Rodrigo Campos da Bahia para o Oriente

rodrigocampos

Quando entrevistei o Cidadão Instigado pra Folha de S. Paulo pude olhar através do vidro de gravação daquele que promete ser um dos discos brasileiros de 2015, o de Rodrigo Campos, que redireciona seu canto da deslumbrante Bahia Fantástica de seu álbum mais recente pra uma aventura do outro lado do planeta, como ele antecipou pelo Facebook:

Disco novo chegando! Novos e antigos parceiros se juntando, os arranjos ganhando corpo, a coisa toda ganhando forma e esse personagem obscuro, que permeia o disco, se revelando; Toshiro! Uma espécie de astronauta arquetípico do inconsciente, navegando completamente à deriva, se agarrando a qualquer espaço/tempo possível, a qualquer memória difusa, a qualquer falta de compreensão de si.

E antecipa uma primeira letra:

Toshiro Reverso
Uma nebulosa
Engoliu Toshiro ontem
Expeliu de volta
Um planeta esquisito
De fato, bonito
Pura coincidência
Numa esquina de São Paulo
Foi alçado com violência
À origem do universo
Toshiro reverso
Não dói, não
Toshiro reverso
Não dói, não
Toshiro uma estrela

Na gravação estavam velhos cúmplices como Rômulo Fróes, Curumin, Marcelo Cabral, Juçara Marçal, Thiago França e Ná Ozetti. O disco promete.

rodrigocampos2015

Emicida, Thiago França e Rodrigo Campos reverenciando o primeiro disco do Cartola

emicida-cartola

Emicida estava tão tenso que mal conseguiu conversar com o público no início. Justo ele, um MC tão afeito ao diálogo – nem a presença de seu fiel escudeiro (e escada para conversas impagáveis) DJ Nyack nas picapes o deixou à vontade. Afinal, não era pouca coisa: era a primeira noite do 74 Rotações, o projeto do Radiola Urbana que celebra discos clássicos de quarenta anos atrás, e Emicida havia sido provocado por Thiago França, à sua direita no palco, revezando-se entre a flauta, o sax, percussão e geringonças elétricas, para recriar ao vivo o primeiro disco de Cartola. Ao seu redor, uma banda de peso: Rodrigo Campos no violão e cavaquinho, Doni, da banda de Emicida, no violão de sete cordas, o endiabrado Fábio Sá entre os contrabaixos acústicos e elétrico, Nyack entre as picapes e a percussão, esta toda a cargo de Carlos Café, também da banda de Emicida.

O principal desafio era do rapper – afinal não sabíamos se ele iria rimar ou cantar as músicas do mestre carioca. E a introdução deixou bem claro que seguiria os dois rumos – começou rimando a letra de “Alvorada” sobre uma base reta que se equilibrava entre um funk tenso e um samba mecânico, mas ao chegar no refrão, revelou-se cantor e entoou a primeira das melodias de Cartola. Na segunda parte pôs-se a improvisar como sabe e, pouco a pouco, o misto de responsa e importância foi se dissipando e a noite foi ficando mais à vontade.

O clima de homenagem também era o de desconstrução, proposta principalmente a partir da batuta de Thiago, que por mais que fosse o principal maestro da noite, preferiu dar autoria conjunta a arranjos que entortavam completamente os originais (uma suave e noturna “Disfarça e Chora”, uma robótica e poética “Acontece”, o ad lib de “Tive Sim”, uma delicada “Corra e Olhe o Céu”) ou os celebravam ipsis-literis (como “Alegria” emendada com “A Sorrir”, “Quem Me Vê Sorrindo”, “Sim”, “Amor Proibido” e uma fantástica “Ordenes e Farei” vertida em dança latina de salão). O disco de 74 era sampleado e invertido, citado e virado do avesso, reverenciado e relido com ouvidos de fã e instrumentos de cientista, daqueles apaixonados pela intensidade daquele laboratório vivo. O show terminou com dois salves a Adoniran Barbosa (“Saudosa Maloca” e “Despejo na Favela” cujo tema original foi ressuscitado sem o glamour da nostalgia – são duas músicas que falam sobre ocupação e os sem teto), um samba original do próprio Emicida (a irresistível “Hino Vira Lata”) e a completa entrega a “Preciso Me Encontrar”, de Candeia, vertida em uma jam session de tirar o fôlego.

