Refletor #009: O dia em que pousamos em um cometa

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Nesta quarta-feira uma sonda espacial vai tentar pousar num cometa, num feito histórico (se der certo, claro). Falei sobre isso na minha coluna do Brainstorm9 dessa semana – e o que isso tem a ver com a ficção científica.

Pousar num cometa
A Agência Espacial Europeia celebra um feito futuro apostando na ficção científica

Um mago e sua aprendiz tentam criar um sistema solar em miniatura a partir da manipulação da matéria através da mente. Trabalhando em um deserto rochoso, os dois fazem planetas e estrelas nascerem a partir da concentração, reunindo conjuntos de pedras flutuantes que, com a gravidade, tornam-se pequenos planetas. Mas algo está faltando…

Essa é a sinopse do curta Ambition, dirigido pelo polonês Tomek Bagiński e estrelado por Aidan Gillen e Aisling Franciosi. Filmado na Islândia, o filme foi exibido pela primeira vez no dia 24 do mês passado, durante a mostra Sci-Fi: Days of Fear and Wonder (Ficção Científica: Dias de Medo e Admiração), que foi realizada no British Film Institute, em Londres.

O curta é uma coprodução entre a Platige Image (a produtora de Bagiński) e a Agência Espacial Européia (ESA). O motivo da agência ter se envolvido no curta é revelado na metade da história, quando, ao cogitarem um dos motivos do nascimento da vida no planeta Terra, seus dois protagonistas lembram de um passado que ainda não aconteceu. Eles mencionam a Missão Rosetta, da própria ESA, que foi lançada há dez anos e no próximo dia 12 de novembro – também conhecido como amanhã – deve conseguir atingir seu propósito: pousar em um cometa.

Segundo os idealizadores da missão, a intenção do acontecimento é reunir informações e dados que possam falar mais a respeito da origem do sistema solar, da água em nosso planeta e, portanto, da formação da vida. Pode ser uma data histórica caso o pouso aconteça de acordo com o planejado.

“Tantas coisas poderiam ter dado errado”, diz o personagem de Aidan Gillen, conhecido por séries como “The Wire” e “Game of Thrones”. “Por um bom tempo, as origens da água e da própria vida em nosso planeta seguiram como um mistério completo. Foi quando começamos a buscar pelas respostas fora da Terra. Nos voltamos para os cometas. Um trilhão de bolas celestiais de gelo, poeira e moléculas complexas que sobraram do nascimento de nosso sistema solar. Eram vistos como mensageiros da morte e da destruição e ainda assim tão encantadores. Precisávamos pegar um deles: um plano incrivelmente ambicioso.”

A previsão é que a Missão Rosetta lance a sonda Philae para o centro do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko quando estiver a uma distância de 22 quilômetros de distância, às 5:35 no horário de Brasília, amanhã. Pode ser um feito histórico que pode mudar o que conhecemos sobre a vida, o universo e tudo mais.

Pode ser apenas uma tentativa, já que alguns segundos de erro de cálculo podem colocar todo o trabalho a perder. Mas o importante é que foi feito. E, mais do que isso, que foi imaginado. Como o personagem principal do curta bancado pela ESA, alguém pensou num plano incrivelmente ambicioso. Tão ambicioso quanto pousar na Lua, decifrar nosso DNA ou desenvolver a inteligência artificial.

Ideias que começaram nos livros, nos filmes. A relação entre a ciência e a ficção científica talvez seja o melhor exemplo do ditado “a vida imita a arte”. São inúmeros casos de leitores que começaram a se interessar por física, química, biologia, matemática, astronomia e outros ramos da ciência a partir do contato com as especulações cogitadas por autores de épocas diferentes.

O polonês Wernher von Braun, a cara da NASA durante os anos de conquista espacial, só cogitou a viagem para o espaço após ler os livros de H.G. Wells e Jules Verne e termos como “robótica” e “ciberespaço” apareceram pela primeira vez em clássicos do gênero (“Eu, Robô” de Isaac Asimov e “Neuromancer” de William Gibson, respectivamente).

E talvez toda a magia suposta no curta – que faz dois humanos recriarem o sistema solar como num laboratório – não seja nada mágica. Afinal, como dizia outro mestre da ficção científica, Arthur C. Clarke, “qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia.”

Eis a importância do pequeno filme: instigar a imaginação e a criatividade dos cientistas do futuro.

Refletor #008: A Marvel e a internet

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Na minha coluna dessa semana no Brainstorm9, falei sobre o vazamento do trailer do Vingadores 2 na semana passada e da forma como a Marvel encarou o contratempo, jogando a seu favor.

Jogando com a internet
Com o vazamento do trailer de “Vingadores 2: A Era de Ultron”, a Marvel aprende que não dá para controlar a internet, mas também ensina como é a melhor forma de lidar com ela

“Maldita Hydra!”, resmungou a conta do Twitter da Marvel na semana passada, horas depois do vazamento do primeiro aguardado trailer do filme “Vingadores 2: A Era de Ultron”.

O trailer estava programado para ir ao ar após o episódio de ontem, terça-feira, dia 28, do seriado “Agents of S.H.I.E.L.D.”, também produzido pela Casa das Ideias. Mas um imprevisto vazamento fez uma versão em baixa qualidade do trailer aparecer no início da noite da quinta-feira passada, dia 23. Em segundos sites de notícias de cinema, quadrinhos e cultura pop linkavam o vídeo pirata com o aviso para que seus leitores assistissem logo, pois o trailer iria sair do ar.

Afinal, esse é o hábito da indústria. Assim que um disco, filme ou seriado aparece online, há exércitos de programadores e advogados prontos para retirar o arquivo do ar, ameaçando sites e derrubando conteúdos através de acordos pré-estabelecidos com redes como YouTube e Facebook.

O YouTube especificamente conta com um algoritmo de reconhecimento de conteúdo alheio que simplesmente impede o dono de uma conta de publicar um vídeo caso ele tenha diagnosticado que aquele vídeo é de uma terceira parte, mesmo que seu publicador não a identifique.

Mas isso não quer dizer que consigam reduzir a pirataria digital. Diminuem o impacto, bloqueando os principais pontos de acesso – mas só para vídeo há dezenas de sites semelhantes ao YouTube que não contam com tecnologia tão ágil para retirada de conteúdo, o que obriga essa ação ser realizada manualmente, com advogados entrando em contato com departamentos jurídicos dos sites.

Além destes, as pessoas têm trocado conteúdo em redes de relacionamento fechadas, emails e fóruns e a versão pirata do trailer de Era de Ultron circulou inclusive via WhatsApp. O próprio YouTube pode ser enganado – e quase sempre o é – quando usuários alteram minimamente a velocidade do arquivo ou invertem horizontalmente a imagem ou a publicam dentro de uma moldura, impossibilitanto a inteligência artificial do site de reconhecer automaticamente a versão. Isso sem contar o mar de torrents, impossível de ser rastreado.

Mas a Marvel fez diferente. Ao twittar o resmungo contra a Hydra – a rede nazista que derrubou a S.H.I.E.L.D. nos filmes do estúdio – ela oficializou a pirataria, ao divulgar em seu próprio canal do YouTube o trailer em alta resolução – com toda a pompa, circunstância, cores e sons que deveria aparecer apenas hoje, na transmissão norte-americana do seriado Agents of S.H.I.E.L.D. Em vez de derrubar as milhares de versões piratas de seu trailer e causar a frustração em milhões de fãs que não conseguiram assistir ao filme, a Marvel baixou a guarda e faturou ela mesma aquela síndrome de atenção.

A Marvel está liderando a construção de uma nova narrativa a longo prazo que foi antecipada pelos delírios transmídia da década passada, quando “Matrix” e “Lost” mostravam as maravilhas que poderiam ser conseguidas quando se misturava a história principal do cinema ou da TV com quadrinhos, desenhos animados, videogames, além de inúmeras pistas espalhadas pela internet e outras tantas cogitadas pelos fãs.

Trabalhando em cima de uma mitologia clássica – seus próprios super-heróis – ela primeiro transpôs de forma bem sucedida os títulos dos quadrinhos para o cinema (com os primeiros filmes do “Homem Aranha”, “X-Men” e “Quarteto Fantástico”) e depois virou ela mesma um estúdio de cinema para produzir seus próprios títulos.

A partir de “Homem de Ferro” começou a contar uma história que se espalhava por outros filmes (“Thor”, “Capitão América”, “Homem de Ferro 2” e “Thor 2”) para culminar com o encontro dos heróis no primeiro Vingadores. O final dessa primeira fase ainda contou com a estreia do seriado “Agents of S.H.I.E.L.D.” que conversou com os filmes do Capitão América e com o segundo filme de Thor nas mesmas semanas em que estas produções estrearam mundialmente.

Estamos agora no meio da segunda fase da Marvel, que termina com o próximo Vingadores e já teve o segundo “Capitão América” e o terceiro “Homem de Ferro” (além de “Guardiões das Galáxias”) como episódios iniciais. O seriado produzido pela ABC também conversará com o fim desta segunda fase. E a terceira fase – anunciada ontem por Kevin Feige, em evento na California – contará com novos heróis e seriados, além de quatro séries estão sendo produzidas em parceria com o Netflix. Confira as datas:

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“Capitão América: Guerra Civil” – 6 de maio de 2016
“Doutor Estranho” – 4 de novembro de 2016
“Guardiões da Galáxia 2” – 5 de Maio de 2017
“Thor 3: Ragnarok” – 28 de julho de 2017
“Pantera Negra” – 3 de novembro de 2017
“Capitã Marvel” – 6 de julho de 2018
“Inumanos” – 2 de novembro de 2018
“Avengers: Infinity War – Parte I” – 4 de maio de 2018
“Avengers: Infinity War – Parte II” – 3 de maio de 2019

O incidente envolvendo o trailer novo do segundo Vingadores mostra que a Marvel vem aprendendo a lidar com a internet, que sempre pode estragar a brincadeira ao revelar segredos antes da hora. Mas é didático para outras empresas de produção de conteúdo – não dá para controlar a internet, é preciso trabalhar com ela. Certamente o trailer do novo filme faria mais sentido após a exibição do episódio, que conversaria com o a Era de Ultron. Tanto que a Marvel anunciou que iria exibir uma cena inédita do novo filme junto com o episódio, para tentar diminuir o estrago.

