Vida Fodona #573: Não falho no meio da semana

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Sem muita conversa.

Giancarlo Rufatto – “Um homem médio, um homem em busca de um conflito”
Boogarins – “Lá Vem a Morte, Pt. 1”
Siba – “Marcha Macia”
Luscious Jackson – “Naked Eye”
Warpaint – “Heads Up”
Red Hot Chili Peppers – “Bloodsugarsexmagik”
Sade – “Paradise”
Massive Attack – “Safe From Harm”
Letrux – “Vai Render”
Ava Rocha – “Periférica”
Luiza Lian – “Iarinhas”
Glue Trip – “Time Lapses”
Nina Becker – “Voo Rasante”
Lion Rock – “Rude Boy Rock”

Final alto astral

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Red Hot, Offpsring e Sepultura fazem os melhores shows do último dia do Rock in Rio – e a minha cobertura do festival para o UOL vai chegando ao fim.

Revisitando 2016

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O ano está chegando ao fim e eu aproveitei pra recapitular 2016 a partir de post que fiz no meu blog no UOL durante estes 365 dias.

Não vou tentar resumir tudo que aconteceu em 2016 num único post: vou me ater ao que foi assunto nos últimos doze meses aqui neste blog, que está prestes a completar dois anos aqui no UOL. Em vez de fazer uma relação de melhores discos, filmes ou séries, vou me ater a separar o que achei de melhor e de pior no ano que está chegando ao fim. Entre os piores momentos estão inevitavelmente algumas das mortes que ajudaram a temperar este ano tão complicado, mas que também trouxe grandes momentos para uma cultura em plena transformação. Separei um parágrafo do texto original de cada item escolhido e o título do item linka para o post específico, caso você não o tenha lido quando eu escrevi. De brinde, reuni os textos de 10 discos clássicos que comemoraram aniversário este ano. As três listas seguem o mesmo padrão de contagem regressiva.

Os 10 melhores de 2016

10) Rua Cloverfield, 10

Mary Elizabeth Winstead e John Goodman

Mary Elizabeth Winstead e John Goodman

“Rua Cloverfield, 10 é da escola de filmes de terror que flertam com o pop e experimentalismo cinematográfico ao mesmo tempo, como Psicose, O Despertar dos Mortos, O Massacre da Serra Elétrica, Bruxa de Blair, O Homem de Palha, o espanhol [REC] e A Morte do Demônio – embora não seja propriamente um filme de terror. Não é uma obra-prima com algum dos filmes que citei e chafurda na vulgaridade B da literatura pulp e dos seriados dos anos 60 que tanto encantam J.J. Abrams (sua conclusão é o melhor exemplo disso). Mas suas atuações convencem o espectador e a direção transcende o trivial teatro filmado, com closes fortes e ritmo crescente.”

9) Capitão América – Guerra Civil

De frente

De frente

“A Marvel vai mostrando a cara de sua nova fase. Não é necessariamente um universo mais sombrio e opressor como os sinais dados pelas séries em parceria com o Netflix davam a entender. O novo filme aproxima o universo Marvel da realidade, deixando-o menos infantilizado e mais adulto. Mas isso não quer dizer que o tom seja sério e que não há espaço para o humor – muito pelo contrário. O humor agora não é feito mais para rir e sim para aliviar as cenas de tensão e de ação, dividindo a audiência do filme entre a apreensão calada e a comemoração sorridente. Cenas como a do Visão falando sobre comida, a do Homem Formiga conhecendo os outros heróis ou as piadinhas do Gavião Arqueiro ajudam a quebrar o gelo ao mesmo tempo em que mostram uma outra forma de encarar os super-heróis. Mas nada pode nos preparar para o Homem-Aranha.”

8) House of Cards

F.U.

F.U.

“Em seus dois últimos episódios, a quarta temporada de House of Cards abandona qualquer resquício de fraqueza que havia mostrado nos episódios anteriores e ressurge grandiosa, operática, bélica. O drama shakespereano dá lugar a um mosaico político que faz Maquiavel e Sun Tzu sentarem-se em um xadrez brutalmente tenso, impassível entre bombas, metafóricas ou literais. E o gesto final de Underwood trava a temporada num impasse moral que desnuda completamente o jogo político e pode fazer a próxima temporada ser a última da série (embora ninguém tenha confirmado isso). O fato da temporada começar com uma cena de masturbação em uma cela na cadeia e terminar com um assassinato e uma cena de tortura psicológica coletiva diz muito sobre o tom da temporada.”

7) Novos Baianos e Wilco (empatados)

Imagem: Manuela Scapra /Brazil News

Imagem: Manuela Scapra /Brazil News

“Era claro que a noite era voltada para 1972 e os grandes momentos foram os daquele disco. E se Paulinho brilhou nas delicadas “Mistério do Planeta” e “Swing de Campo Grande”, Baby e Pepeu se reencontravam como um casal musical nos solos rasgados de “A Menina Dança” e “Tinindo Trincando”, como fizeram em seu emocionante reencontro no Rock in Rio do ano passado. O único senão era a voz de Moraes Moreira, que não possui aquele antigo doce timbre e em alguns momentos soa sofrível, chegando quase a estragar “Preta Pretinha”. Felizmente, num dos principais momentos da noite, ele canta num tom abaixo e sua volta por um instante a sintonizar com seu timbre do passado – e a faixa que batiza o álbum clássico foi um dos momentos mais tocantes de toda a noite.”

