Rockers Control de volta na pista

, por Alexandre Matias

Rockers-Control

Como esquecer das clássicas sextas-feiras Susi in Dub no início dos anos 2000, quando o selecta Yellow P e a banda Rockers Control debulhavam raízes jamaicanas com um clima pesado e mágico no mitológico Susi in Transe, uma das mais importantes casas noturnas de São Paulo na virada do milênio? O supergrupo composto por Cris Scabello na guitarra, Mau no baixo e e Bruno Buarque na batera atravessou a primeira década do século engrossando o caldo jamaicano e celebrando a cultura do reggae e do dub numa São Paulo que se equilibrava entre o indie rock, o hip hop e a música eletrônica, abrindo, com groove, uma picada que hoje é uma rodovia. Os três formaram a base da banda Amigos Imaginários que acompanhava Anelis Assumpção e aos poucos foram ficando com muitos trabalhos à medida em que Cris fundou o Bixiga 70 e Mau e Bruno passaram a acompanhar Karina Buhr. Lançaram um disco que poucos ouviram em 2008 (Jacuípe Sessions) e entraram a década passada num ritmo bem mais lento que o que tocaram a anterior.

E agora eles estão voltando à ativa. Aproveitaram a quarentena para retomar os trabalhos e desde o mês passado vêm separando a última sexta do mês, como era na programação da festa, para lançar singles que fizeram nos últimos anos, mixados pelo mestre Victor Rice, outro integrante crucial daquela cena. O primeiro foi “Pluggin Out” (gravado com o vocalista Giba Nascimento e Rice nos teclados e escaleta), lançado no mês passado, e agora eles vêm com “Ancient Woman”, gravada com o vocalista nigeriano Afrikan Simba, que lançam em primeira mão no Trabalho Sujo – com direito, inclusive, a uma versão dub!

“O Rockers nunca parou de produzir, a gente continuou trabalhando do nosso jeito, sem pressa, sem pressão e sem um deadline para entregar”, explica Cris Scabello, por email. “Queríamos fazer algo bem feito, durasse o tempo que fosse necessário, trabalhando com as pessoas que a gente gosta – Victor na mix, Magrão na arte, etc. A gente parou de fazer shows porque, nesses últimos 10 anos, a gente se dedicou muito a outros trabalhos, bandas, produções, estúdios e por conta dessa dedicação e dessa demanda nesses inúmeros outros trabalhos, o Rockers acabou ficando um pouco de lado. E depois desse tempo todo, trabalhando com tanta gente, foi um processo natural a gente sentir a necessidade de botar mais energia no nosso trabalho.”

“Mas durante esse tempo todo, a gente seguiu trabalhando em novas gravações e re-trabalhando o material que a gente já tinha”, continua Mau. “A maioria desses singles que vamos lançar até o final do ano foi trabalhada nesse período em que estivemos ‘parados’…. ‘Ancient Woman’, por exemplo, é uma faixa gravada nas Jacuípe Sessions”. “Esse disco novo é o ‘Rockers Control apresenta Cristopher Dilovah'”, prossegue Bruno, “a idéia foi recriar as músicas que o Cristopher Dilovah cantava nas festas de rua com o Dubversão. A gente já vem trabalhando nesse disco faz um tempo. A sessão de gravação da base de ‘Bom Dia’, o próximo single, foi em 2017!”. Dilovah é o pseudônimo de um dos integrantes, que soltava a voz nas festa. A volta do grupo já havia sido planejada para este semestre e a quarentena não mudou os planos. “A gente achou legal manter o cronograma, apesar dessa loucura toda, colocar música boa no mundo num momento como esse, acaba sendo um serviço a humanidade…”, conclui Cris.

Gravado entre os estúdios Minduca, do Bruno, e Traquitana, de Cris, o disco contou com a participação da vocalista Marietta A.K.A MassaRock, do tecladista da Nômade Orquestra Marcos Maurício, dos metais do Bixiga 70 (Daniel Gralha no trompete, Cuca Ferreira no sax, Doug Bone no trombone) e do tecladista do Bixiga Maurício Fleury. A princípio o trabalho sairá apenas digitalmente e depois até poderia chegar ao formato vinil.

Sobre a quarentena, o grupo responde em conjunto. “O trabalho não só diminuiu radicalmente, mas vai tomando outras formas… A nossa pretensão, a princípio, não é retomar a agenda de shows, mas como núcleo de produção – o que de fato somos – se juntar os discos que nós ou produziramos ou tocamos nos últimos anos, dá uma coleção legal. Se os shows vierem, se houver uma demanda, a gente vê o que faz. Até por que o Rockers agora somos nozes – Bruno, Cris e Mau – , então a gente teria que ver como isso iria funcionar. Mas a gente tem focado bastante nesses lançamentos, organizando e formatando melhor a ideia do nosso selo Garradna, capitaneado pelo Mau, projetar como isso será prensado em vinil, fortalecendo as redes sociais e se reapresentando para quem já nos conhecia e para quem ainda não nos conhece. De resto temos cuidado da cabeça e da casa, todos temos filhos pequenos, então as prioridades nesse momento são outras, mas temos estudado e pesquisado bastante também.”

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