Heloisa Teixeira (1939-2025)

Morreu, nessa sexta-feira, a escritora Heloisa Teixeira, que até dois anos atrás assinava como Heloisa Buarque de Hollanda, sobrenome vindo do seu ex-marido, o falecido advogado Luiz Buarque de Hollanda. Uma das principais pensadoras do feminismo brasileiro, também atuava como crítica literária e pesquisadora do país, sendo uma das pensadoras que melhor entendeu fenômenos recentes de nossa história, como a cultura das periferias brasileiras e das igrejas neopentecostais no país. Autora de dezenas de livros, também foi diretora da editora da UFRJ e do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, além de integrante da Academia Brasileira de Letras desde o ano passado. Morreu após complicações devido à pneumonia e insuficiência respiratória.

Brian James (1955-2025)

Fundador do The Damned, uma das primeiras bandas punk inglesas, o guitarrista Rick James morreu nesta quinta-feira, como anunciou sua página no Facebook, embora não se saiba a causa de sua morte. O Damned surgiu na mesma primeiríssima hora que produziu a primeira safra do punk inglês – puxado obviamente pelos Sex Pistols e pelo Clash – como parte da cena jovem inglesa descontente com a crise econômico e o desemprego que assolava o país nos anos 70 que também originou o heavy metal e James foi um personagem fundamental na ascensão da banda, compondo basicamente todos os dois primeiros discos (Damned Damned Damned e Music for Pleasure, ambos lançados no emblemático 1977) de um grupo que era uma espécie de versão inglesa dos Ramones, com músicos rebatizados como Rat Scabies e Captain Sensible, e que foi o primeiro grupo punk inglês a lançar um single (“New Rose”) e um disco, antes mesmo que os Pistols e o Clash. Rick saiu da banda após o segundo disco mas continuou sua trajetória de pioneiro punk como um bardo da cena inglesa, tocando em bandas como Tanz Der Youth e The Lords of the New Church, além de manter uma bissexta carreira solo.

Roy Ayers (1940-2025)

Roy Ayers, que nos deixou nesta terça-feira aos 84 anos, era mais importante que sua fama fazia parecer. Mais conhecido pelo hit “Everybody Loves the Sunshine”, lançado no álbum de mesmo nome em 1976, o vibrafonista, compositor e cantor teve um papel importante na consolidação de um novo gênero que começa a surgir no meio dos anos 70 e que misturava jazz com a variação soul mais pesada que surgia naquele mesmo período, o funk. Ayers, nascido em Los Angeles mas que fez fama em Nova York, pegava o amálgama que era base de gêneros como jazz funk e hard bop e trazia para um terreno musical ao mesmo tempo sofisticado e leve a partir de sua big band Roy Ayers Ubiquity, que plantaria as sementes para o que na década seguinte, com a ascensão da música eletrônica, se chamaria de acid house e, neste século, o neo-soul, gênero que era considerado o padrinho. Foi sampleado por artistas como Dr. Dre, Mary J. Blige e Common, além de ter sido regravado por D’Angelo, Jamie Cullum e Robert Glasper e colaborado com Fela Kuti, Erykah Badu e Pharrell Willams. Sua morte foi confirmada pela família em um post no Facebook nesta quarta-feira.

Affonso Romano de Sant’Anna (1937-2025)

Morreu nesta terça-feira o escritor mineiro Affonso Romano de Sant’anna em sua casa em Ipanema, no Rio de Janeiro. Um dos principais poetas brasileiros da segunda metade do século passado, também era conhecido por seu trabalho ensaístico e acadêmico e além de lecionar literatura brasileira na PUC do Rio e de ter dirigido seu Departamento de Letras e Artes, também realizou uma extensa pesquisa sobre Carlos Drummond de Andrade em seu doutorado, Drummond, o Gauche no tempo. Como gestor público, dirigiu a Biblioteca Nacional nos anos 1990, quando criou Sistema Nacional de Bibliotecas e o Programa Nacional de Incentivo à Leitura, que funcionam até hoje. Autor de livros como Que País é Este? (1980), O Canibalismo Amoroso (1984), O Imaginário a Dois (1987, ao lado de sua mulher, a também escritora Marina Colasanti, que faleceu no início do ano), Intervalo Amoroso (1998), Tempo de Delicadeza (2007), e Como Andar no Labirinto (2012), ele sofria de Alzheimer desde 2017 e há quatro anos estava acamado.

