Lindo o show que Gui Amabis fez nesta quinta-feira no Sesc Pompeia para mostrar, em grande estilo, o seu ótimo quinto disco, lançado no primeiro semestre deste ano, Contrapangeia. Escudado por dois velhos compadres cada um a seu um lado no palco – o violonista Regis Damasceno e o tecladista Zé Ruivo – ele foi acompanhado por um orquestra de câmara de 18 músicos e transpôs ao vivo o disco na íntegra, incluindo as participações de Manu Julian e Juçara Marçal, que encerrou a apresentação com a bela “Nesse Meio Tempo”, que também encerra o disco. Gui aproveitou a oportunidade única para reler naquela formação algumas músicas de discos anteriores (como “O Deus Que Mata Também Cura” de seu disco de estreia, Memórias Luso-Africanas, de 2011; e “Pena Mais Que Perfeita”, esta com Juçara, que a regravou em seu disco de estreia, e “Merece Quem Aceita”, do disco seguinte, Trabalhos Carnívoros, de 2012) e encerrou com um bis com uma versão deslumbrante para “Graxa e Sal”, de seu terceiro álbum, Ruivo em Sangue, de 2015, e fez todo mundo sair flutuando.
E reunindo sua atual banda para repassar seu repertório e visitar algumas músicas alheias, Pélico encerrou a sua temporada Cá Com os Meus Botões no Centro da Terra com o astral lá em cima. Acompanhado por Richard Ribeiro (bateria), Jesus Sanchez (baixo), Regis Damasceno (violão e guitarra) e Pedro Regada (piano e teclados), o cantor e compositor também cantou músicas que alguns fãs pediram anteriormente (como “Se Você Me Perguntar” e “Descaradamente”, ambas tocadas no bis) visitou Lô Borges via Milton Nascimento (“Para Lennon e McCartney”) e Renato Russo (“Vinte e Nove”, desta vez só com Regis) e contou com a presença surpresa do novato Kaboom 23, com quem dividiu uma música (“Coração Congelado”, que fizeram no palco) lançada em 2021. Uma noite quente para encerrar uma temporada emotiva – e rejuvenescedora, para o público e para o artista.
E Pélico segue desbravando novos rumos para suas canções em mais uma noite de sua temporada Cá com Meus Botões no Centro da Terra. Nesta segunda, a terceira noite de sua temporada no teatro, ele chamou o parceiro de longa data Regis Damasceno, que também está tocando na atual formação de sua banda, que chega em conjunto na próxima segunda, para acompanhá-lo ao lado de um novo parceiro, o violoncelista Thiago Faria. E juntos, o trio passeou por algumas das canções de seu repertório visitadas nesta temporada e algumas versões, entre elas mais uma vez “Espelhos D’Água”, hino romântico de Dalto, e, pela primeira vez, “Vinte e Nove”, do Legião Urbana, além de pinçar faixas próprias que há muito tempo não tocava ao vivo, como “Um Menino” e “Pretexto”. E mais uma vez Pélico entregou-se de corpo e alma às suas canções, numa noite tão emotiva quanto as anteriores, mas que caminhava por outros arranjos…
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E com prazer recebemos durante as segundas-feiras de outubro o grande cantor e compositor Pélico, que depois de uma temporada no exterior, começa a preparar sua volta aos palcos e aos discos, lentamente preparando um próximo álbun à medida em que volta a sentir a pulsação do momento. E ao propor a temporada Cá com Meus Botões, ele volta-se para si mesmo, como o título deixa claro, para, a cada segunda-feira, visitar um trecho de sua carreira com diferentes formações. Na primeira segunda, dia 7, ele vem acompanhado do tecladista Pedro Regada, para depois, no dia 14, visitar um repertório de canções que canta em casa acompanhado do violão de Kaneo Ramos: violão. No dia 21 ele vem escudado pelo compadre Regis Damasceno, que toca guitarra, violão e o acompanha nos vocais, e do cello tocado por Thiago Faria, para revisitar velhas canções nesta nova formação. E encerra a temporada no dia 28, acompanhado de sua atual banda (formada por Regis Damasceno, Pedro Regada, Jesus Sanchez no baixo e Richard Ribeiro na bateria), quando começa a mostrar sua produção atual. Os espetáculos começam pontualmente sempre às 20h e os ingressos estão à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra.