Um show histórico, quem viu sabe. Que é mais um passo na evolução de Emicida – pois ele mostrou que sabe cantar… Dá pra melhorar? Sempre, mas só o fato de não fazer feio (salvo alguns deslizes no início do show) já mostra que esse menino vai longe…

Filmei o show quase todo, inclusive as piadas e os causos que Emicida talvez preferisse que ninguém filmasse. Mas, tudo bem, é do jogo 😉

Criolo 2013: “Comerciais de TV, glamour pra alcoolismo / É o Kinect do XBox por duas buchas de cinco”

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E Criolo, como quem não quer nada, lançou duas músicas numa mesma tacada. “Cóccix-ência” (abaixo) já era conhecida dos shows, mas “Duas de Cinco”, com suas superposições pós-tropicalistas (“Um governo que quer acabar com o crack / Mas não tem moral para vetar comercial de cerveja / Alô, Foucault / Cê quer saber o que é loucura? / É ver Hobsbawm na mão dos boy / Maquiavel nessa leitura”) e seu belo sample de Rodrigo Campos, aponta para um segundo disco mais tenso e menos manhoso. Um bom recado sobre o que pode vir adiante:

Resta saber se esperamos ainda pra 2013 ou se já ficou pra 2014.

 

O primeiro Passo Elétrico

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Eis o primeiro registro do novo disco do Passo Torto, chamado Passo Elétrico – e a tensa Passarinho Esquisito mistura Robert Fripp com Caetano no final dos anos 70. O que será que vem por aí?

Batuque 2012: Deltron 3030 em São Paulo

E a terceira edição do festival Batuque, no Sesc Santo André, traz nada menos que Deltron 3030 para o Brasil, com Del the Funky Homosapien, Dan the Automator e Rob Swift, em duas apresentações nos dois primeiros dias de dezembro. O Batuque é a encarnação mais pansônica do velho Indie Hip Hop, comandado por Rodrigo Brandão, e além dos 3030 ainda traz shows dos Sebozos Postiços, B-Negão & Os Seletores de Freqüência, Kamau, Rodrigo Campos, Projetonave, entre outros. Um finde promissor.

Vida Fodona #356: Grandes mudanças

Elas já começaram…

Feelies – “The Boy With The Perpetual Nervousness”
Talking Heads – “Life During Wartime”
XXYYXX – “DMT”
Lindstrøm – “Ęg-gęd-ōsis”
The Internet + Tay Walker – “They Say”
Sinkane – “Lovesick”
Metá Metá – “Oya”
Fernando Catatau e o Instrumental – “Poeira”
Rafael Castro – “Você Sabe Como É”
Pipo Pegoraro – “Radinho”
Kika – “Enxurrada”
Rodrigo Campos – “Bahia Fantástica”
Curumin – “Selvage”
Sexy Fi – “Brasília Grafitti”
Flying Lotus + Thom Yorke- “Electric Candyman”
Tim Maia – “É Preciso Ler e Reler”
How to Dress Well – “Running Back”

Vem aqui.

Rodrigo Campos + Criolo

Em uma música do ótimo Bahia Fantástica:

Passo Torto: Romulo Fróes + Rodrigo Campos + Kiko Dinucci + Marcelo Cabral

Conhecem?

“A característica mais óbvia do disco é essa coisa colaborativa. O Cabral toca no trabalho individual dos três, eu toco guitarra na banda do Rodrigo, que toca cavaquinho com o Romulo. O que acontece com a gente é diferente de trampo de músico, em que o cara toca e vai embora. Tem o lance da vivência. Isso transparece na música de um jeito espontâneo”

…disse o Kiko ao Lucas. Reparem: o disco não tem percussão.

É impressão minha ou tem cada vez mais música sendo feita – e colocada pra download quase que instintivamente – hoje em dia? Será que os artistas brasileiros estão entendendo a internet antes de todos os outros players do mercado?