Aos poucos isso vai ser testado com outros filmes e seriados – ainda mais agora que a DC Comics anunciou 10 filmes para compor seu multiverso ao redor dos filmes da Liga da Justiça, com Batman e Super-Homem à frente. Isso sem contar as inúmeras outras mitologias – originais e adaptadas – que serão filmadas nas próximas décadas…

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Refletor #007: Iggy Pop, música livre em uma sociedade capitalista, John Peel e o legado da BBC

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Na minha coluna dessa semana no Brainstorm9 eu segui insistindo no porquê me incomodou tanto a breguice do clipe da BBC, pois esbarrei com uma palestra que o Iggy Pop deu em nome da emissora que tem muito mais a ver com o legado deles do que aquele excesso de fofura do comercial. A transcrição da palestra segue em inglês lá embaixo – se alguém se dispor a traduzi-la eu a publico aqui.

Porque o legado cultural da BBC não tem nada a ver com Elton John vestindo um paletó cheio de borboletas

Na minha coluna passada muita gente bateu de frente comigo porque eu desanquei o clipe com a versão de “God Only Knows” dos Beach Boys que a BBC fez para lançar seu novo portal de música, BBC Music. Uns me acusaram de saudosista por comparar com outro clipe, um pouco menos brega, que a emissora estatal britânica fez há 17 anos. Outros simplesmente discordaram porque gostaram do clipe e acharam que eu não podia achar o clipe brega. Uns poucos partiram pro ataque pessoal, essa arrogância agressiva é o que move as ondas das redes sociais.

Vou explicar: o clipe não é ruim. Ele é todo bem produzido, direção de arte caprichada, boa escolha de música e um bom elenco de intérpretes. Mas imagine se a Apple fosse a empresa que lançasse esse comercial? Todo esse panteão rococó destoaria drasticamente da imagem cool e minimalista que é a alma da imagem da empresa de Steve Jobs. Consegue imaginar o Spotify ou o próprio YouTube se vendendo dessa forma, com essa estética? É uma estética que tem mais a ver com a imagem que as grandes gravadoras gostam de passar, essa sensação de que todos os artistas estão juntos cantando uma mesma canção, com efeitos especiais sofisticados e que demonstrem uma certa sensibilidade.

O problema do clipe, na minha opinião, é seu excesso visual. É um apuro visual caro à Hollywood, à direção de arte exagerada dos filmes de Tim Burton, dos filmes que George Lucas fez de Guerra nas Estrelas na virada do milênio, da Asgard dos estúdios Marvel. Reunir vários artistas para cantar um clássico dos Beach Boys não é nada risível quanto ver um tigre saltando sobre o piano de cauda tocado por Brian Wilson, que se apresenta num palco de frente à orquestra que toca entre abajures que piscam. Sério que você não achou brega aqueles diamantes voando ao redor de Stevie Wonder?

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Não é essa a imagem que a BBC nos passa. A British Broadcasting Corporation, fundada em 1922, é um ícone britânico tão importante quanto a família real, o ônibus de dois andares, os policiais, a cabine telefônica, o Big Ben, os Beatles e Harry Potter. A estatal é um poço de conhecimento, uma biblioteca multimídia do século 20, que produz jornalismo e entretenimento com uma qualidade tão célebre quanto seu nome. Pouquíssimas empresas têm um nível de exigência tão alto quanto a BBC – e não estou falando apenas de empresas de comunicação.

Essa excelência se traduz esteticamente. Toda uma fleuma, polidez e austeridade típicas do que se reconhece como essências da cultura britânica também são qualidades da emissora, que reforça essa imagem que o Reino Unido quer passar para o resto do mundo. Na BBC isso se traduz com uma paleta de cores contida, um minimalismo nas fontes, a sobriedade e a clareza nas expressões, tudo mínimo e comedido mesmo em seus espasmos de loucura (que não são poucos).

É vasto o legado cultural da emissora, que reúne as célebres BBC Sessions com os maiores nomes da história do pop mundial, os documentários de Adam Curtis e David Attenborough, comédias impagáveis como “Absolutely Fabulous”, “The Young Ones”, “Little Britain”, “Fawlty Towers”, “Coupling”, “Monty Python”, “Spaced”, “The Office” e “The IT Crowd”, programas musicais como o “Old Grey Whistle Test”, “Top of the Pops” e “Later with Jools Holland”, séries clássicas como “Life on Mars”, “The Hour”, “Black Mirror”, “Torchwood”, “Doctor Who”, “Skins” e “Sherlock”. Você não precisa ter visto todos esses programas para saber de sua relevância – e também para ter uma idéia do alto padrão estabelecido pela emissora britânica.

Em se tratando apenas de música, basta falar da importância de um único homem – John Peel. Morto há dez anos, Peel é praticamente um totem à importância da BBC como visionária musical. Por trinta anos DJ da emissora, ele ergueu as bandeiras da psicodelia, do rock progressivo, do rock de garagem, do punk rock, do reggae, do hardcore, da new wave, do pós-punk, da música eletrônica e do indie antes que todo mundo começasse a prestar atenção nos artistas destes gêneros, usando sua prestigiada posição de radialista de uma das principais emissoras de rádio do mundo não para impor regras ou determinar padrões musicais – ele era um farol que buscava o que a contemporaneidade parecia não ver, apontando saudáveis rupturas ao status quo musical.

Suas Peel Sessions reuniram os momentos clássicos de artistas vivendo seus respectivos auges – do Superchunk ao Supertramp, David Bowie e Pixies, Pink Floyd com Syd Barrett e Joy Division, Jimi Hendrix e Nirvana, Peel gravou com todo mundo. Foram 4 mil sessões com mais de dois mil artistas diferentes.

Sua importância é lembrada anualmente pela própria emissora desde 2011, quando a BBC resolveu estender sua participação no evento Radio Festival ao inaugurar a BBC Music John Peel Lecture, uma masterclass em que um nome importante da música lembre de aspectos relacionados à liberdade criativa que Peel tinha na emissora.

O evento acontece todo ano na University of Salford, em Manchester, na Inglaterra, e celebra a cultura do rádio e das transmissões de áudio. A primeira John Peel Lecture, em 2011, foi ministrada pelo fundador do The Who, o guitarrista e vocalista Pete Townshend. A deste ano foi dada por ninguém menos que Iggy Pop, no último dia 13 deste mês.

Foi a primeira palestra que Iggy Pop deu na vida – e o mero convite à palestra é outra amostra do grau de risco que a BBC gosta de correr. Iggy Pop é uma lenda do rock por ter inventado o punk rock bem antes deste ter esse nome, quando numa cidadezinha no subúrbio de Detroit, juntou com uns malucos no final dos anos 60 para tentar imitar o Doors e pariu dois dos discos mais barulhentos da história do rock, The Stooges (nome que também batizava sua banda) e Funhouse.

Desde então seu nome esteve envolvido em bastidores clássicos do rock e situações de perigo extremo sempre envolvendo álcool, sexo, drogas, violência e barulho. Iggy Pop quebrava garrafas no palco e rolava no chão enquanto cantava, saía na porrada com fãs durante os shows, passou algumas décadas – os anos 60, 70 e 80 – sem estar sóbrio. Hoje, quase 50 anos depois daquele tempo, Iggy especializou-se em ser uma lenda viva do rock, fazendo coisas que nunca fez na vida a partir desse novo título. Não por acaso vem apresentando um programa semanal na própria BBC (BBC 6, todo domingo à tarde) e aceitou dar a palestra da semana passada.

Por uma hora Iggy Pop falou sobre o tema escolhido – “Música livre (ou gratuita) em uma sociedade capitalista”, numa palestra que pode ser resumida na importância de se fazer o que se gosta por gostar, nunca por dinheiro. “Se eu quiser fazer música, a esta altura da vida, prefiro fazer o que quero e de graça, que eu faço, ou pelo menos a um preço barato, que eu possa pagar. E banque isso através de outros meios, como um orçamento pra um filme ou um site de moda – já fiz os dois. Isso parece funcionar melhor para mim do que os discos corporativos de empresas de rock’n’roll que eu tenho feito. Desculpa. Se eu quisesse dinheiro, que tal vender seguros de carro?”

Na palestra Iggy falou sobre pequenas gravadoras (citando-as nominalmente como onde encontrar música boa hoje em dia – “XL, Matador, Burger, Anti, Epitaph, Mute, Rough Trade, 4AD, Sub Pop”), sobre Jack Holzman da Elektra e Richard Branson da Virgin, sobre a Vice e o Guardian, critica o U2 e a Apple a aplaude Thom Yorke e o BitTorrent, além de falar sobre o porquê de ouvirmos tanta música ruim no rádio. A palestra dada no Quays Theatre da University of Salford pode ser ouvida em streaming por quatro semanas neste link, baixada neste outro link e a transcrição se encontra neste link e abaixo (se alguém quiser se aventurar à tradução, basta postá-la nos comentários).