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E o espetáculo que Laura Lavieri realizou nesta terça-feira no Centro da Terra, por mais que tivesse cânticos indígenas e mantras indianos que justificassem o título da noite (Mântrica), não ficou apenas em repetições e círculos musicais ancestrais e, auxiliada por Estevan Sincovitz, Regis Damasceno e Igor Caracas, ela invadiu o terreno da canção popular e levou essa lógica musical cíclica para clássicos de Cole Porter, Tincoãs, Radiohead, Beatles (e George solo!) e até Can, fazendo tudo correr como parte de um mesmo fluxo criativo, como por exemplo quando enfileirou a eterna “É Preciso Perdoar” com “As Esferas” de Ava Rocha e Negro Leo. Uma noite plena.
Começamos os trabalhos de agosto no Centro da Terra com uma apresentação que Laura Lavieri criou especialmente para esta ocasião. No espetáculo Mântrica, a cantora e compositora abraça poemas circulares pelas ondas da música, trabalhando elementos que estão ligados à sua produção artística e à forma de relacionar-se com o mundo, como controle, proteção, concentração, expurgo. Nessa imersão musical e terapêutica, ela vem acompanhada dos amigos Estevan Sincovitz, Regis Damasceno e Igor Caracas. O espetáculo começa pontualmente às 20h e ainda há ingressos à venda neste link.
Este fim de semana viu a segunda edição do espetáculo Conjunto Nordeste, idealizado pelo produtor Duda Vieira e pelo maestro Regis Damasceno, no Sesc Pinheiros. Se a primeira, realizada em junho do ano passado, priorizou novos nomes da música nordestina – reunindo um elenco estelar formado por Alessandra Leão, Almério, Flaira Ferro, Getúlio Abelha, Larissa Luz, Luiz Lins, Otto e Potyguara Bardo -, esta segunda preferiu voltar para as raízes e celebrar artistas da região que estão aí há tempos – mas sem tirar o pé da contemporaneidade. Este foi representado por Josyara, que abriu a noite com sua voz e violão estupendos encantando corações que estavam, em sua grande maioria, esperando os veteranos da noite. Depois foi a vez de Ednardo, aos poucos recuperando sua voz depois de um problema de saúde, mas com carisma intacto, fazendo todos cantar “Enquanto Engoma A Calça”, “Pavão Mysteriozo” e “Terral” (e não teve como não dar uma choradinha nessa hora), seguido de Hyldon, que brincou com o fato de ninguém lembrar que ele era baiano (“do polígono da maconha”, riu, reforçando que foi “parceiro do Tim Maia e vizinho de Raul Seixas, sou um sobrevivente!”), e emendar os hits “Dores do Mundo”, “Na Sombra de Uma Árvore” e inevitavelmente “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”. A estrela da noite foi a gigante Anastácia, eterna alma gêmea de Dominguinhos, que lembrou, no show de domingo, que seu companheiro e parceiro morrera há exatos dez anos, e aproveitou a oportunidade para reforçar que discorda da lógica que brasileiro não tem memória, citando aquele espetáculo como prova disso, antes de passear pelos sucessos “Sanfona Sentida”, “Amor Que Não Presta Não Serve Pra Mim” (bolero eternizado por Angela Maria) e “Tenho Sede”. Os quatro foram acompanhados por uma banda dirigida por Régis, que alternava-se entre a guitarra e o violão de doze cordas, e ainda contava com Danilo Penteado (tocando sanfona, teclado, cavaquinho e violão), Charles Tixier (tocando percussão e sampler), Magno Vito (no contrabaixo) e Alana Ananias (na bateria). Os quatro voltaram tocando “Só Quero um Xodó” e mostrando que este formato tem vida longa. Que venha o próximo!
