Morreu o designer que tornou os Sex Pistols – e o punk inglês e todo o movimento faça-você-mesmo do final dos anos 70, como consequência – ícones visuais de fácil acesso à sua mensagem de caos e destruição. Misturando elementos tradicionais da cultura inglesa (em especial a coroa britânica) à imagem agressiva da primeira safra de bandas daquele movimento naquele país através de colagens radicais, ele transformou suas obras – que foram parar nas capas de discos e singles da banda – em marcas registradas de uma transformação cultural que perdura até hoje.
Veja alguns exemplos de sua arte transgressora abaixo:
1° de dezembro – Os Sex Pistols falam “fuck” pela primeira vez na TV, Neil Young é processado pela gravadora por mudar seu som e Kenny G segura uma nota por 45 minutos
2 de dezembro – Rod Stewart chega ao topo plagiando Jorge Ben, Bowie lança seu primeiro single e o porco inflável do Pink Floyd escapa
3 de dezembro – Os Beatles conhecem Brian Epstein, é exibido o 1968 Comeback Special de Elvis e Bono recupera seu laptop perdido – com o disco novo do U2
4 de dezembro – Um incêndio inspira a faixa-símbolo do Deep Purple, o Led Zepellin anuncia seu fim e morre Frank Zappa
5 de dezembro – Bob Marley faz show dois dias depois de ser vítima de um atentado, Black Flag lança o primeiro disco e Adele ultrapassa Amy Winehouse
6 de dezembro – O festival de Altamont encerra os anos 60 de forma trágica, morre Leadbelly e Elvis Costello se casa com Diana Krall
7 de dezembro – Otis Redding finaliza sua faixa-símbolo, os Beatles fecham sua Apple Store e Bowie aparece em público pela última vez
8 de dezembro – Nasce Sargentelli, morre John Lennon e o Metallica toca na Antártida
9 de dezembro – Vince Guaraldi põe jazz na trilha de Charlie Brown, o Chic chega ao topo das paradas e Ozzy sofre um acidente
10 de dezembro – A fundação do CBGB’s, a morte de Otis Redding e a queda que quase matou Frank Zappa
11 de dezembro – O primeiro show do Velvet Underground, Jerry Lee Lewis casa-se com prima de 13 anos e Mariah Carey leva o ringtone de ouro
12 de dezembro – O último show dos Doors, Ace Frehley quase morre eletrocutado num show e Mick Jagger vira Sir
13 de dezembro – Patti Smith lança Horses, o semanário inglês Melody Maker acaba e Beyoncé lança um disco-surpresa
14 de dezembro</strong> – O Clash lança London Calling, Os Embalos de Sábado à Noite estreia no cinema e morre Ahmet Ertegun
15 de dezembro – Dr. Dre lança The Chronic, morre Glenn Miller e Taylor Swift chega ao topo com seu 1989
16 de dezembro – O fim do The Who, o hit de Billy Paul e o seguro na língua de Miley Cyrus
17 de dezembro – Elvis Costello é banido do Saturday Night Live, Dylan chega à Inglaterra pela primeira vez e morre Captain Beefheart
18 de dezembro – Nasce Keith Richards, os Beatles iniciam sua última temporada em Hamburgo e Rod Stewart toca para 35 milhões de pessoas
19 de dezembro – Madonna ultrapassa Coldplay, Lady Gaga, Jay-Z e Kanye West, o roadie de Henry Rollins morre assassinado e Elton John emplaca seu primeiro hit nos EUA
20 de dezembro – Adele chega ao topo de 2012, Joan Baez é presa por protestar contra a guerra e morre Reginaldo Rossi
21 de dezembro – “Gangnam Style” é o primeiro clipe a bater um bilhão de views no YouTube, Elvis se encontra com Nixon e morre Júpiter Maçã
22 de dezembro – Morre o sambista e pesquisador Almirante, o pensamento vivo de Ronald Reagan em disco e a quase morte de um Motley Crue
23 de dezembro – É inaugurada a rádio pirata mais conhecida da história, Brian Wilson sofre um colapso nervoso e Ice Cube é expulso do N.W.A.