Imagem: Flávio Florido/UOL

Imagem: Flávio Florido/UOL

“Ao lado de Jeff (Tweedy), o guitarrista Nels Cline é o franco-atirador da banda, que eleva o título de guitar hero a um nível de pós-doutorado. Cline sozinho é um show à parte e seus solos traçam uma conexão clara entre Tom Verlaine e Neil Young, ampliando horizontes a cada nota sangrada no palco. O guitarrista Pat Sansone – outro guitar hero – é uma espécie de arma secreta do grupo, revezando-se entre teclados, guitarra, banjo e vocais de apoio. O pulso firme do baterista Glenn Kotche certifica-se que está tudo sob controle enquanto o tecladista Mikael Jorgensen prepara a atmosfera necessária para cada canção. Isso sem contar o desfile de guitarras (são 70 instrumentos de cordas, entre guitarras, baixos e violões), um deleite para os fãs do instrumento, e o apreço pelo detalhe – se eles quisessem que ouvíssemos o som de uma agulha caindo no palco ouviríamos. O som, outro ponto alto desta pequena turnê, estava tão cristalino quanto no Rio.”

6) Dr. Estranho

Benedict Cumberbatch

Benedict Cumberbatch

“É o filme mais maduro da Marvel até agora e, coincidentemente, sua produção mais psicodélica. Toda aura mística e espiritual do médico que sofre um acidente que o impossibilita de continuar seu trabalho era traduzida em imagens grandiosas e espetaculares nos quadrinhos, publicados principalmente na virada dos anos 60 para os anos 70, auge da experimentação lisérgica da cultura pop. Os autores da Marvel do período – especificamente Steve Dikto, que recebe o crédito de autoria do personagem do novo filme – aproveitavam cores e formas para expandir os limites dos quadrinhos em páginas duplas épicas, cheias de detalhes.”

5) Stranger Things e Coquetel Molotov 2016 (empatados)

Onze e a turma

Onze e a turma

“E esse é o grande segredo da série – não é apenas uma coletânea de referências, é uma história bem contada. Não é uma história nova (qual história é propriamente nova?), mas Stranger Things não cai no erro de Vinyl de achar que basta ambientar bem um período e transformar arquétipos em personagens para que as coisas funcionem sozinhas. A motivação de todos os personagens é bem definida e seus atores estão muito à vontade nestes papéis, mesmos aqueles com menor envolvimento com a trama principal (o núcleo adolescente, por exemplo, mereceria uma série própria). Só o Brenner de Mathew Modine que é mal explorado e um personagem que pode ser tão profundo quanto o Walter Bishop de Fringe vira só um vilão do Scooby-Doo. Talvez tenham guardado seus segredos para uma segunda temporada, que parece inevitável.”

Jaloo (Foto: Beto FIgueiroa/Divulgação)

Jaloo (Foto: Beto FIgueiroa/Divulgação)

“Um quarto de século depois dos primeiros rascunhos do mangue beat, a décima terceira edição do festival pernambucano Coquetel Molotov foi a materialização daquela utopia imaginada no início dos anos 90, quando os primeiros agitadores culturais que criaram aquele movimento hoje histórico começaram a se conhecer. Eles imaginavam uma Recife conectada ao resto do estado, do país e do mundo sem fazer escalas pela ponte Rio-São Paulo, refletindo a atmosfera naturalmente moderna da capital pernambucana em uma conversa internacional e moderna, colocando artistas e público numa sintonia alheia às demandas ou exigências do mercado.”

4) Bowie – ★

A capa do último disco de David Bowie

A capa do último disco de David Bowie

“Todo o simbolismo e o hermetismo que Bowie havia colocado em seu vigésimo quinto álbum foi revelado com a notícia de sua morte na manhã da segunda-feira passada. Soubemos que Bowie já vinha se tratando em relação a um câncer por dezoito meses e que gravou o disco como um testamento para os fãs. Daí a ausência da capa. Eis a estrela negra – a própria morte. Encenada e transformada em arte.”

3) Rogue One

Felicity Jones

Felicity Jones

“É um filme de guerra, com cenas de batalhas espetaculares, mas também um filme sobre um universo em expansão: na primeira meia hora somos apresentados a paisagens e planetas novíssimos, que em breve serão habitados em filmes futuros. Mas também há doses pesadas de emoção – dá pra segurar o choro em pelo menos duas cenas – e a palavra de ordem é esperança. Esperança não apenas para o futuro da história nos filmes (afinal, ele antecede a primeira trilogia, iniciada em 1977), mas também para o rumo que a Lucasfilm está levando sua série. E prepare-se para a terceira parte do filme, que ela é de tirar o fôlego – em vários momentos.”

2) Westworld

Evan Rachel Wood

Evan Rachel Wood

“E a HBO conseguiu mais uma vez. Westworld vem superando todas as expectativas, episódio a episódio, e caminha para se tornar o grande evento da TV em 2016, fazendo a emissora recuperar-se do fiasco que foi a primeira temporada de Vinyl e a promissora mas fria The Night Of. Um enorme quebra-cabeças magistralmente montado em frente aos nossos olhos, intercalando a frieza de máquinas com o calor do velho oeste norte-americano, reinventando completamente uma premissa simples de um filme dos anos 70 para o século 21 e enfileirando monólogos magistrais, atuações impecáveis, cenas intensas, diálogos esclarecedores, teorias complexas e revelações sensacionais.”

