Por mais que a vida de Ozzy Osbourne sempre estivesse vizinha da morte por seus inomináveis excessos, saber de sua passagem no mês em que despede-se dos palcos causa uma dor gigantesca. Obrigado, mestre!
Que notícia triste. Mais do que a filha mais conhecida de um dos maiores nomes da nossa cultura, Preta Gil foi catalisadora de carreiras artísticas, pioneira na produção de videoclipes no Brasil, agente ativa nos bastidores da indústria da música, além de cantora, apresentadora e figura pública. Sua trágica morte precoce é fruto de um câncer que o acompanhava há anos e que transformou seus últimos meses numa grande despedida pública, infelizmente encerrada neste domingo.
Triste a notícia da morte do crítico e polímata do cinema brasileiro, Jean Claude Bernardet, neste sábado. Revelado pelo jornalista Paulo Emílio Salles Gomes no Suplemento Literário do Estadão ainda nos anos 50, o belga, que morou a infância e o início da adolescência na França, e mudou-se para o Brasil aos 13 anos, cresceu e amadureceu junto ao cinema brasileiro, área que ajudou a erguer seja em livros históricos como Brasil em Tempo de Cinema (1967, em que ajudou a consolidar a trajetória artística do Cinema Novo), Cineastas e Imagens do Povo (1985, sobre a opção artística do nosso cinema retratar a base da pirâmide social brasileira), o enciclopédico Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro (1995) e o clássico volume da coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense que trouxe gerações para a fruição crítica da sétima arte em tempos de ditadura militar, O Que É Cinema? (1980). Também trabalhou diretamente – e em várias posições – em diferentes produções brasileiras: em O Caso dos Irmãos Naves (1967, com Luis Sérgio Person) e Brasília: Contradições de uma Cidade Nova (1968, com Joaquim Pedro de Andrade) foi roteirista, em Paulicéia Fantástica (1970), Eterna Esperança (1971) e A Cia. Cinematográfica Vera Cruz (1972) foi codiretor ao lado de João Batista de Andrade e em Ladrões de Cinema (1977, de Fernando Cony Campos), P.S., Post Scriptum (1981 de Romain Lesage) e Filmefobia (2009; de Kiko Goifman) foi ator. Foi professor da USP no curso de cinema e fundou o mesmo curso na Universidade de Brasília, antes de ser perseguido pela ditadura militar, que o transformou num dos principais críticos do regime. Viveu intensamente o cinema e ajudou-o a evoluir e amadurecer com suas observações e provocações,s por vezes teóricas, outras práticas. Naturalizado brasileiro no mesmo ano do golpe militar, ele foi um dos grandes nomes da cultura de São Paulo, espalhando-se pela cidade, desde eterno morador do edifício Copan, no centro de São Paulo, à imortalidade na Cinemateca Brasileira, instituição que abriga seu acervo e palco em seu velório, neste domingo. Um ícone da cultura brasileira.
Um dos atores de estimação de Quentin Tarantino, Michael Madsen foi encontrado morto em sua casa na manhã desta quinta-feira, vítima de um ataque cardíaco .Operário-padrão de Hollywood, trabalhou em mais de 300 filmes, quase sempre interpretando personagens foras da lei, policiais e detetives. Seu papel mais conhecido é o personagem Mr. Blonde, dono de uma das principais cenas de Cães de Aluguel, o primeiro filme de Tarantino que o tornou queridinho da crítica. Depois deste, ele ainda atuou em outros filmes do diretor, como Kill Bill Volume 2, Os Oito Odiados e Era Uma Vez… Em Hollywood.
Que notícia triste esta da morte de Carlos Gomes Oliveira. Um dos principais agitadores da cena cultural pernambucana, o pesquisador, poeta, músico e jornalista manteve por anos a heróica revista Outros Críticos, que em pouco tempo tornou-se referência para quem acompanha música no Brasil, instigando discussões e o olhar crítico sobre o tema. Escreveu livros como Exôdo” (2016, de poesias, vencedor do Prêmio Pernambuco de Literatura) Canções Iluminadas de Sol (2018, ensaio em que compara o tropicalismo ao mangue beat), Canções Não (2019, lançado junto com o disco de mesmo nome), Nunca é Triste um Corpo que Fala Eu Te Amo (2023, de poemas) e Dagunda (seu título mais recente, de 2024, infantil). Agitador cultural, sempre fazia eventos e criava situações para reunir pessoas ao redor de seus lançamentos, seja seus livros ou as edições de sua revista, agregando nomes ligados à cultura em diferentes cidades do país. Vítima de um câncer que já enfrentava há algum tempo, faleceu nesta segunda, deixando um legado que certamente fará seu nome ser lembrado pelas próximas gerações.
Morreu a mulher que nos fez chorar só com a voz em uma única música. No mesmo ano da morte do Lynch.
