No fim do mês passado, Arnaldo Batpista encheu-se das alfinetadas que o irmão Sergio Dias vinha dando em entrevistas na internet e twittou o seguinte vídeo:
O Sergio Dias precisa aprender a sobreviver sem ficar encostando na minha sombra e na dos Mutantes Original. pic.twitter.com/dE3myIfzkF
— Arnaldo Baptista (@ArnaldoBaptista) January 29, 2020
Como nem todo mundo tem o contexto da rusga fraterna que mancha o nome dos Mutantes, grupo que colocou os irmãos na história da música brasileira e do rock internacional, a jornalista Sonia Maia, que há anos trabalha com Arnaldo Baptista, me procurou para abrir espaço para ela contar a versão dos fatos sobre a saída de Arnaldo da volta dos Mutantes na primeira década do século e sobre como Sergio vem lhe provocando em entrevistas recentes:
Mais uma vez Sergio Dias usa a mídia e entrevistas para despotencializar Arnaldo Baptista, insinuando que Arnaldo é um artista sem vontade própria, e aproveita para, não apenas desrespeitar a parceira e companheira de Arnaldo, Lucinha Barbosa, como ofendê-la. Não é de agora que Sergio Dias vem optando por essa estratégia de marketing e destruição, seja em público, seja internamente. E hoje venho aqui, como gerenciadora, há mais de dez anos, junto com Arnaldo e Lucinha, de sua carreira. Mas, também, como amiga deles há mais de 30 anos, amiga de participar da vida cotidiana do casal desde 1989, quando fui entrevistá-lo para a antiga revista Bizz, da Editora Abril, da qual fui repórter e editora por quase cinco anos, desde seu lançamento em 1985. E, principalmente, neste momento específico, como testemunha do evento de 2006, quando Os Mutantes foram reunidos para um show no Barbican, em Londres, como parte de uma grande exposição sobre a Tropicália, e o que aconteceu em 2007, quando Arnaldo deu por finalizada suas participações nesses shows. Morei dez anos em Londres e eu estava lá nesses dois momentos.
Tanto Arnaldo, Lucinha e eu temos mantido distância desse passado. Todas as entrevistas que Arnaldo concede à mídia, e não são poucas, pedimos, antecipada e gentilmente, que o/a jornalista não aborde o passado e nem questões nevrálgicas envolvendo Sergio Dias e Rita Lee, porque nosso trabalho tem como foco Arnaldo Baptista pós-Mutantes, sua obra solo como multinstrumentista, compositor, escritor e artista visual. Essa rica e extensa biografia está disponível na aba “sobre”, na página oficial do Facebook de Arnaldo, assim como links para diversas de suas entrevistas e reportagens com e sobre Arnaldo nos últimos dez anos. Uma biografia e obras que Sergio Dias faz questão de ignorar e mesmo desprezar, como fez na Virada Cultural de São Paulo em 2012, quando Arnaldo Baptista, além de ser convidado a abrir a Virada com seu concerto solo no Theatro Municipal de São Paulo, foi homenageado pelos organizadores do evento, que imprimiram suas obras como artista plástico nos fundos dos palcos de toda a Virada. No palco no qual Os Mutantes de Sergio Dias tocariam, no dia do show, um pessoa conhecida, que estava no backstage, nos ligou informando: “O Sérgio Dias está tendo um ataque. Está obrigando a produção da Virada a colocar um pano preto sobre o fundo de palco impresso com uma obra de Arnaldo. Se não cobrirem, ele diz não fará o show”… Essa é apenas uma das dezenas de situações que jogam por terra a pose de bom mocinho de Sergio, quando diz: “o Arnaldo é muito bem vindo a hora que ele quiser voltar”.
O motivo de Arnaldo ter gravado um vídeo-resposta, publicado em suas mídias sociais no dia 29 de janeiro, por conta das mentiras e ofensas recentes de Sergio Dias em entrevistas, e de eu estar aqui escrevendo este depoimento, é porque simplesmente Arnaldo se cansou, nós nos cansamos: de sermos ofendidos, difamados e alvo de mentiras sem precedentes por parte não apenas de Sergio Dias, como também de Rita Lee, como quando ela usa o termo “retardado”, em uma de suas citações sobre Arnaldo na autobiografia da artista. Um termo extemamente pejorativo, não apenas para com Arnaldo, mas para com todos os excepcionais do mundo. E que parece passou batido pela banca que a contemplou com um prêmio de literatura pelo livro.
