1° de novembro – O lançamento da revista Billboard, o dia que o mundo conheceu o disco Abbey Road, a morte de Yma Sumac e o aniversário de Pabllo Vittar
2 de novembro – Carly Simon lança “You’re So Vain”, a primeira vez do termo “Beatlemania” é a prisão do pai de Marvin Gaye
3 de novembro – “Ice Ice Baby” levando o rap ao topo das paradas pela primeira vez, a volta dos Righteous Brothers e censura a shows de rock!
4 de novembro – Os Beach Boys lançam “Good Vibrations”, My Bloody Valentine lança o Loveless e morre Fred “Sonic” Smith
5 de novembro – Aniversário de D2, Thaíde e Mr. Catra, a estreia do programa de Nat King Cole e a morte de Link Wray
6 de dezembro – Taylor Swift lança 1989, os Sex Pistols estreiam ao vivo (por dez minutos!) e os Monkees lançam um filme lóki
7 de novembro – O nascimento de Ary Barroso, o último show de Aretha Franklin e a morte de Leonard Cohen
8 de novembro – O lançamento do quarto disco do Led Zeppelin, David Bowie no programa da Cher e o filme que deu um Oscar pro Eminem
9 de novembro – É lançada a revista Rolling Stone, o disco 36 Chambers do Wu-Tang Clan, John conhece Yoko e Bowie toca ao vivo pela última vez
10 de novembro – A gravação do clipe de “Bohemian Rhapsody”, o primeiro rap a entrar na lista dos mais vendidos e Chaka Khan com Prince, Stevie Wonder e Melle Mel
11 de novembro – John & Yoko lançam Two Virgins, Bill Haley chega ao topo das paradas e Dylan lança seu primeiro livro
12 de novembro – Madonna lança o disco Like a Virgin, o estúdio Abbey Road é fundado e o Velvet Underground faz seu primeiro show
13 de novembro – Atentado terrorista no show do Eagles of Death Metal, “Feelings” ganha o disco de ouro e morre Ol’ Dirty Bastard
14 de novembro – Michael Jackson lança o clipe de “Black Or White”, Ray Charles chega pela primeira vez ao topo e Pete Townshend assume que é bissexual
15 de novembro – Empresário do Milli Vanilli assume que dupla é uma fraude, Janis Joplin é presa por xingar um guarda e os Dire Straits dominam as paradas
16 de novembro – A morte de Candeia, a prisão do baterista do Clash e os Stones tocam na festa privê de um bilionário
17 de novembro – Morre o maestro Heitor Villa-Lobos, o primeiro disco das Spice Girls e Patti Smith ganha o National Book Award
18 de novembro – Genesis lança o clássico The Lamb Lies Down on Broadway, morre Danny Whitten da Crazy Horse de Neil Young e o Nirvana grava seu Acústico MTV
19 de novembro – Michael Jackson pendura o filho bebê na varanda, Carl Perkins grava “Blue Suede Shoes” e Zappa conclui sua ópera Joe’s Garage
20 de novembro – Keith Moon passa mal e fã termina o show tocando bateria com o Who, Isaac Hayes chega ao topo e Bo Diddley é banido da TV
21 de novembro – A morte de Peter Grant, o empresário que fez o Led Zeppelin acontecer, Olivia Newton John emplaca “Physical” e os Beatles lançam Anthology
22 de novembro – A morte acidental do líder do INXS, Michael Hutchence, o início da carreira de Simon & Garfunkel e Pearl Jam apenas em vinil
23 de novembro – Jerry Lee Lewis é preso após baixar armado na casa de Elvis Presley, Pink Floyd nas paradas de sucesso e morre Adoniran Barbosa
24 de novembro – Morre Freddie Mercury, Howlin’ Wolf toca na Inglaterra e o Crowded House encerra suas atividades
25 de novembro – Estreia Guarda-Costas o filme que catapultou a carreira de Whitney Houston, surge a primeira gravadora online e morre Nick Drake
26 de novembro – O clube Haçienda é leiloado, o Cream faz seu último show e Richey Edwards, dos Manic Street Preachers, é declarado morto
27 de novembro – O clipe de “Justify My Love” é banido da MTV, Hendrix comemora aniversário num show dos Stones e o Pavement termina ao vivo
28 de novembro – John Lennon toca pela última vez ao vivo (ao lado de Elton John), Kurt Cobain zoa o Top of the Pops e Britney dá a volta por cima
29 de novembro – O fenômeno Susan Boyle cumpre a promessa em seu primeiro álbum, morre George Harrison e Taylor Swift substitui a si mesma no topo
30 de novembro – Morre Cartola, Michael Jackson lança Thriller, Madchester chega ao Top of the Pops e Joey Ramone vira um quarteirão em NY
O melhor disco dos Ramones completa quatro décadas de existência – escrevi sobre o disco no meu blog no UOL.
Quando Rocket to Russia, o terceiro disco dos Ramones, foi lançado no dia 4 de novembro de 1977 – há exatos 40 anos -, o grupo sabia exatamente o que queria. O álbum aperfeiçoava uma fórmula que o quarteto nova-iorquino vinha trabalhando desde antes de seu explosivo disco de estreia e que chegava ao auge naquele conjunto de canções. O disco também foi atropelado pelo disco de estreia dos Sex Pistols (o caótico Never Mind the Bollocks, lançado na semana anterior), o que desvirtuou completamente o conceito que o grupo nova-iorquino havia criado ao redor daquele novíssimo gênero chamado “punk rock”.
