Mais uma vez fui chamado pelo Toca UOL para escrever sobre música e desta vez o assunto foi a importância de um dos maiores nomes de nossa cultura, que completaria 80 anos se estivesse vivo neste sábado. Raul Seixas é mais do que a personificação do rock brasileiro e sua obra transcende discos e canções.
Finda a exposição sobre Ney Matogrosso, o MIS de São Paulo já anuncia sua próxima viagem: Raul Seixas! A primeira grande exposição dedicada ao rei do rock brasileiro conta com inúmeros itens do acervo pessoal do grão-mestre kavernista e supervisão familiar de Kika Seixas (ex-companheira de Raul) e Vivi Seixas (DJ e filha do maluco beleza). Ainda não há previsão de data de lançamento da mostra, mas o anúncio feito pelo museu oficializa o homenageado, figura imprescindível e única na história da música brasileira, infelizmente ainda visto como personagem menor, maldito ou picareta. A exposição vem corrigir essas impressões toscas e trata-o como o merece: um clássico nacional.
“Agora, vamos ver e ouvir um artista que, segundo ele, já transou com deus e o lobisomem. Ele vem da Bahia. Fez uma carreira rápida e cheia de sucessos marcados. Ele é Krig-ha, Bandolo! Ele é Ouro de Tolo! Ele é Mata Virgem! Abre-te Sésamo! Ele é Raul Seixas!”, assim a apresentadora da TV Cultura Aizita Nascimento anunciou a atração que encerraria o penúltimo dia do festival Música na Praia, que aconteceu na praia do Gonzaga, em Santos, no litoral paulista, entre os dias 7 a 14 de fevereiro de 1982, neste que seria um show histórico para a biografia do cantor, à época com parcos 38 anos. Com a mudança de ares da nova década, o bruxo baiano parecia ter sido ultrapassado e as vendas de seus discos caíam à medida em que as gravadoras, rádios e TVs pareciam ter perdido interesse em sua figura.
O festival santista traria shows de nomes consagrados (Erasmo Carlos, Benito di Paula, Zé Ramalho, Wanderléa) e novatos (Joanna, Roupa Nova, entre outros) e sua principal atração anunciada era Elis Regina, que morrera no dia 19 de janeiro daquele ano. A organização do festival preferiu não buscar nenhum outro nome para substituí-la (optando por um tocante momento em que um microfone era iluminado sozinho sem que houvesse mais ninguém no palco, enquanto tocava-se “Fascinação” no som do evento), o que tornou o show de Raul o mais disputado da semana. Reunindo mais de cem mil pessoas numa apresentação coalhada de hits (“Roque do Diabo”, “Trem das Sete”, “Abre-te Sésamo”, “Maluco Beleza”, “Al Capone”, “Sociedade Alternativa”, “Como Vovó Já Dizia”, “Aluga-se”, “Metamorfose Ambulante”, entre várias outras) , Raul fez um dos maiores shows de sua carreira que, por ter sido transmitido pela TV, acabou tornando-se um disco pirata clássico de sua discografia, item raro entre colecionadores atualmente.
“Essa época caótica que nós tamos vivendo aqui é prenúncio de um novo tempo! Tem que ser! A gente não para”, bradou no meio do show uma frase que poderia tranquilamente ser dita em 2023. A repercussão deste show fez com que Raul voltasse à boca das pessoas e no ano seguinte ele era contratado pela Rede Globo para compor a música-tema do especial infantil Plunct, Plact, Zuuum, tornando a faixa “Carimbador Maluco” seu primeiro grande hit da década. Se estivesse vivo, Raul, que morreu em 1989, completaria 78 anos e para comemorar o aniversário, o canal oficial do maluco beleza no YouTube disponibilizou a íntegra em vídeo deste show numa qualidade excelente tanto de som quanto de imagem. Por isso, toca Raul!