Importante reforçar, também, o verbo no feminino: Arnaldo é assessorado, diretamente, por duas mulheres, Lucinha e eu. Além de dezenas de colaboradores e voluntários, de todas as áreas da cultura – design, texto, tradução, músicos, artistas, jornalistas, fotógrafas e fotógrafos, curadores das artes plásticas, entre tantas e tantos outros, que vêm nos acompanhando e que tiveram a oportunidade de conviver e trabalhar com Arnaldo e Lucinha. Todas e todos nós somos testemunhas não apenas do carinho e amor que Arnaldo e Lucinha nos passam, como da participação ativa de Arnaldo em todas as decisões sobre sua carreira. Da sustentável leveza do ser que ambos são. Muitas, mas muitas vezes, quando temos uma decisão importante a tomar, ou quando surge um novo projeto, sempre consultamos e conversamos com Arnaldo, não apenas porque é óbvio consultá-lo, mas porque Arnaldo é muito, mas muito antenado, e nos dá nortes e ideias que jamais teríamos. Fora o fato de Arnaldo ser muito bom de ‘nãos’. Quantas vezes perguntamos: “Arnaldo, você gostaria de…” e ele: “Não!”. E nós: “mas Arnaldo, talvez seja legal ….” E ele: “não, obrigado”.
Feito esse preâmbulo, para colocar as coisas em perspectiva, pois tanto eu como Lucinha optamos por não aparecer – Arnaldo é sempre o foco, está sempre à frente de sua carreira. Vamos, então, aos fatos recentes.
Sergio Dias, por conta do lançamento de seu novo álbum, sempre sob o nome “Os Mutantes”, concedeu duas entrevistas até agora: a primeira para o canal Supernova, publicada em 22 jan 2020 no YouTube, quando o entrevistador, Eduardo Lemos, cita que “Arnaldo estava também na formação de 2006” para o show do Barbican… Interessante ter um olhar atento e ver que Lemos nem fez provocação alguma, apenas citou. Ao que Sergio respondeu: “o Arnaldo tinha voltado, mas … Arnaldo começou a crescer demais e algumas pessoas não gostaram disso, e tiraram ele no meio da turnê. Foi uma coisa absurda! … Ele começou a abrir as asas mesmo e a voltar, e as pessoas que tomam conta dele acho não ficaram contentes com essa independência e basicamente tiraram ele no meio da turnê, porque ela/eles têm a guarda dele, e eu não pude fazer nada e nem vou fazer nada porque, no fim das contas, quem vai sofrer é ele”. Em outra entrevista, a Gastão Moreira, publicada no dia 29 de janeiro no YouTube, no canal Kazagastão, Sergio retoma suas ofensas e inverdades: “a mulher dele é maluca! A Zélia saiu no meio da turnê, o que foi um absurdo isso, o Arnaldo também, mas isso dá pra entender, porque pelo menos a mulher dele é maluca…”.
Bem, vamos responder ponto a ponto. Primeiro, sobre “o Arnaldo ter começado a crescer”… Embora Sergio Dias, enquanto Arnaldo aceitou participar desses shows, nunca tenha chamado Arnaldo à frente do microfone, com raríssimas exceções, nem na interpretação de “Balada do Louco”, algo que me deixou particularmente chateada no show do Barbican em 2006, Arnaldo sempre foi reconhecido com a grandeza que lhe cabe: não foram uma, nem duas, nem três vezes, como aconteceu em Belo Horizonte e em Nova York, quando a plateia bateu os pés no chão para dar ritmo ao grito “Arnaldo! Arnaldo! Arnaldo!”. Quem não deixava Arnaldo aparecer era o Sergio Dias. Arnaldo, por exemplo, levou o baixo para os ensaios, mas o Sergio não permitiu que ele tocasse. Foi muito grosseiro, não deu a menor atenção ao baixo de Arnaldo, muito menos para ele tocar. Isso deixou o Arnaldo muito magoado.