24 de dezembro – O último show dos Sex Pistols na Inglaterra, o primeiro show dos New York Dolls e o Nirvana começa a gravar seu primeiro disco
25 de dezembro – “White Christmas”, o single mais vendido de todos os tempos volta ao topo das paradas e morrem Dean Martin, James Brown e George Michael
26 de dezembro – Paul McCartney “morre” em um acidente de carro e os Beatles o trocam por um sósia, The Wall chega ao topo das paradas de discos e morre Curtis Mayfield
27 de dezembro – Show Boat inaugura o musical moderno, Leonard Cohen lança seu primeiro álbum e o Led Zeppelin, seu segundo
28 de dezembro – Dennis Wilson, dos Beach Boys, morre afogado no mar, Elvis Presley toma LSD e um câncer violento mata Lemmy
29 de dezembro – Morre Cássia Eller, o casal do Jefferson Airplane se separa e Aimee Mann casa-se com Michael Penn
30 de dezembro – Sinatra torna-se o primeiro ícone adolescente do mundo, o fim do Emerson Lake & Palmer e George Harrison é esfaqueado
31 de dezembro – Rod Stewart faz o maior show ao ar livre do mundo, o fim do Max’s Kansas City e Paul McCartney torna-se Sir
1° de novembro – O lançamento da revista Billboard, o dia que o mundo conheceu o disco Abbey Road, a morte de Yma Sumac e o aniversário de Pabllo Vittar
2 de novembro – Carly Simon lança “You’re So Vain”, a primeira vez do termo “Beatlemania” é a prisão do pai de Marvin Gaye
3 de novembro – “Ice Ice Baby” levando o rap ao topo das paradas pela primeira vez, a volta dos Righteous Brothers e censura a shows de rock!
4 de novembro – Os Beach Boys lançam “Good Vibrations”, My Bloody Valentine lança o Loveless e morre Fred “Sonic” Smith
5 de novembro – Aniversário de D2, Thaíde e Mr. Catra, a estreia do programa de Nat King Cole e a morte de Link Wray
6 de dezembro – Taylor Swift lança 1989, os Sex Pistols estreiam ao vivo (por dez minutos!) e os Monkees lançam um filme lóki
7 de novembro – O nascimento de Ary Barroso, o último show de Aretha Franklin e a morte de Leonard Cohen
8 de novembro – O lançamento do quarto disco do Led Zeppelin, David Bowie no programa da Cher e o filme que deu um Oscar pro Eminem
9 de novembro – É lançada a revista Rolling Stone, o disco 36 Chambers do Wu-Tang Clan, John conhece Yoko e Bowie toca ao vivo pela última vez
10 de novembro – A gravação do clipe de “Bohemian Rhapsody”, o primeiro rap a entrar na lista dos mais vendidos e Chaka Khan com Prince, Stevie Wonder e Melle Mel
11 de novembro – John & Yoko lançam Two Virgins, Bill Haley chega ao topo das paradas e Dylan lança seu primeiro livro
12 de novembro – Madonna lança o disco Like a Virgin, o estúdio Abbey Road é fundado e o Velvet Underground faz seu primeiro show
13 de novembro – Atentado terrorista no show do Eagles of Death Metal, “Feelings” ganha o disco de ouro e morre Ol’ Dirty Bastard
14 de novembro – Michael Jackson lança o clipe de “Black Or White”, Ray Charles chega pela primeira vez ao topo e Pete Townshend assume que é bissexual
15 de novembro – Empresário do Milli Vanilli assume que dupla é uma fraude, Janis Joplin é presa por xingar um guarda e os Dire Straits dominam as paradas
16 de novembro – A morte de Candeia, a prisão do baterista do Clash e os Stones tocam na festa privê de um bilionário
17 de novembro – Morre o maestro Heitor Villa-Lobos, o primeiro disco das Spice Girls e Patti Smith ganha o National Book Award
18 de novembro – Genesis lança o clássico The Lamb Lies Down on Broadway, morre Danny Whitten da Crazy Horse de Neil Young e o Nirvana grava seu Acústico MTV
19 de novembro – Michael Jackson pendura o filho bebê na varanda, Carl Perkins grava “Blue Suede Shoes” e Zappa conclui sua ópera Joe’s Garage
20 de novembro – Keith Moon passa mal e fã termina o show tocando bateria com o Who, Isaac Hayes chega ao topo e Bo Diddley é banido da TV
21 de novembro – A morte de Peter Grant, o empresário que fez o Led Zeppelin acontecer, Olivia Newton John emplaca “Physical” e os Beatles lançam Anthology
22 de novembro – A morte acidental do líder do INXS, Michael Hutchence, o início da carreira de Simon & Garfunkel e Pearl Jam apenas em vinil
23 de novembro – Jerry Lee Lewis é preso após baixar armado na casa de Elvis Presley, Pink Floyd nas paradas de sucesso e morre Adoniran Barbosa
24 de novembro – Morre Freddie Mercury, Howlin’ Wolf toca na Inglaterra e o Crowded House encerra suas atividades