Imagine um festival reunindo Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethania, Elis Regina, Jorge Ben, Gilberto Gil, Nara Leão, Wilson Simonal, Vinícius de Moraes, Toquinho, Raul Seixas, Jair Rodrigues, Wilson Simonal, Erasmo Carlos, Jorge Mautner, Jards Macalé, Sergio Sampaio, MPB4, Wanderléa, Odair José e muitos outros artistas no auge da ditadura militar dos anos 70 — e também da chamada MPB? O Phono 73 aconteceu há 50 anos, quando, nos dias 11, 12 e 13 de maio de 1973, o Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo, foi inaugurado com este elenco estelar, que fazia parte da principal gravadora do gênero à época, a Phonogram, liderada pelo visionário André Midani. Foi ele que vislumbrou um festival em que os artistas nao competiam e sim colaboravam, gerando encontros históricos como o que fez Gil e Chico criar o hino antiditadura “Cálice” (que nao foi tocado por censura prévia, fazendo com que o baiano mostrasse a música dias depois no histórico show que fez na USP, poucos dias depois), que reuniu Caetano Veloso e Odair José para cantar a polêmica “Eu Vou Tirar Você Deste Lugar” (um dos primeiros hits do segundo, sobre prostituição) e colocou Gil e Jorge Ben para tocar juntos pela primeira vez a clássica “Filhos de Gandhi”. O festival foi registrado para se transformar em filme, mas infelizmente pouco mais de meia hora sobreviveu ao tempo. Felizmente esse pouco que sobrou foi parar no YouTube, para nossa alegria. Saca só.
Mais uma edição ao vivo do Vida Fodona para acompanhar a apuração da eleição – mais um Festa-Solo lá no twitch.tv/trabalhosujo nesta tarde de domingo.
Kylie Minogue – “Magic”
Konk – “Your Life”
Talk Talk – “It’s My Life”
Criolo – “Bogotá”
Bixiga 70 – “Pedra de Raio”
Metá Metá – “Corpo Vão”
Letuce – “Quero Trabalhar Com Vidro”
Boogarins – “Foimal”
Rincon Sapiência – “Crime Bárbaro”
Stevie Wonder – “All Day Sucker”
Last Poets – “It’s a Trip”
Meters – “Tippi Toes”
Cymande – “Brothers On The Slide”
Curtis Mayfield – “Superfly”
Marvin Gaye – “I Heard It Through The Grapevine”
Creedence Clearwater Revival – “I Heard It Through The Grapevine”
Amy Winehouse + Paul Weller – “I Heard It Through The Grapevine”
Slits – “I Heard It Through The Grapevine”
Yoko Ono – “Walking On Thin Ice”
Waterboys – “The Whole Of The Moon”
Velvet Underground – “Foggy Notion”
Os Cascavellettes – “O Dotadão Deve Morrer”
Raul Seixas – “A Verdade Sobre A Nostalgia”
Hüsker Dü – “Pink Turns to Blue”
Sonic Youth – “Skip Tracer”
Buzzcocks – “What Do I Get?”
Sebadoh – “Pink Moon”
Pixies – “Monkey Gone To Heaven”
Neil Young & Crazy Horse – “Powderfinger”
Legião Urbana – “Heroes”
Lulina – “Birigui”
Pavement – “Gold Soundz”
Elastica – “Connection”
Olivia Tremor Control – “Hideaway”
Big Star – “Down the Stret”
Jimi Hendrix Experience – “Still Raining, Still Dreaming”
Bob Dylan – “Just Like Tom Thumb’s Blues”
Bárbara Eugenia – “Cama”
Pink Floyd – “San Tropez”
Beck – “So Long, Marianne”
Courtney Barnett & Kurt Vile – “Over Everything”
Blur – “End Of A Century”
Billie Eilish – “All The Good Girls Go To Hell”
Angel Olsen – “Too Easy”
PJ Harvey – “The Dancer”
Paulinho da Viola – “Dança da Solidão”
Beatles – “Cry Baby Cry”