Os melhores discos de 2017: 5) Rincon Sapiência – Galanga Livre

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“A coisa tá preta, ó que legal”

Rincon Sapiência despede-se de 2017

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Como fez no final de 2016, quando lançou a excelente “Ponta de Lança (Verso Livre)”, o rapper paulistano Rincon Sapiência encerra seu excelente 2017 com o ótimo single “Afro Rep”, que também no susto, sem avisar ninguém, e cutuca as feridas de sempre: racismo, fama, política, dinheiro, mídia, tecnologia e a cultura brasileira.

Pesado!

Os melhores de 2017 na música segundo a APCA

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Eis o resultado da eleição dos melhores do ano na categoria música popular segundo o júri da Associação Paulista de Críticos de Arte, do qual faço parte:

Grande prêmio da crítica: João Gilberto
Artista do ano: Rincon Sapiência
Melhor álbum: Boca, Curumin
Melhor show: Mano Brown (Boogie Naipe ao vivo)
Revelação: Pabllo Vittar
Projeto especial: Selo Discobertas (Acervo)
Música do ano: “As Caravanas”, Chico Buarque

Além de mim, participam do júri Fabio Siqueira, José Norberto Flesch, Marcelo Costa, Tellé Cardim, Lucas Brêda e Roberta Martinelli, estes dois últimos estreando na votação este ano.

Os indicados de 2017 da APCA

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Mais uma leva de indicados às categorias anuais da categoria de melhores do ano em Música Popular de acordo com o júri da Associação Paulista de Críticos de Arte, do qual faço parte. Depois das duas levas de discos (do primeiro e do segundo semestre), agora é a vez de saber quem são os indicados nas categorias artista do ano, show do ano, artista revelação e música do ano. A Adriana os antecipou em sua coluna no UOL e eu os trago pra cá. São eles:

ARTISTA DO ANO
Anitta
Chico Buarque
Mano Brown
Rincon Sapiência
Tim Bernardes

SHOW DO ANO
Cidadão Instigado – 20 anos
Curumin – (Boca ao vivo)
Far From Alaska – (Unlikely ao vivo)
Luiza Lian – (Oyá Tempo ao vivo)
Mano Brown – (Boogie Naipe ao vivo)

ARTISTA REVELAÇÃO
Baco Exu do Blues
Giovani Cidreira
Linn da Quebrada
My Magical Glowing Lens
Pabllo Vittar

MÚSICA DO ANO
Baco Exu do Blues – “Te Amo Disgraça”
Chico Buarque – “As Caravanas”
MC Fioti – “Joga o Bum Bum Tam Tam”
Pabllo Vittar – “K.O.”
Rincon Sapiência – “Meu Bloco”

Além de mim, votaram também nos indicados Marcelo Costa e José Norberto Flesch. O resultado da votação será divulgada na semana que vem.

Rincon Sapiência 2017: “A mesmice na rota”

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Um dos grandes artistas de 2017, Rincon Sapiência continua explorando seu excelente Galanga Livre, desta vez ao lançar o clipe para a melancólica “A Volta pra Casa”, sobre a dura realidade do transporte público brasileiro.

Tudo Tanto #34: Curumin e Rincon Sapiência

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Escrevi sobre os discos novos de dois grandes nomes da música brasileira atual – Curumin e Rincon Sapiência – em minha coluna na edição de julho da revista Caros Amigos.

Novos caciques
Curumin e Ricon Sapiência provocam a mesmice política da música brasileira atual mostrando que não existe um padrão para o futuro

Há um tempo que venho detectando e relatando aqui nesta coluna, o reencontro da música brasileira com a cultura de protesto, a contracultura, a vanguarda estética e o descontentamento generalizado da sociedade. Qualidades distintas, mas primas, vizinhas e movidas pela mesma motivação, que é próxima do próprio conceito da arte em si, de não manter-se no mesmo lugar, de querer sempre transcender, ir além. A expressão artística em si não limita-se a apenas refletir o indivíduo, a sociedade ou a civilização, mas também a provocar a transformação, a questionar o status quo, buscar expandir a consciência – e com ela, o indíviduo, a sociedade e a civilização.

Tradicionalmente, a música (e a cultura como um todo) brasileira sempre enfrentou a autoridade, a mesmice, a estagnação. Nossa tradição é a do anti-herói, sejam os personagens de Machado de Assis ou do Henfil, o intelectual em conflito ou o político populista do filme Terra em Transe, a golpista e o empresário corrupto de Vale Tudo ou o malandro / bandido e policial corrupto / assassino das letras do samba e do hip hop. O Brasil sempre viveu à margem e sua cultura traduzia isso em forma de confronto – são clássicos os dribles que diferentes compositores deram na censura mais hostil à cultura (a da época da ditadura militar, antes dos anos Fernando). Mas nos anos de ouro da economia nacional do início do século, a música – e, de certa forma, toda a cultura brasileira – passou por um momento de autocelebração e de autocontentamento que inevitavelmente neutralizava o choque e o conflito, criando o tal abismo estético – que é irmão da polarização política – que segue dividindo o Brasil neste novo século. Até o rap, tradicionalmente aguerrido e politizado, começou a falar de amor.

