Lobão: “Você acha que é fácil ser eu?”

O autor do vídeo batizou o trecho dessa entrevista como se o Lobão estivesse achincalhando essas bandinhas novas pós-emo, os tais “coloridos”, mas perceba que o alvo de sua entrevista é o meio rádio e que os entrevistadores vão desviando a conversa pra falar mal das bandas teens à medida em que percebem que são os criticados pelo velho cantor. Lobão sempre fala demais e isso às vezes dá preguiça de seu discurso (“Lula times”, diria um amigo meu), mas suas observações sobre rádio e internet valem e independente de ele puxar a sardinha para o seu lado (normal, quem não?), fala umas boas verdades sobre o estado das coisas no Brasil e no mundo.

Cabeça de rádio

Uma dica pra quem ainda ouve rádio: neste domingo participo do Radioteca, programa que a Renata Simões toca na Oi FM. Ela me chamou pra escolher umas músicas e bater um papo sobre, er, eu mesmo. Como domino ambos assuntos e adoro a Renata, não pude declinar o convite. Então se você estiver de bobeira (ou com saudades) na tarde de amanhã, sintoniza na Oi que eu apareço pelas 15h.

Link – 1º de novembro de 2010

A maior mentira da internetÉ de propósitoDireto do futuroMáquina do tempoO comandante do laboratórioO Kinect está de olho em vocêsServidorVida Digital: RadarCultura

A gente reclama do Galvão Bueno, mas…

…podia ser pior. Vi no Kottke.

Link – 2 de novembro de 2009

Um novo capítulo na história do livro brasileiroQuinhentos anos depois, livro pode mudarOutros e-readersSaiba como funciona o KindleA volta online do pagode dos anos 90Navegando sem o mouse‘Antena’ de rádio mundial é cara demais no Brasil‘Gotas de Sabedoria’ em 140 caracteresPlasma de 50 polegadas transforma tudo em cinemaHeróis da Marvel saem no braço sem dó e com estilo em novo videogameCâmera da Samsung tem “modo miguxo”A versão hi-tech de “a primeira faz tchan”Robô elimina a hora do ‘xis’ para fotoGalaxy casa-se bem com o AndroidTrocando arcos e flechas pelo ativismo digitalComo o Twitter ajudou a Costa do Marfim a enfrentar o lixo tóxicoIranianos se arriscaram para twittar, diz ativistaO fim do Geocities encerra a saudosa era da web 1.0A ‘Facebookização’ do OrkutFacebook muda de cara e irrita usuáriosListas do Twitter ajudam a organizar fluxo de postsBrasil quer discutir lei sobre internet com internautasVida DIgital: Blogosfera policial

Link – 21 de setembro de 2009

O novo rádioQualquer um pode ter uma rádio sem limite de alcanceTaxa sobre streaming de música quase matou webrádio nos EUANo Brasil, pagar ao Ecad é obrigatórioEmissoras tradicionais se voltam para a internetLia Calabre: “A convergência de mídias mexerá com todas as definições”Nair Prata: “Ouvinte de radio online quer interferir na programação”Qual é o segredo do autor do ‘Código Da Vinci’?eBay, Skype, PayPal – qual deles vale mais?Vida Digital: Jumbo Elektro

De Leve sobre música independente, rádio e TV


Foto: Joca Vidal

O texto é velho (foi escrito há mais de um ano), mas segue atual. Reproduzo na íntegra:

Antigamente, até o ano 2000 mais ou menos funcionava assim: as gravadoras gravavam quem elas queriam e achavam que faria sucesso, então, faziam a divulgação em rádios e TVs.

Na maioria das vezes fechava-se o pacote. Por exemplo, fechou pacote com a Globo, fechou com TV e seus variados programas com variados públicos; fechou também com suas rádios AM e FM e seus variados públicos, mais seus jornais, suas revistas e seus sites em território nacional. Isso se fechar só com a Globo. Se fizer contrato com mais outras empresas de comunicação que também têm rádios, jornais, revistas e etc, isso se multiplica muito. Não é pouca coisa. E não é barato. É caro. Muito.

Mas depois dos computadores, da grande rede e da pirataria (graças a Deus) o jogo mudou um pouco.

O ministro das telecomunicações continua privilegiando e sendo indicado pelos conglomerados de comunicação e suas rádios e TVs (meios diferentes, mesmos donos) e deputados e senadores são donos, ou como eles preferem eufemizar, são cotistas das afiliadas das grandes redes em seus estados. Pra mim, não muda muito se são donos por inteiro ou cotistas já que ao deputado seu interesse empresarial pode vir 1º em suas escolhas no congresso.

Mas as gravadoras sofreram mais.

Com a pirataria perdeu dinheiro e com a internet perdeu muito de sua influência e credibilidade no meio musical.