Resumo da ópera: a BBC é uma emissora que coloca o maior delinquente da história do rock para dar uma palestra sobre música de graça no sistema capitalista dentro de uma aula magna em homenagem a um ex-funcionário especialista em descobrir músicas que as pessoas iriam ouvir no futuro. E o que se ouve é uma hora de pensamento articulado, claro, bem humorado, mesmo quando quer chocar. Nada a ver com Elton John vestindo um paletó cheio de borboletas vivas.

***

“Hi, I’m Iggy Pop. I’ve held a steady job at BBC 6 Music now for almost a year, which is a long time in my game. I always hated radio and the jerks who pushed that shit music into my tender mind, with rare exceptions. When I was a boy, I used to sit for hours suffering through the entire US radio top 40 waiting for that one song by The Beatles and the other one by The Kinks. Had there been anything like John Peel available in my Midwestern town I would have been thrilled. So it’s an honor to be here. I understand that. I appreciate it

Some months ago when the idea of this talk came up I thought it might be okay to talk about free music in a Capitalist society. So that’s what I’m gonna try to talk about. A society in which the Capitalist system dominates all the others, and seeks their destruction when they get in its way. Since then, the shit has really hit the fan on the subject, thanks to U2 and Apple. I worked half of my life for free. I didn’t really think about that one way or the other, until the masters of the record industry kept complaining that I wasn’t making them any money. To tell you the truth, when it comes to art, money is an unimportant detail. It just happens to be a huge one unimportant detail. But, a good LP is a being, it’s not a product. It has a life-force, a personality, and a history, just like you and me. It can be your friend. Try explaining that to a weasel.

As I learned when I hit 30 +, and realized I was penniless, and almost unable to get my music released, music had become an industrial art and it was the people who excelled at the industry who got to make the art. I had to sell most of my future rights to keep making records to keep going. And now, thanks to digital advances, we have a very large industry, which is laughably maybe almost entirely pirate so nobody can collect shit. Well, it was to be expected. Everybody made a lot of money reselling all of recorded musical history in CD form back in the 90s, but now the cat is out of the bag and the new electronic devices which estrange people from their morals also make it easier to steal music than to pay for it. So there’s gonna be a correction.

When I started The Stooges we were organized as a group of Utopian communists. All the money was held communally and we lived together while we shared the pursuit of a radical ideal. We shared all song writing, publishing and royalty credits equally – didn’t matter who wrote it – because we’d seen it on the back of a Doors album and thought it was cool, at least I did. Yeah. I thought songwriting was about the glory, I didn’t know you’d get paid for it. We practiced a total immersion to try to forge a new approach which would be something of our own. Something of lasting value. Something that was going to be revealed and created and was not yet known.

We are now in the age of the schemer and the plan is always big, big, big, but it’s the nature of the technology created in the service of the various schemes that the pond, while wide, is very shallow. Nobody cares about anything too deeply expect money. Running out of it, getting it. I never sincerely wanted to be rich. There is a, in the US, we have this guy “Do you sincerely wanna be rich? You can do it!” I didn’t sincerely want to be rich. I never sincerely felt like making anyone else that way. That made me a kind of a wild card in the 60’s and 70’s. I got into the game because it felt good to play and it felt like being free. I’m still hearing today about how my early works with The Stooges were flops. But they’re still in print and they sell 45 years later, they sell. Okay, it took 20 or 25 years for the first royalties to roll in. So sue me.

Some of us who couldn’t get anywhere for years kept beating our heads against the same wall to no avail. No one did that better than my friends The Ramones. They kept putting out album after album, frustrated that they weren’t getting the hit. They even tried Phil Spector and his handgun. After the first couple of records, which made a big impact, they couldn’t sustain the quality, but I noticed that every album had at least one great song and I thought, wow if these guys would just stop and give it a rest, society would for sure catch up to them. And that’s what’s happening now, but they’re not around to enjoy it. I used to run into Johnny at a little rehearsal joint in New York and he’d be in a big room all alone with a Marshall stack just going “dum, dum, dum, dum, dum” all my himself. I asked him why and he said if he didn’t practice doing that exactly the way he did it live he’d lose it. He was devoted and obsessive, so were Joey and Deedee. I like that. Johnny asked me one day – Iggy don’t you hate Offspring and the way they’re so popular with that crap they play. That should be us, they stole it from us. I told him look, some guys are born and raised to be the captain of the football team and some guys are just gonna be James Dean in Rebel Without a Cause and that’s the way it is. Not everybody is meant to be big. Not everybody big is any good.

I only ever wanted the money because it was symbolic of love and the best thing I ever did was to make a lifetime commitment to continue playing music no matter what, which is what I resolved to do at the age of 18. If who you are is who you are that is really hard to steal, and it can lead you in all sorts of useful directions when the road ahead of you is blocked and it will get blocked. Now I’m older and I need all the dough I can get. So I too am concerned about losing those lovely royalties, now that they’ve finally arrived, in the maze of the Internet. But I’m also diversifying my income, because a stream will dry up. I’m not here to complain about that, I’m here to survive it.

When I was starting out as a full time musician I was walking down the street one bright afternoon in the seedier part of my Midwestern college town. I passed a dive bar and from it emerged a portly balding pallid middle aged musician in a white tux with a drink in one hand and a guitar in the other. He was blinking in the daylight. I had a strong intuition that this was a fate to be avoided. He seemed cut off from society and resigned to an oblivious obscurity. A bar fly. An accessory to booze. So how do you engage society as an artist and get them to pay you? Well, that’s a matter of art. And endurance.

To start with, I cannot stress enough the importance of study. I was lucky to work in a discount record store in Ann Arbor Michigan as a stock boy where I was exposed to a little bit of every form of music imaginable on record at the time. I listened to it all whether I liked it or not. Be curious. And I played in my high school orchestra and I learned the joy of the warm organic instruments working together in the service of a classical piece. That sticks with you forever. If anyone out there can get a chance to put an instrument and some knowledge in some kids hand, you’ve done a great, great thing.

Comparative information is a key to freedom. I found other people who were smarter than me. To teach me. My first pro band was a blues band called The Prime Movers and the leader Michael Erlewine was a very bright hippy beatnik with a beautifully organized record collection in library form of The Blues. I’d never really heard the Blues. That part of our American heritage was kept off the major media. It was system up, people down. No Big Bill Broonzy on BBC for us. Boy I wish! No money in it. But everything I learned from Michael’s beautiful library became the building blocks for anything good I’ve done since. Guys like this are priceless. If you find one, follow him, or her. Get the knowledge.

Once in secondary school in the 60’s some class clowns dressed up the tallest guy in school in a trench coat, shades and a fedora and rushed him in to a school dance with great hubbub proclaiming “Del Shannon is here, Del Shannon is here.” And until they got to the stage we all believed them, because nobody knew what Del Shannon looked like. He was just a voice on some great records. He had no social ID. By the early 60’s that had really changed with the invasion of The Beatles and The Stones. This time TV was added to the mix and print media too. So you knew who they were, or so you thought anyway. I’m mentioning this because the best way to survive the death or change of an industry is to transcend its form. You’re better off with an identity of your own or maybe a few of them. Something special.

It is my own personal view having lived through it that in America The Beatles replaced our assassinated president Kennedy, who represented our hopes for a certain kind of society. Didn’t get there. And The Stones replaced our assassinated folk music which our own leaders suppressed for cultural, racial, and financial reasons. It wasn’t okay with everybody to be Kennedy or Muddy Waters, but those messages could be accepted if they came through white entertainers from the parent culture. That’s why they’re still around.

Years later I had the impression that Apple, the corporation, had successfully co-opted the good feelings that the average American felt about the culture of the Beatles, by kind of stealing the name of their company so I bought a little stock. Good move. 1992. Woo! But look, everybody is subject to the rip off and has to change affiliations from time to time. Even Superman and Barbie were German before America tempted them to come over. Tough luck, Nietzche.

So who owns what anyway. Or as Bob Dylan said “The relationships of ownership.” That’s gates of Eden. Nobody knows for long, especially these days. Apparently when BBC radio was founded, the record companies in England wouldn’t allow the BBC to play their master recordings because they thought no one would buy them for their personal use if they could hear them free on the radio. So they were really confused about what they had. They didn’t get it. And how people feel about music. ‘Cause it’s a feel thing, and it resists logic. It’s not binary code. Later when CD’s came in, the retail merchants in American all panicked because they were just too damn tiny and they thought that Americans want something that looks big, like a vinyl record. Well they had a point but their solution was a kind of Frankenstein called “The Long Box.” It didn’t fool anybody because half of it was empty. It had a little CD in the bottom. You’d open it up and it was empty. Now we have people in the Sahara using GPS to bury huge wads of Euros under sand dunes for safe keeping. But GPS was created for military spying from the high ground, not radical banking so any sophisticated system, along with the bounty it brings, is subject to primitive hijacking.

I wanna talk about a type of entrepreneur who functions as a kind of popular music patron of the arts. It’s good to know a patron. I call him El Padron because his relationship to the artist is essentially feudal, though benign. He or she (La Padrona) if you will, is someone, usually the product of successful, enlightened parents, who owns a record company, but has had benefit of a very good education, and can see a bigger picture than a petty business person. If they like an artists’ style and it suits them, they’ll support you even if you’re not a big money spinner. I can tell you, some of these powerful guys get so bored that if you are fun in the office, you’ll go places. Their ancestors, the old time record crooks just made it their business to make great, great records, but also to rip off the artist 100%, copyright, publishing, royalty splits, agency fees, you name it. If anyone complained the line was “Pay you? We worship you!” God bless Bo Diddley.

