quando eles tocavam “Meu Refrigerador Não Funciona”, ele começou a balançar violentamente a torre de teclados, moogs, mellotrons que se equilibravam numa base de um órgão Hammond. Os roadies corriam para segurar e Arnaldo, então, parecia se acalmar.

O show já tinha passado das três (!) horas de duração quando os Mutantes, depois de vários bis e voltas sucessivas ao palco, anunciaram a última música. O publico dançava e a banda dava tudo de si. E aí o Arnaldo num solo alucinado novamente começa a balançar a torre de teclados e desta vez nem deu tempo dos roadies se aproximarem. Tudo se espatifou no chão e o ruído provocado por isto se encaixava no som.

Arnaldo apanha uma vassoura largada ali por algum servente, a levanta e dá “voltas olímpicas” em torno do palco. Corre em direção ao equipamento que ele tinha derrubado e pisa e pula sem parar sobre eles. Os Mutantes continuavam mandando ver, os roadies também dançavam no palco, a platéia urrava de emoção. O show acaba. As luzes se apagam.

Poucos meses depois, a notícia: Arnaldo deixava os Mutantes por problemas de “saúde”. E, ali sim, a banda perdia sua força musical principal. Talvez seja precipitado afirmar isso, mas, certamente, aquela apresentação dos Mutantes em 28 de fevereiro de 1972, em plena Concha Acústica do Teatro Castro Alves tenha sido a mais memorável da carreira deles. Para mim, pelo menos, foi o melhor show que vi em minha vida. Uma espécie de iniciação ao que significa presenciar um verdadeiro concerto de rock´n´roll. E olhe que eu já assisti muito show bacana.

Só perdeu o Radiohead:

Porque o resto…


“Don’t Watch Me Dancing” em Curitiba

O show do Little Joy ontem foi praticamente idêntico ao de quinta passada, salvo alguns detalhes: o Clash estava bem mais cheio que na semana anterior, o público estava muito mais à vontade (certamente há uma grande parte que foi às três noites deles aqui em São Paulo) e a banda estava nitidamente cansada, devido à maratona de shows que estão fazendo no Brasil. Isso não chegou a comprometer musicalmente o show, mas certamente tirou parte do clima de introversão da outra apresentação – a banda quase não conversou com o público, as gracinhas – com a platéia ou entre si – foram mínimas e o apelo informal, a atmosfera de sarau na sala de estar que impregnou o Clash na outra quinta, ficou em segundo plano.

4:20

Mais uma pérola não-lançada da música brasileira aparece online, dessa vez o mitológico show que não apenas reuniu no mesmo palco Tom, João, Vinícius e Os Cariocas como apresentou ao mundo uma de suas músicas mais conhecidas, “Garota de Ipanema”. Organizado pelo produtor Aloysio de Oliveira, o show, batizado de O Encontro, foi realizado na casa Au Bon Gourmet, em Copacabana, no Rio de Janeiro, no dia 2 de agosto de 1962. O momento era crucial – Tom e João estavam de malas prontas para os Estados Unidos e Vinícius começava sua parceria etílica com Baden Powell. Se esse show não acontecesse, os três nunca mais se reencontrariam no palco. Para contrapor o trio de ouro da nova cena carioca, Aloysio chamou o grupo vocal Os Cariocas para criar certo atrito criativo entre as duas gerações – e fizeram isso não apenas com seu canto de apoio ao mesmo tempo sofisticado e nostálgico como na canção “Bossa Nova e Bossa Velha”, em que brincam com a mudança de valores proposta pelos bossanovistas. E além da estréia mundial de “Garota de Ipanema” (cuja introdução tem forma de bate-papo), o show ainda conta com performances impecáveis dos três. Histórico é pouco – baixa aqui.