Nos últimos anos, as comadres Alessandra Leão, Isaar e Karina Buhr vêm selando uma amizade de décadas, que remonta às origens do mangue beat em seu Pernambuco e um movimentação feminina e feminista no mundo da música mesmo a contragosto de seu status quo. O novo passo do trio foi dado neste sábado, no Sesc Pinheiros, quando reuniram-se ao guitarrista Régis Damasceno e à tecladista Sofia Freire para celebrar esse laço comum no espetáculo Dracena, em que repassaram músicas de suas respectivas carreiras solo em conjunto. “Não tem macumba sem planta, não tem macumba sem folha”, Alessandra explicou o nome da apresentação a partir da planta que o batiza no momento central do show, quando só as três entregam-se às suas vozes e instrumentos de percussão, “dracena também quer dizer ‘dragão feminino’. Dracena é planta que limpa, abre caminho e aponta para a frente como uma lança”. Axé!
Um dos principais nomes da música britânica do século passado, Nick Drake é daqueles artistas que fez pouco, mas o pouco que fez foi muito. Lançou três álbuns e uma série de gravações esporádicas numa discografia impecável que reúne um cancioneiro único no Reino Unido. Tímido e recluso (e com quase dois metros de altura), fazia parte da cena folk inglesa de bandas como Incredible String Band, Fairport Convention e Sandy Denny, da virada dos anos 60 para os 70, e embora não fosse um dos integrantes mais ativos da cena, era seu principal nome. Ainda desconhecido no Brasil, ele é alvo de um tributo organizado pelo produtor Eduardo Lemos e pelo músico Régis Damasceno, guitarrista do Cidadão Instigado e diretor musical do show Lua Rosa, que acontece no Sesc 24 de Maio nos dias 14 e 15 de novembro e reúne, além de Regis, nomes como Filipe Catto, Stela Campos, Ceumar e Gui Amabis (mais informações aqui). Bati um papo com os dois, que também anteciparam em primeira mão para o Trabalho Sujo a versão que Filipe Catto e Regis Damasceno fizeram para “Clothes of Sand”, uma das músicas mais conhecidas dele por aqui, que foi gravada no primeiro disco solo de Renato Russo, The Stonewall Celebration Concert.
https://www.youtube.com/watch?v=gtmCzHQZc0U
Como surgiu a ideia de homenagear Nick Drake? Como você conheceu o trabalho do autor?
Eduardo Lemos: Conheci Nick Drake em 2008, quando assisti Garden State. Uma de suas mais bonitas canções, “One of These Things First”, faz parte da trilha sonora do filme. Nas semanas seguintes, fiquei obcecado por sua obra: escutava o tempo todo seus três discos lançados em vida, pesquisava sobre sua vida em fóruns na internet, procurava amigos músicos e jornalistas pra saber se alguém o conhecia. A resposta era sempre ‘não’. Me formei jornalista, comecei a trabalhar na área e descobrir que um ou outro músico era também obcecado pelo cara. Meu interesse por ele só ia aumentando. Visitei duas vezes sua cidade, Tanworth In Arden, um vilarejo perdido no meio da Inglaterra, a uma hora de Birmingham, li biografias, revistas, fanzines e, mais importante, continuei escutando suas músicas e tendo a mesma sensação mágica das primeiras vezes. Há uns dois anos, me dei conta que em 2018 ele faria 70 anos. Achei que a data redonda pudesse ser um gancho pra tirar um antigo sonho da cabeça: fazer um show de músicos brasileiros em homenagem a Nick Drake.
Fale sobre sua aproximação com Regis Damasceno para dirigir a parte musical do show.
Eduardo Lemos: O diretor musical é Regis Damasceno. Mas eu não o conhecia até então. E há uma história curiosa em torno disso. Um dos amigos músicos que compartilham comigo o fascínio pelo Nick Drake é Meno del Picchia, um dos mais talentosos músicos da cena contemporânea. Em janeiro deste ano, convidei-o para pensar comigo o espetáculo. Ele adorou a ideia, tentamos começar o projeto diversas vezes, mas a coisa sempre travava em algum lugar, ou na agenda dele, ou na minha. Decidimos que era melhor que eu buscasse outro nome. Por coincidência, dias depois fui para a Inglaterra e novamente visitei Tanworth in Arden. O seu túmulo fica no jardim de uma igreja milenar, solitário embaixo de uma grande árvore de carvalho. Me aproximei, falei algumas coisas, rezei e chorei. Quando eu já havia dado alguns passos para ir embora, resolvi voltar e fazer um pedido: se ele, Nick, achasse legal a ideia de um projeto em sua homenagem, que me enviasse um sinal. horas depois, já de volta a Londres, recebo uma mensagem do Meno dizendo: “tenho a pessoa perfeita pro show do Nick: Regis Damasceno”. Dali em diante, Regis tocou a parte musical e eu fui cuidar do resto: conceito, produção, comunicação etc.
