As 75 melhores músicas de 2012: 2) Chromatics – “Lady”

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Uma canção irrepreensível, que começa feito luz passando por frestas no escuro para, depois da entrada do vocal gelado de Ruth Radelet, estourar em uma explosão de disco music em câmera lenta que se metamorfoseia lentamente em uma paisagem pastoril eletrônica, de baixos marcados e guitarras distantes. O universo musical de Johnny Jewel traduz-se melhor entre os ecos e sussurros de “Lady” e torna-se parte da textura sonora de 2012.

As 75 melhores músicas de 2012: 1) Hot Chip – “Flutes”

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A melhor música de 2012 é a mesma que o Hot Chip escolheu para nos apresentar a seu disco de 2012, In Our Heads – e esta longa apresentação (quase oito minutos) começava a nos mostrar um disco sólido que só veio confirmar ainda mais que a presença do Hot Chip no imaginário musical do planeta vai muito além da banda que conquistou o mundo com o hit de pista “Over and Over” no fim da década passada. Desde então, o grupo inglês vem construindo sua reputação com um olho na pista e outro na perspectiva histórica e depois que o LCD Soundsystem pendurou as chuteiras, talvez sejam eles a banda mais importante nascida neste século. “Flutes” é um daqueles motivos em que este “talvez” deixa de existir. Uma pequena obra-prima, um colosso em forma de canção.

As 75 melhores músicas de 2012: 13) Spiritualized – “Hey Jane”

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Jason Pierce apresentou seu Spiritualized a 2012 com um longo noise de dois acordes que, graças a uma insistência hipnótica e uma graça bruta, eleva esta incursão ao submundo Velvet Underground a um nível épico que chega a resvalar no sublime. O clipe, cru, pessimista e poético, só ajuda a traduzir em imagens os sentimentos deste gospel elétrico que usa o rock’n’roll para sair da sarjeta rumo ao céu.

As 75 melhores músicas de 2012: 12) Lindstrøm – “Eg-ged-osis (Todd Terje Extended Mix)”

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Dono de dois dos melhores discos de eletrônica do ano (Six Cups of Rebel e o excelente Smalhans), o norueguês Hans-Peter Lindstrøm vem aos poucos se estabelecendo como um dos principais produtores de música do planeta. Seu conterrâneo Todd Terje – um dos grandes remixadores do novo século – sabe bem disso e quando se dispõe a lidar com o trabalho do amigo, tem a plena consciência de estar fazendo história. “Eg-ged-osis”, progressiva, cíclica e não-linear, retoma uma linha evolutiva do techno como se a música eletrônica nunca tivesse tido um momento mainstream – e ainda fosse aquele segredo bem guardado que a caracterizava como tribo. E seu remix a trata como um registro deste momento – apenas para quem é de verdade.

As 75 melhores músicas de 2012: 11) Major Lazer + Amber Coffman – “Get Free”

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É bom quando o Diplo acerta. Imerso na Jamaica durante a maioria de 2012, o produtor convocou a vocalista dos Dirty Projectors para passear sobre um reggae desconfiado e niilista, que, se cantado por uma voz masculina, talvez causasse apreensão e insegurança. Mas o vocal de Amber Coffman, às vezes superposto sobre si mesmo, causa uma sensação simultânea de desespero e esperança, tornando “Get Free” uma canção de protesto tensa e calma ao mesmo tempo, como um reggae clássico.

As 75 melhores músicas de 2012: 10) Chromatics – “The Page”

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Timbres elétricos e açucarados que ecoam na alma, texturas de microfonia na freqüência do sono, um vocal sensual e cadavérico – “The Page”, outra pérola dos Chromatics, parece ter sido escrita na luz, no frio, sem saber se queria ser fria ou quente, escolhendo, no fim, ser os dois.

As 75 melhores músicas de 2012: 9) Lana Del Rey – “Blue Jeans (Penguin Prison Remix)”

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E a melhor música de Lana Del Rey do ano foi lançada em 2011, mas recebeu um tratamento primoroso pelo produtor Peguin Prison em 2012, trazendo o encontro que antes acontecia em um bar de beira de estrada para uma pista de dança austera e classuda, num dos grandes hits do ano.

As 75 melhores músicas de 2012: 24) Nicki Minaj – “Starships”

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Que música é essa? Como assim, que espécie de dance music estamos ouvindo? Afrika Bambaataa ergueu a primeira ponte entre a música eletrônica quando sampleou o Kraftwerk em “Planet Rock”, mas essa conexão seguiu firme e forte e desde o início do século ganhou bases sólidas e amplo financiamento da indústrias – o casamento do Daft Punk com Kanye West ou as inúmeras participações especiais nos hits de David Guetta mostram o vulto que esta conexão atingiu nos últimos anos. Aí vem Nicki Minaj, sobrevoa esta ponte sobre uma espaçonave (“mais chapada que uma feladaputa”), abduz todos os formatos que podem ser utilizados nesta conexão – eurodance, trance, hip hop, italo house, electropop – e os empilha numa canção caricata e exagerada, que canta sobre como se acabar numa pista de dança. Se fosse necessário inventar um gênero para “Starships” poderia ser algo próximo a WTF music (isso sem precisar ver o clipe, que é ainda mais retardado). Feizmente não é preciso, resta apenas deixar o cérebro derreter sobre os quadris.

As 75 melhores músicas de 2012: 8) Grimes – “Genesis”

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Base eletro-teutônica sob vocais indie com tempero oriental – descrita, “Genesis” lembra muito “Oblivion“, a outra grande faixa de Grimes em 2012. Mas a placidez dos teclados se sobrepõe aos beats quebrados a colocam num ponto equidistante entre a eletrônica mais tímida e o indie dance, a arte conceitual e o synthpop. Uma das melhores surpresas do ano, em “Genesis” Grimes se firma como a mais forte candidata ao posto de herdeira da Björk – trono que andava vago desde que a islandesa abriu mão do pop para ficar só com a arte, no início do século.

As 75 melhores músicas de 2012: 23) Metá Metá – “Oya”

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Principais protagonistas na conexão África-São Paulo que vem se concretizando nos últimos anos (da Bahia Fantástica de Rodrigo Campos ao Bixiga 70, sem esquecer o disco do Criolo), o trio Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França começou como uma espécie de projeto paralelo mas aos poucos ganhou força e voz própria, a ponto de pegar a todos de surpresa com um segundo álbum. E Metal Metal, o novo disco do Metá Metá, tornou-se público a partir da força de “Oya”, que começa quieta e sorrateira e aos poucos vai esquentando, esquentando, esquentando até entrar em ponto de ebulição e derreter tudo ao redor com um amálgama de ritmo e harmonia que não parece vir nem da África nem de São Paulo, mas do fundo da Terra. Sísmica, arrebatadora e implacável ela ultrapassa a estratosfera e segue em direção ao espaço de Sun Ra, em seus últimos minutos. É outro nível de discussão.