Outro ponto, quando Sergio diz: “Arnaldo foi tirado da turnê por ela/eles que cuidam dele e têm a guarda dele”. Essa referência é de 2007 e como o próprio Sergio conta, não foi apenas Arnaldo que saiu ‘no meio’ da turnê e mesmo depois. Lembro que o show em Londres de 2007 terminou perto da meia noite. Depois disso, todos teriam que embarcar, imediatamente, em um ônibus para outros shows na Grã Bretanha, tendo que dormir no ônibus, uma agenda insana, sem descanso mínimo, que já vinha se repetindo há algum tempo e sendo alvo de reclamações não só de Arnaldo e Lucinha. Fora isso, durante todos os shows que surgiram pós Barbican, e até esse episódio final em 2007, todos foram marcados pela total falta de apoio de produção, mínimo que fosse, para Arnaldo e Lucinha – eles tinham que carregar suas próprias malas e até instrumentos, encontrar seus próprios restaurantes e viver apenas das verbas de alimentação. Não receberam cachês da turnê da europa em 2007. Por isso, Arnaldo diz no seu vídeo-resposta: “cansei de ser explorado, por isso saí”. E no dia em que Arnaldo e Lucinha resolveram não seguir mais em turnê, justamente neste dia em que teriam que dormir no ônibus, no dia em que chegaram ao limite da paciência e saúde, era também o último dia de hotel em Londres. E ambos foram jogados à própria sorte, na rua, literalmente. Apesar dos pedidos incansáveis para que adiantassem o vôo de ambos de volta para o Brasil, o empresário se recusou a fazer esse arranjo e fui eu quem os acolheu na minha casa em Londres, até que a banda e Sergio voltassem para pegarem o voo programado de volta ao Brasil. E foi neste momento que nos contaram, à mim e meu ex-marido, os detalhes sórdidos da turnê.
Tudo poderia ser diferente. A verdade é que o Barbican procurou Arnaldo Baptista para fazer uma partipação no evento-exposição Tropicália. Conseguiram o contato de Aluizer Malab em um dos créditos do álbum Let It Bed, solo de Arnaldo de 2004, e que foi considerado um dos melhores lançamentos do ano pela revista inglesas Mojo. Ou seja, Arnaldo não estava ‘voltando’ em 2006 com os Mutantes. Foi Aluizer que resolveu, a partir desse convite pessoal do Barbican ao Arnaldo, reunir os Mutantes para uma apresentação. Depois apareceram outros convites para shows nos EUA e Europa, dos quais Arnaldo aceitou participar. Arnaldo nunca assumiu uma volta aos Mutantes, ele simplesmente aceitou fazer alguns shows. Como mostra o lançamento de Let it Bed, Arnaldo estava ativíssimo em sua carreira solo, como sempre esteve, apesar de em alguns momentos longe dos holofotes.
Não temos noção do porquê de Sergio Dias precisar difamar Arnaldo e Lucinha para crescer na foto. Até agora, em nenhum momento, Arnaldo demandou royalties pelo uso do nome Os Mutantes, que lhe pertence também. Nunca foi à público ou a juízo impedir que Sergio fizesse o que bem entendesse com esse nome, tão relevante para a música brasileira. O que desejamos, como diz Arnaldo em seu vídeo-resposta, com gestos singelos e humorados, que é sua marca registrada: que Sergio Dias encontre um lugar ao sol sem ter que recorrer a esses subterfúgios maldosos e mentirosos. Como diz Arnaldo: “que ele consiga sobreviver sem ficar se encostando na minha sombra e na de Os Mutantes original”. E que tanto ele como Rita Lee aprendam que Lucinha Barbosa tem nome e posição: companheira e parceira de Arnaldo, e não apenas uma “cuidadora” ou “fã”, sem nome, sem identidade, como cruelmente insistem.
Esperamos que estas sejam as últimas vezes que Sergio Dias vá à público difamar Arnaldo e sua companheira de quase 40 anos. Do contrário, como diz Arnaldo, ele terá que se entender com a Justiça. Tudo tem um limite nesta vida! A gente vive na Paz, é a tônica, o astral, compartilhados cotidianamente nas mídias sociais de Arnaldo. Até que Sergio Dias, ou outro e outra qualquer, bata à porta com seus venenos e sombras tão mal trabalhadas. Não mais!