25 de novembro – Estreia Guarda-Costas o filme que catapultou a carreira de Whitney Houston, surge a primeira gravadora online e morre Nick Drake
26 de novembro – O clube Haçienda é leiloado, o Cream faz seu último show e Richey Edwards, dos Manic Street Preachers, é declarado morto
27 de novembro – O clipe de “Justify My Love” é banido da MTV, Hendrix comemora aniversário num show dos Stones e o Pavement termina ao vivo
28 de novembro – John Lennon toca pela última vez ao vivo (ao lado de Elton John), Kurt Cobain zoa o Top of the Pops e Britney dá a volta por cima
29 de novembro – O fenômeno Susan Boyle cumpre a promessa em seu primeiro álbum, morre George Harrison e Taylor Swift substitui a si mesma no topo
30 de novembro – Morre Cartola, Michael Jackson lança Thriller, Madchester chega ao Top of the Pops e Joey Ramone vira um quarteirão em NY
Em outros 23 de outubro, a minha Máquina do Tempo nos leva para o lançamento do iPod, a primeira vez de Stevie Wonder, Sid Vicious tenta se matar e Amy Winehouse lança “Rehab” – veja mais lá no Reverb.
Never Mind the Bollocks… Here’s the Sex Pistols, lançado no dia 28 de outubro de 1977, há exatamente 40 anos, foi o primeiro veículo a explicar quase que didaticamente o que era aquela nova movimentação musical que sacudia a Inglaterra desde o ano anterior. Ao mesmo tempo, o disco de estreia dos Sex Pistols também foi seu principal legado e um dos poucos registros dignos ao retratar o impacto que a banda provocou na cultura pop desde sua aparição. Ao lançar seu primeiro álbum, os Sex Pistols assinavam sua carta de intenções e seu próprio testamento, pois implodiria meses após o lançamento.
Sid Vicious, Paul Cook, Johnny Rotten e Steve Jones
A história dos Sex Pistols é um conto de fadas às avessas, uma parábola depressiva sobre como uma banda pode provocar o status quo fazendo exatamente o contrário e também como isso pode ser um produto comercial exatamente por estes motivos. O embrião da banda era o grupo londrino The Strand, formado em 1972 pelo vocalista Steve Jones, pelo guitarrista Wally Nightinglae e pelo baterista Paul Cook, que ficou conhecido por roubar instrumentos e equipamentos dos shows que frequentava. O grupo foi acolhido pelos empresários Malcolm McLaren e Vivienne Westwood, que haviam acabado de transformar sua boutique de roupas dos anos 50 Let it Rock em Too Fast to Live Too Young to Die, inspirada pela cena inglesa do início dos anos 60.
McLaren aceitou ser o empresário do Strand, ajudando-os a encontrar um baixista (o estudante de arte Glen Matlock, que vivia em sua loja) e um lugar para ensaiar. No fim de 1974, McLaren mudou-se para Nova York para empresariar os New York Dolls já em sua fase decadente e tentou transformar o visual andrógino da banda glam em um pastiche do imaginário soviético. Viver na Nova York que já tinha sua própria cena punk, tocando em bares como CBGB’s e Max’s Kansas City, foi crucial para que Malcolm voltasse para Londres cheio de ideias e querendo aplicar algumas delas em um projeto artístico capitaneado por uma banda de rock – cuja inspiração estética veio de uma pessoa, o músico Richard Hell, do Television, conhecido por usar roupas rasgadas e remendadas com alfinetes de segurança. A banda obviamente seria o Strand. Naquele mesmo ano sua loja mudaria mais uma vez de nome e desta vez chamaria-se Sex, especializando-se em vender roupas inspiradas no vestuário sado-masoquista.
O Strand precisava, no entanto, de um vocalista e quando Steve Jones assumiu a guitarra da banda (forçando a saída de Wally), passaram a interrogar todas as pessoas de sua faixa etária que tinham cabelo curto – uma raridade naquela Londres do auge do rock progressivo. Este surgiu na própria loja como se tivesse caído do céu – ou saído do inferno: além do cabelo curto pintado de verde, John Lydon, com parcos dezenove anos, usava uma camiseta do Pink Floyd com buracos nos olhos dos integrantes da banda e a frase “I Hate” (“eu odeio”) escrita à mão sobre o nome da banda. O convenceram a entrar na banda quase que instantaneamente e seu teste final foi cantando “I’m Eighteen”, de Alice Cooper, por cima de uma jukebox. A banda riu da apresentação, mas McLaren sabia que havia encontrado seu vocalista.