1) Radiohead – A Moon Shaped Pool

A enigmática capa do disco mais recente do grupo inglês

A enigmática capa do disco mais recente do grupo inglês

“Mesmo que não seja seu último disco (torço que não seja), A Moon Shape Pool entra para a discografia da banda como seu disco mais maduro e mais apaixonado, mesmo que estas paixões venham corroídas. É um disco suave e tenso ao mesmo tempo, de sonoridade grandiosa recolhida em pequenos frascos de som. Por vezes soa folk, por outras árcade e o tempo todo nos conduz com o coração. Mais um disco perfeito produzido por uma banda que segue no auge há vinte anos.”

Os 10 piores de 2016

10) Esquadrão Suicida

Jai Courtney, Margot Robbie, Will Smith, Karen Fukuhara, Joel Kinnaman, Adewale Akinnuoye-Agbaje e Jay Hernandez

Jai Courtney, Margot Robbie, Will Smith, Karen Fukuhara, Joel Kinnaman, Adewale Akinnuoye-Agbaje e Jay Hernandez

“No fim, Esquadrão Suicida parece ser uma versão dos Guardiões da Galáxia vivida pelo Slipknot (nome, aliás, de um dos supervilões secundários). É intenso, é barulhento, faz rir e passar raiva como uma criança birrenta – porque no fundo, ele é só isso: um filme bobo. Tem bons momentos (nenhum deles com o Ben Affleck), mas não vale o preço do ingresso no cinema – nem no pay per view. Espera passar na TV, que é o lugar certo pra um filme desses – faz o tempo passar, dá pra ir no banheiro ou para a geladeira sem precisar apertar o pause ou dormir no meio sem culpa. Ou seja, é melhor que Batman vs. Superman.”

9) Vinyl

Bobby Cannavale

Bobby Cannavale

“Usar uma gravadora como ponto de observação daquela década parecia tão apetitoso quanto assistir às transformações da década anterior a partir de uma agência de publicidade (a premissa da excelente Mad Men). O problema é que, pra começar, Vinyl usava isso apenas como pano de fundo. Misturava biografias e mitologias diferentes em uma narrativa que parecia sofrer dos principais problemas da década. Só quem se beneficiava era a trilha sonora e a direção de arte (que também sofria do exagero da década). Todo o resto era humilhantemente constrangedor.”

8) O fim da tira Chiclete com Banana

Última tira Chiclete com Banana, publicada no dia 8 de maio de 2016, na Folha de S. Paulo

Última tira Chiclete com Banana, publicada no dia 8 de maio de 2016, na Folha de S. Paulo

“Desligar Chiclete com Banana é uma forma de manter-se vivo. Se continuasse, Angeli poderia ficar ainda mais existencialista e a acidez do passado iria dissolver-se num eterno amargor que começaria a lhe fazer mal. A nos fazer mal. Mal, com letra maiúscula. Felizmente, ele percebeu a tempo de fechar o ciclo. E, com o fim de um ciclo, começa outro – será que agora vamos ver graphic novels ou telas imensas feitas por um sujeito que começou desenhando nas páginas de jornal? Grandes artistas passam por grandes mudanças, algumas vezes sem ter a consciência disso, e conseguem se superar mudando completamente o ritmo do próprio trabalho – Picasso, Rothko, Chuck Close, Lichtenstein, Crumb. Talvez o fim de Chiclete com Banana dê início a uma nova fase para Angeli. Estou na torcida.”

7) Batman vs. Superman

Lixo

Lixo

“Não perca seu tempo nem seu dinheiro vendo este filme. Não recomendo nem que você espere passar na TV aberta para assisti-lo dublado. Porque é um dos piores filmes deste século, tranquilamente. Mas eu sei, você é fã de quadrinhos e fã de filmes de super-herói e vai pagar pra assistir a esse filme no cinema, mesmo com todos os pés atrás possíveis. A gente precisa ver pra ter certeza que não estragaram essa mitologia que crescemos vendo, afinal gastaram tanto dinheiro com isso, né? Não pode ser tão ruim. Pois pode. Pode e é. É o cúmulo do lixo filmado, tudo que está errado em Hollywood atualmente, mais um filme de ação hiperbólico rodando em falso. Mas não mata o gênero super-herói nos cinemas, especialmente se a Warner tirar Zack Snyder da jogada.”

6) A morte de George Michael

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“Mais uma vítima deste trágico 2016, George Michael, que morreu no dia de Natal, aparentemente parece não pertencer ao mesmo panteão dourado que reuniu David Bowie, Prince e Leonard Cohen com o passar do ano. Mas, sim, o jovem de parcos 53 anos é um ícone de semelhante estatura. O que talvez tenha a ver com a natureza de sua musicalidade – compositor refinado e popular ao mesmo tempo (características quase excludentes hoje em dia), ele exaltou as culturas dance e gay e ele elevou a música pop a outro patamar.”

5) A morte de Leonard Cohen

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“Não há, no entanto, tristeza, nem lamento, nem arrependimento, nem dor. Velho desde jovem, Cohen morre tão enfático, decidido e sutil quanto em seus primeiros discos, uma alma quase fantasmagórica que agora vive para sempre em uma curta (14 discos em quase meio século) mas profunda obra. Por isso não chore. Não ceda às emoções. Não entregue-se ao pessimismo. A morte de Leonard Cohen era tão certa quanto foi seu nascimento. Não sofra por um futuro sem ele, iríamos viver isso. Aproveite este último capítulo para celebrar sua existência e comemorar a sua própria maturidade.”