Porque Rocket to Russia, ao contrário de Never Mind the Bollocks, não era um disco de ruptura, muito pelo contrário. É o disco em que os Ramones sublinham que sua sonoridade tosca e agressiva não era negação do som que haviam crescido ouvindo e sim uma forma de retomar valores essenciais do cânone clássico do rock’n’roll que haviam se perdendo entre sinfonias de rock progressivo, solos virtuosos de bandas de hard rock e baladas adocicadas cantaroladas por cantores-compositores. Ao mesmo tempo é o disco que melhor captura a dinâmica sonora do grupo, consagrando seu formato para a eternidade – e reúne um cardápio repleto de canções clássicas a ponto de rotineiramente ser confundido com uma coletânea de melhores músicas da banda.
Rocket to Russia começa no primeiro semestre de 1977, quando o grupo lança o single “Sheena is a Punk Rocker” com “I Don’t Care” no lado B. As duas músicas haviam sobrado do disco anterior (o segundo álbum, Leave Home) e pareciam consolidar a geração que foram pioneiros. Dois anos antes, o grupo havia sido uma das principais bandas a puxar um cordão de novos grupos ao redor do bar de motoqueiros CBGB’s (descoberto pelo Television) e funcionava como um ponto em comum entre grupos tão diferentes quanto o grupo de Patti Smith, o ainda trio Talking Heads, o Stilettoes que num futuro próximo mudaria seu nome para Blondie e o próprio Television. Dois anos depois, as quatro bandas tinham contratos com gravadoras estabelecidas e discos lançados, o que provocava uma sensação num círculo específico de Nova York de que a cidade vivia uma cena tão mágica quanto a da Londres dos primeiros dias dos Beatles ou de São Francisco no início da psicodelia.
Os Ramones eram, de longe, o grupo mais coeso daquela cena – e sua coesão vinha justamente de sua simplicidade: músicas curtas, temas diretos, letras na cara do ouvinte, poucos acordes em uma parede de som. Eram também sucintos visualmente – o uniforme camiseta, jaqueta de couro, calça jeans rasgada e tênis fortaleciam aquela personalidade única que criavam ao se batizarem com um sobrenome (de um pseudônimo usado por Paul McCartney no início dos Beatles) e se rebatizarem todos com aquele sobrenome. Eram uma banda mas também um grupo de irmãos ou de clones e não importavam qual era sua função na banda, todos soavam idênticos: crus, diretos, barulhentos mas com uma pequena dose de melodia.
O grupo também sabia de sua influência para além de Nova York. Ao visitar Los Angeles e Londres em duas curtas turnês em 1976, o grupo pode entrar em contato com os principais grupos punk daquelas cidades e sua materialização parecia confirmar para os outros que era possível embarcar naquela onda contracultural que pregava os valores do faça-você-mesmo e a necessidade de se expressar de forma urgente. Os Ramones estavam no olho do furacão do movimento punk global e sabiam exatamente de sua importância.
Tanto que ao lançar o compacto de “Sheena is a Punk Rocker” e “I Don’t Care” eles pareciam determinar suas principais diretrizes. De um lado consolidavam o gênero pelo nome, registrando pela primeira vez o termo “punk rock” em disco. A nova faixa também fazia uma improvável concessão aos Beach Boys, repetindo uma fórmula eternizada pelo grupo dos irmãos Wilson só que com o dobro da velocidade e o triplo do peso. O lado B, por sua vez, reforçava a crueza estética, tanto pelos mínimos acordes (surrupiados, anos mais tarde, pelo Legião Urbana para compor a base de sua “Que País é Esse?”), quanto pela mensagem, um foda-se generalizado para tudo e para todos.
Com aquele primeiro disquinho os Ramones reforçavam que sabiam que o som que faziam era uma nova tendência, não pertencia apenas a eles. E ao reforçar o lado bubblegum anos 60 com o hit “Sheena is a Punk Rocker” eles aos poucos mostravam que pertenciam à história do rock e não haviam aparecido para encerrá-la.
E foi com esse espírito que entraram no Media Sound Studios para registrar seu terceiro disco. As gravações de Rocket to Russia – que começou a ser gravado com o nome de Get Well – começaram em agosto daquele ano e, além de regravar as duas músicas que haviam lançado anteriormente como single, eles tinham algumas cartas na manga. Uma delas, no entanto, apareceu de uma hora para outra, quando puderam ouvir a parede de guitarras do segundo single dos Sex Pistols, “God Save the Queen”. Mostraram para o engenheiro de som do disco, Ed Stasium, com a incumbência de soar mais barulhento que o grupo inglês. “Sem problemas”, disse o técnico, que foi o produtor efetivo do álbum, apesar dos créditos listarem Tony Bongiovi e Tommy Ramone neste papel.