A banda começou a fazer shows no final de 1975 depois de rebatizada por McLaren, que havia tentado nomes como Le Bomb, Crème de la Crème, Teenage Novel e Kid Gladlove, e acabou decidindo por Sex Pistols, uma variação de um dos nomes (QT Jones and the Sex Pistols) que tinham antes mesmo de escolher se chamar The Strand. Com o novo nome e uma nova postura de palco, instigada por Lydon, que agora atendia pelo nome Johnny Rotten (“rotten” vem de “podre”, em inglês, e fazia referência à sua higiene bucal), e incentivada por McLaren, os Sex Pistols atingiram em cheio o inconsciente coletivo de uma juventude inglesa que não via futuro para si mesma no final dos anos 70. O repertório inicial da banda era basicamente composto por versões barulhentas de músicas conhecidas do público, como “(Don’t you Give Me) No Lip” de Dave Berry, “Substitute” do grupo The Who, “Whatcha Gonna Do About It” do grupo Small Faces e “(I’m Not Your) Steppin’ Stone” de Paul Revere & the Raiders. Mas não importava que músicas cantavam e sim sua postura de palco, quase sempre brigando com o público e com outras bandas.
Era um novo tipo de música pop, um rock agressivo e sujo, muito mais que em outras épocas, que necessariamente partia para o confronto. Aquela nova abordagem faria o grupo ser perseguido por tantos outros adolescentes, que logo formaram um séquito ao redor da banda, conhecido pelo nome de Contigente Bromley devido à região da cidade de onde vinham. Entre os integrantes deste fã-clube estavam nomes que mais tarde teriam suas próprias carreiras, como Siouxsie Sioux, Steven Severin (que depois formariam o Siouxsie & the Banshees) e Billy Idol, além de seguidores da banda desde os tempos da Too Fast to Live Too Young to Die, como um certo John Simon Ritchie, que mais tarde entraria para a banda. Durante 1976, o grupo passou a tocar com certa frequência em Londres e em algumas cidades no interior da Inglaterra, quase sempre causando furor e sensação e plantando sementes que consolidariam o punk naquele país: tocaram em Manchester em um show organizado por Howard Devoto e Pete Shelley numa apresentação que praticamente pariu a nova cena musical da cidade (com integrantes das futuras bandas Joy Divison, Smiths e The Fall na plateia) e abriram espaço para os primeiros shows de bandas como Clash e Damned.
Tudo aquilo culminaria com o single “Anarchy in the UK”, lançado em novembro daquele ano, que empurraria os Sex Pistols para a Inglaterra goela abaixo. Os gritos de “Eu sou o Anticristo!” e “Destroy!” que se tornariam marca registrada da banda e de seu vocalista, provocaram o conservadorismo inglês ao mesmo tempo em que deixavam uma nova marca estética, tanto sonora quanto visual (a partir do visual criado por letras recortadas, fotos rasgadas e alfinetes de segurança, inventado pelo designer James Reid, amigo de McLaren). O single foi lançado com uma capa preta, sem título, e colocou a banda nas paradas de sucesso (no 38° lugar), o suficiente para fazê-lo circular pelos meios de comunicação tradicionais.
Foi quando ocorreu o incidente que levou os Sex Pistols para fora do circuito musical pela primeira vez, quando participaram do programa de Today, apresentado por Bill Grundy, no canal Thames Television. Bêbados e desconfortáveis, os integrantes da banda e o apresentador não estavam se dando bem, até que Grundy provoca Siouxsie, que estava acompanhando o grupo, e é prontamente repreendido por Glen Matlock, que começa a xingá-lo. Grundy o provoca e Matlock responde ainda mais agressivamente, usando a palavra “fuck”, que até hoje é tabu.
Foi o suficiente para que o programa fosse retirado do ar às pressas. Mesmo atingindo apenas a região de Londres, a participação dos Pistols no Today causou horror no moralismo raso inglês, repercutido principalmente por seus tabloides sensacionalistas. É curioso notar que um apresentador de TV bêbado provoca uma adolescente ao vivo na TV e é defendido por outro adolescente que o agride com um palavrão – e é o palavrão que causa a comoção, virando a situação do avesso. O sensacionalismo foi tão marcante que os Pistols apareceram na capa de três jornais, sendo que a manchete de um deles – O Nojo e a Fúria, do Daily Mirror – tornou-se praticamente um slogan para a banda.