Joey Molland (1947-2025)

Com a morte do guitarrista Joey Molland, que deixou este plano no primeiro dia deste mês, morre o Badfinger, banda galesa que ganhou notoriedade por ser descoberta pelos Beatles e ser a primeira banda de rock contratada pelo selo da banda inglesa, Apple. Molland mantinha o grupo em atividade apesar da morte de todos os outros integrantes, dois por suicídio (o vocalista e guitarrista Peter Ham e o baixista Tom Evans) motivados por tretas dentro da banda. Além de participar de todas as formações do grupo, Molland também era conhecido – como os outros integrantes da banda – por sua proximidade com os Beatles (cujo assessor de imprensa e diretor da Apple, Neil Aspinall, batizou a banda), inclusive após a separação da banda: tocou guitarra no álbum Imagine de John Lennon (inclusive em “Jealous Guy”) e em dois álbuns de George Harrison, além de dividir o palco com ele em “Here Comes the Sun” no famoso concerto beneficente para Bangladesh, organizado pelo beatle caçula. Sua banda teve singles produzidos por Paul McCartney (“Come and Get It”, também escrita por Paul), George (“Day After Day”) e pelo faz-tudo dos Beatles Mal Evans (a clássica “No Matter What”), além de ter trabalhado com Tony Levin e Todd Rudgren. A banda terminou após o suicídio do vocalista e guitarrista Peter Ham em 1975, cujo bilhete de despedida culpava o empresário Stan Polley por sua morte. A banda voltou a reunir-se a partir da motivação de Molland, que seguiu em atividade até o ano passado. Embora a causa de sua morte não tenha sido revelada, ele já estava mal desde o início do ano, com vários problemas de saúde, inclusive pneumonia.

David Johansen (1950-2025)

Como disse o John Waters sobre a morte de David Johansen, neste sábado, o “punk rock perdeu um pedaço de sua alma”. O vocalista dos New York Dolls não era apenas a estrela mais brilhante da banda que conectou a Nova York do Velvet Underground à do CBGBs, unindo dois momentos únicos da história da metrópole norte-americana como uma cronologia; ele também era o elo perdido entre o lado mais selvagem do rock clássico ainda nos anos 60 com a música pop daquele mesmo período e o rock do futuro, que descortinaria a partir de sua banda mais famosa. Falastrão e galã, era um showman nato e a versão norte-americana de Mick Jagger e mesmo depois de sair da banda da qual compôs todas as músicas que embalou a cena surgida sob o infame – e literalmente decadente – Mercer Arts Center, manteve sua moral e fama vivendo diferentes personagens no showbusiness dos EUA, às vezes com o pseudônimo que inventou depois dos Dolls, Buster Poindexter, cantando, atuando ou apresentando programas de TV. Infelizmente sua morte não é uma surpresa, pois desde o início ele já reclamava online das dores de um câncer enfim terminal. Uma pena, um ícone do rock.

Gene Hackman (1930-2025)

Um dos maiores atores do cinema norte-americano foi-se nesta quarta-feira numa morte bizarra, quando Gene Hackman, sua esposa Betsy Arakawa e o cachorro deles foram encontrados mortos em sua casa na Califórnia, nos EUA. Hackman tinha 95 anos e é tranquilamente um dos maiores nomes da história do cinema e mesmo que seu padrão de atuação não o coloque como um dos nomes que lemmbramos quando falamos dos grandes da sétima arte, seu currículo é a prova contrária disso: protagonista em clássicos como Operação França (em suas duas partes, em cada uma delas abrindo uma nova faceta obscura de seu detetive Jimmy “Popeye” Doyle), Bonnie e Clyde, A Conversação (em que carrega o melhor filme de Coppola praticamente nas costas), O Destino do Poseidon, O Jovem Frankenstein, três Superman (como Lex Luthor!), os Royal Tenenbaums de Wes Anderson, Mississipe em Chamas, Reds, Os Imperdoáveis de Clint Eastwood, A Firma, Maré Vermelha e A Gaiola das Loucas tem uma marca registrada que o torna tanto facilmente reconhecível como completamente novo, devido à sua forma de atuação mais contida e de baixo perfil, característica de sua criação como filho da classe operária da Califórnia. Um mestre.