Entre as armas secretas estavam três versões de músicas antigas, que sublinhavam que o grupo sabia de onde vinha aquela sua sonoridade. Além da vibe contagiante de “Sheena is a Punk Rocker”, o grupo ainda trouxe para o disco pérolas dos anos 60 como “Surfin’ Bird” (dos Trashmen), “Do You Wanna Dance?” (de Bobby Freeman) e “Neeedles and Pins” (gravada pelos Searchers). Sem muita dificuldade os Ramones transformaram aquelas versões em suas e fizeram as versões definitivas para todas elas (mesmo que “Needles and Pins” não tivesse entrado na edição final, vindo aparecer apenas no disco seguinte, Road to Ruin).
Várias outras músicas de Rocket to Russia refletiam aquela sonoridade sessentista, como a balada de bailinho “I Wanna Be Well”, “Rockaway Beach” (puro turma da praia), “Ramona” (que ainda transformava o grupo em personagens, quando Joey apresentava os integrantes da banda como se fosse um tema de desenho animado), “I Can’t Give You Anything” (que poderia ter sido composta pelo The Who) e “Here Today, Gone Tomorrow”. Juntas com esporros punk como o hino “Cretin Hop”, “We’re a Happy Family” e a perfeita “Teenage Lobotomy”, aquelas faixas reforçavam que Rocket to Russia não queria apagar a história do rock para escrever a sua e sim colocar-se no cânone do rock clássico em que eles achavam que pertenciam.
E no disco em que melhor traduziram sua sonoridade (e que quase foi produzido por Phil Spector, que começou a paquerar o grupo naquela época), os Ramones também se eternizaram como ícones da história do rock. Rocket to Russia sabe da própria importância e ela se encontra tanto no todo como em seus detalhes (a foto da capa foi feita pelo mesmo Danny Fields que os descobriu dois anos antes, as ilustrações da contracapa e do encarte foram feitas pelo ilustrador do fanzine Punk, John Holmstrom). É o disco que consolida os Ramones como o principal agente do punk e também sua obra-prima. Além de ser um disco divertido – e engraçado – pra cacete.
O ano está chegando ao fim e eu aproveitei pra recapitular 2016 a partir de post que fiz no meu blog no UOL durante estes 365 dias.
Não vou tentar resumir tudo que aconteceu em 2016 num único post: vou me ater ao que foi assunto nos últimos doze meses aqui neste blog, que está prestes a completar dois anos aqui no UOL. Em vez de fazer uma relação de melhores discos, filmes ou séries, vou me ater a separar o que achei de melhor e de pior no ano que está chegando ao fim. Entre os piores momentos estão inevitavelmente algumas das mortes que ajudaram a temperar este ano tão complicado, mas que também trouxe grandes momentos para uma cultura em plena transformação. Separei um parágrafo do texto original de cada item escolhido e o título do item linka para o post específico, caso você não o tenha lido quando eu escrevi. De brinde, reuni os textos de 10 discos clássicos que comemoraram aniversário este ano. As três listas seguem o mesmo padrão de contagem regressiva.
Os 10 melhores de 2016
“Rua Cloverfield, 10 é da escola de filmes de terror que flertam com o pop e experimentalismo cinematográfico ao mesmo tempo, como Psicose, O Despertar dos Mortos, O Massacre da Serra Elétrica, Bruxa de Blair, O Homem de Palha, o espanhol [REC] e A Morte do Demônio – embora não seja propriamente um filme de terror. Não é uma obra-prima com algum dos filmes que citei e chafurda na vulgaridade B da literatura pulp e dos seriados dos anos 60 que tanto encantam J.J. Abrams (sua conclusão é o melhor exemplo disso). Mas suas atuações convencem o espectador e a direção transcende o trivial teatro filmado, com closes fortes e ritmo crescente.”
9) Capitão América – Guerra Civil
“A Marvel vai mostrando a cara de sua nova fase. Não é necessariamente um universo mais sombrio e opressor como os sinais dados pelas séries em parceria com o Netflix davam a entender. O novo filme aproxima o universo Marvel da realidade, deixando-o menos infantilizado e mais adulto. Mas isso não quer dizer que o tom seja sério e que não há espaço para o humor – muito pelo contrário. O humor agora não é feito mais para rir e sim para aliviar as cenas de tensão e de ação, dividindo a audiência do filme entre a apreensão calada e a comemoração sorridente. Cenas como a do Visão falando sobre comida, a do Homem Formiga conhecendo os outros heróis ou as piadinhas do Gavião Arqueiro ajudam a quebrar o gelo ao mesmo tempo em que mostram uma outra forma de encarar os super-heróis. Mas nada pode nos preparar para o Homem-Aranha.”
“Em seus dois últimos episódios, a quarta temporada de House of Cards abandona qualquer resquício de fraqueza que havia mostrado nos episódios anteriores e ressurge grandiosa, operática, bélica. O drama shakespereano dá lugar a um mosaico político que faz Maquiavel e Sun Tzu sentarem-se em um xadrez brutalmente tenso, impassível entre bombas, metafóricas ou literais. E o gesto final de Underwood trava a temporada num impasse moral que desnuda completamente o jogo político e pode fazer a próxima temporada ser a última da série (embora ninguém tenha confirmado isso). O fato da temporada começar com uma cena de masturbação em uma cela na cadeia e terminar com um assassinato e uma cena de tortura psicológica coletiva diz muito sobre o tom da temporada.”
