Entre o indie pop e a canção brasileira

Afiando cada vez mais a formação que montou para sua temporada Decantar e Decompor no Centro da Terra, Lulina abriu mais uma segunda-feira no teatro do Sumaré mostrando a eficácia melódica esperta que construiu ao lado de seu parceiro, o baixista e maestro Hurso Ambrifi, reunindo dois sintetizadores (um tocado por Chiquinho Moreira, do Mombojó, e o outro por Katu Haí, que também reveza-se entre a flauta transversal e o trompete), baixo, bateria (de timbres analógicos e digitais, disparados por Bianca Predieri) e pelas notas delicadas da guitarra de Lucca Simões. Esta formação consegue criar uma sonoridade que ecoa o minimalismo de bandas alternativas americanas e europeias favoritas do grupo (dá pra ouvir Yo La Tengo, Stereolab, Durutti Column, Pato Fu, Galaxie 500, Brian Eno, Saint Etienne, Flaming Lips, Belle & Sebastian, Charlotte Gainsbourg e Beta Band) atreladas a uma escola da canção brasileira escolhida por Lulina (que mistura os lados cronistas de Caetano Veloso, Jorge Ben e Gilberto Gil com o experimentalismo lírico de Tom Zé, Walter Franco, Pato Fu e Fellini). Tudo deixando-a cada vez mais à vontade – inclusive para tocar músicas sem a guitarra, algo raro -, como quando convidou o velho parceiro Rômulo Froes para tocar, pela primeira vez no palco, duas canções que trabalharam juntos há mais de dez anos. “A gente é da velha guarda indie”, brinco o paulistano. “Resistência indie!”, comemorou a dona da noite, que encerra sua temporada na próxima segunda, quando convida Felipe S. – e anunciou alguns convidados a mais, surpresa…

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Lulina: Decantar e decompor

Que prazer poder abrir o Centro da Terra para uma temporada inteira para a querida Lulina, que aproveitou o convite para rever velhas canções que nunca foram lançadas e canções novas que quem sabe ainda serão no que a cantora e compositora pernambucana chamade “processo de análise intuitiva de células musicais”. Ela visita discos recentes que não foram lançados ao vivo (por motivos pandêmicos), como Vida Amorosa Que Segue e do Wi-Sci-Fi, e trabalhos anteriores como Desfaz de conta e Cristalina em quatro apresentações para matar a saudade dos palcos, sempre acompanhadas de uma banda formada por Hurso Ambrifi (baixo, synths e voz, que também faz a direção musical do projeto), Chiquinho Moreira (synths e MPC), Bianca Predieri (bateria e SPD), Katu Haí (flauta, trompete e synths) e Lucca Simões ((guitarra), e a cada segunda-feira traz um convidado: nesta primeira, dia 8, ela recebe Bruno Morais, no dia 15 é a vez de Fabrício Corsaletti, depois, dia 22, vem Romulo Fróes, e a temporada chega ao fim com a presença de Felipe S, no dia 29. Os espetáculos começam pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados com antecedência neste link.

Centro da Terra: Maio de 2023

Abril nem acabou mas já temos a programação de maio do Centro da Terra definida. E quem ocupa das segundas-feiras do teatro é a querida Lulina, com sua temporada Decantar e Decompor, em que visita diferentes momentos de sua carreira com convidados conhecidos de épocas diferentes, trazendo a público inclusive canções que nunca foram lançadas. A temporada começa no dia 8 de maio (pois dia 1°, segunda-feira, o teatro não abre porque é feriado) e a cada dia ela chama um nome diferente para acompanhá-la: no dia 8 ela recebe Bruno Morais, dia 15 é a vez de Fabrício Corsaletti, dia 22 vem Rômulo Froes e Felipe S. encerra a temporada da cantora e compositora pernambucana no dia 29. As terças-feiras de maio estão marcadas por estreias. No dia 2 reunimos a Meia Banda dos cariocas Bruno Manso e Bruno Di Lullo à voz da alagoana Tori, em Murmúrios, o primeiro show desta formação em São Paulo. Uma semana depois, dia 9, é a vez da Rotunda, novo projeto da artista sonora Bella com o músico e produtor Thiago Nassif e o percussionista Cláudio Brito, fazer sua estreia em palcos paulistanos. Dia 16 quem também faz sua estreia em São Paulo é o cantor e compositor Gabriel Milliet, que está preparando-se para lançar seu primeiro disco solo depois de uma temporada na Europa, com o espetáculo Longe de Casa. Dia 23 é a vez do quarteto de cordas Risco, formado por Carla Raiza (viola), Erica Navarro (violoncelo), Mathilde Fillat e Mica Marcondes (violinos), mostrar a mistura de música erudita e popular proposto por estas musicistas na apresentação Cor da Corda. E, finalmente, dia 30, Manu Pereira faz sua estreia musical ao trazer suas Epifanias Noturnas para o palco do Centro da Terra. E como se não bastasse tudo isso, às quartas-feiras seguimos com a programação de cinema em parceria com o festival de documentários sobre música In Edit, que preparou uma seleção sensacional: no dia 3 exibiremos Adoniran – Meu Nome É João Rubinato, de Pedro Serrano, sobre o maior nome do samba paulistano; dia 10 é traremos Onildo Almeida – Groove Man, de Helder Lopes e Cláudio Bezerra, sobre um dos maiores nomes da história do baião, que relembra suas histórias; dia 17 é a vez A Música Natureza de Léa Freire, de Lucas Weglinsk, sobre uma das maiores compositoras do Brasil, que, mesmo sendo comparada a Villa-Lobos, Tom Jobim ou Hermeto Pascoal nunca teve sua reputação festejada como deveria; e no dia 24 vem Pipoca Moderna, de Helder Lopes, que conta a história de Sebastião Biano, líder e único remanescente da formação original da Banda de Pífanos de Caruaru. Os espetáculos começam sempre às 20h e os ingressos já estão à venda neste link.