4) A morte de George Martin

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“O barateamento das tecnologias de gravação, o surgimento do hip hop e da música eletrônica e a excelência dos atuais programas digitais de edição de som permitiu que as gerações de produtores seguintes se inspirassem no legado de Martin com os Beatles e fossem além. Hoje há pelo menos três gerações de músicos que não tocam instrumentos musicais e sim outros músicos – um espectro gigantesco que abrange Brian Eno, Dr. Dre, Teo Macero e Lee Perry, que ainda inclui multiinstrumentistas como Prince e Brian Wilson – que deve sua existência ao casamento pioneiro entre os Beatles e George Martin. São dois legados diferentes que se misturam, mas igualmente importante para a cultura atual: o do grupo e o do produtor.”

3) A morte de Carrie Fisher

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“Não era mais uma donzela em pânico esperando ser salva por seu herói, mas ela mesma era uma heroína e fazia parte da gangue. E em Carrie Fisher a personagem cresceu significamente – ao ser interpretada por uma atriz nascida no showbusiness (filha do cantor Eddie Fisher e da atriz Debbie Reynolds), a personagem ganhava uma dose de cinismo, arrogância e despeito que nunca estiveram em uma personagem mulher num filme que atingira um público tão grande. Ela era herdeira direta das protagonistas dos filmes da nouvelle vague francesa: Luke, Leia e Han Solo pareciam ser uma versão norte-americana do trio protagonista do Jules e Jim de Truffaut e uma frase do próprio Godard (“Tudo que você precisa em um filme é de uma garota com uma arma”) é a base para sua presença na tela durante os três primeiros filmes da saga Skywalker. E, claro, assistir as transformações sociais do mundo nos anos 60 ainda criança fez que ela levasse aqueles valores para um personagem que iria mudar a forma como as mulheres se viam fora do cinema.”

2) A morte de Prince

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“Era uma versão masculina da Madonna que tocava todos os instrumentos que queria aprender, um George Clinton que pilotava uma espaçonave sexual, inventor de um funk sintético recheado de soul music e coberto pela estética do rock. Ele ajudou a soul music e a discoteca a se transformarem no R&B moderno ao acompanhar a evolução apontada pelo hip hop tocando instrumentos em vez de discos. Um explorador sônico que usava timbres eletrônicos como desculpa para desbravar ambientes musicais improváveis – e grudentos.”

1) A morte de David Bowie

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“Bowie transformou a sensação de estranhamento que todos nós sentimos – em maior ou menos escala – em grande arte. Estranhamento em relação ao mundo, à sociedade, à vida, a si mesmo. Contemporâneo da geração de ouro da história do rock (era cinco anos mais novo que Paul McCartney, dois anos mais novo que Pete Townshend e Eric Clapton), ele chegou tarde nos anos 60 para garantir presença no panteão que mudou a história da cultura ocidental. Mas não sem motivo. Ao lançar a própria carreira no final da década do rock clássico, ele a sincronizou com um momento único na história da humanidade e fez-se notar pela primeira vez lançando uma música sobre a solidão no espaço sideral e o olhar frio e distante sobre o planeta, a Terra, o mundo, nós mesmos.”

Dez discos clássicos que fizeram aniversário em 2016

10) 25 anos de Bandwagonesque

bandwagonesque

“Sem pretensões mercadológicas, planos de negócios, shows em estádios ou discos de diamante, o Teenage Fanclub conseguiu sintetizar a essência da canção pop em um disco ousado por sua despretensão e marcante por sua simplicidade. Doce e direto, Bandwagonesque sobrevive não apenas como um registro do início do fim da era da canção ou como souvenir nostálgico daquele período, mas como um disco de música pop deveria soar, por definição. Essencialmente humano.”

9) 40 anos do primeiro disco dos Ramones

ramones

“A essência dos Ramones era sua unidade: tudo soava como uma coisa só. Não importavam os instrumentos, baixo, guitarra e bateria seguiam o mesmo ritmo. Os temas das músicas menos ainda – podiam estar cantando sobre nazismo ou sobre dançar, o tom era sempre o mesmo. As músicas pareciam as mesmas e duravam dois minutos cada. Os músicos pareciam o mesmo e seguiam mal encarados independentemente da reação da plateia. O baixista gritava “1-2-3-4″ e as músicas começavam com a mesma grosseria que terminavam. Os Ramones eram repetitivos, monótonos, barulhentos, ameaçadores – essa era sua magia. Aos ouvidos do século 21 os Ramones soam quase inofensivos, mas no meio dos anos 70 era o patinho feio, uma mancha grosseira na bela paisagem do rock de então. Foram eles que plantaram a semente que mudou tudo.”

8) 25 anos de Nevermind

Nevermind

“Foi aí que a ficha caiu: a brecha havia rompido o muro. A partir dali a indústria fonográfica e as rádios começaram a perder o controle (mesmo transformando a geração do Nirvana em uma cena comercial, tal como o proverbial bebê engolindo a isca da capa do disco) e as pessoas começaram a conhecer mais músicas. A partir de Nevermind, a brecha, que era um segredo, tornou-se pública e o mundo descobriu o submundo do pop quando ele já era adulto. O Nirvana era só o caçula daquele novo mercado que começaria a transformar completamente a cara do pop a partir dos anos 90. Quando o computador chegou pra facilitar a gravação de discos em casa e a internet chegou para facilitar distribuí-los, toda aquela safra de novos artistas que alimentaria aquele novo sistema já estava pronta. E a música nunca mais seria a mesma.”

7) 25 anos de Loveless

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“Por toda sua extensão Loveless é um sonho tocado no último volume. O estranho assobio produzido pela forma de tocar guitarra de seu líder Kevin Shields é apenas um dos elementos únicos que definem a banda, como a onipresente parede elétrica de microfonia anestesiada, os doces vocais que sussurram no abismo, o acúmulo de instrumentos, a presença quase sutil de uma bateria montada na pós-produção, em loop eletrônico, o efeito entortado que o uso da alavanca de tremolo dá aos acordes secos e multiplicados, as eventuais ondas de ruído que parecem funcionar como abóbodas de catedrais.”

