Brutal e envolvente: assim foi o lançamento de Colinho, segundo disco solo de Maria Beraldo, que aconteceu nesta quarta-feira no teatro do Sesc Pompeia. Acompanhada apenas pelo baterista Sérgio Machado e pelo baixista Fábio Sá, ela trouxe sua nova safra de canções para o palco mostrando como o registro fonográfico tem uma outra vida para além da música ao vivo, trazendo maciez e aspereza que o disco parecia apenas insinuar. A compositora também enfatizava o movimento do álbum ao espalhar-se pelo palco em direção aos instrumentos, por vezes ia ao piano de cauda, outras ia para o violão, que ficava em frente à bateria de Serginho, outras para a guitarra, que ficava próxima ao piano, enquanto Fabinho fazia o mesmo, indo para o piano, para o synth, para o contrabaixo acústico ou elétrico, enquanto o baterista disparava ruídos e fazia vocais de apoio. O movimento também estava (óbvio) nos gêneros e o show fluía entre a ambiguidade da música eletrônica, a fritação do free jazz, a doçura do canto brasileiro ou a estridência da experimentação sônica. Reforçando sempre o aspecto espartano da noite, sem cenário, sem bis e sem papo, Maria foi cumprimentar o público lá pela quinta música e abriu poucos momentos não-musicais, quando como apresentou seus parceiros de palco ou quando explicou a relação dos livros Mar Morto de Jorge Amado e O Quarto de Giovanni de James Baldwin que originou a faixa “Guma”. Com direção de Felipe Hirsch, o espetáculo ainda contou com mais uma soberba condução de luzes feita por Olivia Munhoz, que preferiu trabalhar com a alternância entre sombra e penumbra com beats fortes de luz na cara do público, entre o mistério e o atordoo, conversando com os silêncios e esporros do som. Beraldo mostrou o disco inteirinho e quase na ordem original, com poucas exceções que funcionaram lindamente, como a abertura do show com a última música do disco (“Minha Missão”, de João Nogueira) em que cantou sozinha ou ao intercalar músicas do disco novo com as de seu disco de estreia, Cavala, emendando “I Can’t Stand My Father Anymore” com “Amor Verdade”, “Maria” com “Crying Now” e “Da Menor Importância” com “Matagal”. Ela ainda visitou Djavan com a sintomática “Nobreza” e trouxe “Truco” quase para o final da noite, que encerrou-se com uma versão tocante para “Ivy” do Frank Ocean. Um dos grandes shows do ano, sem dúvida.
Finalmente saudei minha dívida com a Ana Frango Elétrico e pude ver o melhor disco brasileiro de 2023 ao vivo neste sábado, no Sesc Ipiranga, depois de perdê-lo no Sesc Pompeia no fim do ano passado e no Circo Voador no fim de janeiro (até fiz planos, mas infelizmente não rolou). Não tinha dúvida que seria um showzaço, mas Ana entregou ainda mais que esperávamos, passando a íntegra de seu Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua além de várias músicas de seus dois discos anteriores, Mormaço Queima e Little Electric Chicken Heart, ambos acondicionados à nova realidade sonora projetada pela sensação carioca. A começar pela banda que ela reuniu, um time de peso que traz alguns dos principais músicos brasileiros da atualidade: Sérgio Machado na bateria, Alberto Continentino no baixo, Guilherme Lírio na guitarra, Thomás Jagoda nos teclados, Dora Morelenbaum nos vocais de apoio e Pablo Carvalho na percussão, e a luz sempre deslumbrante da Olívia Munhoz. Além de ter sido um show mais longo dos que ela tem feito até aqui, a banda estava tinindo de tão entrosada, deixando Ana completamente à vontade não só para se jogar em cima do público como a soltar sua voz maravilhosamente e fazer até um solo de Moog arrastando a cabeça nas teclas (sério!). Abrindo o show perfeito com a música mais alheia do repertório – a stereolabiana “Let’s Go To Before Again” -, a apresentação pesa no groove e na dance music, atingindo um pico na fusão que ela fez entre “Não Tem Nada Não” (o encontro dos gênios Eumir Deodato, João Donato e Marcos Valle) e “Gypsy Woman” (aquela da Crystal Waters). Mas, como no disco, meu momento favorito foi quando ela emendou as três baladas espetaculares – “Camelo Azul”, “Nuvem Vermelha” e “Insista em Mim” – num bloco de derreter corações e mentes. Obrigado, Ana! Quero ver mais!
