Poolside em São Paulo: cortesia dos cinco anos do Neu

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Conheço o Neu quando ele ainda era uma idéia, cogitada entre as noites do saudoso Milo Garage da rua Minas Gerais: Dago e Gui tocavam as incríveis festas do selo Peligro às quintas-feiras (sempre com bandas novíssimas) e Guab tocava a clássica Mixtape aos sábados (discotequei algumas vezes em ambas, bons tempos). Os três juntaram forças e abriram o sobrado de fundos pro Parque da Água Branca, do lado da PUC em Perdizes, e aos poucos foram se estabelecendo como um dos cantos mais legais da noite de São Paulo. Guab deixou a sociedade (embora ainda toque de vez em quando por lá) e a casa passou por uma mudança drástica no último ano – rolou uma bela reforma e agora aceita cartões. “2013 foi um ano de encontrar a ‘nova cara’ da casa depois da reforma, com novas festas, mais diversidade entre elas, a novidade dos domingos”, me explica o Dago, que comemora os cinco anos de atividades trazendo a dupla Poolside para São Paulo e aproveitando a deixa para fazer uma bela semana de comemoração. “Nos outros anos, sempre comemoramos os aniversários da casa de maneira discreta, em festas pequenas, com nossos amigos. Mas uma casa noturna durar cinco anos em São Paulo é uma grande conquista, então decidimos fazer uma celebração um pouco maior”, continua. “Então veio essa ideia de fazer a sexta e o sábado com DJs representando as principais festas atuais da casa. E a quinta abre a maratona com a cereja do bolo, que é o set do Poolside e com os DJs da Avalanche – Bonde, Drunk Disco, Holger e eu – pra completar a noite. Virou quase um festivalzinho”.

O Poolside é dono de um dos discos mais legais do ano passado e eu vi os vi tocando na abertura do festival Primavera em Barcelona desse ano.

Vai ser legal vê-los no mesmo palco em que a Lulina homenageou o Lou Reed na Sussa, dia desses. A programação dos cinco anos do Neu segue abaixo – e eu toco no sábado, afinal além da Sussa (que alterno entre o Neu e a Casa do Mancha) estou inaugurando a Trabalho Sujo Naites neste sábado lá na casa da Água Branca.

 

Tortoise no Brasil

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O quinteto de Chicago volta a dar o ar de sua graça no Brasil, em quatro datas em São Paulo, no Sesc Belenzinho. O Tortoise toca seu Beacons of Ancestorship, de 2009, ao vivo, entre os dias 12 e 15 de dezembro. Os ingressos começam a ser vendidos no próximo dia 2.

Dica do pessoal do Norópolis.

O elixir Bixiga 70

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O Bixiga 70 lançou seu segundo disco na semana passada no Sesc Pompéia – e pude comparecer à segunda noite (que o tecladista e arranjador Maurício Fleury arriscou dizer que estava melhor do que a primeira). Não há dúvida: a banda é uma das melhores coisas que aconteceram à música instrumental brasileira nesta década e é nítido que já deixaram a primeira fase – em que eram apenas a única banda de afrobeat de São Paulo – para trás. É claro que o caldeirão de grooves temperado pelo Bixiga ainda tem sabor inevitavelmente afro – culpa da percussão e time de metais -, mas agora eles estão rumo aos afluentes do fluxo principal, quando a Mãe África começa a parir a música caribenha, a cúmbia sulamericana, os ritmos jamaicanos, a black music dos EUA e o tapeçaria de referências de nossa música brasileira – há ecos de Tom Jobim, João Donato e Eumir Deodato na mesma medida em que pitadas de carimbó e guitarradas. A proeminência das guitarras chama atenção principalmente quando Maurício deixa os teclados e assume o dueto elétrico com o guitarrista Cris Scabelo, deixando os arpejos highlife conversarem com guitarras caribenhas e dedilhados paraenses. A mobilidade dos metais pelo palco – que ora vêm à frente para solar, ora agem como grupo e cercam determinados integrantes da banda – é contagiante e o público deixa-se levar. O amálgama de gêneros ferve num calor em que até Luiz Gonzaga soa psicodélico sem parecer alheio àquela poção que borbulha no palco. Um show de purificação que funciona como um santo remédio. Veja uns vídeos que fiz aí embaixo:

