A superposição do “Concertino for 4 Percussion & Wind Ensemble”, de David R. Gillingham, tocada pela Banda Sinfônica do Estado de São Paulo aos protestos pró-impeachment de quase um ano atrás e à música “Ó” de Rômulo Fróes – tudo registrado no mesmo 16 de agosto do ano passado – dá a esse curta Barulho Feio, de Miguel Antunes Ramos, apresentado em primeira mão no Trabalho Sujo, um tom meio fantasmagórico e descrente sobre o Brasil em 2016. O próprio Miguel descreve o que quis fazer:
“No começo havia uma vontade de filmar essa coisa maluca que foram as passeatas pró-impeachment, que nos parece uma coisa até hoje pouco compreendida pela esquerda, tendo sido muito facilmente ridicularizada e ignorada, como se não fosse o surgimento de algo terrível e no entanto duradouro, que agora assumiu de vez o poder.
Depois percebemos que em um mesmo dia haveria o concerto na Sala São Paulo e o show do Rômulo Fróes no Teatro de Arena, e nos pareceu que a associação entre as três coisas poderia revelar alguma coisa sobre o momento confuso que vivemos.
Filmamos tudo de forma direta, uma câmera e um tripé, e o resultado é esse que pode ser visto em Barulho Feio.”
Enquanto o disco-tributo a Nelson Cavaquinho não chega (por enquanto só sabemos que teremos shows de lançamento nos dias 17 e 18 de março no Sesc Vila Mariana), Romulo Fróes continua dando notícias de seu disco do ano passado – desta vez ele mostra o clipe para “Porto”, filmado em Moscou, por Aline Belfort.
Romulo Fróes não para! Depois de lançar um disco com músicas que fez para outras interpretes no fim do ano passado e de lançar o vinil de seu Barulho Feio, ele anuncia notícias para 2016, quando lança Rei Vadio, um disco inteiramente dedicado à obra do visceral Nelson Cavaquinho. A previsão de lançamento é para o mês que vem…
Rômulo Fróes está lançando seu disco de 2014 Barulho Feio em vinil em três shows gratuitos, quinta, sexta e sábado, no Teatro de Arena, em São Paulo, e descolou três unidades para serem sorteadas aqui no Trabalho Sujo. Basta responder nos comentários deste post qual é sua música favorita do disco e por quê, além de que dia você prefere ir no show (além de deixar seu email para que eu possa entrar em contato). Até o final da tarde de quinta eu anuncio os vencedores, que poderão retirar seu disco direto no show. Maiores informações na página do evento no Facebook. Valendo!
Pelo menos um segundo Vida Fodona neste mês.
Style Council – “Shout it to the Top”
Instituto + Tulipa Ruiz – “Tudo Que Se Move”
Deerhunter – “Snakeskin”
Courtney Barnett – “Shivers”
Ryan Adams – “I Know Places”
Karina Buhr – “Conta Gotas”
Bárbara Eugenia – “Doppelganger Love”
BNegão e os Seletores de Frequência – “Mundo Tela”
Kendrick Lamar – “King Kunta”
Rodrigo Ogi + Kiko Dinucci + Juçara Marçal – “Correspondente”
Tika – “Antimusa”
Lana Del Rey – “Music To Watch Boys To”
Hot Chip – “Dancing In The Dark”
Disclosure – “Jaded (Lone Remix)”
Magic! – “Rude”
Vamo lá
Tika mudou-se para São Paulo e aos poucos vem entendendo a cidade pelas beiradas. Com um EP lançado no ano passado, a paulista de Rio Claro chegou à cidade graças a Fernando Trz, músico e produtor do grupo Lavoura, que conheceu o tempo em que morou em São Carlos. Trz produziu o primeiro EP e apresentou a cantora ao cantor e compositor Pipo Pegoraro, que a conduziu ao estúdio, levando também o baterista Tony Gordin, a cantora Kika e o baixista Zé Nigro para regravar “Antimusa”, de Rômulo Fróes. Ela lança seu primeiro single no dia 31, no Lóki Bicho, ao lado de outras novas cantoras, como Luiza Lian, Laya (do Jardim das Horas), a própria Kika e Camila Garófalo. “”Tem uma movimentação acontecendo com Camila Garófalo, Luiza Lian, Kika, Bruno Morais, Bruno Souto… Não por acaso todos têm apenas um disco lançado, fazem shows em lugares parecidos, e curtem muitos sons em comum”, ela explica.