By the time I came along there was a new brand of Padron. People like this are still around and some can help you. One was named Jack Holzman. Jack had a beautiful label called Elektra Records, they put out Judy Collins, Tim Buckley, the Doors and Love. He’d started working in his family record store, like Brian Epstein. He dressed mod and he treated us very gently. He was a civilized man. He obviously loved the arts, but what he really wanted to do was build his business – and he did. He had his own concerns, and style, and you had to serve them, and of course when he sold out, as all indies do, you were stranded culturally in the hands of a cold clumsy conglomerate. But he put us in the right studios with the right producers and he tried to get us seen in the right venues and it really helped. This is a good example of the industry.

Another good guy I met is Sir Richard Branson. I ended up serving my full term at Virgin Records having been removed from every other label. And he created a superior culture there. People were happier and nicer than the weasels at some other places. The first time he tried to sign me it didn’t work out, because I had my sights set on A&M, a company I thought would help make me respectable. After all they had Sting! Richard was secretly starting his own company at the time in the US and he phoned me in my tiny flat with no furniture. He said he’d give me a longer term deal with more dough than the other guys and he was very, very polite and soft spoken. But I had just smoked a joint that day and I couldn’t make a decision. So I went with the other guys who soon got sick of me. Virgin picked me up again later on the rebound. And on the cheap. Damn. My own fault.

Another kind of indie legend who is slightly more contemporary is Long Gone John of the label Sympathy for the Record Industry. Good name. John is famous with some artists for his disinterest in paying royalties. He has a very interesting music themed folk art collection – its visible online – which includes my leather jacket. I wish he’d give it back. There are lots of indie people with a gift for organization who just kind of collect freaks and throw them up at the wall to see who sticks. You gotta watch ‘em.

When you go a step down creatively from the Padrons who are actually entrepreneurs you get to the executives. You don’t wanna know these guys. They usually came over from legal or accounting. They have protégés usually called A&R men to do their dirty work. You can become a favorite with them if your fame or image might reflect limelight on their career. They tend to have no personalities to speak of, which is their strength. Strangely they’re never really thinking about the good of their parent company as much as old number one. Avoid them. If you’re an artist, they’ll make you sick or suicidal. The only good thing the conglomerate can do for you – and they’ve done it recently for me – is make you really, really ubiquitous. They do that well. But, when the company is your banker, then you are basically gonna be the Beverly Hill Billies. So it’s best not to take their money. Especially when you’re young. These are very tough people, and they can hurt you.

So who are the good guys?! They asked me when they read this thing at BBC 6 Music. Well there are lots of them. If fact, today there are more than ever and they are just about all indies, but first I want to mention Peter Gabriel and WOMAD for everything they’ve done for what seems like forever to help the greatest musicians in the world, the so called world musicians to gain a foothold and make a living in the modern screwed up cash and carry world. Traditional music was never a for profit enterprise, all the best forms were developed as a kind of you’re job in the community. It was pretty good, it was “Yeah, I’m a musician, I’m gonna skip like doing the dishes or taking the trash out.” It’s not surprising that all the greatest singers and players come from parts of the world where everybody is broke and the old ways are getting paved over. So it’s crucial for everyone that these treasures not be lost. There are other people of means and intelligence who help others in this way like Philip Glass through Tibet House, David Burn with Luaka Bop, Damon Albarn through Honest John Records. Shout out to Hypnotic Brass Ensemble. Almost all the best music is coming out on indies today like XL Mattador, Burger, Anti, Apitaph, Mute, Rough Trade, 4 A D, Sub Pop, etc. etc.

But now YouTube is trying to put the squeeze on these people because it’s just easier for a power nerd to negotiate with a couple big labels who own the kind of music that people listen to when they’re really not that into music, which of course is most people. So they’ve got the numbers. But the indies kind of have the guns. I’ve noticed that indies are showing strength at some of the established streaming services like Spotify and Rhapsody – people are choosing that music. And it’s also great that some people are starting their own outlets, like Pledge Music, Band Camp or Drip. As the commercial trade swings more into general show biz the indies will be the only place to go for new talent, outside the Mickey Mouse Club, so I think they were right to band together and sign the Fair Digital Deals Declaration.

There are just so many ways to screw an artist that it’s unbelievable. In the old vinyl days they would deduct 10% “breakage fees” for records supposedly broken in shipping, whether that happened or not, and now they have unattributed digital revenue, whatever the **** that means. It means money for some guy’s triple bypass. I actually think that what Thom Yorke has done with Bit Torrent is very good. I was gonna say here: “Sure the guy is a pirate at Bit Torrent” but I was warned legally, so I’ll say: “Sure the guy a Bit Torrent is a pirate’s friend” But all pirates want to go legit, just like I wanted to be respectable. It’s normal. After a while people feel like you’re a crook, it’s too hard to do business. So it’s good in this case that Thom Yorke is encouraging a positive change. The music is good. It’s being offered at a low price direct to people who care.

I want to try to define what I am talking about when I say free. For me in the arts or in the media, there are two kinds of free. One kind of free is when the process is something that people just feel for you. You feel a sense of possibility. You feel a lack of constraint. This leads to powerful, energetic, sometimes kind of loony situations.

Vice Media is an interesting case of this because they started as a free handout, using public funds, and they had open, free-wheeling minds. Originally a free handout was called Voice and these kids were like “Just get rid of the old! I don’t wanna be Vice, yeah!” Okay. By taking an immersive approach with no particular preconceptions to their reporting, they’ve become a huge success, also through corporate advertising, at attracting big, big money investment hundreds of millions of dollars now pumped into Fox Media and a couple of others bigger than that in the US. And they get it because they attract lots of little boy eyeballs. So they brought us Dennis Rodman in North Korea. And it’s kind of a travesty, but it’s kind of spunky. It’s interesting that capital investment, for all its posturing, never really leads, it always follows. They follow the action. So if it’s money you’re after, be the yourself in a consistent way and you might get it. You’ll at least end up getting what you are worth and feel better. Just follow your nose.

The second kind of freedom to me that is important in the media is the idea of giving freely. When you feel or sense that someone that someone is giving you something not out of profit, but out of self-respect, Christian charity, whatever it is. That has a very powerful energy. The Guardian, in my understanding, was founded by an endowment by a successful man with a social conscience who wanted to help create a voice for what I would call the little guy. So they have a kind of moral mission or imperative. This has given them the latitude to try to be interesting, thoughtful, helpful. And they bring Edward Snowden to the world stage. Something that is not pleasant for a lot of people to hear about, but we need to know.

These two approaches couldn’t be more different. To justify their new mega bucks Vice will have to expand and expand in capital terms. Presumably they’ll have to titillate a dumb, but energetic audience. Of course all capitalist expansions are subject to the big bang – balloon, bust, poof, and you’re gone. As for the Guardian I would imagine that the task involves gaining the trust and support of a more discerning, less definable reader, without spending the principal. There is usually an antipathy between cultural poles, but these two actually have a lot in common in terms of the energy and nuisance to power that they are willing to generate. I wish red and blue could come together somehow.

Sometimes I’d rather read than listen to music. One of my favourite odd books is Bootleg: The Secret History of the Other Recording Industry by Clinton Heylin. I bought the book in the 90’s because a couple of my bootlegs were mentioned. I loved my bootlegs. They did a lot for me. I never really thought about the dough much. I liked the titles, like Suck on This, Stow Away DOA or Metalic KO. The packaging was always way more creative and edgy than most of my official stuff. So I just liked being seen and heard, like anybody else. These bootleggers were creative. Here are two quotes from the dust jacket by veteran industry stalwarts on the subject of bootlegs in 1994.

“Bootleg is the thoroughly researched and highly entertaining tale of those colorful brigands, hapless amateurs, and true believers who have done wonders for my record collection. Rock and roll doesn’t get more underground than this.” – that was David Fricke, the music editor of Rolling Stone.

“I think that bootlegs keep the flame of the music alive by keeping it out of not only the industry’s conception of the artist, but also the artist’s conception of the artist.” – that was Lenny Kaye from the Patti Smith group, musician, critic and my friend. Wow!! Sounds heroic and vital!

I wonder what these guys feel about all of this now, because things have changed, haven’t they? We are now talking about Megaupload, Kim Dot Com, big money, political power, and varying definitions of theft that are legally way over my head. But I know a con man when I see one. I want to include a rant from an early bootlegger in this discussion because it’s so passionate and I just think it’s funny.

This is Lou Cohan “If anybody thinks that if I have purchased every single Rolling Stones album in existence, and I have bought all the Rolling Stones albums that have been released in England, France, Japan, Italy, and Brazil that if I have an extra $100 in my pocket instead of buying a Rolling Stones bootleg I am going to buy a John Denver album or a Sinead O’Conner album, they are retarded.”

So the guy is trying to say don’t try to force me. And don’t steal my choice. And the people who don’t want the free U2 download are trying to say, don’t try to force me. And they’ve got a point. Part of the process when you buy something from an artist. It’s a kind of anointing, you are giving people love. It’s your choice to give or withhold. You are giving a lot of yourself, besides the money. But in this particular case, without the convention, maybe some people felt like they were robbed of that chance and they have a point. It’s not the only point. These are not bad guys. But now, everybody’s a bootlegger, but not as cute, and there are people out there just stealing the stuff and saying don’t try to force me to pay. And that act of thieving will become a habit and that’s bad for everything. So we are exchanging the corporate rip off for the public one. Aided by power nerds. Kind of computer Putins. They just wanna get rich and powerful. And now the biggest bands are charging insane ticket prices or giving away music before it can flop, in an effort to stay huge. And there’s something in this huge thing that kind of sucks.