7) Novos Baianos e Wilco (empatados)
“Era claro que a noite era voltada para 1972 e os grandes momentos foram os daquele disco. E se Paulinho brilhou nas delicadas “Mistério do Planeta” e “Swing de Campo Grande”, Baby e Pepeu se reencontravam como um casal musical nos solos rasgados de “A Menina Dança” e “Tinindo Trincando”, como fizeram em seu emocionante reencontro no Rock in Rio do ano passado. O único senão era a voz de Moraes Moreira, que não possui aquele antigo doce timbre e em alguns momentos soa sofrível, chegando quase a estragar “Preta Pretinha”. Felizmente, num dos principais momentos da noite, ele canta num tom abaixo e sua volta por um instante a sintonizar com seu timbre do passado – e a faixa que batiza o álbum clássico foi um dos momentos mais tocantes de toda a noite.”
“Ao lado de Jeff (Tweedy), o guitarrista Nels Cline é o franco-atirador da banda, que eleva o título de guitar hero a um nível de pós-doutorado. Cline sozinho é um show à parte e seus solos traçam uma conexão clara entre Tom Verlaine e Neil Young, ampliando horizontes a cada nota sangrada no palco. O guitarrista Pat Sansone – outro guitar hero – é uma espécie de arma secreta do grupo, revezando-se entre teclados, guitarra, banjo e vocais de apoio. O pulso firme do baterista Glenn Kotche certifica-se que está tudo sob controle enquanto o tecladista Mikael Jorgensen prepara a atmosfera necessária para cada canção. Isso sem contar o desfile de guitarras (são 70 instrumentos de cordas, entre guitarras, baixos e violões), um deleite para os fãs do instrumento, e o apreço pelo detalhe – se eles quisessem que ouvíssemos o som de uma agulha caindo no palco ouviríamos. O som, outro ponto alto desta pequena turnê, estava tão cristalino quanto no Rio.”
6) Dr. Estranho
“É o filme mais maduro da Marvel até agora e, coincidentemente, sua produção mais psicodélica. Toda aura mística e espiritual do médico que sofre um acidente que o impossibilita de continuar seu trabalho era traduzida em imagens grandiosas e espetaculares nos quadrinhos, publicados principalmente na virada dos anos 60 para os anos 70, auge da experimentação lisérgica da cultura pop. Os autores da Marvel do período – especificamente Steve Dikto, que recebe o crédito de autoria do personagem do novo filme – aproveitavam cores e formas para expandir os limites dos quadrinhos em páginas duplas épicas, cheias de detalhes.”
5) Stranger Things e Coquetel Molotov 2016 (empatados)
“E esse é o grande segredo da série – não é apenas uma coletânea de referências, é uma história bem contada. Não é uma história nova (qual história é propriamente nova?), mas Stranger Things não cai no erro de Vinyl de achar que basta ambientar bem um período e transformar arquétipos em personagens para que as coisas funcionem sozinhas. A motivação de todos os personagens é bem definida e seus atores estão muito à vontade nestes papéis, mesmos aqueles com menor envolvimento com a trama principal (o núcleo adolescente, por exemplo, mereceria uma série própria). Só o Brenner de Mathew Modine que é mal explorado e um personagem que pode ser tão profundo quanto o Walter Bishop de Fringe vira só um vilão do Scooby-Doo. Talvez tenham guardado seus segredos para uma segunda temporada, que parece inevitável.”
“Um quarto de século depois dos primeiros rascunhos do mangue beat, a décima terceira edição do festival pernambucano Coquetel Molotov foi a materialização daquela utopia imaginada no início dos anos 90, quando os primeiros agitadores culturais que criaram aquele movimento hoje histórico começaram a se conhecer. Eles imaginavam uma Recife conectada ao resto do estado, do país e do mundo sem fazer escalas pela ponte Rio-São Paulo, refletindo a atmosfera naturalmente moderna da capital pernambucana em uma conversa internacional e moderna, colocando artistas e público numa sintonia alheia às demandas ou exigências do mercado.”
4) Bowie – ★
“Todo o simbolismo e o hermetismo que Bowie havia colocado em seu vigésimo quinto álbum foi revelado com a notícia de sua morte na manhã da segunda-feira passada. Soubemos que Bowie já vinha se tratando em relação a um câncer por dezoito meses e que gravou o disco como um testamento para os fãs. Daí a ausência da capa. Eis a estrela negra – a própria morte. Encenada e transformada em arte.”
3) Rogue One
“É um filme de guerra, com cenas de batalhas espetaculares, mas também um filme sobre um universo em expansão: na primeira meia hora somos apresentados a paisagens e planetas novíssimos, que em breve serão habitados em filmes futuros. Mas também há doses pesadas de emoção – dá pra segurar o choro em pelo menos duas cenas – e a palavra de ordem é esperança. Esperança não apenas para o futuro da história nos filmes (afinal, ele antecede a primeira trilogia, iniciada em 1977), mas também para o rumo que a Lucasfilm está levando sua série. E prepare-se para a terceira parte do filme, que ela é de tirar o fôlego – em vários momentos.”