Como aconteceu a escolha dos intérpretes?
Regis Damasceno: A escolha dos intérpretes não foi uma tarefa muito fácil. A gente pesquisou bastante pra encontrar, dentro do universo de intérpretes que a gente conhece, artistas que fossem fãs do trabalho do Nick Drake. Algumas escolhas foram simples, outras foram surpresas pra nós. Por exemplo, eu não imaginava que a Ceumar fosse fã do Nick Drake, foi uma boa surpresa pra nós. O Gui Amabis eu já conhecia, toco com ele e, inclusive, a gente tocava uma música do Nick Drake nos shows dele (“Day is Done”). A Stela é uma fã de longa data do Drake. E o Filipe Catto, um cantor pop, atual, que tem afinidade com a obra dele. E foi legal descobrir outros nomes de fora de São Paulo que também curtem o Nick Drake, e que podem estar com a gente se conseguirmos levar o show para o Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, por exemplo.
E o repertório, ele privilegia alguma fase, alguma estética ou é uma introdução ao trabalho de Drake?
Regis Damasceno: O repertório privilegia músicas dos três álbuns e duas que não estão em disco – foram singles lançados posteriormente à sua morte ou sobras de estúdio. A gente fez um recorte estético, algo que pudesse representar a obra dele. Há músicas que serão abordadas só no arranjo de violão, como é característico dele, e outras que serão recheadas com cordas, como cello, rabeca, contrabaixo. E muitas, que no original são calcadas apenas no violão, foram arranjadas para a linguagem de banda.
O que você descobriu sobre Nick Drake que não sabia durante esta pesquisa?
Eduardo Lemos: Muita coisa. Drake era um ótimo atleta quando adolescente. Mais velho, numa viagem ao Marrocos, encontrou com – e tocou algumas canções para – ninguém menos que Mick Jagger e Keith Richards. E escutava Astrud Gilberto na faculdade. Há dezenas de histórias saborosas, mas acho que a maior descoberta está a ser feita. Desde o começo deste projeto, eu tentei que ele não fosse apenas um show ou um evento de oportunidade, algo que acende e depois apaga. Me determinei a criá-lo como um projeto contínuo, de longa duração, para que tivéssemos tempo de explorar os muitos assuntos que Drake propõe. Essa é, portanto, a maior descoberta de todas: quanto mais se lê, se escuta e se conversa sobre ele, mais ele se revela. Nick Drake não foi devidamente escrutinado pela mídia quando estava vivo – não há nenhum registro seu em movimento, seja entrevistas ou performances ao vivo, há pouquíssimas aspas para jornalistas e ele não deixou nenhum diário. A descoberta de seu universo se dá, portanto, pelo som e pela palavra. É um movimento lento e o projeto pretende seguir esse ritmo. Um exemplo prático vem de sua reconhecida habilidade em criar e usar afinações alternativas de violão. Então, criamos uma aula-espetáculo de afinações de violão típicas de Nick Drake, que Regis vai ministrar no dia 15/11, às 13h, no Sesc 24 de Maio, com entrada gratuita.
Camilo Rocha e Guilherme Falcão me convidaram para participar de mais uma edição do Escuta, podcast do Nexo sobre música, que revisita o Álbum Branco, clássico disco duplo dos Beatles que comemora 50 anos neste 2018, com a presença de outros convidados, como Ricardo Alexandre, Tim Bernardes, Lorena Calabria e Regis Damasceno. Ouça abaixo:
https://soundcloud.com/escuta-nexo/07-album-branco