6) 25 anos de BloodSugarSexMagik

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“Todas as faixas daquele novo disco duplo de quase 75 minutos repensavam o delírio adolescente e fazia a banda confrontar os dilemas da vida adulta – principalmente de natureza espiritual e sentimental. Faixas como “Breaking the Girl” e “I Could Have Lied” mostravam um Red Hot Chili Peppers gravando baladas pela primeira vez e um poema de Kiedis encontrado amassado no chão por Rick Rubin foi transformado em um dos grandes carros-chefe da banda, a balada anti-heroína “Under the Bridge”.”

5) 25 anos de Screamadelica

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“”Este é um dia lindo… Um novo dia…”, bradava o reverendo sobre uma base borbulhante, “Nós estamos juntos… Nós estamos unidos… E todos de acordo… Porque quando estamos juntos temos força… E podemos tomar decisões… No programa de hoje ouviremos gospel e rhythm & blues e jazz. São apenas rótulos. Sabemos que música é música”, formalizando Screamadelica como um novo artefato pop: um disco de protesto para dançar e viajar, sintetizado neste discurso sampleado. Uma lição que não tem idade – seja em 1956, 1967, 1972, 1978, 1991, 2016 ou em qualquer outra época – afinal, se Jesse Jackson nos lembra que tudo é música, a própria psicodelia e o Primal Scream, também nos lembram que o tempo não existe.”

4) 30 anos de The Queen is Dead

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“Foi assim que os Smiths abriram um caminho alternativo para o rock, quase trinta anos após sua criação nos anos 50. No momento em que o aspecto guerreiro e trovador do formato se transformava em caricatura ou em algo pior – um mero produto -, o grupo inglês reanimou aquela formação musical para que ela pudesse persistir por mais algumas décadas, apontando para valores considerados secundários no gênero, como a sensibilidade, a timidez, a revolta interior. Um legado imensurável.”

3) 50 anos de Pet Sounds

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“Mesmo que o disco tenha azedado sua relação com seu primo Mike Love, causando o principal cisma na história do grupo, ele é o ápice da carreira de Brian Wilson e dos Beach Boys. A provocação foi entendida pelos Beatles do outro lado do Atlântico, quando Paul McCartney – nascido apenas dois dias antees que Brian – ouviu o disco com a mesma sensação que Brian ouvira Rubber Soul, provocando-o a ser ainda mais ousado com os Beatles, o que lhe fez criar o conceito do disco Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band, lançado em 1967. Foi apenas um entre os vários artistas influenciados por um disco que foi crucial na transformação que aconteceu nos anos 60 e até hoje faz novos fãs – e que, sem exagero, mudou a cara do pop, que teve no álbum a certeza de que era possível ser mais artístico, autoral e comercial ao mesmo tempo.”

2) 50 anos de Blonde on Blonde

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“São músicas que estão entre as grandes músicas daquele período, independentemente do gênero musical, e, em sua maioria, clássicos do século passado. Da jocosa “Rainy Day Women #12 & 35″ – que abre o disco como uma banda marcial chapada, com Dylan repetindo o trocadilho raso “everybody must get stoned” às gargalhadas, em que brincava com o duplo sentido da palavra “stoned” (apedrejado ou chapado) – à pesarosa “Sad Eyed Lady of the Lowlands”, que ocupa todo o último lado do segundo disco, somos apresentados a um desfile tão impressionante de músicas boas que parece inacreditável que pertençam a um mesmo disco: “Pledging My Time”, “Visions of Johanna”, “One of Us Must Know (Sooner or Later)”, “I Want You”, “Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again”, “Leopard-Skin Pill-Box Hat”, “Just Like a Woman”, “Most Likely You Go Your Way and I’ll Go Mine”, “Temporary Like Achilles”, “Absolutely Sweet Marie”, “4th Time Around” e “Obviously 5 Believers” estão todas entre as melhores canções de Dylan e em todas ele consegue equilibrar a autoridade e altivez da arte com a força e crueza do rock.”

1) 50 anos de Revolver

revolver

“A experimentações iam para todos os lados. Solos de guitarra invertidos, canções gravadas em uma velocidade e tornadas mais lentas no estúdio, instrumentos eruditos e estrangeiros, colagens e efeitos sonoros, metais, percussão, microfones colocados em lugares inusitados, cordas inspiradas nos filmes de Truffaut e Hitchcock, letras sobre drogas, morte, sonhos, impostos e um submarino amarelo. Sonatas perfeitas, saudações à vida, composições inspiradas pelos Beach Boys, por Bob Dylan e LSD, romances críveis, palavras de ordem, sentimentos expostos e uma viagem à Índia. Três músicas de George Harrison e uma cantada por Ringo, um conjunto de músicas que não estão entre os grandes hits da banda mas que moram no coração de qualquer fã do grupo.”

E assim despeço-me deste ano que, apesar de tudo, teve seus momentos. O blog volta à ativa no dia 9 de janeiro (ou se acontecer algo urgente, a qualquer momento). Obrigado pela companhia e feliz 2017!

BloodSugarSexMagik e uma nova maturidade

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Outro disco que completa 25 anos, o melhor disco do Red Hot Chili Peppers reinventou o adulto nos anos 90, como escrevi no meu blog no UOL.

