A hora certa dos Sambas do Absurdo

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Os Sambas do Absurdo que Rodrigo Campos compôs com Nuno Ramos a partir de um livro de Albert Camus tiveram uma má estreia. Abrindo para o grupo inglês Cymande na edição mais recente do Nublu Jazz Festival, o projeto introspectivo e de temática pesada que o sambista fez ao lado dos compadres Juçara Marçal e Gui Amabis encontrou um público esperando festa e o choque entre artista e plateia fez o show soar desencontrado – mais culpa da programação do evento do que do público ou dos artistas. Não fossem os três nomes reconhecidos da atual cena paulistana, talvez não se apresentassem pra ninguém. Ironicamente, o deslocamento do show parecia ter saído das faixas do próprio projeto, que será lançado nesta sexta-feira e cuja capa, feita pelo próprio Nuno Ramos, é antecipada em primeira mão para o Trabalho Sujo.

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O disco homônimo será lançado nas plataformas digitais nesta sexta-feira, quando também será disponibilizado para download no site do projeto e deve ganhar versão em vinil em breve pelo selo Goma Gringa. Abaixo, dois dos “Absurdos” (as faixas chamam-se apenas “Absurdo” seguido de um número) tocados pelo trio:

E o projeto será lançado oficialmente ao vivo no dia 10 de maio, na nova Casa de Francisca (mais informações aqui), um lugar bem mais propício para a atenção que o trio merece.

Kamasi Washington e Cymande em São Paulo

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Edição 2017 do já tradicional Nublu Jazz Festival se supera e reúne pesos pesados como o grupo inglês de funk Cymande, os Cookers (que reúne velhos mestres como Cecil McBee, Eddie Henderson e Billy Hart), o rapper e poeta Saul Williams e o saxofonista Kamasi Washington, que além de uma obra pessoal de peso também circula entre bambas como Kendrick Lamar, Flying Lotus e Thundercat. Do lado brasileiro, os Sambas do Absurdo de Gui Amabis, Rodrigo Campos e Juçara Marçal e o projeto Plim, do baterista Sergio Machado (que toca com Metá Metá e Tulipa Ruiz). Os shows acontecem no Sesc Pompeia em São Paulo e no Sesc de São José dos Campos entre os dias 6 e 8 de abril com a seguinte calendário: no Pompeia dia 6 tem Cymande e Sambas do Absurdo, dia 7 tem Cookers e Plim e dia 8 tem Kamasi Washington e Saul Williams; em São José dos Campos dia 6 tem Kamasi Washington e Saul Williams, dia 7 tem Cymande e Sambas do Absurdo e dia 8 tem Cookers e Plim. Kamasi Washington encerra o evento com um show solo dia 9. Os ingressos começarão a ser vendidos no final de março e custarão entre R$15 a R$50.

O absurdo de Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis

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Eis o primeiro samba absurdo composto pela parceria tripla de Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis.

A ideia do projeto nasceu de Rodrigo Campos que, inspirado pelo livro O Mito de Sísifo, de Albert Camus, resolveu encarar o absurdo como tema – e para isso chamou Juçara Marçal para cantar e Gui Amabis para disparar beats e samples no palco. As letras das canções foram compostas por Nuno Ramos. Os três contam como Sambas do Absurdo – que vai virar disco – nasceu no vídeo abaixo:

Vi na Bravo.

Vida Fodona #542: Trazer o sol

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Concentração.

Tudo Tanto #016: Um 2015 espetacular

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Na edição de janeiro da minha coluna na revista Caros Amigos, eu escrevi sobre o grande ano que foi 2015 para a música brasileira.

A consagração de 2015
O ano firmou toda uma safra de artistas que lançou discos que reverberarão pelos próximos anos

Alguma coisa aconteceu na música brasileira em 2015. Uma conjunção de fatores diferentes fez que vários artistas, cenas musicais, produtores e ouvintes se unissem para tornar públicos trabalhos de diferentes tempos de gestação que desembocaram coincidentemente neste mesmo período de doze meses e é fácil notar que esta produção terá um impacto duradouro pelos próximos anos. O melhor termômetro para estas transformações são os discos lançados durante este ano.

Os treze anos de espera do disco novo do Instituto, o terceiro disco pelo terceiro ano seguido do Bixiga 70, os seis anos de espera do disco novo do Cidadão Instigado, o disco que Emicida gravou na África, um disco que BNegão e seus Seletores de Frequência nem estavam pensando em fazer, o surgimento inesperado da carreira solo de Ava Rocha, o disco mais político de Siba, o espetacular segundo disco do grupo goiano Boogarins, os discos pop de Tulipa Ruiz e Barbara Eugênia, a década à espera do segundo disco solo de Black Alien, o majestoso disco primeiro disco de inéditas de Elza Soares, os quase seis anos de espera pelo disco novo do rapper Rodrigo Ogi, dos Supercordas e do grupo Letuce e um projeto paralelo de Mariana Aydar que tornou-se seu melhor disco. Mais que um ano de revelação de novos talentos (o que também aconteceu), 2015 marcou a consolidação de uma nova cara da música brasileira, bem típica desta década.

São álbuns lançados às dezenas, semanalmente, que deixam até o mais empenhado completista atordoado de tanta produção. É inevitável que entre as centenas de discos lançados no Brasil este ano haja uma enorme quantidade de material irrelevante, genérico, sem graça ou simplesmente ruim. Mas também impressiona a enorme quantidade de discos que são pelo menos bons – consigo citar quase uma centena sem me esforçar demais – e que foram feitos por artistas jovens, ainda buscando seu lugar no cenário, o que apenas é uma tradução desta que talvez seja a geração mais rica da música brasileira. A quantidade de produção – reflexo da qualidade das novas tecnologias tanto para gravação e divulgação dos trabalhos – não é mais meramente quantitativa. O salto de qualidade aos poucos vem acompanhando a curva de ascensão dos números de produção.

