Roger Corman (1926-2024)

Morreu um pilar do cinema moderno. Roger Corman foi conhecido como o grande nome dos filmes B, produções de baixo orçamento que serviam tanto para manter o público nos cinema quando a TV começou a crescer na virada dos anos 50 e 60 quanto para explorar novas possibilidades artísticas, que às vezes convergiam com a questão comercial, às vezes não. E assim ele fazia seus filmes compulsivanmente, realizando quase 400 produções entre 1954 e 2008, quando resolveu aposentar-se. Ao fazer filmes baratos, trabalhava fora do sistema de Hollywood e tornou-se um dos principais nomes do cinema independente do mundo. Fazendo filmes baratos em gêneros considerados de segundo escalão (como horror, ficção científica e aventura), ele também foi o responsável por distribuir uma nova geração de diretores estrangeiros nos EUA, o que também ajudou a moldar a cara da nova Hollywood, a partir dos anos 70, quando conseguiu os direitos para distribuir filmes de Fellini, Bergman, Truffaut e Kurosawa, entre outros. O epíteto “papa do cinema pop” que batiza um documentário de 2011 sobre sua carreira acaba limitando sua importância. Mais do que o progenitor do cinema norte-americano como o conhecemos hoje, ele o fez que, ao contrário do cinema industrial de Hollywood na época, a linguagem cinematográfica de seu tempo – a nouvelle vague francesa, o neorrealismo italiano e o cinema japonês, para ficar em alguns exemplos – conseguisse atingir uma geração de atores e diretores que mudariam a cara do cinema como o conhecemos. Abriu as portas para novos profissionais, oferecendo as primeiras oportunidades no cinema para diretores como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Jonathan Demme, James Cameron, Peter Bogdanovich, Ron Howard e Joe Dante e atores como Peter Fonda, Robert DeNiro, Jack Nicholson, William Shatner, Dennis Hopper, Bruce Dern e Diane Ladd, além de colocar mulheres em empregos executivos no cinema quando este era uma indústria formada apenas por homens. Morreu com quase cem anos, em sua própria casa, cercado pela família, que emitiu um comunicado explicando que perguntou como ele gostaria de ser lembrado: “Fui um cineasta, só isso”, contou.