A lenda do reggae nos deixou nessa sexta-feira.
“Clem não era só um baterista, era o pulso cardíaco do Blondie”, escreveram Debbie Harry e Chris Stein no post de despedida ao amigo no Instagram da banda que construíram juntos no início dos anos 70, em Nova York. Clem Burke se foi nesta segunda-feira e é o responsável por ter mantido a banda funcionando mesmo antes do sucesso, depois que o grupo perdeu o baixista Fred Smith para o Television – Chris e Debbie achavam que a banda não conseguiria continuar e Burke chamou Gary Valentine para o lugar, em 1975. Além de tocar com o grupo em suas diferentes encarnações (entre 1974 e 1982 e depois entre 1997 e 2017), ele também tocou com os Ramones (adotando o prenome Elvis Ramone) em alguns shows em 1987 e ter tocado com nomes importantes da história do rock como Bob Dylan, Iggy Pop, Pete Townshend, Joan Jett e Eurythmics. Morreu de câncer.
Se as letras e vocais de Jon King e a guitarra ruidosa de Andy Gill eram a assinatura musical do Gang of Four, o grupo que melhor personificou as transformações que o punk possibilitou depois da catarse inicial, sob o amplo rótulo de pós-punk, o baixista Dave Allen, cuja morte prematura tornou-se pública neste domingo, era a força-motriz da banda. Sua passagem aconteceu neste sábado mas foi confirmada pelo baterista de sua antiga banda, Hugo Burnham, em um post no Instagram. Allen esteve na formação inicial da banda, que eternizou o punk-funk característico do grupo, e saiu após o segundo disco, para voltar em 2004, quando a banda ressuscitou com sua formação clássica depois de anos afastada dos palcos – nesta nova fase da banda não apenas pude vê-los ao vivo como trazê-los para tocar no Festival da Cultura Inglesa quando fui curador dos shows em 2011, no Parque da Independência, em São Paulo. Após deixar o Gang of Four Allen tocou na breve banda Shriekback e em grupos menores como King Swamp e Low Pop Suicide, mas também manteve carreira na indústria musical como consultor, diretor artístico e executivo de pequenas gravadoras. É o segundo integrante da banda a morrer, depois do guitarrista Andy Gill, que morreu em 2020.
Morreu nesta sexta-feira o guitarrista Amadou Bagayoko, metade do casal Amadou & Mariam, que ajudou a espalhar a música do Mali para o resto do planeta em suas incursões de guitarra e vocais. Amadou ficou cego aos 15 anos devido a uma catarata congênita e por isso passou a estudar no Instituto para Cegos da capital de seu país, Bamako, onde também havia nascido. Lá conheceu sua futura parceira musical e esposa, Mariam Doumbia, que estudava no local por ser cega de nascença. Adotaram a união de seus prenomes como nome artístico e aos poucos conquistou seu país musicalmente, com o som das tradicionais guitarras do país com o canto espaçado entre solos ininterruptos, mas com influências de outros gêneros musicais, desde violinos da Síria, tablas indianas, percussão dogon, além de rock, blues e música pop, como os dois sempre admitiram. A partir dos anos 80 conquistaram o mercado internacional, ganhando Grammys e sendo convidados por artistas como U2 e Blur para a abertura de seus shows. A última vez que o casal tocou ao vivo foi no ano passado, na cerimônia de encerramento dos jogos paralímpicos de Paris, em setembro, quando tocaram “Je Suis Venu Te Dire Que Je M’en Vais”, de Serge Gainsbourg. A morte de Amadou foi anunciada pelo ministro da cultura do Mali, Mamou Daffé.
Fora de ação há um bom tempo devido a um câncer na garganta que apareceu em 2014 (e que o ator não tratava adequadamente por um viés religioso), o ator Val Kilmer morreu nesta terça-feira na mesma cidade em que nasceu, Los Angeles, nos EUA. Conhecido por ser o segundo Batman no cinema (assumindo o papel depois de dois filme com Michael Keaton, no filme Batman Eternamente), o rival de Tom Cruise em Top Gun, um dos policiais no melhor filme de Michael Mann (Fogo Contra Fogo) e ninguém menos que Jim Morrison (numa atuação espetacular) no The Doors de Oliver Stone, Kilmer estourou com a paródia de filmes de 007 Top Secret!, dirigida pelo trio Zucker-Abrahams-Zucker, que havia despontado com o filme que zoava filmes-catástrofe Aperte os Cintos O Piloto Sumiu!, atuando como um Elvis Presley de araque infamemente convincente. Seu carisma ainda o garantiu papéis em filmes de pouca importância na história do cinema – como Willow – Na Terra da Magia, Tombstone – A Justiça está Chegando e O Santo -, mas que garantiram bilheteria a ponto de torná-lo um rosto conhecido, o que o manteria empregado por anos a fio, fazendo filmes desimportantes a rodo, enquanto trabalhava em projetos menores de diretores consagrados, como Twixt de Coppola, Vício Frenético de Herzog, Déjà Vu de Tony Scott e Spartan de David Mamet. Ele para de fazer filmes anualmente em 2012 devido ao câncer que descobriu anos depois e desde então fez apenas três filmes, o último deles a continuação do filme que consagrou Tom Cruise, Top Gun: Maverick, repetindo seu papel de Iceman, quase como uma despedida das telas, em 2022.