Se antes ter um contrato era um sonho quase inalcançável por qualquer músico que se prezasse, hoje o mesmo é quase um pesadelo indesejável pois pode ser uma geladeira de anos para a maioria deles.

E nisso o mercado independente cresceu como nunca e tem hoje seu maior bum. Qualquer um hoje pode botar a boca e mostrar sua arte, o que é muito democrático e bom.

Incrivelmente não se vê a mesma “independência” nas rádios e TVs. O lobby das gravadoras com os meios de comunicação e seus donos ainda é fortíssima e quase – quase? – não se vê artistas independentes nas grandes redes de comunicação.

Na TV, nos programas mais assistidos só se vê os mesmos poucos e privilegiados artistas de gravadoras que ainda têm o seu espaço intocado lá.

As tentativas ainda são muito tímidas. Existe um quadro chamado “Pistolão” no Faustão, mas ainda tem que ser amigo de alguém muito famoso para poder fazer.

Partindo deste princípio, penso que as gravadoras não devem estar assim tão falidas.

Como pode a internet mostrar tantos artistas, bons artistas e ótimas músicas e somente os artistas de gravadoras têm espaço na TV e no rádio?

Claro que a concentração de mídia na mão de poucos donos, a chamada propriedade cruzada (na qual não se pode ser dono de mais de um veículo de mídia, é ou jornal ou TV ou rádio, não pode ter dois juntos ou mais, como normalmente acontece aqui) influi totalmente na disparidade de espaço dado aos artistas contratados pelas grandes empresas que têm poder, dinheiro e influência política e os outros que estão sozinhos e têm tão somente a boa música.

Com essa influência toda, não é de se espantar que nossos políticos não votem e não discutam sobre isso. Para que discutir isso quando você também é dono de canais de rádios e TVs e retransmite o sinal das grandes empresas de comunicação que recebem para manter estes artistas lá? É incoerente pros negócios, não é verdade?

Ah, mas alguém pode dizer que “os negócios” são ilegais e que os deputados não podem ou não poderiam ser donos de canais de rádios e TVs. Sim, isso é verdade. Eles não podeRIAM. Mas são. Até o ministro das comunicações tem a sua rádio (clique aqui para ler sobre).

Dizem que com a rádio digital o número de canais no rádio vai aumentar. Na TV ainda nada. Mas se isso acontecer provavelmente vai aumentar e melhorar muito o mercado independente de música que sobrevive graças a internet e este poderá inclusive sair do meio internet e entrar no meio rádio, muito mais popular e ainda muito mais democrático e poder ganhar as ruas e tocar país afora.

Hoje só se ganha dinheiro fazendo shows, mas fazer shows ainda é muito difícil. Dificilmente alguém contrata um show de alguém que não toca na rádio. Se você não toca na rádio você não existe, não é conhecido e se você não é conhecido porque trazê-lo para fazer show? Que empresário contrata para perder dinheiro?

Com a regulamentação de propriedade cruzada e a abertura do espectro de rádios e TVs a mais empresas e mais diferentes tipos de negócios, podemos ter com isso a abertura à bandas independentes o mercado independente vai de vez conseguir se auto gerir sem somente se auto sobreviver e depender de festivais que não pagam caché mas recebem dinheiro através de patrocinadores que geralmente não é repassado aos artistas. Ou seja, estes não recebem mesmo tocando.

Enquanto isso não acontecer e a regulamentação não for sequer discutida como se não fosse necessária ao país teremos 20 artistas muito famosos fazendo muitos shows e tocando na rádio e ganhando dinheiro com mega-shows lotados em estádios de futebol e publicidade enquanto todo o resto – sabe-se lá o nº de artistas independentes e populares – vão cotinuar na vontade de querer estar fazendo shows e vivendo de música. Sem poder se dedicar aquilo e sem até gerar empregos já que um espetáculo musical gera-se muitos empregos.

Mas nossa política, infelizmente, é outra.

Desestimulamos a criatividade do nosso povo e vetamos que o próprio povo possa decidir sobre o que ele quer ouvir, deixando isso por anos na mão de executivos de gravadoras, que sempre pensaram 1º no lucro das empresas que trabalhavam ou eram donos. E isso continua assim nas TVs e rádios.

Será que isso um dia muda?

Talvez no dia em que regulamentem a propriedade cruzada. Ou talvez no dia que a internet cobrir 95% do território nacional assim como a televisão.

É, esse dia deve vir mais rápido.

Isso se não mudarem as regras da internet.