Which brings us to Punk. The most punk thing I ever saw in my life was Malcolm McLaren’s cardboard box full of dirty old winkle pinkers. It was the first thing I saw walking in the door of Let It Rock in 1972 which was his shop at Worlds End on the Kings Road. It was a huge ugly cardboard bin full of mismatched unpolished dried out winkle pickers without laces at some crazy price like maybe five pounds each. Another 200 yards up the street was Granny Takes a Trip, where they sold proper Rockstar clothes like scarves, velvet jackets, and snake skin platform boy boots. Malcolm’s obviously worthless box of shit was like a fire bomb against the status quo because it was saying that these violent shoes have the right idea and they are worth more than your fashion, which serves a false value. This is right out of the French enlightenment.

So is the thieving that big a deal? Ethically, yes, and it destroys people because it’s a bad road you take. But I don’t think that’s the biggest problem for the music biz. I think people are just a little bit bored, and more than a little bit broke. No money. Especially simple working people who have been totally left out, screwed and abandoned. If I had to depend on what I actually get from sales I’d be tending bars between sets. I mean honestly it’s become a patronage system. There’s a lot of corps involved and I don’t fault any of them but it’s not as much fun as playing at the Music Machine in Camden Town in 1977. There is a general atmosphere of resentment, pressure, kind of strange perpetual war, dripping on all the time. And I think that prosecuting some college kid because she shared a file is a lot like sending somebody to Australia 200 years ago for poaching his lordship’s rabbit. That’s how it must seem to poor people who just want to watch a crappy movie for free after they’ve been working themselves to death all day at Tesco or whatever, you know.

If I wanna make music, at this point in my life I’d rather do what I want, and do it for free, which I do, or cheap, if I can afford to. I can. And fund through alternative means, like a film budget, or a fashion website, both of which I’ve done. Those seem to be turning out better for me than the official rock n roll company albums I struggle through. Sorry. If I wanna make money, well how about selling car insurance? At least I’m honest. It’s an ad and that’s all it is. Every free media platform I’ve ever known has been a front for advertising or propaganda or both. And it always colors the content. In other words, you hear crap on the commercial radio. The licensing of music by films, corps, and TV has become a flood, because these people know they’re not a hell of a lot of fun so they throw in some music that is. I’m all for that, because that’s the way the door opened for me. I got heard on tv before radio would take a chance. But then I was ok. Good. And others too. I notice there are a lot of people, younger and younger, getting their exposure that way. But it’s a personal choice. I think it’s an aesthetic one, not an ethical one.

Now with the Internet people can choose to hear stuff and investigate it in their own way. If they want to see me jump around the Manchester Apollo with a horse tail instead of trying to be a proper Rockstar, they can look. Good. Personally I don’t worry too much about how much I get paid for any given thing, because I never expected much in the first place and the whole industry has become bloated in its expectations. Look, Howling Wolf would work for a sandwich. This whole thing started in Honky Tonk bars. It’s more important to do something important or just make people feel something and then just trust in God. If you’re an entertainer your God is the public. They’ll take care of you somehow. I want them to hear my music any old which way. Period. There is an unseen hand that turns the pages of existence in ways no one can predict. But while you’re waiting for God to show up and try to find a good entertainment lawyer.

It’s good to remember that this is a dream job, whether you’re performing or working in broadcasting, or writing or the biz. So dream. Dream. Be generous, don’t be stingy. Please. I can’t help but note that it always seems to be the pursuit of the money that coincides with the great art, but not its arrival. It’s just kind of a death agent. It kills everything that fails to reflect its own image, so your home turns into money, your friends turn into money, and your music turns into money. No fun, binary code – zero one, zero one – no risk, no nothing. What you gotta do you gotta do, life’s a hurly-burly, so I would say try hard to diversify your skills and interests. Stay away from drugs and talent judges. Get organized. Big or little, that helps a lot.

I’d like you to do better than I did. Keep your dreams out of the stinky business, or you’ll go crazy, and the money won’t help you. Be careful to maintain a spiritual EXIT. Don’t live by this game because it’s not worth dying for. Hang onto your hopes. You know what they are. They’re private. Because that’s who you really are and if you can hang around long enough you should get paid. I hope it makes you happy. It’s the ending that counts, and the best things in life really are free.”

Refletor #006: BBC além dos limites da breguice

bbc

Minha coluna no Brainstorm9 essa semana foi sobre esse clipe brega que a BBC fez pra dizer que agora ela tem um site que permite às pessoas fazerem suas playlists, deixando de lado um legado quase centenário para alinhar-se aos titãs do mundo digital.

Tudo errado
No clipe de lançamento do novo serviço BBC Music, a decana estatal inglesa rebaixa-se ao nível do novo mercado

Todos sabemos da importância da BBC para a história da comunicação, para a Inglaterra e para a história da música gravada. Por isso quando a estatal britânica resolveu reunir todas suas vertentes musicais numa mesma plataforma chamada BBC Music, nos preparamos para o aplauso. Afinal, estamos falando da BBC.

O gesto é uma evidente tentativa de fazer sua grife manter-se atual, reunindo sua produção ao redor do tema “música” num mesmo canal, sejam playlists, programas de rádio, entrevistas ou shows em seus estúdios. A interface do site é voltada para dispositivos móveis e tenta reunir diferentes conteúdos em abas diversas – nomes de programas, gêneros musicais, nomes de artistas, notícias – e oferece um serviço chamado Playlister, que além de disponibilizar sequências de músicas assinadas pelos canais da emissora também permite ao ouvinte fazer suas próprias seleções e descobrir músicas novas. Resumindo, a emissora criou um Spotify próprio para reorganizar seu conteúdo online e assim tenta fazer valer seu nome no atual cenário global de música.

Assistimos, desde o início do século, a uma briga de logotipos de todas as áreas ao redor deste tema e é neste cenário que o novo BBC Music quer brigar, entre velhas gravadoras e novos aplicativos, fabricantes de aparelhos portáteis e empresas de telefonia móvel.

A empresa gaba-se que seu novo projeto é “uma ambiciosa onda de novos programas, parcerias inovadoras e iniciativas pioneiras que afirmam o mais forte compromisso da BBC com a música em 30 anos”, reza o release. Um blablablá corporativo pesado, que parece mais disposto a equivaler-se a um cenário musical mutante do que a impor sua própria importância.

A nova plataforma chega ao mundo acompanhada de um clipe. Uma versão cheia de artistas conhecidos – de diferentes gêneros, épocas e países – para regravar o clássico dos Beach Boys “God Only Knows”. Ok, vamos ver…

O resultado é espetacularmente brega. Aliás, brega é pouco. Transcende os limites do brega. Brega é só o conceito de reunir vários artistas para cantar uma música conhecida por todos. O “We Are the World” era menos brega porque pelo menos lançou uma musica nova. Mas esse clipe, essa versão, esse conceito… Tudo errado.

Não apenas pela escolha dos artistas, que funciona até a página três. Há clássicos de menos (Stevie Wonder, Elton John, Brian May e o próprio Brian Wilson) e pop contemporâneo de mais (Dave Grohl, Lorde, Pharrell, Chris Martin, Florence Welch, Sam Smith, Jake Bugg, Kylie Minogue e Jamie Cullum), um inevitável Jools Holland e um evitável One Direction, além de artistas eruditos (Eliza Carthy e Danielle de Niese) e “do resto do mundo” (Baaba Maal) para dar aquele molho de “pluralidade”, além da BBC Concert Orchestra e um coral com 80 vozes.

Se no quesito música o resultado é mediano, na parte visual é constrangedor. A direção de arte do clipe deixa tudo pior ao colocar asas negras na Lorde, Elton John coberto de borboletas azuis, um tigre pulando sobre o piano de Brian Wilson, Kylie Minogue flutuando em uma bolha, Stevie Wonder cercado de diamantes… Trata artistas não como personagens mais sensíveis que nós, mas como um circo de pessoas estranhas. É um delírio psicodélico careta, uma caricatura musicada da direção de arte de Tim Burton filtrada pelo filme As Aventuras de Pi.

O clipe coroa uma iniciativa que parece tirar a majestade da BBC. Ao descer de seu próprio pedestal, a emissora perde seu tom austero e tenta criar um universo particular clean e higienizado, mais próximo das campanhas publicitárias de marcas de celular ou de serviços de streaming do que de um padrão BBC de qualidade. Basta comparar essa versão com outra, feita pela emissora há dezessete anos, quando ela também reuniu veteranos e novatos para cantar uma música conhecida, no caso “Perfect Day”, de Lou Reed.

Além do próprio Lou Reed (fazendo “air piano”), a versão de 1997 ainda tinha participações de Bono, David Bowie, Suzanne Vega, Elton John, Burning Spear, Emmylou Harris, Tammy Wynette, Shane MacGowan (dos Pogues), Robert Cray, Skye Edwards (do Morcheeba), Dr. John, Emmylou Harris, Brett Anderson (do Suede), Laurie Anderson e Tom Jones – tudo bem, também tiveram os meninos do Boyzone. Mas ao comparar a “Perfect Day” de 1997 e a “God Only Knows” de 2014, percebe-se que até o fim do século passado a BBC ainda mantinha alguma austeridade, mesmo que um filtro visual no clipe quisesse deixá-la com uma cara moderna.

E o lançamento da canção de 1997 não tinha nenhum intuito inovador – era apenas um comercial feito para a TV para reforçar que, com como dizia a mensagem ao final do anúncio, “não importa qual é seu gosto musical, ele é saciado pela BBC Rádio e Televisão. Isso só é possível graças à forma incomparável como a BBC é paga por você. BBC. Você faz o que ela é.” “Você vai colher o que plantar”, como cantava escancaradamente o refrão.

