Estes são os 50 discos mais importantes lançados em 2023 segundo o júri da comissão de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e apresentadora do Mistura Cultural), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell) e Pedro Antunes (Tem um Gato na Minha Vitrola, Popload e Primavera Sound). A amplitude de gêneros, estilos musicais, faixas etárias e localidades destas coleções de canções é uma bela amostra de como a música brasileira conseguiu se reerguer após o período pandêmico com o lançamento de álbuns emblemáticos tanto na carreiras de seus autores quanto no impacto junto ao público. Além dos discos contemporâneos, fizemos menções honrosas para dois álbuns maravilhosos que pertencem a outras décadas, mas que só conseguiram ver a luz do dia neste ano passado, um de João Gilberto e outro dos Tincoãs. Na semana que vem divulgaremos os indicados nas categorias Artista do Ano, Show e Artista Revelação, para, no final de janeiro, finalmente escolhermos os vencedores de cada categoria. Veja os 50 (e dois) discos escolhidos abaixo:
Depois de três anos fora de combate por motivos pandêmicos, o clássico festival de rap com base no Sesc Santo André volta à ativa no fim deste ano trazendo ninguém menos que o mestre Freddie Gibbs para duas apresentações. O evento, que começou como DuLoco e depois foi Indie Hip Hop por anos, volta a acontecer no meio de dezembro ao trazer o bamba pela primeira vez ao Brasil. Em cada noite, um time diferente de rappers abre o inesperado show: no sábado, dia 16 de dezembro, o evento começa com Febre 90’s seguido de Rodrigo Ogi e no dia seguinte, 17, a noite conta com MC Luanna e o show que o Síntese está fazendo com o Marechal. Nos dois dias, quem começa os trabalhos é o DJ Nato Pk, acompanhado da Stephanie no sábado e do Max B.O. no domingo. Os ingressos começam a vender online neste link a partir do dia 5 de dezembro. Vai ser foda!
Lançado ao vivo em noite de gala com o teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros lotado nesta sexta-feira, o novo disco de Rodrigo Ogi é batizado com um título que nos induz à ilusão de que a realidade que descreve é como um jogo de dados, induzida por um acaso que às vezes joga contra, às vezes a favor. Mas Aleatoriamente, lançado há um mês, pertence à mesma estirpe clássica de seus melhores álbuns, Crônicas da Cidade Cinza, de 2011, e Rá!, de 2015, e da mesma forma mistura jornalismo com crônica e cinema, criando climas musicais pesados que funcionam como trilhas sonoras perfeitas para descrever situações extremas em regiões inóspitas da grande cidade, periféricas ou não. Se tudo parece uma colcha de retalhos de acontecimentos díspares, é na música que Ogi cria a tensão necessária para que todas essas histórias pareçam fazer parte de um mesmo universo – mostrando-se atento observador da engrenagem da realidade. E nesta vez seu parceiro musical foi um Kiko Dinucci recém-saído da produção do Delta Estácio Blues de Juçara Marçal, que conduziu a saga a partir de pedaços de músicas sincopados uns sobre os outros, criando grooves tensos e intrincados com texturas ruidosas, entre o pós-punk, o no wave e o hip hop nova-iorquino dos anos 80. Foi bom ver Kiko como um dos DJs da noite, dividindo com as bases com o DJ Nato PK, em vez de tocar guitarra, deixando o rap fluir apenas entre bases e vocais. E se o instrumental já estava pesado de saída, os vocais foram sendo apresentados pouco a pouco: além da natural destreza lírica do dono da noite, sempre acompanhado por seu compadre Tiagão Red na segunda voz, Vovô recebeu ninguém menos que Juçara Marçal e Don L em participações precisas – Juçara por três músicas (incluindo “Crash”, que Ogi fez para ela como primeiro single de seu Delta Estácio Blues) e Don L apenas em uma, deixando passar a oportunidade de juntar-se aos outros dois numa mesma faixa. As vozes também brilharam para além dos convidados, a começar pela voz fabulosa de Paola Ribeiro, que contrapunha tanto bases como vocais com seu canto forte, até pelo próprio Kiko, que em vez de disparar o sample com a participação que Siba fez no disco, preferiu ele mesmo cantar a parte do pernambucano. Uma apresentação e tanto – e em que as luzes de Lígia Chaim ajudaram a aumentar ainda mais o clima épico da noite.
2023 empilhando festival atrás de festival – então toma mais um pra incluir na sua agenda. O Festival Zunido acontece este mês no Sesc Pompeia e reúne o trio Azymuth com o mestre Marcos Valle, traz o DJ Kid Koala mais uma vez ao Brasil e nos presenteia com a primeira vinda dos Last Poets, um dos grupos pioneiros na história do rap, ao país. “O mais importante é a questão dos encontros e das sonoridades que se juntam nessas delicadezas e dissonâncias”, explica Talita Miranda, que assina a curadoria do festival ao lado de Rodrigo Brandão e da curadoria de música do Sesc Pompeia, “são transformações e releituras a partir de uma base da música negra, da diáspora africana, o quanto a gente busca essa transformações e essa mistura, então vai ter sempre o hip hop, jazz, afrojazz, o afrossamba e, claro, dar uma ênfase específica para a música brasileira.”
O rapper Rodrigo Ogi está trabalhando no sucessor de Rá! desde antes da pandemia – e para trocar de ares, passou a produção do curitibano Nave para o paulista Kiko Dinucci, com quem ainda está fechando o próximo álbum, programado para sair só no ano que vem. Mas ele já antecipa o que vem por aí, além de comentar os próximos passos, as redes sociais, a produção de rap brasileiro atual e o que tem feito nestes dias de isolamento social.
