Você nem sabe o quanto precisa ver Ritas, documentário sobre Rita Lee que faz jus ao maior nome do rock brasileiro e a uma das grandes compositoras de nossa música, que estreou no dia de seu escolhido aniversário e agora está em salas de cinema em todo o Brasil. Nem eu sabia, embora já tivesse visto versões iniciais e conversado quase semanalmente nos últimos dois anos com seu diretor, meu comparsa de pastel na feira, o grande Oswaldo Santana, à medida que o filme finalmente embicava para o fim. Conheço Oswaldinho desde os tempos em que ele agitava uma das primeiras trupes de VJs do Brasil, o emblemático Embolex que acompanhava os inacreditáveis shows do Instituto de Daniel Ganjaman, Rica Amabis Tejo Damasceno (que está no filme!) no início do século, e venho acompanhando sua ascensão primeiro como montador de filmes e agora em sua estreia na direção. Como tive informações de coxia sobre o parto de fazer um filme com imagens de arquivo e músicas alheias (e todas as restrições e travas jurídicas para usar trechos de forma autorizada), sabia de algumas ideias que o diretor teve para não deixar sua história ser encurralada por isso. Mas não estava preparado para assistir à forma harmoniosa que Oswaldinho costurou uma vasta coleção de imagens incríveis (Rita adorava ser filmada e estar na TV), cenas de shows, fotografias, recortes de jornal e artes de Ricardo “Magrão” Fernandes a partir do fio condutor que é a própria Rita contando sua história. E, como na autobiografia que o filme se baseia, não espere uma cronologia detalhada nem olho arquivista. O que conta na história de Rita é sua vontade e seus sentimentos, como ela tornou-se quem ela queria a partir de desafios estéticos, comerciais e comportamentais que a tornam um dos grandes nomes da história do Brasil. O filme tem uma narrativa cronológica, mas não cita anos, nomes de discos ou efemérides, prefere ater-se à paixão que Rita irradiava em sua obra e aos que a cercam, saudando primeiro sua família, depois seus mestres (que tornaram-se parceiros e um por um – Caetano, Gil, Elis, Bethania e João – surgem felizes ao seu lado em diferentes palcos), seu eterno companheiro Roberto de Carvalho, os filhos e, finalmente, os animais e o planeta Terra. E é um filme alto astral que mesmo em seus momentos mais tensos Rita conduz tudo com seu clássico humor debochado, dissolvendo reuniões em gravadoras, a ditadura militar, a caretice brasileira e a própria morte em gargalhadas. Um filme que traduz a essência dessa artista única de forma emocionante e concisa – e que tem tudo pra ir bem nas bilheterias, pois é um filme musical, daqueles que se canta junto em vários momentos, e que pede uma nova visita logo ao final, como acontecia com os melhores discos dela. Viva Rita Lee!
Há um estilo brasileiro musical que às vezes parece MPB, outras parece brega, outras parece rock dos anos 80, outras parece new wave, mas não é nada disso…
Fora o calor dilacerante que atravessou esse fim de semana, a segunda edição do Primavera Sound em São Paulo funcionou redondissimamente bem. Ótimos shows sempre no horário, poucas filas e fácil acesso ao festival, que ainda conseguiu utilizar bem o espaço do Autódromo sem transformar um festival de música numa feira de marcas.
Mesmo que boa parte do elenco não fosse formada por artistas que vivem seu melhor momento hoje (como foi a edição passada do festival), o Primavera São Paulo teve showzaços que arrebatou fãs com ótimo som e bom tratamento pro público (distribuição de água na grade, algo que deveria se tornar regra) em instâncias tão diferentes quanto Cansei de Ser Sexy, Bad Religion ou Slowdive.
Os shows de Beck e Pet Shop Boys merecem destaque, afinal passaram por diferentes momentos de suas carreiras sem fazer concessões para os hits e botando todo mundo pra cantar junto. O bardo norte-americano ia do solo de gaita ao funk setentista, passando pelo rap de araque de seus primeiros hits e delicadas canções ao violão, mostrando-se um showman completo. Já a dupla inglesa conduziu sua apresentação austera e impecável, Neil Tennant com a mesma voz e fleuma de sempre, claramente emocionado com o público, que recebia os velhos hits com novos arranjos como bênçãos.
Outro momento especial foi quando Marisa Monte recebeu Roberto de Carvalho para celebrar Rita Lee, o que valeu até um momento de interação da diva com o público, algo tão raro.
Mas desde o anúncio das atrações, o Primavera teve um só dono: Robert Smith e seu Cure fizeram uma apresentação transcendental, um show hipnótico e alto astral, denso e pop, melancólico e esperançoso, psicodélico e existencialista, atravessando duas horas e meias de crises sentimentais, odes românticas e hits radiofônicos como se a nossa vida dependesse disso (e ah como depende…). São Bob era transparente sobre como estava feliz com a repercussão do público, que manteve-se gigantesco até o final das duas horas e meia de apresentação do Cure. É meio redundante citar os grandes momentos do último show de domingo sem falar nele inteiro, quem foi sabe. E é claro que eu filmei uns trechos desse fim de semana nota 10…
O compadre Caramuru Baumgarten viu meus posts sobre inteligência artificial expandindo capas de discos e me chamou num canto pra mostrar algumas que tinha feito.