“God Only Knows”, por outro lado, parece uma súplica para não perder ouvintes – “Só Deus sabe o que eu seria sem você”, canta a canção perfeita de Brian Wilson mas também parece cantar a BBC, que perde seu rigor para exibir-se como mero zoológico de personagens exóticos, estes tais artistas que fazem música. Havia uma empolgação para aplaudir, uma antecipação otimista sobre como a emissora marcaria sua entrada no século digital e assistimos a uma campanha de marketing mediana cheia de celebridades e efeitos especiais. O oposto do que se esperaria da BBC.

Tudo errado.

Refletor #005: A natureza da rede

thom

Inevitável falar do disco novo de Thom Yorke na minha coluna no Brainstorm9, afinal, mais uma vez voltamos a questionar o sentido de cobrar por algo que todo mundo pode ter de graça?

A natureza da rede
O Radiohead expande seus experimentos ao lançar um disco solo de Thom Yorke via torrent pago

Falei pra ficar de olho no Radiohead.

No início de setembro o grupo lançou a atualização do aplicativo PolyFauna, que comentei numa coluna anterior. Há três semanas, o vocalista da banda Thom Yorke twittou uma imagem de um vinil branco, causando furor na enorme base de fãs do Radiohead sobre a possibilidade do grupo estar realmente voltando – e de já ter um disco prontinho e prensado.

Na semana seguinte ele twittou que estava no segundo dia de gravação do próximo disco da banda, ao mesmo tempo em que causou dúvidas sobre qual seria aquele vinil branco que havia publicado anteriormente.

Eis que na sexta passada ele anunciou a novidade – que estaria lançando seu novo disco solo, o segundo produzido por Nigel Godrich, seu parceiro tanto como produtor do Radiohead quanto na banda Atoms for Peace, que ainda conta com Flea, o baixista dos Red Hot Chili Peppers, na formação.

Tomorrow’s Modern Boxes, no entanto, não é só um disco. Foi anunciado abruptamente não só como uma continuação do trabalho solo de Thom Yorke, mas, principalmente, como um experimento. No site do Radiohead um texto explica que o lançamento não é apenas um novo disco. É um experimento.

“Como um experimento estamos usando uma nova versão do BitTorrent para distribuir o novo disco de Thom Yorke.

Os arquivos Torrent devem ser pagos para se ter acesso a alguns arquivos.

Os arquivos podem ser qualquer coisa, mas neste caso eles são um “álbum”.

É um experimento para ver se as mecânicas do sistema são algo que o público em geral pode se envolver.

Se funcionar bem pode ser uma forma eficaz de permitir o controle do comércio via internet de volta às pessoas que criam o trabalho.

Permitindo que elas possam fazer tanto música, vídeo ou qualquer tipo de conteúdo digital para elas mesmos colocar à venda.

Ultrapassando os autodenominados seguranças na porta de entrada.

Se funcionar qualquer um pode fazer como nós fizemos.

O mecanismo torrent não requer nenhum servidor para fazer upload ou custos de hospedagem ou esse papo-furado de “nuvem”.

É uma vitrine de loja embutível e autocontinda…

A rede não apenas carrega o tráfico de dados, ela também hospeda os arquivos. Os arquivos estão na / são a rede.”

thom-paypal

Em outras palavras, Thom Yorke lançou o primeiro torrent pago da história da música. Embora atualizações via torrent sejam comuns no mundo dos games, esta é a primeira vez que um artista de tal grandeza utiliza um formato amplamente difundido mas pouco comercializado.

O torrent, para quem não conhece, é a continuação da horizontalização da distribuição de conteúdo digital que começou com o Napster, em 1999. Naquela época, o programa permitia que qualquer computador pudesse funcionar como servidor e qualquer um poderia baixar músicas – ou qualquer outro tipo de arquivo – direto do computador de outras pessoas, seja um vizinho de porta ou alguém do outro lado do planeta.

Essa mudança de lógica subverteu completamente o parâmetro dos downloads digitais na última década do século passado. Antes era preciso encontrar um servidor em que você pudesse hospedar os arquivos que queria distribuir para o público – e naquele tempo pré-Dropbox, pré-Google Drive, pré-”nuvem” e pré-banda larga isso não era fácil de se fazer. Se criar um site para publicar conteúdo em texto ainda era uma tarefa complicada (que veio ser simplificada quando a PyraLabs de Evan Williams inventou o Blogger e popularizou o conceito de blogs), fazer o mesmo com arquivos em áudio era trabalho para poucos nerds que manjavam de internet e programação de computadores (atividades que ainda não haviam se misturado).

O Napster permitiu que todo mundo pudesse baixar conteúdo de todo mundo, sem que fosse preciso se pendurar num servidor principal – traduziu para os downloads o próprio conceito da internet. Mas ainda era preciso esperar um download acabar para o próximo começar e a solução para isso foi a criação da tecnologia torrent – um tipo de arquivo que picota em milhares de pedaços o conteúdo digital e distribui esses pedaços entre as pessoas que estão o compartilhando.

bittorrent-1

Isso quer dizer que você não precisa esperar todo um arquivo baixar para começar a permitir que ele seja baixado por outra pessoa, a partir da sua máquina. Se um pedacinho de um disco ou filme já está em seu HD, ele já pode ser baixado. O programa de torrent avisa quando todos os pedaços forem baixados e o download estiver completo.

O formato torrent é o motor do Pirate Bay, o maior site de downloads ilegais do mundo. Sua brecha jurídica é que ele não está permitindo o download dos filmes em si – apenas de um arquivo que permite que várias pessoas baixem um arquivo de outra pessoa. Quanto mais gente baixando, melhor a qualidade da conexão e mais rápido chega o download – ao mesmo tempo que torna-se mais difícil descobrir quem é o pirata original.

Filmes, séries, softwares, discos, livros e videogames são baixados às toneladas diariamente por milhões de pessoas no mundo inteiro – de graça. O desafio lançado por Thom Yorke é meio parecido com quando a banda perguntou ao público quanto ele queria pagar pelo disco In Rainbows, de 2007. A evolução vem em duas partes: a primeira permite o download gratuito de algumas faixas do disco, que funcionam como um aperitivo, e a segunda vem com a utilização do formato torrent.

Essa é a mudança interessante de paradigma. Por mais que os torrents sejam populares, o Radiohead acredita que eles podem ser populares inclusive para conseguir que o público pague por conteúdo digital – e não apenas música. Se o experimento do segundo disco de Thom Yorke der certo, tudo indica que o Radiohead tentará utilizar esse mesmo formato para seu próximo disco (e seus próximos clipes? Seus próximos aplicativos?) e abrirá, mais uma vez, uma nova trilha para artistas de toda sorte tentar buscar novo contato com seu público. A banda sabe que está falando também com gente que nunca baixou um torrent na vida e fez questão de explicar o passo a passo no site do BitTorrent.

Em uma semana de lançamento, o disco foi baixado um milhão de vezes, entre as versões paga e gratuita. Quem vende um milhão de discos em 2014?

Mas há um conceito bem mais interessante do que simplesmente como comercializar conteúdo na internet escondido no final do manifesto, na parte em que diz que os arquivos “são/estão na rede”. É uma reflexão interessante que não diz respeito apenas à natureza da internet para além das simples conexões estruturais (afinal, para que serviria a rede se não existissem pessoas?) como também sobre o futuro da rede, que pode misturar forma e conteúdo cada vez mais, mudando, inclusive, os rumos da arte, do comportamento e da cultura. E, portanto, do que é ser humano.

Refletor #003: “Você não é um aplicativo”

radiohead

Na minha terceira coluna para o Brainstorm #9 pego como gancho o update do aplicativo do Radiohead para falar da importância do grupo de Thom Yorke hoje em dia.

“Você não é um aplicativo”
Por que prestar atenção no Radiohead

Setembro de 2014 começou com uma expectativa parecida com a do final de setembro de 2007: com a iminência de um novo disco do Radiohead, anunciado de supetão. No início deste ano, em fevereiro, o grupo inglês anunciou o lançamento de seu próprio aplicativo para celulares, chamado PolyFauna. O app misturava imagens e músicas do disco mais recente da banda, The King of Limbs, funcionando como um acessório multimídia ao disco, um extra digital que anunciava, à entrada que “sua tela é a janela para um mundo em evolução”.

A evolução começou a acontecer no início deste mês, quando o grupo atualizou o aplicativo com novas trilhas e imagens. O mundo pop ergueu suas orelhas: tem um disco novo do Radiohead a caminho. Os cínicos de sempre menosprezaram a notícia como se a banda precisasse de um truque de marketing para chamar atenção, tratando a novidade como se fosse uma atitude idêntica ao recente truque do U2 de embutir seu novo disco no novo iPhone (uma “novidade” que Ivete Sangalo já tinha apresentado em 2007 ao empacotar seu novo disco dentro do w200 da Ericsson).

Ainda nem sabemos se o disco novo virá mesmo através de um aplicativo – isso pode ser anunciado de repente, sem o menor alarde -, mas em se tratando de Radiohead a novidade está longe de ser uma “grande sacada” definida em uma reunião para saber como chamar atenção no próximo disco.

O app tem mais a ver com os experimentos multimídia de Björk – que também lançou um aplicativo completmentar a seu disco mais recente, Biophilia – mas não é só isso. É mais um passo na luta do grupo em conseguir um diálogo mais direto com seus ouvintes sem precisar lidar com intermediários gigantescos que pouco respeitam a estética da banda. Vale rebobinar um pouco a história para nos lembrarmos de outros atos protagonizados pelo grupo.