2) Westworld
“E a HBO conseguiu mais uma vez. Westworld vem superando todas as expectativas, episódio a episódio, e caminha para se tornar o grande evento da TV em 2016, fazendo a emissora recuperar-se do fiasco que foi a primeira temporada de Vinyl e a promissora mas fria The Night Of. Um enorme quebra-cabeças magistralmente montado em frente aos nossos olhos, intercalando a frieza de máquinas com o calor do velho oeste norte-americano, reinventando completamente uma premissa simples de um filme dos anos 70 para o século 21 e enfileirando monólogos magistrais, atuações impecáveis, cenas intensas, diálogos esclarecedores, teorias complexas e revelações sensacionais.”
1) Radiohead – A Moon Shaped Pool
“Mesmo que não seja seu último disco (torço que não seja), A Moon Shape Pool entra para a discografia da banda como seu disco mais maduro e mais apaixonado, mesmo que estas paixões venham corroídas. É um disco suave e tenso ao mesmo tempo, de sonoridade grandiosa recolhida em pequenos frascos de som. Por vezes soa folk, por outras árcade e o tempo todo nos conduz com o coração. Mais um disco perfeito produzido por uma banda que segue no auge há vinte anos.”
Os 10 piores de 2016
“No fim, Esquadrão Suicida parece ser uma versão dos Guardiões da Galáxia vivida pelo Slipknot (nome, aliás, de um dos supervilões secundários). É intenso, é barulhento, faz rir e passar raiva como uma criança birrenta – porque no fundo, ele é só isso: um filme bobo. Tem bons momentos (nenhum deles com o Ben Affleck), mas não vale o preço do ingresso no cinema – nem no pay per view. Espera passar na TV, que é o lugar certo pra um filme desses – faz o tempo passar, dá pra ir no banheiro ou para a geladeira sem precisar apertar o pause ou dormir no meio sem culpa. Ou seja, é melhor que Batman vs. Superman.”
9) Vinyl
“Usar uma gravadora como ponto de observação daquela década parecia tão apetitoso quanto assistir às transformações da década anterior a partir de uma agência de publicidade (a premissa da excelente Mad Men). O problema é que, pra começar, Vinyl usava isso apenas como pano de fundo. Misturava biografias e mitologias diferentes em uma narrativa que parecia sofrer dos principais problemas da década. Só quem se beneficiava era a trilha sonora e a direção de arte (que também sofria do exagero da década). Todo o resto era humilhantemente constrangedor.”
8) O fim da tira Chiclete com Banana
“Desligar Chiclete com Banana é uma forma de manter-se vivo. Se continuasse, Angeli poderia ficar ainda mais existencialista e a acidez do passado iria dissolver-se num eterno amargor que começaria a lhe fazer mal. A nos fazer mal. Mal, com letra maiúscula. Felizmente, ele percebeu a tempo de fechar o ciclo. E, com o fim de um ciclo, começa outro – será que agora vamos ver graphic novels ou telas imensas feitas por um sujeito que começou desenhando nas páginas de jornal? Grandes artistas passam por grandes mudanças, algumas vezes sem ter a consciência disso, e conseguem se superar mudando completamente o ritmo do próprio trabalho – Picasso, Rothko, Chuck Close, Lichtenstein, Crumb. Talvez o fim de Chiclete com Banana dê início a uma nova fase para Angeli. Estou na torcida.”
“Não perca seu tempo nem seu dinheiro vendo este filme. Não recomendo nem que você espere passar na TV aberta para assisti-lo dublado. Porque é um dos piores filmes deste século, tranquilamente. Mas eu sei, você é fã de quadrinhos e fã de filmes de super-herói e vai pagar pra assistir a esse filme no cinema, mesmo com todos os pés atrás possíveis. A gente precisa ver pra ter certeza que não estragaram essa mitologia que crescemos vendo, afinal gastaram tanto dinheiro com isso, né? Não pode ser tão ruim. Pois pode. Pode e é. É o cúmulo do lixo filmado, tudo que está errado em Hollywood atualmente, mais um filme de ação hiperbólico rodando em falso. Mas não mata o gênero super-herói nos cinemas, especialmente se a Warner tirar Zack Snyder da jogada.”
“Mais uma vítima deste trágico 2016, George Michael, que morreu no dia de Natal, aparentemente parece não pertencer ao mesmo panteão dourado que reuniu David Bowie, Prince e Leonard Cohen com o passar do ano. Mas, sim, o jovem de parcos 53 anos é um ícone de semelhante estatura. O que talvez tenha a ver com a natureza de sua musicalidade – compositor refinado e popular ao mesmo tempo (características quase excludentes hoje em dia), ele exaltou as culturas dance e gay e ele elevou a música pop a outro patamar.”
“Não há, no entanto, tristeza, nem lamento, nem arrependimento, nem dor. Velho desde jovem, Cohen morre tão enfático, decidido e sutil quanto em seus primeiros discos, uma alma quase fantasmagórica que agora vive para sempre em uma curta (14 discos em quase meio século) mas profunda obra. Por isso não chore. Não ceda às emoções. Não entregue-se ao pessimismo. A morte de Leonard Cohen era tão certa quanto foi seu nascimento. Não sofra por um futuro sem ele, iríamos viver isso. Aproveite este último capítulo para celebrar sua existência e comemorar a sua própria maturidade.”