Mas essa década do não-confronto não aconteceu só por conta da boa fase financeira que o Brasil – e o mundo – atravessava. Ela também coincide com o início da era digital para as massas, quando a internet deixa de ser conexão discada e vira banda larga, quando o texto deixa de ser o principal padrão de comunicação para dar espaço para imagens, sons e vídeos, quando a internet sai dos computadores para os telefones celulares e as pessoas passam a se conectar umas às outras através de enormes catálogos humanos online chamados de redes sociais. Este novo cenário começou a ser desenhado pela própria chegada da música na internet. A velocidade de transferência e o formato MP3 fizeram a música ser o boi de piranha da nova mídia e com ela foi descentralizado um mercado que, durante o século vinte, foi lentamente se transformando em um oligopólio. O download ilegal de músicas no início do século fez a indústria fonográfica perder a liderança cultural que um dia teve, passando-a para empresas de tecnologia, notadamente a Apple (mas não dá para excluir a Microsoft, o Last.fm, Google Play, Deezer, Spotify, Podomatic, Trama Virtual e todas iniciativas que ajudaram o público a consumir música sem suporte físico). A mesma década de satisfação política também foi uma década de reinvenção de formatos e uma nova geração de artistas viu-se surgindo entre um mercado que estava desintegrando e um outro que vinha sendo construído de forma incerta. As primeiras gerações da música brasileira no século vinte e um não protestavam porque não queriam – mas fazer música em si já era uma forma de protesto, de sobrevivência em um mercado que não parecia ter solução viável no horizonte para mantê-lo financeiramente.

Isso, contudo, vem mudando. Esta mesma geração é dona de uma nova safra de álbuns lançada nos últimos anos mostra que está botando suas garras de fora – e cobrando uma mudança. Nó na Oreia do Criolo, Fortaleza do Cidadão Instigado, De Baile Solto de Siba, o Violar do Instituto, o Ascensão de Serena Assumpção, o Dancê de Tulipa Ruiz, o Mulher do Fim do Mundo de Elza Soares e Cortes Curtos de Kiko Dinucci são apenas alguns destes discos que aos poucos peitam a mentalidade de shopping center e a produtização que o capitalismo impõe à cultura. Há dezenas de outros, mas faltava uma pressão mais forte, mais direta. E essa pressão começou a ser feita por dois álbuns de 2017, lançados na mesma semana: o Galanga Livre, de Rincon Paciência, e o Boca, de Curumin.

São discos irmãos, paulistanos, mas essencialmente brasileiros, que fogem do cinza da metrópole para abraçar o colorido de todo o país, sem perder os olhos e os ouvidos do resto do mundo. Álbuns que mexem com diferentes estados de espírito e gêneros musicais, pontos de vistas e visões de mundo, temperaturas e pressões distintas para fugir de uma estética única, repetitiva, quadrada. Rincon e Curumin fogem dos padrões, mas, principalmente, do padrão, da âncora mercadológica do sucesso comercial que, quando não dá o prumo, ajuda a afundar.

O multifacetado Galanga Livre parte de uma história fictícia de um escravo que matou o senhor de engenho para entrar num Brasil em constante movimento, intenso e sempre na pressão, mesmo nos momentos mais contemplativos. Rincon produz e rima com características particulares, uma dicção que remete a idiomas africanos, rimas sagazes e manhosas e beats que casam samba com trap, a versão mais recente e eletrônica do hip hop norte-americano. Ele fala sério com um riso no canto da boca, brinca com assuntos sérios, superpõe o épico e o mundano, história e rotina para frisar que os diferentes aspectos de sua musicalidade não são díspares, mas complementares.

Curumin segue um discurso semelhante, mas trabalhando na pós-produção, no improviso, na sonoridade orgânica. Multiinstrumentista, ele lidera sua banda a partir de uma bateria cheia de samples, pedais, teclados. Dispara trechos de música para encaixar em sua própria batida, seja orgânica ou sintética, acompanhado de perto por seus velhos compadres Zé Nigro e Lucas Martins, que também revezam-se nos vocais, guitarra, baixo, efeitos e MPC, lidando com as duas facetas da mesma musicalidade. Seu recém-lançado disco Boca é o ápice deste amálgama musical, misturando cores e sabores para mostrar que a graça é não ter padrão.

Tanto Boca quanto Galanga Livre pressionam ainda mais o dedo na política ao tirá-la das assembleias e congressos e traze-la para a vida real, cotidiana, puxando discussões sociais e culturais que vão além da régua da mera música pop. Ambos abrem o capítulo 2017 da maturidade dessa geração e têm a mesma força que a dupla Tropix (da Céu) e Duas Cidades (do BaianaSystem) pareciam carregar no ano passado.

