Sessa e a música que cura

, por Alexandre Matias


(Foto Helena Wolfenson/Divulgação)

Fazer música como um processo de cura. Embora a ideia de “Canção de Cura”, segundo single que Sessa lança antes de seu segundo disco solo, Estrela Acesa, que será lançado no mês que vem, esteja ligada ao processo de cura dentro da paixão, acenando inclusive para um clássico de Drummond, a faixa também está ligada à produção cultural no momento drástico que o Brasil atravessa. A faixa está sendo lançada nesta quarta-feira e fecha uma trilogia de clipes que Sessa fez com Gabriel Rolim, que pode ser assistido abaixo.

“Acho que num sentido um mais amplo, a ideia de ‘canção da cura’ tem a ver com a feitura, com o fazer, com o compor, combinar… Essa coisa um pouco inexplicável de beleza de uma canção brasileira, as referências rítmicas, melódicas, o violão, de se apoiar nesse imenso cultural de referências das coisas que me emocionam música em música brasileira, que eu estudo, me debruço”, me explica o cantor e compositor paulista num áudio de Whatsapp “Fazer isso nesse fim de mundo, um país tomado por um fascismo e tantas coisas pra se envergonhar e as ansiedades sobre o que a gente viu e vê é é um pouco o que me segura e nesse sentido também é uma canção da cura.”

A música faz um contraponto entre o próximo disco, que será lançado pelo selo nova-iorquino Mexican Summer no dia 24 de junho, e o disco anterior, Grandeza, sua estreia após deixar o grupo Garotas Suecas, e funde as duas formações que caracterizam os dois álbuns: seu violão está em primeiro plano e ancorado pelo grupo vocal formado no primeiro disco, composto por Paloma Mecozzi, Ina, Lau Ra e Ciça Góes, mas conta com o acompanhamento que Sessa chamou para este novo álbum, com Biel Basile na bateria e Marcelo Cabral no baixo.

“Ainda tem essa coisa calcada no violão, mais vazia, mais bossa, com a participação forte das cantoras, que é mais próxima do Grandeza em sonoridade, mas em termos de temática ela é mais a ressaca do que a festa”, ele prossegue. “O Grandeza tinha uma coisa mais solar, apaixonada, enquanto essa música é sobre os limites das relações, as notícias mais duras, que tem a metáfora de ser uma canção da cura pros amantes machucados, estropiados pelo próprio amor, que tem um pouco um eco do poema ‘Destruição’, do Drummond”, referindo-se ao trecho “amantes são meninos estragados pelo mimo de amar” do poeta mineiro.

A faixa é um contraponto ao primeiro single do disco, “Gostar do Mundo“, que traz a principal novidade do novo trabalho – a interferência de cordas. Sessa cita arranjadores que o inspiraram nesta trabalho e que são responsáveis por alguns dos discos mais clássicos da música brasileira, como Rogério Duprat, Chiquinho de Moraes, Watel Branco, Verocai… São pessoas que marcaram muito a sonoridade da música brasileira e eu queria experimentar nesse disco a beleza que colocar cordas das músicas traz.”

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