Milosevic Garage

Ondas rebeldes

“Rádio Guerrilha” narra a Guerra da Bósnia a partir das emissões de uma emissora alternativa

Era 1992 e o tempo fechava sobre a ex-Iugoslávia. Com seu comandante eleito, o ex-comunista Slobodan Milosevic a atiçar velhas rixas étnicas em nome do renascimento quase sagrado de uma Sérvia ancestral, um lento e doloroso Vietnã começava a ser desenhado no mapa do Leste Europeu, recém-ingresso no mundo capitalista após a falência do sistema soviético.

Na contramão dos países que antes formavam a Cortina de Ferro, o antigo império dos Balcãs entrava em uma ditadura arcaica, que fingia não interferir no nacionalismo extremo e no genocídio desenfreado, quando, na verdade, era seu principal incentivador. E sob aquele clima de paranóia, perseguição e proibição que acompanha qualquer guerra, uma pequena rádio jovem resistia bravamente à programação de mídia estatal e à agenda de Milosevic, intercalando relatos e depoimentos da linha de frente do campo de batalha com doses cavalares de Clash, Pixies, Public Enemy e Sonic Youth.

Versão chapa-branca
Até que, um dia, seus ouvintes se deparam com outra rádio, embora atuando sob o mesmo nome. Fora o pop barulhento vindo do exterior e o dedo na ferida de seu noticiário; em seu lugar, canções tradicionais e hinos militaristas se alternavam com versões chapa-branca para os acontecimentos no país.

A conclusão dos ouvintes foi inevitável: censuraram a rádio. E eles passaram a ligar para a emissora, quando eram atendidos por uma telefonista igualmente correta, que apenas dizia que a rádio era a mesma, mas havia mudado um pouco.

Depois de quase um dia inteiro de reclamações, o diretor da rádio, o jornalista Veran Matic, baixou a guarda e revelou que tudo não passava de uma brincadeira baseada nos rumores de que a rádio seria fechada.

Foco de resistência
Voltou a tocar, no dia seguinte, sua programação normal, incluindo os telefonemas dos ouvintes indignados com a mudança editorial de mentira. Só uma coisa mudou: seu slogan passou a ser “não confie em ninguém, nem na gente”.

Esse é um dos inúmeros “causos” reunidos no livro “Rádio Guerrilha – Rock e Resistência em Belgrado”, do inglês Matthew Collin, que conta a história da emissora B92 -depois, B2-92-, uma brincadeira de estudantes de comunicação que se tornou um dos principais focos de resistência política quando o horror da guerra assolou a velha Iugoslávia.

A rádio foi criada em 1989 como uma espécie de paródia às comemorações do aniversário do antigo líder comunista Tito, morto em 1980, para ter apenas duas semanas de existência. Mas a brincadeira deu gosto e logo a rádio continuaria com duas frentes que se bicavam: a do jornalismo independente e a da rádio rock. A fonte de atrito vinha do jornalismo da emissora, que achava que a rádio tinha uma programação musical extrema, que repelia ouvintes em potencial.

Mas prevaleceu a visão de Veran Matic, estudante de literatura que abandonou a vida acadêmica para dedicar-se ao jornalismo na prática. Ele acabou como uma das principais vozes do programa de rádio dos anos 80 “Ritam Scra”, que, ao lado do núcleo de jornalismo Index 202, tornou-se a base da B92.

Com pouco mais de 30 anos, boêmio e afeito ao amadorismo radiofônico por definição, Matic era um crítico de música respeitado que aos poucos se tornou um dos principais líderes de uma geração esmagada pela guerra -embora rejeitasse sempre esse papel.

Conglomerado de mídia
Cabeça da emissora, ele foi o responsável por mantê-la sempre à frente de sua época -tanto de seus detratores quanto de seus fãs- e por transformá-la num pequeno conglomerado de mídia alternativa, com editora, gravadora, emissora de TV e centro cultural.

Era um dos homens de mídia mais respeitados dos Bálcãs, a despeito das tentativas de interromper suas atividades. Ao acompanhar a saga da rádio, Collin, autor do ótimo “Altered State – The Story of Ecstasy Culture and Acid House” (Estado Alterado – A História da Cultura do Ecstasy e da Acid House), aproveita para contar a Guerra da Bósnia de uma forma simples e enxuta, ao mesmo tempo em que descreve a degradação e queda de Belgrado como amostra do que a guerra pode fazer a um país.

Mas tudo isso com um texto leve e bem-humorado -por vezes cínico- que equilibra tão bem as melhores qualidades da rádio: relatos pop disfarçados de jornalismo e jornalismo disfarçado de relato pop.

RÁDIO GUERRILHA – ROCK E RESISTÊNCIA EM BELGRADO
Autor: Matthew Collin
Tradução: Marcelo Orozco
Editora: Barracuda (tel. 0/xx/11/3237-3269)
Quanto: R$ 44 (336 págs.)

Essa matéria saiu na Folha de hoje, no Mais!. Vale ir atrás, o livrinho é istaile…