Malcolm McLaren queria amplificar ainda mais o incidente e preparou outro acinte protagonizado pela banda para o início do ano seguinte. O lançamento do single “God Save the Queen” (“Deus salve a rainha/ Ela não é um ser humano / Não há futuro para o sonho inglês”) coincidiu com o jubileu de prata da rainha Elizabeth II e o grupo resolveu parodiar o trajeto real sobre o rio Tâmisa tocando a música num barco dias antes da comemoração oficial. O resultado foi mais um incidente envolvendo repúdio e violência, provocando a prisão da banda e a consolidação do grupo como inimigo público inglês número 1. O estrago já estava sendo feito: antes do lançamento do single, o grupo foi dispensado pela gravadora EMI e depois de “God Save the Queen” foi a vez de serem dispensados pela A&M. Glen Matlock também saiu da banda com a desculpa oficial de ter sido expulso por “gostar dos Beatles”, substituído por aquele John Richie citado anteriormente, mais conhecido pelo apelido de Sid Vicious e por não saber tocar nada. Com dezessete anos, ele era o maior fã dos Sex Pistols e, de repente, um integrante da banda, tocando baixo.
As gravações para o primeiro álbum continuaram mesmo que não soubessem quem iria lançá-lo. O produtor Chris Thomas, que já havia trabalhado com o Roxy Music, superpunha camadas de guitarras de Steve Jones para torná-la mais densas na gravação. Foi ele também quem sugeriu que Jones tocasse o baixo no lugar de Vicious, que só toca em uma única música, “Bodies”. Rotten gravou os vocais quase todos em primeiro take e a principal meta do álbum era não ter versões para músicas alheias, que compunham parte do repertório dos Sex Pistols ao vivo. E a meta foi cumprida, mesmo que “Holiday in the Sun” tivesse seu riff surrupiado de “In the City” do grupo The Jam e os primeiros versos de “Bodies” tivessem sido copiados de “Puss N Boots” dos New York Dolls.
Lançado há quarenta anos pela gravadora Virgin (depois de ter sido recusado pela CBS, pela Decca e pela Polydor), o primeiro disco dos Sex Pistols apresentava a banda para o mundo além dos factoides criados pela imprensa marrom inglesa e dos dois singles que a colocaram no mapa. É um disco sólido e conciso, uma carta de intensões bem clara e também uma obra de arte, como queria Malcolm McLaren, discípulo de Andy Warhol. Seu teor político é niilista, suas ambições estéticas são autodestrutivas, a mensagem era de que não havia futuro para nada. Mesmo que soando careta quase um século depois (são músicas criadas com acordes descendentes do blues e do country e que ajudaram a moldar um formato que tornou-se estanque com o passar dos anos – o próprio conceito de punk rock), Never Mind the Bollocks ainda soa forte e agressivo como em seus primeiros dias, o suficiente para não soar datado.
Nos meses seguintes, a perseguição à banda piorou e muito, com seus integrantes sendo surrados na rua ou antes dos shows. Uma turnê pelos Estados Unidos no início de 1978 selou o final da banda e a reputação autodestrutiva de Sid Vicious, a grande vítima fatal dessa aventura chamada Sex Pistols, que ainda teve dois capítulos finais mesmo antes de seu fim oficial: um single sem a participação de Johnny Rotten (quando Paul Cook e Steve Jones gravam “No One is Innocent” no Rio de Janeiro ao lado do assaltante inglês foragido Ronald Biggs e Sid Vicious grava sua infame versão para “My Way”, eternizada por Frank Sinatra) e o disco de sobras The Great Rock’n’Roll Swindle (em português, “a grande trapaça do rock’n’roll”), que parecia consagrar que o grupo era uma invenção de Malcolm McLaren.
Não era. Nem mesmo uma invenção de seus integrantes. Os Sex Pistols eram filhos do inconsciente coletivo e canalizadores de uma energia latente que explodiria a qualquer momento nos anos 70 (daí a discussão inicial sobre o marco zero do punk). E está tudo lá, em Never Mind the Bollocks.
E esse zine em que o Chuck Berry, ainda nos anos 70, comentava sobre o que ele achava das bandas punk na época em que elas apareceram pela primeira vez?