“O barateamento das tecnologias de gravação, o surgimento do hip hop e da música eletrônica e a excelência dos atuais programas digitais de edição de som permitiu que as gerações de produtores seguintes se inspirassem no legado de Martin com os Beatles e fossem além. Hoje há pelo menos três gerações de músicos que não tocam instrumentos musicais e sim outros músicos – um espectro gigantesco que abrange Brian Eno, Dr. Dre, Teo Macero e Lee Perry, que ainda inclui multiinstrumentistas como Prince e Brian Wilson – que deve sua existência ao casamento pioneiro entre os Beatles e George Martin. São dois legados diferentes que se misturam, mas igualmente importante para a cultura atual: o do grupo e o do produtor.”
“Não era mais uma donzela em pânico esperando ser salva por seu herói, mas ela mesma era uma heroína e fazia parte da gangue. E em Carrie Fisher a personagem cresceu significamente – ao ser interpretada por uma atriz nascida no showbusiness (filha do cantor Eddie Fisher e da atriz Debbie Reynolds), a personagem ganhava uma dose de cinismo, arrogância e despeito que nunca estiveram em uma personagem mulher num filme que atingira um público tão grande. Ela era herdeira direta das protagonistas dos filmes da nouvelle vague francesa: Luke, Leia e Han Solo pareciam ser uma versão norte-americana do trio protagonista do Jules e Jim de Truffaut e uma frase do próprio Godard (“Tudo que você precisa em um filme é de uma garota com uma arma”) é a base para sua presença na tela durante os três primeiros filmes da saga Skywalker. E, claro, assistir as transformações sociais do mundo nos anos 60 ainda criança fez que ela levasse aqueles valores para um personagem que iria mudar a forma como as mulheres se viam fora do cinema.”
“Era uma versão masculina da Madonna que tocava todos os instrumentos que queria aprender, um George Clinton que pilotava uma espaçonave sexual, inventor de um funk sintético recheado de soul music e coberto pela estética do rock. Ele ajudou a soul music e a discoteca a se transformarem no R&B moderno ao acompanhar a evolução apontada pelo hip hop tocando instrumentos em vez de discos. Um explorador sônico que usava timbres eletrônicos como desculpa para desbravar ambientes musicais improváveis – e grudentos.”
“Bowie transformou a sensação de estranhamento que todos nós sentimos – em maior ou menos escala – em grande arte. Estranhamento em relação ao mundo, à sociedade, à vida, a si mesmo. Contemporâneo da geração de ouro da história do rock (era cinco anos mais novo que Paul McCartney, dois anos mais novo que Pete Townshend e Eric Clapton), ele chegou tarde nos anos 60 para garantir presença no panteão que mudou a história da cultura ocidental. Mas não sem motivo. Ao lançar a própria carreira no final da década do rock clássico, ele a sincronizou com um momento único na história da humanidade e fez-se notar pela primeira vez lançando uma música sobre a solidão no espaço sideral e o olhar frio e distante sobre o planeta, a Terra, o mundo, nós mesmos.”
Dez discos clássicos que fizeram aniversário em 2016
“Sem pretensões mercadológicas, planos de negócios, shows em estádios ou discos de diamante, o Teenage Fanclub conseguiu sintetizar a essência da canção pop em um disco ousado por sua despretensão e marcante por sua simplicidade. Doce e direto, Bandwagonesque sobrevive não apenas como um registro do início do fim da era da canção ou como souvenir nostálgico daquele período, mas como um disco de música pop deveria soar, por definição. Essencialmente humano.”
9) 40 anos do primeiro disco dos Ramones
“A essência dos Ramones era sua unidade: tudo soava como uma coisa só. Não importavam os instrumentos, baixo, guitarra e bateria seguiam o mesmo ritmo. Os temas das músicas menos ainda – podiam estar cantando sobre nazismo ou sobre dançar, o tom era sempre o mesmo. As músicas pareciam as mesmas e duravam dois minutos cada. Os músicos pareciam o mesmo e seguiam mal encarados independentemente da reação da plateia. O baixista gritava “1-2-3-4″ e as músicas começavam com a mesma grosseria que terminavam. Os Ramones eram repetitivos, monótonos, barulhentos, ameaçadores – essa era sua magia. Aos ouvidos do século 21 os Ramones soam quase inofensivos, mas no meio dos anos 70 era o patinho feio, uma mancha grosseira na bela paisagem do rock de então. Foram eles que plantaram a semente que mudou tudo.”
“Foi aí que a ficha caiu: a brecha havia rompido o muro. A partir dali a indústria fonográfica e as rádios começaram a perder o controle (mesmo transformando a geração do Nirvana em uma cena comercial, tal como o proverbial bebê engolindo a isca da capa do disco) e as pessoas começaram a conhecer mais músicas. A partir de Nevermind, a brecha, que era um segredo, tornou-se pública e o mundo descobriu o submundo do pop quando ele já era adulto. O Nirvana era só o caçula daquele novo mercado que começaria a transformar completamente a cara do pop a partir dos anos 90. Quando o computador chegou pra facilitar a gravação de discos em casa e a internet chegou para facilitar distribuí-los, toda aquela safra de novos artistas que alimentaria aquele novo sistema já estava pronta. E a música nunca mais seria a mesma.”