Morreu, nessa sexta-feira, a escritora Heloisa Teixeira, que até dois anos atrás assinava como Heloisa Buarque de Hollanda, sobrenome vindo do seu ex-marido, o falecido advogado Luiz Buarque de Hollanda. Uma das principais pensadoras do feminismo brasileiro, também atuava como crítica literária e pesquisadora do país, sendo uma das pensadoras que melhor entendeu fenômenos recentes de nossa história, como a cultura das periferias brasileiras e das igrejas neopentecostais no país. Autora de dezenas de livros, também foi diretora da editora da UFRJ e do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, além de integrante da Academia Brasileira de Letras desde o ano passado. Morreu após complicações devido à pneumonia e insuficiência respiratória.
Fundador do The Damned, uma das primeiras bandas punk inglesas, o guitarrista Rick James morreu nesta quinta-feira, como anunciou sua página no Facebook, embora não se saiba a causa de sua morte. O Damned surgiu na mesma primeiríssima hora que produziu a primeira safra do punk inglês – puxado obviamente pelos Sex Pistols e pelo Clash – como parte da cena jovem inglesa descontente com a crise econômico e o desemprego que assolava o país nos anos 70 que também originou o heavy metal e James foi um personagem fundamental na ascensão da banda, compondo basicamente todos os dois primeiros discos (Damned Damned Damned e Music for Pleasure, ambos lançados no emblemático 1977) de um grupo que era uma espécie de versão inglesa dos Ramones, com músicos rebatizados como Rat Scabies e Captain Sensible, e que foi o primeiro grupo punk inglês a lançar um single (“New Rose”) e um disco, antes mesmo que os Pistols e o Clash. Rick saiu da banda após o segundo disco mas continuou sua trajetória de pioneiro punk como um bardo da cena inglesa, tocando em bandas como Tanz Der Youth e The Lords of the New Church, além de manter uma bissexta carreira solo.
Roy Ayers, que nos deixou nesta terça-feira aos 84 anos, era mais importante que sua fama fazia parecer. Mais conhecido pelo hit “Everybody Loves the Sunshine”, lançado no álbum de mesmo nome em 1976, o vibrafonista, compositor e cantor teve um papel importante na consolidação de um novo gênero que começa a surgir no meio dos anos 70 e que misturava jazz com a variação soul mais pesada que surgia naquele mesmo período, o funk. Ayers, nascido em Los Angeles mas que fez fama em Nova York, pegava o amálgama que era base de gêneros como jazz funk e hard bop e trazia para um terreno musical ao mesmo tempo sofisticado e leve a partir de sua big band Roy Ayers Ubiquity, que plantaria as sementes para o que na década seguinte, com a ascensão da música eletrônica, se chamaria de acid house e, neste século, o neo-soul, gênero que era considerado o padrinho. Foi sampleado por artistas como Dr. Dre, Mary J. Blige e Common, além de ter sido regravado por D’Angelo, Jamie Cullum e Robert Glasper e colaborado com Fela Kuti, Erykah Badu e Pharrell Willams. Sua morte foi confirmada pela família em um post no Facebook nesta quarta-feira.
Morreu nesta terça-feira o escritor mineiro Affonso Romano de Sant’anna em sua casa em Ipanema, no Rio de Janeiro. Um dos principais poetas brasileiros da segunda metade do século passado, também era conhecido por seu trabalho ensaístico e acadêmico e além de lecionar literatura brasileira na PUC do Rio e de ter dirigido seu Departamento de Letras e Artes, também realizou uma extensa pesquisa sobre Carlos Drummond de Andrade em seu doutorado, Drummond, o Gauche no tempo. Como gestor público, dirigiu a Biblioteca Nacional nos anos 1990, quando criou Sistema Nacional de Bibliotecas e o Programa Nacional de Incentivo à Leitura, que funcionam até hoje. Autor de livros como Que País é Este? (1980), O Canibalismo Amoroso (1984), O Imaginário a Dois (1987, ao lado de sua mulher, a também escritora Marina Colasanti, que faleceu no início do ano), Intervalo Amoroso (1998), Tempo de Delicadeza (2007), e Como Andar no Labirinto (2012), ele sofria de Alzheimer desde 2017 e há quatro anos estava acamado.
Com a morte do guitarrista Joey Molland, que deixou este plano no primeiro dia deste mês, morre o Badfinger, banda galesa que ganhou notoriedade por ser descoberta pelos Beatles e ser a primeira banda de rock contratada pelo selo da banda inglesa, Apple. Molland mantinha o grupo em atividade apesar da morte de todos os outros integrantes, dois por suicídio (o vocalista e guitarrista Peter Ham e o baixista Tom Evans) motivados por tretas dentro da banda. Além de participar de todas as formações do grupo, Molland também era conhecido – como os outros integrantes da banda – por sua proximidade com os Beatles (cujo assessor de imprensa e diretor da Apple, Neil Aspinall, batizou a banda), inclusive após a separação da banda: tocou guitarra no álbum Imagine de John Lennon (inclusive em “Jealous Guy”) e em dois álbuns de George Harrison, além de dividir o palco com ele em “Here Comes the Sun” no famoso concerto beneficente para Bangladesh, organizado pelo beatle caçula. Sua banda teve singles produzidos por Paul McCartney (“Come and Get It”, também escrita por Paul), George (“Day After Day”) e pelo faz-tudo dos Beatles Mal Evans (a clássica “No Matter What”), além de ter trabalhado com Tony Levin e Todd Rudgren. A banda terminou após o suicídio do vocalista e guitarrista Peter Ham em 1975, cujo bilhete de despedida culpava o empresário Stan Polley por sua morte. A banda voltou a reunir-se a partir da motivação de Molland, que seguiu em atividade até o ano passado. Embora a causa de sua morte não tenha sido revelada, ele já estava mal desde o início do ano, com vários problemas de saúde, inclusive pneumonia.