Qual é a hora de abandonar os delírios e prazeres da adolescência e assumir as responsabilidades e fardos da vida adulta? Antes os limites eram bem estabelecidos: o término da vida escolar determinava a idade para procurar emprego ou tentar entrar em uma faculdade, o que significava começar a organizar a vida, arrumar a bagunça e se preparar para o fim da festa. Para os que conseguem entrar em uma universidade, o terceiro grau pode dar uma sobrevida de farra e excessos, mas eles estão com os dias literalmente contados até a chegada do diploma. Para aqueles que já entram no mercado de trabalho direto não tem nem conversa: festas e diversões vão sendo gradualmente empurrados para os fins de semanas até virarem oásis perdidos em rotinas maçantes e insuportáveis.

Mas o mundo mudou – e com ele as definições sobre estes limites. Até a metade do século passado, assumir a vida adulta significava abandonar por completo a irresponsabilidade saudável entre os 10 e 20 anos de idade, trajar uma roupa formal, bater cartão em um emprego e preparar-se para casar, ter filhos para que eles recomeçassem a história novamente. Mas a partir dos anos 50, principalmente graças à geração crescida sob a égide de uma nova cultura de consumo popular, algumas mudanças começaram a ocorrer neste processo.

Um dos motivos de sucesso do rock – a principal força-motriz desta nova cultura – quando o gênero eclodiu nos anos 50 foi o impacto que teve junto a uma geração de novos consumidores que antes disso nem era vista como tal. Os adolescentes que nasceram após o fim da Segunda Guerra Mundial – a geração que ficou conhecida como “geração baby boom” devido à explosão demográfica no final dos anos 40 – cresceram em um mundo em que a a ascensão social era possível a partir do consumo. Você não precisava ter nascido em uma família abastada ou trabalhar arduamente para conseguir atingir um certo status. Os novos artistas que abasteciam aquela cena – que se refletia em outros novos meios de comunicação, como o cinema, a televisão, o rádio, o mercado editorial comercial e os quadrinhos – eram jovens, bem-sucedidos e conseguiram se estabelecer fazendo o que gostavam.

É claro que era uma generalização e cada novo popstar, cada novo astro de Hollywood, cada nova jovem celebridade que surgia ofuscava centenas de outros talentos e não-talentos que tentaram aquele mesmo sucesso, em vão. Mas era um novo caminho que surgia e, se a princípio parecia uma materialização de um conto de fadas ou tão improvável quanto ganhar na loteria, aos poucos mais gente foi conseguindo seu lugar ao sol desta forma.

E quando os primeiros popstars chegaram à idade adulta, ainda estavam conformados com o padrão antigo e se fantasiaram de adultos – mais do que assumiram a vida adulta. A rotina de prazer e lazer que se prolongara para além dos 20 anos de idade não havia preparado-os para a vida de verdade e grande parte de suas responsabilidades havia sido transferido para empresários e agentes. Tanto que são raros exemplos de artistas dos anos 60 e 70 que conseguiram sobreviver para além dos trinta anos na mesma carreira sem o auxílio de um executivo engravatado ou um empresário agressivo. Os Beatles quase faliram a loja/gravadora que fundaram no fim dos anos 60 (a Apple) depois da morte de seu empresário Brian Epstein e muitos atribuem o sucesso dos Rolling Stones ao fato de Mick Jagger ter frequentado a London School of Economics antes de optar por ser vocalista de uma banda de rock.

Mas, com o punk rock no final dos anos 70, uma nova geração de adolescentes cresceu com a possibilidade real de viver de música. Mais do que ter exemplos de popstars que continuaram na carreira mesmo depois dos 40 anos de idade (optando pela caricatura de si mesmos, pela constante reinvenção ou por tornar branda ou inofensiva a energia inicial de suas biografias), eles também ajudaram a pavimentar um mercado que pouco a pouco começava a ser autossustentável. Longe das gravadoras que viravam enormes corporações internacionais que monopolizavam os meios de produção da música, estes adolescentes criaram um ambiente alternativo em que era possível crescer como artista sem as pressões comerciais do mercado tradicional (como escrevi neste texto sobre os 25 anos do Nevermind, do Nirvana).

Frusciante, Kiedis, Smith e Flea

Frusciante, Kiedis, Smith e Flea

E entre as inúmeras bandas que surgiram nos anos 80 a partir da consolidação deste novo mercado estavam os Red Hot Chili Peppers. A quintessencial banda de Los Angeles (superando, quem diria, até mesmo os Doors como a banda-símbolo do sul da Califórnia), o grupo começou como uma brincadeira entre a black music psicodélica que havia surgido no meio dos anos 70 e a cena hardcore da cidade, posicionando-se estrategicamente entre o punk e o funk como apenas os Bad Brains, do outro lado dos Estados Unidos, havia conseguido. Mas por nascerem naquela cidade entre palmeiras, a praia de Venice e Hollywood, havia um espírito de diversão exacerbada, que o separava radicalmente do punk reggae da banda de Washington e o fato da banda ter nascido em Los Angeles também fazia a banda se apropriar das guitarras afiadas do novo metal norte-americano, elemento que logo entrou em sua mistura de gêneros musicais.