“Por toda sua extensão Loveless é um sonho tocado no último volume. O estranho assobio produzido pela forma de tocar guitarra de seu líder Kevin Shields é apenas um dos elementos únicos que definem a banda, como a onipresente parede elétrica de microfonia anestesiada, os doces vocais que sussurram no abismo, o acúmulo de instrumentos, a presença quase sutil de uma bateria montada na pós-produção, em loop eletrônico, o efeito entortado que o uso da alavanca de tremolo dá aos acordes secos e multiplicados, as eventuais ondas de ruído que parecem funcionar como abóbodas de catedrais.”
6) 25 anos de BloodSugarSexMagik
“Todas as faixas daquele novo disco duplo de quase 75 minutos repensavam o delírio adolescente e fazia a banda confrontar os dilemas da vida adulta – principalmente de natureza espiritual e sentimental. Faixas como “Breaking the Girl” e “I Could Have Lied” mostravam um Red Hot Chili Peppers gravando baladas pela primeira vez e um poema de Kiedis encontrado amassado no chão por Rick Rubin foi transformado em um dos grandes carros-chefe da banda, a balada anti-heroína “Under the Bridge”.”
“”Este é um dia lindo… Um novo dia…”, bradava o reverendo sobre uma base borbulhante, “Nós estamos juntos… Nós estamos unidos… E todos de acordo… Porque quando estamos juntos temos força… E podemos tomar decisões… No programa de hoje ouviremos gospel e rhythm & blues e jazz. São apenas rótulos. Sabemos que música é música”, formalizando Screamadelica como um novo artefato pop: um disco de protesto para dançar e viajar, sintetizado neste discurso sampleado. Uma lição que não tem idade – seja em 1956, 1967, 1972, 1978, 1991, 2016 ou em qualquer outra época – afinal, se Jesse Jackson nos lembra que tudo é música, a própria psicodelia e o Primal Scream, também nos lembram que o tempo não existe.”
4) 30 anos de The Queen is Dead
“Foi assim que os Smiths abriram um caminho alternativo para o rock, quase trinta anos após sua criação nos anos 50. No momento em que o aspecto guerreiro e trovador do formato se transformava em caricatura ou em algo pior – um mero produto -, o grupo inglês reanimou aquela formação musical para que ela pudesse persistir por mais algumas décadas, apontando para valores considerados secundários no gênero, como a sensibilidade, a timidez, a revolta interior. Um legado imensurável.”
“Mesmo que o disco tenha azedado sua relação com seu primo Mike Love, causando o principal cisma na história do grupo, ele é o ápice da carreira de Brian Wilson e dos Beach Boys. A provocação foi entendida pelos Beatles do outro lado do Atlântico, quando Paul McCartney – nascido apenas dois dias antees que Brian – ouviu o disco com a mesma sensação que Brian ouvira Rubber Soul, provocando-o a ser ainda mais ousado com os Beatles, o que lhe fez criar o conceito do disco Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band, lançado em 1967. Foi apenas um entre os vários artistas influenciados por um disco que foi crucial na transformação que aconteceu nos anos 60 e até hoje faz novos fãs – e que, sem exagero, mudou a cara do pop, que teve no álbum a certeza de que era possível ser mais artístico, autoral e comercial ao mesmo tempo.”
2) 50 anos de Blonde on Blonde
“São músicas que estão entre as grandes músicas daquele período, independentemente do gênero musical, e, em sua maioria, clássicos do século passado. Da jocosa “Rainy Day Women #12 & 35″ – que abre o disco como uma banda marcial chapada, com Dylan repetindo o trocadilho raso “everybody must get stoned” às gargalhadas, em que brincava com o duplo sentido da palavra “stoned” (apedrejado ou chapado) – à pesarosa “Sad Eyed Lady of the Lowlands”, que ocupa todo o último lado do segundo disco, somos apresentados a um desfile tão impressionante de músicas boas que parece inacreditável que pertençam a um mesmo disco: “Pledging My Time”, “Visions of Johanna”, “One of Us Must Know (Sooner or Later)”, “I Want You”, “Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again”, “Leopard-Skin Pill-Box Hat”, “Just Like a Woman”, “Most Likely You Go Your Way and I’ll Go Mine”, “Temporary Like Achilles”, “Absolutely Sweet Marie”, “4th Time Around” e “Obviously 5 Believers” estão todas entre as melhores canções de Dylan e em todas ele consegue equilibrar a autoridade e altivez da arte com a força e crueza do rock.”
“A experimentações iam para todos os lados. Solos de guitarra invertidos, canções gravadas em uma velocidade e tornadas mais lentas no estúdio, instrumentos eruditos e estrangeiros, colagens e efeitos sonoros, metais, percussão, microfones colocados em lugares inusitados, cordas inspiradas nos filmes de Truffaut e Hitchcock, letras sobre drogas, morte, sonhos, impostos e um submarino amarelo. Sonatas perfeitas, saudações à vida, composições inspiradas pelos Beach Boys, por Bob Dylan e LSD, romances críveis, palavras de ordem, sentimentos expostos e uma viagem à Índia. Três músicas de George Harrison e uma cantada por Ringo, um conjunto de músicas que não estão entre os grandes hits da banda mas que moram no coração de qualquer fã do grupo.”