 

Jazz na Fábrica: o maior festival de jazz de São Paulo

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Cassandra Wilson, Roscoe Mitchell, Dr. Lonnie Smith, Ibrahim Maalouf, Sun Rooms, Raul de Souza, João Donato e Eliane Elias, Ivo Perlman, Macy Gray, Richard Bona e David Murray são algumas das atrações que passam pelos palcos da choperia do Sesc Pompéia no mês de agosto, quando acontece a terceira edição do Jazz na Fábrica, o maior festival de jazz da cidade que se consolida aos poucos como uma grande vitrine mundial do gênero. O mês de atividades começou nesta quinta-feira passada, quando o grande McCoy Tyner deu início aos trabalhos, e segue até o primeiro dia do mês seguinte. Bati um papo com o Thiago Freire, sobre o festival e sua importância cada vez mais em alta para o gênero e para a cidade.

O que é o Jazz na Fábrica?
O Jazz na Fábrica é um festival de caráter panorâmico. Foi assim nas duas primeiras edições e assim deve permanecer. Desse modo, ele é calcado na ideia de pluralidade: gêneros, origens culturais e geográficas, formações e timbres. A terceira edição aposta ainda na ideia de “contaminações mútuas” – ao longo do século vinte o jazz se esparramou pelo globo, influenciando a produção musical de diversas regiões e carregando, em contrapartida, influências também diversas. Isso fica evidente na programação de artistas brasileiros, extremamente respeitados no cenário internacional como João Donato e Raul de Souza. Procuramos contemplar gostos diversos, as sonoridades mais tradicionais, as sonoridades mais jovens e os experimentalismos.

São Paulo é carente de jazz?
Pergunta difícil. São Paulo está inserida num circuito bastante interessante e recebe anualmente uma programação artística bastante rica em todas as linguagens. Há ainda uma proliferação de jovens grupos e diversos artistas com carreira longa tocando por aí em bares e casas de espetáculo. Desse ponto de vista, eu diria que não, não temos essa carência.
Contudo, acho importante considerarmos as questões da acessibilidade e das condições técnicas em geral. Se considerarmos que existe sim em São Paulo uma razoável oferta de apresentações jazzísticas e festivais, precisamos nos perguntar se, em geral, elas são acessíveis ao público do ponto de vista dos valores dos ingressos. Muitas vezes não são. No caso das casas voltadas ao público mais jovem, as condições de escuta nem sempre são as mais adequadas por diversos fatores, o que de modo algum compromete o seu importante papel. Mas nem sempre, ouvir a música é o foco da oferta, e mesmo, da procura. Desse ponto de vista, talvez não sejamos carentes de jazz, mais sem dúvida alguma quanto mais iniciativas tivermos, quanto melhores forem as condições propostas ao público e quanto mais claras forem as intenções de apresentar ao público um conteúdo relevante, melhor.

Quais as maiores dificuldades para escalar um evento como esse?
Eu diria que, por um lado, há uma abundância de propostas. Por outro, os nossos limites de natureza diversa – financeira, espaços, duração e prazos. Artistas estrangeiros lidam com o calendário de maneira diferente de nós e temos muito a aprender com isso. Mas sobretudo, o desafio reside no conteúdo: compor um todo bem arranjado, que levante questões com relação ao universo do jazz e que dê conta de passar por essas mesmas questões ao propor uma grade de programação.

Quais são seus maiores orgulhos nesta edição?
A programação foi construída a muitas mãos. A equipe de programação do Sesc Pompeia e os colegas da administração central. Isso garantiu a pluralidade e a articulação do festival e do resultado da curadoria. Por conta disso, o todo me deixa orgulhoso. E aos demais, creio, também.