Incisiva e sensível

Anna Vis lançou sua carreira fonográfica no dia em que fez o primeiro show desta nova fase, lançando seu disco de estreia, Como Um Bicho Vê, no palco do Sesc Vila Mariana exatamente no mesmo dia em que este viu a luz do dia. E, como o próprio disco, o show foi direto e convicto, com sua autora assumindo a força deste primeiro trabalho acompanhada da mesma dupla que a ajudou a transformar suas canções em fonograma – Marcelo Cabral e Maurício Takara -, que abriram seus respectivos baixo e bateria para que ela mostrasse suas composições desimpedidamente. Além da dupla, que também produziu o disco, ela ainda contou com a presença do diretor artístico deste trabalho, Romulo Fróes, que em vez de cantar a música que participa no final do álbum (a tensa “Moribundo”), preferiu cantar “Calada”, que leva a carrega o verso que batiza o disco – Anna retribuiu a participação puxando “Numa Cara Só”, de um dos discos que Romulo lançou ano passado, Aquele Nenhum. Mas o show era dela e mesmo com essas presenças ilustres, não baixou a cabeça e apresentou-se com a mesma firmeza do disco. Quase sem trocar palavras com o público, ainda intercalou as faixas com o longo poema “Sem Vacilação”, que, como no disco, espalhou pelo repertório – a diferença é que se, no disco,os pedaços do texto foram amparados pela colagem eletrônica do produtor carioca Mbé, no show Takara e Cabral improvisaram bases acústicas para que ela recitasse o texto, criando uma conversa dinâmica e ao mesmo tempo austera com suas canções incisivas e sensíveis.

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Anna Vis Sem vacilação

Confesso que não entendi nada quando vi Anna Vis tocando suas canções ao violão. Ainda estávamos no primeiro semestre da pandemia, quando caiu a ficha que não eram alguns dias ou semanas e que a peste ia durar meses, talvez anos. E esta tragédia, como sabemos, obrigou a todos que viviam de apresentações ao vivo passar por transformações que mexiam em suas atividades originais. E de repente lá estava Anna, que conhecia como técnica de som de shows, empunhando seu violão e dedilhando composições próprias como se sempre tivesse feito aquilo – longe de todos. Passei acompanhar mais de perto essa mudança de papel e aos poucos a vi se envolvendo com Rômulo Froes, chamando Marcelo Cabral e Maurício Takara para acompanhá-la na gravação de seu primeiro disco, que ainda contou com participações de Juçara Marçal, Ná Ozzetti, Mbé, Clima e Juliana Perdigão. E neste processo, não só pude conversar com a nova cantora e compositora sobre sua nova carreira, como a instiguei sobre como traduzir este novo trabalho para o palco. Seu disco de estreia, Como um Bicho Vê, será lançado nas plataformas na próxima quinta-feira, o mesmo dia em que faz o primeiro show deste álbum no Sesc Vila Mariana (os ingressos estavam quase acabando, corre que ainda dá pra comprar). E ela topou mostrar seu disco antes de seu lançamento em primeira mão aqui no Trabalho Sujo, este que é o primeiro grande lançamento brasileiro de 2023.