E assim despeço-me deste ano que, apesar de tudo, teve seus momentos. O blog volta à ativa no dia 9 de janeiro (ou se acontecer algo urgente, a qualquer momento). Obrigado pela companhia e feliz 2017!
Inicialmente um desafeto dos Ramones, o ex-vocalista dos Smiths Morrissey logo viu a luz do punk rock e entendeu a importância do grupo para o movimento, a ponto de chegar a organizar a coletânea limitada (9 mil cópias) Morrissey Curates the Ramones sobre a banda lançada pela gravadora Rhino no Record Store Day de 2014. Mas o auge do fanatismo do vocalista pelo grupo aconteceu neste fim de semana, quando em um show no Brooklyn, em Nova York, ele surpreendeu a todos com uma versão fiel e apaixonada para “Judy is A Punk”, do mítico grupo nova-iorquino.
Agora de outro ângulo:
Que beleza.
Escrevi lá no meu blog no UOL sobre como os Ramones criaram sua estética que deu origem ao disco que mudou a cara do pop em câmera lenta.
2016 marca os quarenta anos do lançamento do primeiro disco dos Ramones e os responsáveis pelo espólio do grupo já estão esquentando os motores para a efeméride. Além da coletânea de músicas selecionadas por Morrissey, outros projetos estão em andamento, entre eles um livro com memorabilia e registros de desde antes da formação do grupo e um documentário dirigido por Martin Scorsese. “Conseguimos garantir toneladas de filmes, grande parte delas nunca foi vista antes”, explica Jeff Jampol, um dos administradores do legado do grupo, à Billboard. “São cenas filmadas em turnê nos anos 70 e nos anos 80, que conseguimos com o próprio sujeito que filmou tudo, chamado George Seminara.” Scorsese aos poucos está se tornando o biógrafo documentarista oficial da história do rock, depois de dirigir filmes sobre Bob Dylan, Rolling Stones e George Harrison. Esse papel não podia estar em melhores mãos.
Morissey já era conhecido como um dos principais fãs de punk rock de seu país mesmo antes de criar os Smiths. Ele foi líder do fã-clube do New York Dolls antes mesmo do punk começar, foi aos shows das bandas punk norte-americanas que passaram pela Inglaterra no final dos anos 70, e escrevia cartas para os semanários ingleses defendendo a causa e a estética punk. Por isso não é tão estranho quando ele anunciou, através do site de fãs True to You que havia recebido um convite dos empresários do espólio dos Ramones para que ele organizasse a próxima coletânea do grupo que será lançada pela Rhino. Pela capa, acima, dá pra ver que não será uma coletânea como as outras… Vi no Consequence of Sound, que ainda linkou esse vídeo com o senhor Morrissey comentando o impacto inicial do gênero:
Com a morte do baixinho à frente da foto (o mesmo que fica nas pontas dos pés na capa do primeiro disco do grupo) é oficial: não há mais nenhum Ramone original entre nós.
Tommy Ramone – nascido Erdélyi Tamás, em Budapeste, na Hungria, naturalizou-se norte-americano com o nome de Thomas Erdelyi ainda criança, quando sua família se mudou para o bairro do Queens, em Nova York, nos EUA. Lá conheceu John Cummings, com quem montou sua primeira banda ainda na escola. Pouco tempo depois os dois conheceriam Jeffrey Hyman e Douglas Colvin e logo se rebatizariam, respectivamente, Tommy, Johhny, Joey e Dee Dee – os irmãos que mudaram a história da música pop. Ramones parece jingle de comercial hoje em dia, de tão pop, mas não é preciso muito esforço para entender o estrago feito por aquelas músicas curtíssimas, que ficavam em algum lugar entre os Stooges e os Três Patetas, parte esporro, parte chiclete. Era como se os Irmãos Metralha tivessem uma banda – e seu vocalista fosse um Pateta do mal.
Atrás de tudo, uma versão implosiva de Keith Moon – como o Animal dos Muppets, Tommy parecia possesso por uma força precisa e intensa, e como o baixo e a guitarra dos Ramones parecia produzir mais som do que seu instrumento podia permitir. Assim Tommy gravou os quatro primeiros discos com o grupo – Ramones, Leave Home, o perfeito Rocket to Russia e o veloz It’s Alive.
Neste último, primeiro registro ao vivo da banda e última participação de Tommy nos Ramones, dá pra ver a importância do baterista na prática, acelerando ainda mais músicas que estar sendo tocada numa rotação mais rápida que a normal. Escrevendo a cartilha do punk rock no muque com o instrumento mais brucutu de todos.
Tommy morreu nessa sexta, vítima de câncer no ducto biliar. É o fim dos verdadeiros Ramones. Viva os Ramones!
A Ju lembrou daquele post com as faixas de cada instrumento do Led Zeppelin em separado quando trombou com este site. Basta escolher uma música, esperar carregar as faixas, dar play e perder algumas horas brincando com os pedaços dos hits que você conhece de cor. Valeu Ju!