Depois de aparecer com o hit “Creep” do disco Pablo Honey, o grupo começou a distanciar-se do britpop e até do grunge (sério, muita gente chamava o Radiohead de “resposta inglesa ao Nirvana”) em seu segundo disco, The Bends, de 1995. Dois anos depois afastavam-se de vez do que sua geração estava fazendo ao atirar-se na música eletrônica e no rock progressivo em seu primeiro clássico, OK Computer, que lhe rendeu uma reputação que a permitiu tomar o tempo que precisava para gravar seu novo álbum.

No ano 2000 o grupo lançaria o enigmático Kid A, um disco em que a paixão do Radiohead pela eletrônica de vanguarda da gravadora Warp (casa de nomes como Aphex Twin, Boards of Canada e Autechre) foi exacerbada ao ponto de fazer as canções entrarem em colapso e começarem a se misturar com texturas, efeitos, vocais e riffs desconexos, melodias esparsas. Não bastasse isso, o disco ainda foi atropelado pelo recém-lançado Napster, o programa que permitia a qualquer um baixar músicas de graça dos computadores de outras pessoas. Ou foi Kid A que atropelou o Napster?

A data de lançamento do disco era outubro, mas, de alguma forma (muitos apostam ter sido a própria banda), o disco apareceu no Napster três meses antes do lançamento original. Além de causar desconfiança entre os ouvintes – afinal, o disco era muito diferente de tudo que o grupo já havia lançado – ainda inverteu a expectativa da indústria fonográfica, que apostava que aquele seria um dos grandes lançamentos do ano.

Mas a estranheza do disco e o fato de Kid A ter sido baixado milhares de vezes antes de seu lançamento fez muitos acharem que o auge da banda havia passado. O disco foi lançado e o grupo foi o primeiro artista inglês a ficar três semanas com um disco no topo das paradas americanas na história, além de terminar entre os 20 mais vendidos daquele ano nos EUA, deixando popstars como Kid Rock e Britney Spears para trás.

Corta pra 2007 e, no segundo semestre daquele ano, o grupo começa a dar pistas em seu site de que um disco novo estaria sendo finalizado. Notícias começam a especular sobre data de lançamento, cogitando a chegada às lojas em março do ano seguinte. Mas poucos dias depois das primeiras pistas o grupo volta a dizer que o disco está pronto e será lançado online em dez dias.

E no meio da novidade súbita um experimento inusitado: qualquer um poderia dizer quanto queria pagar pelo disco – mesmo que nada. Bastava indicar um preço na área de compras para dizer quanto você estaria disposto a pagar. In Rainbows foi o primeiro disco da banda lançado fora de uma grande gravadora, por conta própria, e deu início à transformação da banda em uma entidade própria, descolada de grandes grupos e disposta a experimentar formatos inclusive no que dizia respeito à forma de comercialização de sua música.

No início de 2011, ao apresentar seu novo The King of Limbs, o grupo chegou à conclusão de que era preciso por um preço no disco, mesmo sabendo que quem quisesse baixá-lo de graça o faria de alguma forma. E há um ano, no início desta era de serviços de streaming pago que estamos vivendo hoje, o líder da banda Thom Yorke causou polêmica ao retirar suas músicas do Spotify, logo depois de dar uma entrevista ao site mexicano Sopitas. Com a palavra, Thom Yorke:

“A forma como as pessoas lidam com música está passando por uma grande transição. Acho que como músicos nós temos que lutar contra essa coisa chamada Spotify. Acho que o que está acontecendo com o mainstream agora é o último suspiro da velha indústria. Quando ela morrer, o que vai acontecer, outra coisa irá acontecer. Tudo está relacionado com as mudanças que estão acontecendo na forma que ouvimos música, o que irá acontecer a seguir em termos de tecnologia e em termos como as pessoas falam umas com as outras sobre música. Muita coisa vai ser ruim, mas eu não endosso essa coisa que muitos da indústria vêm dizendo, que ‘ah, isso é só o que sobrou’, eu não engulo isso.”

“Quando fizemos o In Rainbows o mais excitante era a idéia de que você poderia ter uma conexão direta entre você como músico e seu público. Você corta tudo fora, e deixa só isso e aquilo. E então todos esses putos entram no caminho, como o Spotify que de repente tenta ser o segurança na entrada de todo o processo. Mas nós não precisamos que façam isso. Nenhum artista precisa fazer isso. Nós podemos fazer nossas coisas nós mesmos, então foda-se. Porque eles estão usando músicas velhas, eles estão usando as majors…E as majors estão com eles porque eles vêem uma forma de revender todas as coisas velhas de novo, ganhar mais dinheiro e não morrer.”

“É por isso que esse papo de Spotify pra mim faz parte de uma batalha maior. Porque é sobre o futuro de toda a música. É sobre se acreditamos que há um futuro para a música. O mesmo vale pra indústria de filmes e pros livros. Pra mim o lance não é o mainstream, isso é o último peido, o último peido desesperado de um corpo prestes a morrer. O que vai acontecer depois disso é que deveria ser a parte importante.”

“Por exemplo, sabe aquele cara Adam Curtis? Ele é um jornalista político que colaborou com o Massive Attack e fomos o assistir noite passada no centro da cidade e foi incrível, porque era disso que ele estava falando. Somos grandes fãs dele, eu e Nigel (Godrich, produtor do Radiohead e integrante da banda Atoms for Peace com o próprio Thom) e ele falava disso, que estamos entrando numa era em que, potencialmente, toda criatividade pode acabar. O passado forma o futuro e assim não temos outro futuro, etc. E ele está certo! Pessoas como ele, o Massive Attack, a gente, nós temos que confrontar toda essa merda. Isso não acabou.”

“Por que é como um truque, todo mundo falando que ‘com a tecnologia tudo estará em uma só nuvem e toda a criatividade se transformará em uma coisa só e ninguém mais vai ser pago e é uma coisa super inteligente’. Porra nenhuma. É difícil pensar nisso o tempo todo, porque acho que a coisa mais importante que está acontecendo hoje. É como a invenção da prensa de tipos móveis, o que aconteceu depois daquilo? É isso que está acontecendo hoje. Estou obcecado com este livro do Jaron Larnier chamado ‘Você Não é um Aplicativo’, você tem que ler, dá para entender melhor do que eu estou falando. É meio frustrante porque eu acho difícil explicar o que está acontecendo e esse livro explica bem.”

Por isso quando o aplicativo do Radiohead é atualizado, isso não diz respeito apenas a marketing pop ou a arte digital, mas também sobre o futuro de como nos relacionamos com a música. Mais novidades em breve.

Refletor #002: E agora para algo completamente diferente

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Assisti ao filme do show de volta do Monty Python no cinema e voltei a elucubrar sobre a fusão da sala de cinema com o universo da música na minha coluna desta semana no Brainstorm9:

E agora para algo completamente diferente
Assistindo música no cinema

De vez em quando uma estranha mania me faz assistir a shows em salas de cinema. Fui ver um do Chemical Brothers que fundia as imagens do telão do show às filmadas num próprio show. Ou um do U2 em 3D – confesso que nesse último houve um componente de curiosidade mórbida com a falta do que fazer. Mais de uma vez ameacei ver alguma dessas óperas do Met de Nova York que são transmitidas ao vivo para salas de cinema, eu que nem gosto de ópera.

Faço isso porque tenho uma ponta de curiosidade sobre como as indústrias cinematográfica e fonográfica podem reunir esforços para que a segunda se beneficie de algo que a primeira já tem – um suporte perfeito contra a pirataria. Estou falando da sala de cinema. Por mais que a tecnologia tenha melhorado substancialmente a qualidade da exibição de um filme em casa, ela não substitui a experiência coletiva de assistir a uma sessão de cinema com um monte de gente desconhecida.

Por bem ou por mal, isso faz parte da experiência cinematográfica. Entrar numa sala escura com centenas de pessoas que você não conhece e assistir, civilizadamente a um narrativa de imagem e som idealizada por um punhado de pessoas e realizado por dezenas, centenas, milhares de outras pessoas.

É algo mais ou menos parecido no mundo da música – mas não com o disco e sim com o show. Se compararmos com o cinema, o disco é o equivalente ao DVD ou ao velho VHS, em que você curte em casa, num ambiente controlado, senhor de seu tempo.

O filme no cinema é mais ou menos como o show – você não tem controle (não pode dar pause para ir no banheiro) e o fato de estar assistindo àquilo com outras pessoas ao seu redor causa uma sensação completamente diferente do que quando se assiste sozinho ou com um ou outro conhecido. Claro que os shows têm os elementos da espontaneidade e do ineditismo a seu favor, embora o início do século 21 favoreça shows previsíveis e imutáveis – ou, como dizem, “quem nem no DVD”.

Essa falta de espontaneidade do pop atual pode facilitar a transfusão dos shows para as salas de cinema, mas prevejo uma mutação deste espaço para que isso aconteça plenamente. Assistir a uma tela em fileiras ordenadas talvez seja o grande entrave para a música no cinema.

Digo isso porque assisti, domingo passado, à exibição de um dos shows da volta do grupo inglês Monty Python numa sala de cinema. Como todos os presentes na O2 Arena, em Londres, eu e os espectadores estávamos sentados em cadeiras enfileiradas, olhando em direção ao mesmo palco – ou tela, no nosso caso. Então havia uma equivalência natural entre os dois tipos de espetáculo.