Depois de um tempo offline, mais de cinco horas de músicas do ano passado.
Taylor Swift – “Look What You Made Me Do”
MC G15 – “Cara Bacana”
Simone & Simaria + Anitta – “Loka”
Missy Elliott + Lamb – “I’m Better”
Xx – “Say Something Loving”
Phoebe Bridgers – “Motion Sickness”
Katy Perry – “Chained To The Rhythm”
Frank Ocean – “Provider”
Anelis Assumpção – “Receita Rápida”
Nill – “Minha Mulher acha que eu sou o Brad Pitt”
MC Fioti – “Bum Bum Tam Tam”
Busy P + Mayer Hawthorne – “Genie”
Elo da Corrente + Geovana – “Mariana”
Arcade Fire – “Creature Comfort”
Criolo – “Menino Mimado”
Gorillaz + Popcaan – “Saturnz Barz”
MC Kevinho + Wesley Safadão – “Olha a Explosão”
Lana Del Rey + The Weeknd – “Lust for Life”
Four Tet – “Planet”
Washed Out – “Get Lost”
N*E*R*D + Rihanna – “Lemon”
Dua Lipa – “New Rules”
Major Lazer + Anitta + Pabllo Vittar – “Sua Cara”
Beck – “I’m So Free”
Paramore – “Hard Times”
Nego do Borel + Anitta + Wesley Safadão – “Você Partiu Meu Coração”
Lana Del Rey – “Love”
Criolo – “Lá Vem Você”
Cardi B – “Bodak Yellow”
Lorde – “Green Light”
Pabllo Vittar – “K.O.”
Audac – “Hollanda”
Luiza Lian – “Oyá”
Giovani Cidreira – “Vai Chover”
Don L + Diomedes Chinaski – “Eu Não Te Amo”
Frank Ocean – “Chanel”
Tyler the Creator + Frank Ocean – “911” / “Mr. Lonely”
Otto – “Soprei”
Rincon Sapiência – “Ponta de Lança (Verso Livre)”
Anitta – “Paradinha”
Floating Points – “Ratio”
Haim – “Want You Back”
Elza Soares + Pitty – “Na Pele”
Rodrigo Ogi + Marcela Maita – “Nuvens”
Kendrick Lamar – “DNA”
Letrux – “Além de Cavalos”
Ed Sheeran – “Shape of You”
Giovani Cidreira – “Movimento da Espada”
Charlotte Gainsbourg – “Deadly Valentine (Soulwax Remix)”
Rakta – “Rodeados pela Beleza”
Courtney Barnett + Kurt Vile – “Let it Go”
Lorde – “Perfect Places”
Fleet Foxes – “Third of May / Odaigahara”
Maglore – “Clonazepam 2 Mg”
The War on Drugs – “Thinking of a Place”
Letrux – “Coisa Banho de Mar”
LCD Soundsystem – “How Do You Sleep?”
Brian Eno + Kevin Shields – “Only Once Away My Son”
Metá Metá – “Odara Elegbara”
Rincon Sapiência – “Crime Bárbaro”
Far From Alaska – “Cobra”
Flora Matos – “Perdendo o Juízo”
Thundercat – “Friend Zone”
Spoon – “Hot Thoughts”
Boogarins – “Foimal”
Kamasi Washington – “Truth”
Kelela – “LMK”
Kendrick Lamar – “Humble”
Rincon Sapiência – “Meu Bloco”
Baco Exu do Blues – “Te Amo Disgraça”
Tim Bernardes – “Ela”
Letrux – “Que Estrago”
Kiko Dinucci + Juçara Marçal – “Chorei”
Angel Olsen – “Special”
Chico Buarque – “As Caravanas”
Tem também no Spotify com as músicas que têm no Spotify:
Aliás, siga-me no Spotify por aqui.
Começamos hoje as festividades do aniversário de São Paulo com uma trinca de shows de rap até domingo (mais informações aqui) e quem abre os trabalhos é o vovô Rodrigo Ogi, que lança seu ótimo Pé no Chão nesta quinta-feira, na Sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo (mais informações aqui).
Eis os 25 brasileiros escolhidos na categoria melhor disco do segundo semestre deste ano pelo júri da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), do qual faço parte.
1) Apanhador Só – Meio Que Tudo é Um
2) Baco Exu do Blues – Esú
3) Barbara Eugenia e Tatá Aeroplano – Vida Ventureira
4) Chico Buarque – Caravanas
5) Djonga – Heresia
6) Edy Star – Cabaré Star
7) Far From Alaska – Unlikely
8) Flora Matos – Eletrocardiograma
9) Guilherme Arantes – Flores e Cores
10) João Bosco – Mano Que Zuera
11) Letrux – Em Noite De Climão
12) Linn da Quebrada – Pajubá
13) Maglore – Todas as bandeiras
14) Nação Zumbi – Radiola NZ
15) Negro Leo – Action Lekking
16) Nina Becker – Acrílico
17) Os Paralamas do Sucesso – Sinais do Sim
18) Otto – Ottomatopeia
19) Pato Fu – Música de Brinquedo 2
20) Paulo Miklos – A Gente Mora No Agora
21) Rimas & Melodias – Rimas & Melodias
22) Rodrigo Ogi – Pé no Chão
23) Tiê – Gaya
24) Tim Bernardes – Recomeçar
25) Vitor Ramil – Campos Neutrais
É a segunda lista de discos que soltamos este ano – a do primeiro semestre pode ser lida aqui. O júri é composto por mim, José Norberto Flesch e Marcelo Costa e o Pedro a publicou em primeira mão linkando todos os discos para ouvir em seu blog no Estadão.