#anafrangoeletrico #sescipiranga #trabalhosujo2024shows 17
Mais uma apresentação do Delta Estácio Blues de Juçara Marçal, desta vez no chão sagrado do Centro Cultural São Paulo, e o disco que Juçara Marçal lançou há quase dois anos segue vivo e pulsante, se transformando a cada novo show e maravilhosamente cada vez mais alto – o final noise de “Oi Cats” especificamente atordoou os ouvidos do público. As fronteiras do pós-punk com o noise estão sendo diluídas a cada nova apresentação e na deste sábado a ausência da batera Alana Ananias trouxe Sergio Machado para tocar mais uma vez com seus compadres e a histórica formação do Metá Metá no meio da década passada estava quase toda reunida (com Kiko Dinucci na guitarra e Marcelo Cabral no baixo, claro), celebrando essa descarga de energia e sentimentos que é esse disco maravilhoso.
E pra encerrar o ano da #SextaTrabalhoSujo no Estúdio Bixiga, tenho o maior prazer em receber o guitarrista pernambucano Lello Bezerra, que acaba de lançar seu primeiro disco solo, Desde Até Então, fundindo sua guitarra frenética à bateria quebrada de Serginho Machado, criando fractais elétricos de solos e riffs que se misturam em paisagens sonoras aceleradíssimas (mais informações aqui). Vamos lá?
Volto mais uma vez à Unibes Cultural desta vez com inaugurando a sessão itinerante Trabalho Sujo Apresenta, em que mostro shows e espetáculos com novos nomes da música brasileira e a primeira edição acontece nesta sexta-feira, quando convido o músico Victor Vieira-Branco para apresentar a celebração do show que comemora o encontro ocorrido entre Elizeth Cardoso e Zimbo Trío em prol do Museu de Imagem e Som (MIS), em 1968. O espetáculo Tempo Feliz conta recria este show histórico com Sergio Machado na bateria, Fabio Sá no contrabaixo acústico e o próprio Victor no vibrafone, com vocais de Ava Rocha, Negro Leo e Ana Passarinho fazendo as muitas vozes de Elizeth – os ingressos já estão à venda aqui.
Trabalho Sujo apresenta: Tempo Feliz – Uma homenagem a Elizeth Cardoso e Zimbo Trio
Sexta-feira, 3 de maio de 2019
Com Ava Rocha, Negro Léo , Ana Passarinho, Victor Vieira-Branco, Fabio Sá e Sérgio Machado
Unibes Cultural, às 20h
Rua Oscar Freire, 2500
R$30 / R$15
Passado o carnaval, retomamos 2019 no Centro da Terra com mais um Segundamente dedicado à música instrumental, quando reunimos quatro expoentes da atual produção brasileira em mais uma temporada Sem Palavras. Na primeira segunda, dia 11 de março, a multiinstrumentista Luísa Putterman se junta ao baixista Arthur Decloedt e ao saxofonista Mateus Humberto no projeto Nó, desconstruindo ao vivo paisagens sonoras e texturas orgânicas e sintéticas, tocadas na hora e sampleadas. Na segunda segunda, dia 18, é a vez da apresentação Desde Até Então que o guitarrista Lello Bezerra – que toca com Siba – toca com o baterista Sérgio Machado, fritando entre o pós-punk, o free jazz e a música brasileira. Depois, dia 25, assistiremos à apresentação do trio de música espontânea Dentaduro, que reúne o vibrafonista Victor Vieira-Branco, o baixista Bernardo Pacheco e o baterista Pedro Silva, mostrando seu Live at the Budokan. A última sessão do Sem Palavras acontece no dia primeiro de abril, quando o guitarrista Marcos Campello, líder dos Chinese Cookie Poets e guitarrista de Ava Rocha, faz sua apresentação solo experimental chamada Viagem Não-linear ao Centro da Abstração em Ruínas. As apresentações, sempre às segundas, começam a partir das 20h. Abaixo, entrevistas que fiz com Luísa Puterman, idealizadora da primeira noite desta temporada com seu projeto Nó, o guitarrista Lello Bezerra, autor do espetáculo da segunda segunda-feira, Desde Até Então, com Bernardo Pacheco, baixista do Dentaduro, que toca na terceira terça-feira, e com Marcos Campello, que fará a última apresentação da temporada.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/sets/no
Thiago França reuniu mais uma vez sua Space Charanga – desta vez em forma de quarteto – para uma nova viagem pelo espaço sideral do som. Ao lado de seus broders de Metá Metá Sergio Machado (bateria) e Marcelo Cabral (baixo acústico) e do trompete de Amilcar Rodrigues, o músico paulistano parte em mais uma jornada rumo ao desconhecido em seu recém-lançado Suíte Intergaláctica (já nas plataformas digitais mas que pode ser baixado aqui), que ele considera o disco mais de jazz que já fez. Aproveitei o lançamento para conversar com ele sobre a história da Space Charanga (“um spin-off da Charanga do França”, conta às gargalhadas), da influência de Sun Ra e do espaço sideral em sua criação – que vai muito além da ficção científica.