O quer dizer que eram uma banda barulhenta e dançante, mas cuja politização resumia-se à tríade sexo, drogas e rock’n’roll, forjada entre os anos 60 e 70 e tida como meta para a maioria dos adolescentes que queriam ter uma banda na época. Os Red Hot Chili Peppers foram fundados pelo vocalista Anthony Kiedis e pelo baixista Flea e tiveram seus dois primeiros discos produzidos por nomes como Andy Gill (guitarrista da banda inglesa de pós-punk Gang of Four) e George Cinton (lendário papa do P-Funk). De formação mutante, chegaram a tocar, em uma determinada época, com um guitarrista do Funkadelic (DeWayne “Blackbyrd” McKnight) e o baterista dos Dead Kennedys (D.H. Pelligro) ao mesmo tempo. O primeiro integrante além dos dois fundadores a firmar-se na formação foi o guitarrista Hillel Slovak, primeira vítima dos excessos da banda, morto de overdose de heroína em 1988. O baterista Chad Smith entrou a tempo da gravação do disco Mother’s Milk, de 1989, o primeiro grande disco da banda e último disco de Slovak, cuja morte acendeu uma luz amarela para os quatro. Tão viciado em heroína como o recém-falecido amigo, Kiedis passou a temer pelo futuro da banda e, claro, pela própria vida. E todos os integrantes da banda – inclusive o recém-ingresso guitarrista John Frusciante – passaram a pensar mais seriamente sobre como seria viver o resto da vida em uma banda de rock.

Foi assim que os quatro entraram no estúdio para gravar seu quinto álbum. Ainda assombrados pela morte do amigo guitarrista, entenderam o motivo da recusa do produtor Rick Rubin para produzir seu terceiro disco, em 1987. Rubin já era conhecido à época por ter transformado a gravadora Def Jam – casa de nomes como Run DMC e LL Cool J – no principal nome do hip hop da época, além de ter reinventado a carreira dos punks Beastie Boys, transformando-os no primeiro ícone branco do rap. O casamento entre guitarras e groove que Rubin havia realizado em Nova York parecia torna-lo o nome perfeito para produzir um disco do Red Hot. Mas Rick havia recusado ao ver como Kiedis e Slovak estavam entregues à heroína. Depois da morte do guitarrista, engoliram o orgulho e foram novamente bater à porta de Rubin.

O produtor topou a nova tarefa com a condição de que a banda se afastasse por completo da heroína. Para isso, alugou uma mansão em Los Angeles e exigiu que a banda morasse lá enquanto estivessem gravando o disco. Cada um dos quatro integrantes se hospedou em um quarto, mas logo depois o baterista Chad Smith disse que não iria conseguir dormir na casa, pois sentiu que ela era mal-assombrada. A mansão havia pertencido ao mago Harry Houdini e tinha fama de ter sido cenário de um assassinato. Os outros permaneceram lá, mesmo com a possibilidade de encontrar fantasma – o que realmente aconteceu segundo o guitarrista John Frusciante, que disse que eram “espíritos amigáveis”. A casa, que depois foi comprada pelo produtor e transformada em seu estúdio particular – batizado apenas como The Mansion –, também foi palco para outras gravações clássicas (como o disco This is Happening do LCD Soundsystem e a canção “99 Problems” de Jay-Z) e bandas como Linkin Park e Slipknot, que também gravaram lá, disseram ter visto espíritos ou notado evidências de atividade sobrenatural no lugar.

Rick Rubin em sua mansão

Rick Rubin em sua mansão

E foi nesta mansão que, por trinta dias entre maio e junho de 1991, os quatro Red Hot Chili Peppers enfrentaram a dura realidade de que eram uma banda com dez anos de idade. A sensação de amadurecimento pessoal era confrontada diretamente com a energia desenfreada das apresentações do grupo e com o barulho de seus discos, dilema que pautou as gravações. Os dois fundadores e o baterista entravam em seus trinta anos de idade e Kiedis ainda enfrentava o fantasma do vício de heroína e a sensibilidade pop de Rick Rubin ajudou a conter os ímpetos mais primitivos da banda, que insistia em aumentar o volume e a velocidade a cada novo disco. A entrada de Frusciante, que tinha apenas 20 anos ao entrar na banda, também foi crucial para a nova sonoridade do grupo, que abandonava os riffs esquizofrênicos de guitarra metal para abraçar toda sutileza e extravagância sonora de um dos principais discípulos espirituais de Jimi Hendrix.

Todas as faixas daquele novo disco duplo de quase 75 minutos repensavam o delírio adolescente e fazia a banda confrontar os dilemas da vida adulta – principalmente de natureza espiritual e sentimental. Faixas como “Breaking the Girl” e “I Could Have Lied” mostravam um Red Hot Chili Peppers gravando baladas pela primeira vez e um poema de Kiedis encontrado amassado no chão por Rick Rubin foi transformado em um dos grandes carros-chefe da banda, a balada anti-heroína “Under the Bridge”.

Mas aquele lirismo todo não queria dizer que a banda havia ficado mais leve. Músicas mais pesadas davam a tônica do disco mas a mensagem não era mais a pura diversão desenfreada, mas reflexões pensativas sobre o que eles estavam se transformando. Faixas como “Sir Psycho Sexy”, “If You Have to Ask”, “The Power of Equality”, “My Lovely Man”, “Apache Rose Peacock”, “The Righteous and the Wicked”, “BloodSugarSexMagik” e o cover-relâmpago para “They’re Red Hot”, do mestre blueseiro Roberto Johnson, jogavam uma luz mais consciente, politizada e séria da banda, muitas vezes se autoironizando. O Red Hot não havia abandonado a diversão, como ficava evidente em outras faixas (o hit “Give it Away”, “Naked in the Rain”, “Funky Monks” e “Suck My Kiss”). Quando escolheram o título de uma das faixas para batizar o novo disco, eram uma nova banda. Uma banda adulta sim, mas que não tinha problemas em exibir as próprias tatuagens no encarte do disco, cujas letras foram escritas à mão pelo próprio Kiedis. Um novo conceito de maturidade para o pop.