O sambista paulistano Rômulo Fróes chega a seu sexto disco fazendo um balanço de sua carreira, numa espécie de disco-pausa em que resgata composições próprias que nunca foram gravadas por ele, e sim por outras intérpretes. Por Elas Sem Elas reúne canções que ele escreveu para Mariana Aydar, Nina Becker, Juçara Marçal, Juliana Perdigão e Elza Soares, entre outras, reduzidas ao denominador mínimo da voz e do violão que, em se tratando de Rômulo – fiel devoto de João Gilberto que não compartilha da linha ortodoxa da música brasileira quem chamam de “MPB” – reduz tudo aos menores sons e tons, cercados de silêncios e pausas. Ele conta mais sobre o disco num texto escrito para o Trabalho Sujo, em que explica também porque escolheu a canção “Porto”, originalmente gravada por Mariana Aydar, para começar a divulgar o disco. A faixa – e a capa de Rodrigo Sommer, abaixo – também aparece pela primeira vez com exclusividade para cá:
“Por Elas Sem Elas é quase um disco fora da curva na minha discografia até aqui. Digo isto porque, pela primeira vez na minha carreira, as canções escolhidas não se agruparam de um modo mais claro que as organizasse em torno do pensamento estético que venho desenvolvendo ao longo dos meus discos e que sempre determina para mim a hora de se lançar mais um novo trabalho. O mote aqui foi tão somente registrar na minha voz, canções que foram lançadas anteriormente por cantoras e que até aqui não haviam sido gravadas por mim. Talvez por isso, tenha optado por lançá-las na sua forma mais primitiva, do modo como todas as minhas canções nascem, no formato voz e violão. Tentei dessa forma, trazer alguma unidade a este conjunto de canções, a princípio, tão díspares. Pela primeira vez, deixei em primeiríssimo plano, o que para mim é o centro do meu trabalho: minha relação com a composição e minha busca por continuar a transformar a forma canção. Nunca meu trabalho ficou tão exposto quanto nesse disco. Com as canções despidas de qualquer aparato sonoro, amplia-se o foco do núcleo letra-melodia, facilitando o seu acesso, mas também a avaliação sobre seu êxito ou não. Escolhi como single deste álbum a canção ‘Porto’, porque acho que ela represente bem, alguns dos muitos caminhos que desenvolvi até aqui em busca de uma voz própria. Composta há muitos anos, ela faz parte de um período em que eu, atrás dessa voz, me propus a trabalhar com os diversos gêneros da cancão, fato que me levou, com o tempo, a me aproximar do samba, especialmente os sambas de caráter mais triste, mais rebaixado, menos luminosos, de artistas como Paulinho da Viola, Cartola, Batatinha e acima de todos, Nelson Cavaquinho. Muito por conta de enxergar uma certa similaridade, digamos, negativa, com o samba, me lancei na tentativa de compor um fado. Porto, é essa minha tentativa de compor um fado, mas que por minha completa falta de intimidade com o gênero, mesmo com a linda letra de Nuno Ramos e sua geografia imaginária em que se aproximam as cidades de Lisboa e Salvador, ainda assim, esta tentativa acabou-se revelando, quando muito, um quase-fado. Por isso mesmo gosto muito desta canção, pelo quase, pelo entre, que ela contém. É este não-lugar que busco para a minha música. Um lugar em que não se reconhece com facilidade sua origem e que não realiza por completo seu destino. Como diz a letra da canção: ‘tava perto, quase lá, quase pus meu pé a areia’.”
Por Elas Sem Elas será lançado gratuitamente no site oficial do compositor a partir da sexta que vem.
A contundente “Maria Da Vila Matilde” é a primeira música do novo disco de Elza Soares, A Mulher do Fim do Mundo, produzido pelo Guilherme Kastrup e dirigido por Celso Sim e Rômulo Fróes, em que nossa diva do samba soul é tratada a pão de ló por um senhor time de músicos e compositores paulistanos que inclui nomes como Kiko Dinucci, Cacá Machado, Marcelo Cabral, Clima, Rodrigo Campos, Douglas Germano e José Miguel Wisnik. Dá pra baixar a música aqui.
Você já sabia que o quarteto Passo Torto – formado por Kiko Dinucci, Rômulo Fróes, Marcelo Cabral e Rodrigo Campos – estava prestes a lançar um disco com a Ná Ozzetti e a presença do saxofonista Thiago França na primeira foto de divulgação do trabalho alertava que ela não seria a única participação no disco lançado nesta terça, que chama-se… Thiago França – mas a participação Thiago resume-se ao título. O disco pode ser baixado gratuitamente no site da banda, que lança o álbum nos dias 7 e 8 do mês que vem no Sesc Santo Amaro.