Morreu nesta quinta-feira, um dos maiores autores de trilhas sonoras de todos os tempos. O músico argentino Lalo Schifrin trouxe elementos do jazz para trilhas de cinema e aos poucos passou a misturar todos os tipos de gêneros musicais e sonoridades num amálgama sonoro que era a cara de seus temas. Embora mais conhecido pelo tema do seriado Missão Impossível e pela série de filmes Dirty Harry, ele também compôs para os filmes THX 1138, Bullit, Rebeldia Indomável, Operação Dragão, A Vingança de Milady, A Águia Pousou e a trilogia Hora do Rush. Maestro de uma orquestra que fazia trilhas para programas de TV para uma emissora argentina, até que foi convidado por Dizzy Gillespie para os Estados Unidos, para onde mudou-se em 1960, quando iniciou sua carreira internacional, gravando com nomes como Ella Fitzgerald, Count Basie e Sarah Vaughan antes de dedicar-se ao cinema. Além de trabalhar para o cinema também escreveu arranjos para os shows dos três tenores Luciano Pavarotti, Placido Domingo e Jose Carreras, além de escrever trilha para videogames, como o jogo Tom Clancy’s Splinter Cell: Pandora Tomorrow. O maestro morreu por complicações de pneumonia. Tinha 93 anos.
Morreu, nesta quinta-feira, um dos maiores ícones da dramaturgia brasileira – e um de seus maiores galãs. O paulistano Francisco Cuoco tinha 91 anos, morreu de falência múltipla dos órgãos e foi o protagonista de novelas clássicas como Selva de Pedra (1972), Pecado Capital (1975), O Astro (1977) e O Outro (1983), além de participar de filmes como Gêmeas (1999), A Partilha (2001) e Cafundó (2005).
Morreu nesta segunda-feira um dos maiores nomes da música instrumental brasileira e um dos maiores guitarristas do mundo. Hélio Delmiro acompanhou gigantes da música brasileira como Elis Regina (com quem gravou o emblemático Elis & Tom e tocou no histórico show que a gaúcha fez no festival de Montreux, na Suíça, meu disco ao vivo favorito), Nana Caymmi, Djavan, Milton Nascimento e João Bosco, além de seguir carreira no jazz instrumental tocando ao lado de outros monstros sagrados como Victor Assis Brasil (com quem tocou na obra-prima Trajeto, de 1966), César Camargo Mariano (parceiro em seu disco mais autoral, Samambaia, de 1981) e os norte-americanos Claire Fischer e Sarah Vaughan, que o considerava um de seus guitarristas favoritos. Hélio já estava mal desde o ano passado e morreu em decorrência de problemas de saúde ligados ao diabete. Um mestre.
Bira Presidente, fundador do bloco Cacique de Ramos, que nos deixou na passagem do sábado para o domingo, felizmente pode desfrutar do merecido reconhecimento de sua importância na história da música brasileira, tanto como agente fundamental na transformação e evolução do samba (onde sempre foi reverenciado) como um dos principais artífices da popularização desta mudança, que mexeu na cara da música brasileira dos últimos cinquenta anos. Bastaria seu papel como fundador de um bloco de samba que saiu de sua vizinhança para ganhar o Rio de Janeiro e que até hoje segue firme e frutífero como o principal bloco carnavalesco da cidade que seu nome já teria motivos para figurar em nossa história. Mas se lembrarmos que, além de ter convivido com os pais-fundadores Donga, João da Baiana, Pixinguinha, Carlos Cachaça e Aniceto do Império, este filho de um sambista do Estácio (a primeira escola de samba) com uma mãe de santo não apenas deu abrigo para músicos que revolucionariam o samba ao transformá-lo em pagode na virada dos anos 70 para os 80 (fundando, por sua vez, com a benção e um empurrãozinho de Beth Carvalho, o grupo Fundo de Quintal, maior fenômeno coletivo da história do samba) como reinventou seu instrumento, o pandeiro, neste novo ambiente musical, misturando qualidades como protagonista, músico, agitador cultural e testemunha viva da história. É um nome que confunde-se com a própria tradição do samba, o samba personificado que seu codinome, cargo vitalício no bloco que fundou, poderia fazer reverência ao seu papel de líder nato. Fico feliz de poder ter dado palco para um encontro histórico do Fundo de Quintal no Centro Cultural São Paulo, quando era curador de música daquele espaço e convidei Leandro Lehart para celebrar o Fundo de Quintal na mítica sala Adoniran Barbosa, palco caríssimo para a história de Leandro (que anos depois seria diretor daquele mesmo CCSP), que nunca havia se apresentado lá. Lehart saudou o grupo com a presença de quase todos seus mestres e o mais feliz deles era o próprio Bira, que havia completado 81 anos no dia anterior àquela apresentação, em março de 2018, e foi ovacionado pelo público que lotou o palco mágico do CCSP, feliz de estar sendo reverenciado por sua importância. Obrigado, Bira!