BloodSugarSexMagik, lançado exatamente há 25 anos (no mesmo dia em que Nevermind,do Nirvana e um dia depois do Screamadelica do Primal Scream – que época!), é, portanto, o momento em que os Red Hot Chili Peppers chegam à vida adulta, mostrando para toda uma outra geração de adolescentes que era possível amadurecer sem abandonar os prazeres e delírios da juventude. É a obra-prima do grupo e os catapultou para o estrelato, mesmo que eles não tenham conseguido manter aquela boa fase por muito tempo. O novato Frusciante começou a atritar com a banda, especificamente com o vocalista, e saiu do grupo no meio da turnê de lançamento do disco. Foi substituído por Arik Marshall (que veio com a banda em sua primeira apresentação no Brasil, em 1992) e pouco depois por Dave Navarro, ex-guitarrista do Jane’s Addiction, que gravou o excelente – e dark – One Hot Minute em 1995, um disco que divide opiniões dos fãs e que eu considero o melhor disco que o Jane’s Addiction não gravou (além de ser o segundo melhor disco do Red Hot, na minha opinião).

Depois deste período, Frusciante voltou à banda e eles voltaram do ponto que haviam largado em 1992, com o bem-sucedido Californication, de 1999. Mas ali eles já eram uma versão engessada do brilhantismo do início da década e continuaram lançando discos seguindo a fórmula daquele disco mágico lançado 25 anos atrás, se transformando numa versão pasteurizada do que eram antes, um Aerosmith para uma geração mais nova. Mas a essência daquilo que se tornou sua caricatura não foi afetada continua intacta nestas 17 faixas que ensinaram que o rock pode amadurecer sem deixar de se divertir.

Vida Fodona #542: Trazer o sol

vf542

Concentração.

Vida Fodona #540: Going to California…

vf540

Pra embalar a viagem.

Red Hot Chili Peppers +… Danger Mouse?

redhotchilipeppers

Ninguém duvida da força do Red Hot Chili Peppers – só que há uns 15 anos eles preferiram se tornar o novo Aerosmith em vez de continuar a constante evolutiva que marcou os 15 primeiros anos anteriores da banda. Mas agora uma novidade pode mudar esse horizonte, quando o baixista Flea twittou que eles estão no estúdio gravando seu próximo disco com ninguém menos que o produtor Danger Mouse.

fleatweet

Logo após postar o tweet, Flea o apagou, não a tempo de fugir do radar da revista Alternative Nation, que registrou o anúncio antes de ele ter sido deletado, e ainda linkou uma entrevista que o baterista do grupo Chad Smith deu à Rolling Stone gringa no fim do ano passado sobre o próximo disco em que ele menciona um “produtor anônimo”:

“The new album is shaping up good, man. We’ve got lots of songs, and we’re working with an unnamed producer who is really challenging us to find new ways to come up with new music. We’ve done the “guys get in the room and jam out songs, everybody playing together all at once” thing. And we wrote a bunch of songs that way. And we’re now going to try another method that will be really challenging for us and will bring new, exciting results for the band. We’ve written and recorded in a way that we’ve never done before, so the record is going great. We all have high hopes that it’s going to take off and we’re going to do something very different and unique for the Red Hot Chili Peppers.”

Não que Danger Mouse seja infalível. Por mais que seu toque de Midas tenha provocado hits e álbuns memoráveis ao lado de nomes como Rapture, Gorillaz, Beck, Black Keys e Norah Jones, além de suas próprias travessuras com o Gnarls Barkley, Danger Doom e o Broken Bells, lembre-se que ele é um dos produtores do Songs of Innocence do U2, um disco que ficou mais conhecido como spam do que como uma obra para ser ouvida. Mas tomara que ele consiga tirar algo dos Red Hot.

Ave John Frusciante: Toda a guitarra do BloodSugarSexMagik

johnfrusciante_bloodsugarsexmagik

Um dos discos mais importantes da adolescência da minha geração, BloodSugarSexMagik era o quinto disco do Red Hot Chili Peppers e o segundo com o prodígio mirim John Frusciante na guitarra. Se alguém tinha alguma dúvida que aquele adolescente chegava aos pés do guitarrista fundador da banda, Hillel Slovak (que morreu em 1987, antes das gravações de Mother’s Milk), em BloodSugarSexMagik Frusciante, então com 19 anos, exibe todo seu virtuosismo psicodélico, aprendido assistindo os próprios Red Hot ao vivo, anos antes. O resultado deste tour de force da guitarra elétrica foi isolado por um fã da banda e o resultado – de cair o queixo – pode ser conferido abaixo.

Vi no Bruno.

Red Hot Chili Peppers ♥ Donna Summer

E esse microcover que o Red Hot fez em homenagem à Donna Summer há cinco anos?

Uma entre as várias homenagens e celebrações à rainha da disco music feitas quando ela ainda era viva – Blondie, Underwold, Plump DJs, Beyoncé e Blondie foram outros que reverenciaram a influência de Summer em suas carreiras, como seleciona o Camilo.

E eu tou terminando um textinho sobre a importância dela pra nossa história…

Os melhores logos de bandas de todos os tempos

A lista é da Paste, não tem ordem (aparentemente), mas tem desde banda que eu nem conhecia a outras que eu nem sabia que tinham logo, passando por versões específicas de bandas que nunca tiveram logo fixo. Mas o pior é a sensação de achar que estão faltando alguns, quem lembra? E de artistas brasileiros?