Como surgiu o conceito da Space Charanga e da influência do Sun Ra nessa versão da Charanga?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/space-charanga-2018-como-surgiu-o-conceito-da-space-charanga-e-qual-a-influencia-do-sun-ra-no-grupo
Como a Space Charanga conversa com o Charanga do França?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/space-charanga-2018-como-a-space-charanga-conversa-com-o-charanga-do-franca
Fale sobre a Suíte Intergaláctica.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/space-charanga-2018-fale-sobre-a-suite-intergalactica
Fale de sua relação com a música e o conceito do espaço sideral.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/space-charanga-2018-fale-de-sua-relacao-com-a-musica-e-o-conceito-do-espaco-sideral
Os trabalhos solo do guitarrista Kiko Dinucci e do baterista Serginho Machado – ambos do Metá Metá – se apresentam em sessão dupla, às 18h, neste domingo, como mais um evento da programação Bicho de Quatro Cabeças. O show é gratuito e os ingressos começam a ser distribuídos duas horas antes (mais informações aqui).
Na segunda etapa de sua temporada no Centro da Terra, Thiago França firma-se entre duas baterias em busca do limite entre a percussão e a melodia ao lado de dois músicos quentes – Sérgio Machado e Mariá Portugal. O inusitado trio explora fronteiras sonoras imprevisíveis em mais uma hora de improviso sem rédeas neste pequeno trio de sopro e ritmo, em mais uma de suas incursões que só depois sabemos o que acontecerá. Conversei com o músico sobre esta segunda segunda-feira de junho e há mais informações sobre o encontro aqui.
Você já tocou acompanhado apenas de bateria? A ideia é explorar o lado percussivo do sax?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/thiago-franca-depois-a-gente-ve-voce-ja-tocou-so-com-bateria-a-ideia-explorar-o-lado-percussivo
E como duas baterias ao mesmo tempo, é a primeira vez?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/thiago-franca-depois-a-gente-ve-e-como-duas-baterias-ao-mesmo-tempo-e-a-primeira-vez
Conte como conheceu o Sergito e a Mariá. É a primeira vez que você improvisa com eles?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/thiago-franca-depois-a-gente-ve-como-conheceu-o-sergito-e-a-maria-e-a-primeira-vez-com-eles
Thiago França não para! Um dos músicos mais prolíficos da nova geração, o saxofonista aceitou meu convite e assume o timão das incursões musicais das segundas-feiras do mês de junho. São quatro viagens sem rumo definido, mote da programação do espetáculo Depois A Gente Vê. Na primeira segunda, dia 5, ele se une ao velho comparsa Kiko Dinucci em torno de um mesmo tema melódico, mas sem rédeas estruturais além da sequência de notas. No dia 12, ele é acompanhado de dois bateristas pesos pesados, Sérgio Machado e Mariá Portugal. Na terceira segunda, dia 19, é uma noite elétrica ao lado de Beto Montag e Guilherme Granado. A residência chega ao final no dia 26, quando ele rege a Orquestra Instantânea de Sopros – traga o seu instrumento também. São quatro apresentações que podem ir da catarse à introspecção, do delírio à concentração, das profundezas marítmas da música à estratosfera do som. Só há um consenso: depois a gente vê. Os ingressos já estão à venda aqui.
Como você concebeu cada noite a partir de cada elemento?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/thiago-franca-depois-a-gente-ve-por-que-quatro-elementos
Há uma liga musical ou conceitual que amarra todas as noites?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/thiago-franca-depois-a-gente-ve-ha-uma-liga-musical-ou-conceitual-que-amarra-todas-as-noites
A escolha dos elementos também determina o sentimento da noite?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/thiago-franca-depois-a-gente-ve-a-escolha-dos-elementos-tambem-determina-o-sentimento-da-noite
Como o improviso musical funciona dentro de um tema conceitual?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/thiago-franca-depois-a-gente-ve-como-o-improviso-musical-funciona-dentro-de-um-tema-conceitual
Você tem intenção de dar continuidade a este projeto?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/thiago-franca-depois-a-gente-ve-voce-tem-intencao-de-dar-continuidade-a-este-projeto