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Romulo Fróes: Transa 50

E quase no fim da programação de 2022 no Centro da Terra, convidei o grande Romulo Fróes para mostrar mais uma encarnação que faz do clássico Transa, de Caetano Veloso, que completa 50 anos neste 2022. Sempre bem acompanhado – Rodrigo Campos no cavaquinho, Guilherme Held na guitarra, Marcelo Cabral no baixo e Décio 7 e Richard Ribeiro nas baterias (sim, duas baterias!) -, ele nos conduz mais uma vez neste disco-chave não apenas para a carreira de um dos maiores nomes de nossa cultura, mas também para nossa música, quando, ainda exilado na Inglaterra, o cantor e compositor baiano mergulhou no DNA de nossa música para apontar seu futuro. Meio século depois, o Transa 50 de Romulo Fróes confirma algumas daquelas previsões ao mesmo tempo em que abre novos rumos para ideias seculares sobre a natureza de nosso país. Ainda mais fechando um ano como esse… O espetáculo começa pontualmente às 20h e ainda tem ingressos à venda neste link, embora estejam quase no fim…

Centro da Terra: Dezembro de 2022

Como já é tradição, no último mês do ano o Centro da Terra conta apenas com uma semana de programação antes de encerrar suas atividades. Originalmente teríamos três apresentações nesta última semana de 2022, mas como uma delas coincidia com o fim de um jogo do Brasil na Copa do Mundo, abrimos mão da segunda-feira para focarmos em duas datas: na primeira terça-feira do mês Romulo Fróes traz para o teatro do Sumaré a versão que fez para um dos discos mais clássicos da música brasileira, o Transa de Caetano Veloso que completa meio século de idade neste ano que chega ao fim. Ao seu lado, os suspeitos de sempre, Rodrigo Campos, Guilherme Held, Richard Ribeiro, Décio 7 e Marcelo Cabral ajudam-no a levar o disco para ambientes sonoros improváveis e ao mesmo tempo próximos da atmosfera original do disco. E na quarta-feira, Kiko Dinucci encerra as atividades do ano convidando a cantora Marcela Lucatelli e a baterista Alana Ananias para uma noite de improviso livre – e você sabe como são estas noites no Centro da Terra… Os ingressos já estão à venda neste link e correm o risco de acabar rapidinho, não dê mole!

Anna Vis: Como um bicho vê

Não é uma estreia, mas é como se fosse: Anna Vis está aos poucos saindo de seu casulo artístico e mostra suas composições nesta terça-feira, no Centro da Terra, a partir das 20h, ao mesmo tempo em que finaliza seu disco de estreia, que deve ser lançado ainda neste sempre. No espetáculo Como Um Bicho Vê, ela mostra as canções que fazem parte de seu repertório ao lado do baixista Marcelo Cabral e chama Rômulo Froes e Eduardo “Clima” Climachauska, que também estarão no álbum, para participar desta primeira apresentação de seu novo trabalho. As portas se abrem às 20h e os ingressos podem ser comprados aqui.

Centro da Terra: Abril de 2022

Seguimos felizmente a nova safra de espetáculos que está reativando o palco do Centro da Terra e depois de um março caloroso é hora de assistirmos a um abril em que artistas exploram novas possibilidades de seus trabalhos, sempre às segundas e terças-feiras (e os ingressos já estão à venda aqui). A temporada de segunda-feira fica a cargo do Zé Nigro, mais conhecido por ter produzido discos de Curumin, Francisco El Hombre e Anelis Assumpção (além de estar finalizando o novo de Russo Passapusso), que finalmente lançou seu primeiro trabalho solo no ano passado e o expande pelas quatro segundas do próximo mês, sempre esmiuçando diferentes aspectos de seu álbum de estreia, Apocalip Se, na temporada Görjeios. Na primeira segunda, dia 4, ele convida Anna Zêpa, Eveline Sin e Dandara Azevedo que declamam poemas que conversam com músicas compostas ao lado de Zé, apresentando-as nesta mesma noite. No dia 11, ele convida Saulo Duarte e Anais Sylla, que também participaram do disco, em uma noite mais intimista e tropical. No dia 18 é a vez de Zé receber o produtor Beto Villares e a cantora Alessandra Leão e seu mês termina no dia 25 antecipando a instalação que batiza a temporada, em que convida o público para uma imersão nas questões ambientais tão ameaçadas atualmente. Na primeira terça do mês, dia 5, é a vez de receber a dupla Suzana Salles e Luiz Chagas, que apresentam o espetáculo Rozana e Charles, uma homenagem que os dois fazem à duradoura amizade que começou nos ensaios da banda Isca de Polícia. Na segunda terça-feira, dia 12, recebemos a querida Anna Vis, que mostra suas primeiras composições e o início de seu primeiro disco solo ao lado de Marcelo Cabral, Eduardo Climachauskar e Rômulo Froes. Marcelo Cabral retorna nas duas terças do final do mês ao lado de Gui Held e Maria Beraldo para mostrar uma outra versão de seu primeiro disco solo, chamada Motor Elétrico. Vai ser um mês e tanto, preparem-se!

Obrigado, Elza

Nesta quinta-feira, o país perdeu uma de suas maiores artistas – e Elza Soares cantou até o fim. Conversei com seus compadres Romulo Fróes, Guilherme Kastrup e Kiko Dinucci, que ajudaram a erguer seu nome no último e feliz capítulo de sua vida, sobre a importância desta deusa para nossa cultura em mais uma colaboração para o site da CNN Brasil.