Pedra fundamental na história do rock brasileiro, o compacto de estreia do sexteto paulistano O’Seis finalmente ressurge em vinil, como cortesia da gravadora inglesa Mr. Bongo, que já reeditou vários clássicos de nossa música em LPs (o disco de estreia do Verocai, o Krishnanda de Pedro Santos, o Brazilian Octopus e a lista segue…). O’Seis era o embrião do mágico trio que funcionou como motor elétrico da Tropicália e explorou os limites do então jovem rock brasileiro – os Mutantes de Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee. Os outros três – Raphael Vilardi, Maria “Mogguy” Malheiros e Luiz Pastura – fizeram parte apenas desta formação pré-histórica (embora Raphael seja coautor de um clássico dos Mutantes, “Não Vá Se Perder Por Aí”).
Composto por duas faixas “Suicida” no lado A e “Apocalipse” no lado B, o compacto é bem mais melancólico do que se espera de um registro dos Mutantes e pode ser comprado no site da gravadora. Vi no site da Noize.
Como você avalia o som dos Mutantes hoje?
Eu acho que tá mais… gay (risos gerais). É um papel carbono dos Mutantes de antigamente, sem orquestra e com sintetizador. O Sérgio nunca foi de estudar, sempre foi meio rebelde, mas ultimamente, nos ensaios, ele vinha tentando dar uma de professor. Fica dando ordem, bronca, parece uma escola de música, não mais um conjunto. Eu cansei de convidá-lo pra vir até a minha casa, mas ele nunca foi. A humildade pra ele é muito difícil de entender. Mas isso já passou.
O programa de hoje começa mansinho, devagar, mas aos poucos ele vai anoitecendo…
The Bird and the Bee – “I Can’t Go For That”
Tensnake – “Get it Right”
Daft Punk – “Technologic (GoGoBizkitt Remix!)”
Erlend Oye + Morgan Geist – “Ghost Trains”
Crystal Castles – “Intimate”
Foals – “Black Gold”
Jamie Lidell – “The Ring”
Beck + Liars + St. Vincent + Sergio Dias – “Need You Tonight”
Xx- “Night Time (What Kind of Breeze Do You Blow Extended Edit)”
Vengeance DJs – “Close to Me (Vengeance Mashup)”
Louis La Roche + Ad Apt – “Missing You”
N*E*R*D + Nelly Furtado – “Hot N Fun”
REMIX86 – “Night Like You Better”
Mia – “Born Free”
Bora?
Ah garouto…
O que Celly Campelo, Les Paul, Stones, Demônios da Garoa, Nat King Cole e Sly & the Family Stone têm em comum? Seus discos foram citados pelo Sérgio Dias numa edição velha da Wax Poetics, pinçada pelo Fred.
E a nova incursão de Beck em seu Record Club é para um disco mais do que subestimado da década de 80: Kick é o disco que transformou o INXS em uma das principais bandas pop daquele período, embora muitos sequer lembrem que a banda existiu. Para regravar o disco, Beck chamou os Liars, dois St. Vincent e o Sérgio Dias (é!). A primeira faixa a aparecer foi “Guns in the Sky” – e ficou massa:
O Jeroen Revalk, do programa de rádio belga Cucamonga, esteve no Brasil no começo de 2006, para fazer entrevistas sobre a atual cena de São Paulo. O resultado é a série SamPa Beats, e tem dois trechos diferentes (dá pra ler e ouvir) de uma entrevista que ele fez comigo no hall do 7 Colinas (meu lar em Recife), quando eu tava no Porto Musical. Além deste seu correspondente, há entrevistas com o Maurício Takara, Tom Zé, Cunha Jr., Sérgio Dias, Hermano Vianna, Maurício Bussab, Arnaldo Antunes, Cadão Volpato, Apollo 9, Rica Amabis (do Instituto), Zeca Baleiro, Bid, Guilherme Barrella (da Peligro), Rodrigo Brandão, Stela Campos, Otto, Alexandre Youssef, João Marcello Bôscoli, Loop B, Suba, Gilberto Gil, Rodrigo do Pex Baa, Claudio Silberberg (da ST2), Rob Mazurek, Caetano Veloso, Jorge Ben, Jair Oliveira, Benjamin Taubkin, João Parahyba, entre outros… Bom trabalho, Jeroen.