Outro diferencial desta nova geração é sua transversalidade. São músicos, compositores, intérpretes e produtores que atravessam diferentes gêneros, colaboram entre si, dialogam, trocam experiências. Não é apenas uma cena local, um encontro geográfico num bar, numa garagem, numa casa noturna, num apartamento. É uma troca constante de informações e ideias que, graças à internet, transforma os bastidores da vida de cada um em um imenso reality show divulgado pelas redes sociais, em clipes feitos para web, registros amadores de shows, MP3 inéditos, discussões e textões posts dos outros.

A lista de melhores discos que acompanha este texto não é, de forma alguma, uma lista definitiva, mesmo porque ela passa pelo meu recorte editorial, humano, que contempla uma série de fatores e dispensa outros. Qualquer outro observador da produção nacional pode criar uma lista de discos tão importantes e variada quanto estes 25 que separei no meu recorte. Dezenas de ótimos discos ficaram de fora, fora artistas que não chegaram a lançar discos de fato – e sim existem na internet apenas pelo registros dos outros de seus próprios trabalhos. E em qualquer recorte feito é inevitável perceber a teia de contatos e referências pessoais que todo artista cria hoje em dia. Poucos trabalham sozinhos ou num núcleo muito fechado. A maioria abre sua obra em movimento para parcerias, colaborações, participações especiais, duetos, jam sessions.

E não é uma panelinha. Não são poucos amigos que se conhecem faz tempo e podem se dar ao luxo de fazer isso por serem bem nascidos. É gente que vem de todos os extratos sociais e luta ferrenhamente para sobreviver fazendo apenas música. Gente que conhece cada vez mais gente que está do seu lado – e quer materializar essa aliança num palco, numa faixa, num mesmo momento. Esse é o diferencial desta geração: ela vai lá e faz.

Desligue o rádio e a TV para procurar o que há de melhor na música brasileira deste ano.

Ava Rocha – Ava Patrya Yndia Yracema
BNegão e os Seletores de Frequência – TransmutAção
Barbara Eugênia – Frou Frou
Bixiga 70 – III
Boogarins – Manual ou Guia Prático de Livre Dissolução de Sonhos
Cidadão Instigado – Fortaleza
Diogo Strauss – Spectrum
Elza Soares – Mulher do Fim do Mundo
Emicida – Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa
Guizado – O Vôo do Dragão
Ian Ramil – Derivacivilização
Instituto – Violar
Juçara Marçal & Cadu Tenório – Anganga
Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thomas Harres – Abismu
Karina Buhr – Selvática
Letuce – Estilhaça
Mariana Aydar – Pedaço Duma Asa
Negro Leo – Niños Heroes
Passo Torto e Ná Ozzeti – Thiago França
Rodrigo Campos – Conversas com Toshiro
Rodrigo Ogi – Rá!
Siba – De Baile Solto
Space Charanga – R.A.N.
Supercordas – A Terceira Terra
Tulipa Ruiz – Dancê

Os 75 melhores discos de 2015: 42) Rodrigo Campos – Conversas com Toshiro

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Outro Japão imaginário – bem paulistano.

O fim do mundo de Elza Soares

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Diva da música brasileira lança disco de inéditas gravado ao lado de nomes como Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Guilherme Kastrup no próximo fim de semana, dias 3 e 4 de outubro, no Auditório do Ibirapuera. No show, além da íntegra do novo disco (você já ouviu “Maria da Vila Matilde” e “Luz Vermelha” por aqui), serão revisitados clássicos da cantora em novas versões.

Rodrigo Campos 2015: “Perdido com você no espaço”

Depois de nos levar a São Mateus e à Bahia, Rodrigo Campos inicia outra viagem sonora, agora para um Japão imaginário: Conversas com Toshiro dá margem a uma versão oriental do próprio Rodrigo – chamada de Toshiro – que dialoga com versões pop e populares daquele país, especificamente sua produção audiovisual – dos filmes de Takeshi Kitano às animações de Hayao Miyazaki. A delicada faixa “Abraço De Ozu” dá início a estas conversas.

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A faixa pode ser baixada lá no site do Natura Musical e esta é a capa do novo disco, assinada por Rodrigo Sommer.

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Elza Soares 2015: “Cê vai se arrepender…”

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A contundente “Maria Da Vila Matilde” é a primeira música do novo disco de Elza Soares, A Mulher do Fim do Mundo, produzido pelo Guilherme Kastrup e dirigido por Celso Sim e Rômulo Fróes, em que nossa diva do samba soul é tratada a pão de ló por um senhor time de músicos e compositores paulistanos que inclui nomes como Kiko Dinucci, Cacá Machado, Marcelo Cabral, Clima, Rodrigo Campos, Douglas Germano e José Miguel Wisnik. Dá pra baixar a música aqui.

E o disco novo do Passo Torto chama-se Thiago França

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Você já sabia que o quarteto Passo Torto – formado por Kiko Dinucci, Rômulo Fróes, Marcelo Cabral e Rodrigo Campos – estava prestes a lançar um disco com a Ná Ozzetti e a presença do saxofonista Thiago França na primeira foto de divulgação do trabalho alertava que ela não seria a única participação no disco lançado nesta terça, que chama-se… Thiago França – mas a participação Thiago resume-se ao título. O disco pode ser baixado gratuitamente no site da banda, que lança o álbum nos dias 7 e 8 do mês que vem no Sesc Santo Amaro.