O que deve surpreender o público?
Considerando “supreender” como “ser pego positivamente pelo desconhecido”, o trompetista Ibrahim Maalouf – ainda pouco conhecido no Brasil e que é um acontecimento na Europa – certamente deve surpreender. Eliane Elias, que toca pouco no Brasil, cantora e pianíssima habílissima, também. Todos os artistas brasileiros do recorte Café com Leite – que reúne mineiros e paulistas – certamente surpreenderão e comprovarão que se temos alguma carência quanto ao jazz, não é de talento!

Bruce Springsteen em São Paulo

bruce

Pra mim essa notícia não quer dizer muito, mas como tem uma galera que gosta…

É HOJE: Trabalho Sujo + Talco Bells @ Trackers

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O que acontece quando um experimento pop se encontra com os grooves da soul music? Foi pensando nessa conjunção astral que a nova edição da Noite Trabalho Sujo chamou os DJs da Talco Bells para transformar aquele andar mágico no centro de São Paulo em um happening coletivo em prol do alto astral. Nossa acabação feliz do bimestre começa a partir das 23h45 deste sábado, dia 20 de julho, na sede da Associação Brasileira de Empresários de Diversões também conhecida como Trackers (R. Dom José de Barros, 337), no centro da cidade de São Paulo, maior cidade da América Latina. Quem se dispor a conferir ao vivo, basta desembolsar R$ 25 até a 1h da manhã ou R$ 30 a partir deste horário. Sua presença deverá ser anunciada através do email: noitestrabalhosujo@gmail.com até às 20h do dia citado.

Vai ser épico!

Repetindo:
TRABALHO SUJO + TALCO BELLS
DJs: Alexandre Matias, Luiz Pattoli, Babee e Danilo Cabral (Trabalho Sujo); Elohim Barros, Filipe Luna e Bruno Torturra (Talco Bells)
Sábado, 20 de julho de 2013
R. Dom José de Barros, 337, Centro, São Paulo
A partir das 23h45.
Entrada: R$ 25 (até a 1h) e R$ 30 (em diante) apenas com nome na lista através do email noitestrabalhosujo@gmail.com

Trabalho Sujo + Talco Bells @ Trackers

trabalho_talco_bells

O que acontece quando um experimento pop se encontra com os grooves da soul music? Foi pensando nessa conjunção astral que a nova edição da Noite Trabalho Sujo chamou os DJs da Talco Bells para transformar aquele andar mágico no centro de São Paulo em um happening coletivo em prol do alto astral. Nossa acabação feliz do bimestre começa a partir das 23h45 deste sábado, dia 20 de julho, na sede da Associação Brasileira de Empresários de Diversões também conhecida como Trackers (R. Dom José de Barros, 337), no centro da cidade de São Paulo, maior cidade da América Latina. Quem se dispor a conferir ao vivo, basta desembolsar R$ 25 até a 1h da manhã ou R$ 30 a partir deste horário. Sua presença deverá ser anunciada através do email: noitestrabalhosujo@gmail.com até às 20h do dia citado.

Repetindo:
TRABALHO SUJO + TALCO BELLS
DJs: Alexandre Matias, Luiz Pattoli, Babee e Danilo Cabral (Trabalho Sujo); Elohim Barros, Filipe Luna e Bruno Torturra (Talco Bells)
Sábado, 20 de julho de 2013
R. Dom José de Barros, 337, Centro, São Paulo
A partir das 23h45.
Entrada: R$ 25 (até a 1h) e R$ 30 (em diante) apenas com nome na lista através do email noitestrabalhosujo@gmail.com

O rebatismo da Ponte Estaiada

Aconteceu esta noite:

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A foto é do Ricardo Matsukawa e foi postada online pelo Lino e o vídeo segue abaixo.

 

Gossip no Brasil

gossip

Confirmado, dia 27 de agosto, no HSBC, 190 pilas é o ingresso mais barato.

E aí, quem vai?