Assista abaixo a cena final de A Conversação:  

Roberta Flack (1937-2025)

Uma das vozes mais deslumbrantes da música estadunidense encantou-se nesta segunda-feira, quando Roberta Flack despediu-se deste plano aos 88 anos. Filha de pais pianistas, ela começou sua carreira no final dos anos 60 e aos poucos foi conseguindo, pelas brechas, espaço em shows e no mercado fonográfico. Mas sua entrada definitiva no mercado veio a Clint Eastwood, que escolheu a regravação que Flack havia feito para “The First Time Ever I Saw Your Face” em 1970 como música-tema de seu primeiro filme como diretor, Perversa Paixão, de 1971. A escolha transformou a música na canção mais tocada nos Estados Unidos em 1972 e lhe rendeu um Grammy de melhor gravação naquele mesmo ano. No ano seguinte iniciou a parceria com o amigo cantor, compositor e pianista Donny Hathaway, com quem emplacou hits em diferentes momentos de suas carreiras, incluindo dois discos em dupla, até a morte do amigo em 1979. Antes disso emplacou mais um hit solo, música tornou-se sua assinatura musical, “Killing Me Softly with His Song”, que lhe rendeu dois Grammys em 1974 e tornou o disco Killing Me Softly seu disco mais vendido da vida. Voz macia e potente ao mesmo tempo, ela levava a soul music para um lado épico e dramático característico do braço “quiet storm” do gênero, que criou uma escola de artistas que domina o atual R&B. De Lauryn Hill a Michael Jackson, passando por Anita Baker, Jill Scott, Erykah Badu, D’Angelo, Ariana Grande, Mary J. Blige, Maxwell, Whitney Houston, Mariah Carey, Sade, John Legend, Janet Jackson, Rihanna e Beyoncé – artistas que formam o panteão da música negra moderna norte-americana são infuenciados diretamente por sua importância – ela cujo nome do meio (“Cleopatra”) deixa clara sua própria majestade. Morreu cercada pela família e a causa de sua morte não foi revelada.

Lilian Knapp (1948-2025)

Morreu neste sábado a cantora carioca Lilian Knapp, que tornou-se conhecida como a Lilian da dupla Leno e Lilian que compôs com o potiguar Gileno Azevedo durante o auge da Jovem Guarda, nos anos 60. Ela foi a primeira a gravar sucessos como “Devolva-me”, “Pobre Menina” (versão em português para “Hang on Sloopy”, do grupo The McCoys), “Coisinha estúpida” (versão da dupla para “Something Stupid”, eternizada por Frank e Nancy Sinatra), “Sou Rebelde” (versão para o hit de 1971 da cantora espanhol Jeanette) e “Eu Não Sabia Que Você Existia” ,que depois seriam regravados por nomes tão diferentes quanto Adriana Calcanhotto, Chico César, Paquitas, Alice Caymmi e pelas bandas Virgulóides e Vexame, esta última liderada pela atriz Marisa Orth. Também foi a primeira mulher a compor um rock no Brasil, quando assinou “O Picapau”, gravada por Erasmo Carlos em seu disco de 1965 (“com meu bem fui ao cinema…”). Lilian estava internada em estado grave nos últimos meses, mas ainda estava em atividade até há pouco tempo – seu último show aconteceu no fim do ano passado, na clássica churrascaria Ed Carnes (clássica justamente por ser de propriedade de outro ícones da Jovem Guarda, Ed Carlos), e sua apresentação ao lado de seu eterno dupla Leno (que morreu em 2022) aconteceu há mais tempo, na Virada Cultural de 2015, há dez anos.

Jerry Butler (1939-2025)

Lenda da soul music que atravessou décadas ajudando a moldar o gênero desde que este começou a surgir, quando o doo-wop começou a namorar o gospel ainda nos anos 50, morreu na última quinta-feira. Fundador do grupo Impressions, que mais tarde revelaria o gigante Curtis Mayfield, emplacou seu primeiro hit antes de completar 20 anos, quando lançou “For Your Precious Love” em 1958 e saiu logo em carreira solo, mandando outro hit ainda em 1960, “He Will Break Your Heart”. Foi parceiro de Otis Redding (na clássica “I’ve Been Loving You Too Long”) e atravessou a década que viu o nascimento do gênero enfileirando sucessos, como “Find Another Girl”, “I’m A-Telling You”, “Only the Strong Survive”, “Brand New Me”, “Moon River” (foi um dos primeiros a gravar essa música), “Hey, Western Union Man”, “Never Give You Up” e “Make It Easy on Yourself”, além de duetos com Betty Everett (regravando “Let It Be Me” dos Everly Brothers) e Brenda Lee Eager (“Ain’t Understanding Mellow”). Na década seguinte, ajudou a soul music a manter-se como uma versão lenta do que se tornaria o funk e depois a disco, colaborando com a dupla de compositores que forjaria o som da Filadélfia Kenny Gamble e Leon Huff e envolveu-se tanto com política (tornou-se comissário do condado de County, em 1985, mantendo-se no cargo até 2018) quanto com a televisão (apresentou especiais sobre a história da música negra no canal estatal norte-americano PBS). Morreu vítima do mal de Parkinson.