No caso do Monty Python a previsibilidade era ainda mais gritante – e de propósito. O grupo de humor havia deixado claro que não escreveria nenhuma nova piada e apenas revisitaria seus clássicos. E lá estavam todos eles: a discussão agendada, o ex-papagaio, “wink-wink”, o ministério do “silly walk”, a canção do lenhador, “ninguém esperava a inquisição espanhola”, spam (um parêntese: você sabia que o termo spam – apresuntado, em inglês – foi utilizado para designar mensagens eletrônicas indesejadas a partir do clássico esquete do grupo inglês?). Fora as participações de Eddie Izzard e Mike Myers – e, claro, a ausência de Graham Chapman, que morreu em 1989 -, a apresentação foi mais um tributo à existência do grupo (e uma forma de recompensá-los financeiramente por seu legado) do que uma continuação de seu trabalho original.

Por isso, o espetáculo era chamado de “Mostly Live” – afinal já havíamos assistido àquelas piadas há anos. E também por reexibir esquetes clássicos originais num telão. Assim assistimos ao jogo dos filósofos gregos e alemães, a dança do tapa do peixe, a reencenação da batalha de Pearl Harbor e várias animações de Terry Gilliam exatamente como elas foram exibidas na época, mas num telão gigantesco. Naquele instante, tanto faz se você estivesse na O2 Arena em Londres ou numa sala de cinema no Brasil – você estava assistindo a trechos de um programa de TV de quase meio século de idade numa tela enorme.

Mas assistir àquilo no cinema causava uma sensação diferente do que ver em casa, na TV a cabo ou no DVD. Estávamos ali para ver uma obra do começo ao fim e, como o espetáculo original, o show manteve os mesmos quinze minutos de intervalo na exibição (afinal foram quase três horas de show/filme) e os poucos segundos entre o fim do show e o “bis espontâneo”, ironizado com uma legenda no telão.

E, mais importante, ríamos juntos. Às vezes gargalhávamos juntos. Um monte de desconhecidos compartilhando a experiência de assistir a um DVD ao vivo em conjunto. É questão de tempo para que esses shows de revival também revendam a experiência do cinema, mas se a sala de cinema é parecida com um teatro onde se assiste a uma comédia, a uma apresentação de música erudita ou uma peça de teatro, ela pouco lembra a experiência de um show. É comportada demais, travada demais.

Iniciativas que envolvem cinema e música são tendência há um bom tempo – até mesmo no Brasil: desde o já tradicional festival paulistano In-Edit dedicado apenas a documentários sobre música) à recente novidade do Cine Joia (a sessão Cinestesia, que apresentará dois filmes clássicos no palco da casa de shows de São Paulo) passando pela transmissão de óperas ao vivo para o cinema tela de cinema ambulante ao ar livre Open Air, que sempre alterna filmes clássicos com shows de artistas brasileiros.

Mas é preciso ir além das poltronas enfileiradas. Fico imaginando telas imensas funcionando como iluminação imersiva de uma festa em que os filmes do Soulwax pudessem ser projetados ao nosso redor (se você não conhece os sets audiovisuais dos 2ManyDJs, baixe o aplicativo deles agora! ), por todos os lados. É claro que precisaríamos assistir a novas tecnologias sendo desenvolvidas para isso, mas imagine shows que se desenrolam nos aparelhos portáteis – ou até mesmo filmes feitos para serem vistos de pé (ou sentados no chão ou dançando).

Isso, claro, não matará a sala de cinema clássica, mas é uma expansão audiovisual inevitável que certamente iremos ver nos próximos anos. Não vejo a hora.

Refletor #001: O Próximo Dia

Hoje também estreei a coluna Refletor (a citação desta vez é do disco mais recente do Arcade Fire) no site Brainstorm9. Esta é semanal e nela vou falar de música e tecnologia. E começo juntando Daft Punk com Aphex Twin, Boards of Canada com My Bloody Valentine, David Bowie com Beyoncé e o desafio de chamar atenção na internet.

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O próximo dia
Entre lembranças de acesso aleatório e a colheita do amanhã

Antes era fácil: lançar disco e fazer show, esperar que toque no rádio ou que alguém goste e conte pros amigos, que irão comprar o disco e ir ao show. Felizmente isso é passado. A facilidade de antes tinha um preço: havia menos gente no jogo da música. No novo século há cada vez mais gente produzindo música por inúmeras razões diferentes. Haja rádio e casas de show pra tocar todos os artistas que existem no mundo hoje – as que existem não dão conta.

Por isso a internet tornou-se não apenas a grande plataforma de lançamento de novos artistas – superando o rádio, a TV, os jornais, as lojas e as gravadoras – mas também seu grande palco. É na rede que surgem e se apresentam os grandes e pequenos novos gênios ou picaretas do mercado da música no século 21.

As rádios ainda tocam novatos que são ouvidos diariamente por milhares de pessoas do mesmo jeito que as lojas de disco ainda vendem novos nomes que importam para alguns milhões de pessoas pelo planeta. Mas os números de hoje não são nada se comparados com os do passado, quando milhões de pessoas conheciam as poucas centenas de artistas verdadeiramente populares no mundo, escolhidos por algumas dezenas de executivos que, em muitos casos, nem se importavam com música.

Hoje vivemos num outro mundo. A facilidade de se expressar artisticamente – não apenas musicalmente – vem acelerando na mesma velocidade em que a facilidade de distribuir sua produção artística, seja ela filme, tweet, livro, aplicativo, festa, perfil em mídia social, seriado, peça publicitária, graphic novel, evento, game, clipe, álbum, tirinha, monólogo, site, canção, crônica, reality show, comentário, festival ou a fusão de cada um destes itens uns com os outros. O consumidor/produtor do início da década passada, motor da infância e adolescência da web 2.0, banalizou tanto o conceito de celebridade quanto o de artista.

Assim todos somos artistas o tempo todo, sempre mais conscientes deste papel e das necessidades de atingir um novo público. E este – que nos inclui – cada vez mais disperso, exposto a mais música – nova e velha, ambas vindo às torrentes – e engolindo tudo que seus ouvidos podem ouvir. Antes era caro conhecer muita música – uma boa discoteca requer um senhor investimento -, hoje basta conexão com a internet e disposição para fuçar ou para levar-se pela transmissão. Não há mais um veio principal a ser perseguido e a tempestade de som nos persegue para onde quer que vamos.

Por isso se antes o processo de voltar a se comunicar com o público exigia apenas mostrar serviço – faixas novas, novas fotos de divulgação, notícias sobre um novo disco – agora é um trabalho que exige dedicação, estratégia e imaginação.

No ano passado, o Daft Punk começou o processo de divulgação de seu disco lançando um teaser de segundos num comercial de TV (um microtrecho que chegou a render remixes!) para depois lançar o refrão do primeiro single no intervalo entre shows de um grande festival, revelando as participações do rapper Pharrel e de um dos pais da disco music comercial, Nile Rodgers, do Chic. A estratégia funcionou – e quando “Get Lucky” começou a ser vendida, puxando o ótimo e retrô “Random Access Memories”, já era uma das músicas mais ouvidas de 2013.

Outro grupo, mais obscuro mas igualmente eminente, optou por uma caça ao tesouro. No Record Store Day do ano passado, a dupla Boards of Canada espalhou pistas de seu novo disco em lojas de discos, no YouTube e em sites de fãs da banda. Ao juntar os pedaços os fãs ouviam um trecho do novo disco, além de descobrirem o título e a data de lançamento de seu “Tomorrow’s Harvest”, que figurou entre os melhores discos do ano passado em diferentes listas.

2013 também viu o lançamento repentino de discos de gente como David Bowie (com “The Next Day”), My Bloody Valentine e Beyoncé (em discos homônimos), que anunciaram seus álbuns mais recentes ao mesmo tempo em que os lançaram – uma tática semelhante à do Radiohead em 2007, com seu “In Rainbows”. Mas naquela época o grupo inglês era a exceção – e por sua natureza experimental seria natural experimentar também na estratégia de lançamento. Bowie, MBV e a senhora Carter fizeram semelhante caminho e tiraram seus coelhos das cartolas antes que alguém pudesse cogitar que discos novos estavam sendo produzidos.

Quem puxa esse carro em 2014 é o produtor inglês Richard D. James, o enigmático Aphex Twin, que desde 2001 não lança material novo e, de uma hora pra outra, apareceu com novo disco na área. Primeiro soltou um zepelim de brinquedo nos céus londrinos com seu logotipo num sábado, depois o mesmo logo apareceu pixado nas calçadas de Nova York num domingo. Na segunda twittou um endereço que só podia ser acessado usando o navegador Tor, que permite conectar-se à chamada “deep web”, recanto digital da rede por onde armas, pornografia e drogas correm soltas. O endereço anunciava o título do novo trabalho – “Syro” – e a data de lançamento, confirmada pela gravadora Warp como sendo em outubro.

E isso por que estamos falando de nomes como Daft Punk, Beyoncé, Aphex Twin, My Bloody Valentine, Boards of Canada e David Bowie. Nomes que, mais ou menos conhecidos, são gigantes para seus séquitos de fãs. Gente que não teria dificuldade para emplacar a notícia sobre um disco novo. Mas se até os grandes se sentem desafiados e instigados a repensar seus lançamentos à era digital, que dizer dos pequenos que não correm nenhum risco e não têm nada a perder?

O século digital ainda está engatinhando, apesar de já acharmos que já o conhecemos faz tempo.

[* O nome desta coluna é uma referência ao álbum Reflektor, do grupo canadense Arcade Fire, um disco que, apesar de não parecer à primeira vista, fala justamente sobre a época digital em que vivemos. Música e tecnologia são os assuntos aqui.]