Slavoj Žižek e o que está acontecendo no Brasil em junho de 2013

Quando o Žižek (que eu entrevistei no início do ano) visitou o OccupyWallStreet, no Parque Zuccotti, em Nova York, em 2011, deu um discurso que voltou a ser compartilhado principalmente a partir do clima de puro oba-oba que aos poucos pareceu ter se infiltrado pelas brechas do pacifismo da passeata que parou São Paulo na segunda-feira. Publiquei a tradução naquela época e volto a replicá-la aqui mais uma vez:

Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui. Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada. Apaixone-se pelo trabalho duro e paciente – somos o início, não o fim. Nossa mensagem básica é: o tabu já foi rompido, não vivemos no melhor mundo possível, temos a permissão e a obrigação de pensar em alternativas. Há um longo caminho pela frente, e em pouco tempo teremos de enfrentar questões realmente difíceis – questões não sobre aquilo que não queremos, mas sobre aquilo que QUEREMOS. Qual organização social pode substituir o capitalismo vigente? De quais tipos de líderes nós precisamos? As alternativas do século XX obviamente não servem.

Então não culpe o povo e suas atitudes: o problema não é a corrupção ou a ganância, mas o sistema que nos incita a sermos corruptos. A solução não é o lema “Main Street, not Wall Street”, mas sim mudar o sistema em que a Main Street não funciona sem o Wall Street. Tenham cuidado não só com os inimigos, mas também com falsos amigos que fingem nos apoiar e já fazem de tudo para diluir nosso protesto. Da mesma maneira que compramos café sem cafeína, cerveja sem álcool e sorvete sem gordura, eles tentarão transformar isto aqui em um protesto moral inofensivo. Mas a razão de estarmos reunidos é o fato de já termos tido o bastante de um mundo onde reciclar latas de Coca-Cola, dar alguns dólares para a caridade ou comprar um cappuccino da Starbucks que tem 1% da renda revertida para problemas do Terceiro Mundo é o suficiente para nos fazer sentir bem. Depois de terceirizar o trabalho, depois de terceirizar a tortura, depois que as agências matrimoniais começaram a terceirizar até nossos encontros, é que percebemos que, há muito tempo, também permitimos que nossos engajamentos políticos sejam terceirizados – mas agora nós os queremos de volta.

Dirão que somos “não americanos”. Mas quando fundamentalistas conservadores nos disserem que os Estados Unidos são uma nação cristã, lembrem-se do que é o Cristianismo: o Espírito Santo, a comunidade livre e igualitária de fiéis unidos pelo amor. Nós, aqui, somos o Espírito Santo, enquanto em Wall Street eles são pagãos que adoram falsos ídolos.

Dirão que somos violentos, que nossa linguagem é violenta, referindo-se à ocupação e assim por diante. Sim, somos violentos, mas somente no mesmo sentido em que Mahatma Gandhi foi violento. Somos violentos porque queremos dar um basta no modo como as coisas andam – mas o que significa essa violência puramente simbólica quando comparada à violência necessária para sustentar o funcionamento constante do sistema capitalista global?

Seremos chamados de perdedores – mas os verdadeiros perdedores não estariam lá em Wall Street, os que se safaram com a ajuda de centenas de bilhões do nosso dinheiro? Vocês são chamados de socialistas, mas nos Estados Unidos já existe o socialismo para os ricos. Eles dirão que vocês não respeitam a propriedade privada, mas as especulações de Wall Street que levaram à queda de 2008 foram mais responsáveis pela extinção de propriedades privadas obtidas a duras penas do que se estivéssemos destruindo-as agora, dia e noite – pense nas centenas de casas hipotecadas…

Nós não somos comunistas, se o comunismo significa o sistema que merecidamente entrou em colapso em 1990 – e lembrem-se de que os comunistas que ainda detêm o poder atualmente governam o mais implacável dos capitalismos (na China). O sucesso do capitalismo chinês liderado pelo comunismo é um sinal abominável de que o casamento entre o capitalismo e a democracia está próximo do divórcio. Nós somos comunistas em um sentido apenas: nós nos importamos com os bens comuns – os da natureza, do conhecimento – que estão ameaçados pelo sistema.