A ascensão de Rincon Sapiência

Depois que lançou seu disco de estreia Galanga Livre no fim de maio deste ano, o rapper e produtor paulistano Rincon Sapiência preferiu desbravar novos territórios a colher os frutos de um disco que sintetiza sua primeira década de atividade. O trabalho é um disco conceitual que parte da adaptação de uma ficção em que o personagem-título mata o dono de engenho que o escravizava no Brasil de séculos atrás como uma metáfora para conquistas a serem realizadas neste século. Misturando rap, samba, trap, rock, música africana e rock africano, ele já tem show marcado com o BaianaSystem em São Paulo e participará do festival paulistano Coala, em agosto, e do pernambucano Coquetel Molotov, em outubro, que começou a anunciar suas atrações a partir do rapper. Conversei com ele sobre este disco e sua conjuntura dentro da cena brasileira atual, e aproveitei para pedir que ele fizesse um faixa a faixa de seu primeiro disco.

Por que você levou tanto tempo para lançar seu disco de estreia?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rincon-sapiencia-2017-por-que-voce-levou-tanto-tempo-para-lancar-seu-disco-de-estreia

O álbum tem um só tema?

https://soundcloud.com/trabalhosujo/rincon-sapiencia-2017-o-album-tem-um-so-tema

Como surgiu a amarração conceitual do disco?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rincon-sapiencia-2017-como-surgiu-a-amarracao-conceitual-do-disco

Fale sobre a importância de lançar os singles antes do álbum?

https://soundcloud.com/trabalhosujo/rincon-sapiencia-2017-fale-sobre-a-importancia-de-lancar-os-singles-antes-do-album

Como “Ponta de Lança” conversa com o resto do disco?

https://soundcloud.com/trabalhosujo/rincon-sapiencia-2017-como-ponta-de-lanca-conversa-com-o-resto-do-disco

Qual retrato que você faz do rap brasileiro hoje?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rincon-sapiencia-2017-qual-retrato-que-voce-faz-do-rap-brasileiro-hoje

Como é o show de Galanga Livre?

https://soundcloud.com/trabalhosujo/rincon-sapiencia-2017-como-e-o-show-de-galanga-livre

Quais os próximos passos depois do lançamento do disco?

https://soundcloud.com/trabalhosujo/rincon-sapiencia-2017-quais-os-proximos-passos-depois-do-lancamento-do-disco

Galaga Livre, faixa a faixa, por Rincon Sapiência

25 discos brasileiros para o primeiro semestre de 2017

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Estes são os 25 brasileiros escolhidos na categoria melhor disco do primeiro semestre deste ano pelo júri da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), do qual faço parte.

Aláfia – SP Não é Sopa
Boogarins – Lá Vem a Morte
Corte – Corte
Criolo – Espiral de Ilusão
Curumin – Boca
Do Amor – Fodido Demais
Domenico Lancellotti – Serra dos Órgãos
Don L – Roteiro Pra Aïnouz vol.3
A Espetacular Charanga do França – Chão Molhado da Roça
Felipe S. – Cabeça de Felipe
Giovani Cidreira – Japanese Food
Hamilton de Holanda – Casa de Bituca
João Donato + Donatinho – Sintetizamor
Juliana R – Tarefas Intermináveis
Kiko Dinucci – Cortes Curtos
Lucas Santtana – Modo Avião
Luiza Lian – Oya Tempo
Matéria Prima – 2Atos
Mopho – Brejo
My Magical Glowing Lens – Cosmos
Rincon Sapíencia – Galanga Livre
Rodrigo Campos – Sambas do Absurdo
Trupe Chá de Boldo – Verso
Vermes do Limbo + Bernardo Pacheco – Berne Fatal
Zé Bigode – Fluxo

Muita coisa boa sendo lançada este ano – e vem mais coisa boa neste semestre. O júri é composto por mim, José Norberto Flesch e Marcelo Costa e no segundo semestre escolheremos mais outros 25 discos. O Pedro antecipou a lista e publicou os links para ouvir os 25 discos em seu blog no Estadão.

E esse disco novo do Rincon Sapiência, hein…

rinconsapiencia

Não é que o rap brasileiro esteja numa má fase, mas esse Galanga Livre, que o Rincon Sapiência acaba de lançar, leva a cena a um outro nível…

Ouve aí que depois eu falo mais sobre isso.

Vida Fodona #557: Muita música de 2017

vf557

Demorou, mas eis o primeiro VF de maio…

Beto Cajueiro – “Sistema da Vida”
Boogarins + John Schmersal – “A Pattern Repeated On”
War on Drugs – “Thinking of a Place”
Haim – “Right Now”
Fleet Foxes – “Fool’s Errand”
Ney Matogrosso + Nação Zumbi – “Amor”
Black Lips + Yoko Ono – “Occidental Front”
Angel Olsen – “Who’s Sorry Now”
Whitney – “You’ve Got A Woman”
Tiê – “Mexeu Comigo”
Amber Coffman – “No Coffee”
Lana Del Rey + Weeknd – “Lust for Life”
Johnny Jewell – “Stardust”
LCD Soundsystem – “American Dream”
PJ Harvey – “A Dog Called Money”
Curumin – “Boca de Groselha”
Rincon Sapiência – “Ponta de Lança (Verso Livre)”
BaianaSystem + Yzalú – “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”