Eles dirão que vocês estão sonhando, mas os verdadeiros sonhadores são os que pensam que as coisas podem continuar sendo o que são por um tempo indefinido, assim como ocorre com as mudanças cosméticas. Nós não estamos sonhando; nós acordamos de um sonho que está se transformando em pesadelo. Não estamos destruindo nada; somos apenas testemunhas de como o sistema está gradualmente destruindo a si próprio. Todos nós conhecemos a cena clássica dos desenhos animados: o gato chega à beira do precipício e continua caminhando, ignorando o fato de que não há chão sob suas patas; ele só começa a cair quando olha para baixo e vê o abismo. O que estamos fazendo é simplesmente levar os que estão no poder a olhar para baixo…

Então, a mudança é realmente possível? Hoje, o possível e o impossível são dispostos de maneira estranha. Nos domínios da liberdade pessoal e da tecnologia científica, o impossível está se tornando cada vez mais possível (ou pelo menos é o que nos dizem): “nada é impossível”, podemos ter sexo em suas mais perversas variações; arquivos inteiros de músicas, filmes e seriados de TV estão disponíveis para download; a viagem espacial está à venda para quem tiver dinheiro; podemos melhorar nossas habilidades físicas e psíquicas por meio de intervenções no genoma, e até mesmo realizar o sonho tecnognóstico de atingir a imortalidade transformando nossa identidade em um programa de computador. Por outro lado, no domínio das relações econômicas e sociais, somos bombardeados o tempo todo por um discurso do “você não pode” se envolver em atos políticos coletivos (que necessariamente terminam no terror totalitário), ou aderir ao antigo Estado de bem-estar social (ele nos transforma em não competitivos e leva à crise econômica), ou se isolar do mercado global etc. Quando medidas de austeridade são impostas, dizem-nos repetidas vezes que se trata apenas do que tem de ser feito. Quem sabe não chegou a hora de inverter as coordenadas do que é possível e impossível? Quem sabe não podemos ter mais solidariedade e assistência médica, já que não somos imortais?

Em meados de abril de 2011, a mídia revelou que o governo chinês havia proibido a exibição, em cinemas e na TV, de filmes que falassem de viagens no tempo e histórias paralelas, argumentando que elas trazem frivolidade para questões históricas sérias – até mesmo a fuga fictícia para uma realidade alternativa é considerada perigosa demais. Nós, do mundo Ocidental liberal, não precisamos de uma proibição tão explícita: a ideologia exerce poder material suficiente para evitar que narrativas históricas alternativas sejam interpretadas com o mínimo de seriedade. Para nós é fácil imaginar o fim do mundo – vide os inúmeros filmes apocalípticos –, mas não o fim do capitalismo.

Em uma velha piada da antiga República Democrática Alemã, um trabalhador alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que todas as suas correspondências serão lidas pelos censores, ele diz para os amigos: “Vamos combinar um código: se vocês receberem uma carta minha escrita com tinta azul, ela é verdadeira; se a tinta for vermelha, é falsa”. Depois de um mês, os amigos receberam a primeira carta, escrita em azul: “Tudo é uma maravilha por aqui: os estoques estão cheios, a comida é abundante, os apartamentos são amplos e aquecidos, os cinemas exibem filmes ocidentais, há mulheres lindas prontas para um romance – a única coisa que não temos é tinta vermelha.” E essa situação, não é a mesma que vivemos até hoje? Temos toda a liberdade que desejamos – a única coisa que falta é a “tinta vermelha”: nós nos “sentimos livres” porque somos desprovidos da linguagem para articular nossa falta de liberdade. O que a falta de tinta vermelha significa é que, hoje, todos os principais termos que usamos para designar o conflito atual – “guerra ao terror”, “democracia e liberdade”, “direitos humanos” etc. etc. – são termos FALSOS que mistificam nossa percepção da situação em vez de permitir que pensemos nela. Você, que está aqui presente, está dando a todos nós tinta vermelha.

O discurso foi filmado e seus vídeos vão a seguir: