Se Gene Simmons e Paul Stanley eram a inevitável dupla que carregava a reputação e o nome de sua banda Kiss como na maioria dos exemplos do rock clássico, Ace Frehley, que morreu nesta quinta-feira, era o terceiro elemento que equilibrava a tensão criativa – e de negócios – dos donos da banda e fazia as canções e a reputação do grupo brilhar ainda mais graças às luzes de seus solos de guitarra. Mais do que apenas uma perda para o grupo, é um triste despedida para um dos grandes guitarristas da história do rock pesado.
Outra morte triste neste início de semana, desta vez do ilustrador que inventou o pôster de cinema para uma nova fase de Hollywood, a partir dos anos 70. Caiu nas graças de nomes que revolucionaram a indústria do cinema do fim do século passado – como George Lucas, Steven Spielberg, entre outros – e seu traço a mão e estilo hiperrealista forjaram um formato que é imitado e reverenciado até hoje.
Que triste essa notícia da morte do D’Angelo, um titã do R&B, pai do neo-soul e um dos principais nomes do pop estadunidense neste século.
Sábado triste, morreu um ícone de Hollywood que habita nossos corações.
Apesar do baixo perfil, Chris Dreja, que morreu na semana passada, foi um dos principais nomes da cena inglesa dos anos 60 que descobriu, no blues elétrico norte-americano da década anterior, um refúgio para sua juventude desoladora. Ao lado do guitarrista adolescente Top Topham, ele fundou o grupo Metropolitan Blues Quartet que, com a entrada de novos músicos, tornaria-se uma das principais bandas daquele cenário, ao lado dos novatos Rolling Stones, Bluesbreakers, Kinks, Manfred Mann e Animals. Os Yardbirds entrariam para a história do rock por conta de uma penca de sucessos no período (como “For Your Love”, “I Wish You Would”, “Heart Full of Soul”, “Evil Hearted You” e “Shape of Things”), mas principalmente por ter sido um celeiro para guitarristas que mudariam a história do pop britânico daquele período, como Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page. E ao lado destes, primeiro na guitarra-base e depois no baixo, estava Dreja, que, além de ser um dos principais compositores do grupo, seguiu na banda até o final, no fim daquela década, quando o grupo desmantelou-se e, para não perder datas de shows já agendadas, Page recriou o grupo com outros músicos, que em vez de circular como New Yardbirds, como pretendia o guitarrista, preferiu transformar uma piada dita pelo baterista do Who Keith Moon (“que os novos Yardbirds iriam voar como um zepelim de chumbo”) em nome da banda, Led Zeppelin. Dreja largou a música para dedicar-se à fotografia durante os anos 70 até que, na década seguinte, montou o grupo Box of Frogs ao lado do baixista Paul Samwell-Smith e do baterista Jim McCarty, todos ex-integrantes dos Yardbirds, que existiu entre 1983 e 1986.
Claudia Cardinale, sinônimo de musa, de mulher independente e do cinema italiano, nos deixou nesta terça-feira, aos 87 anos. Joia da cultura da Itália apesar de nascida na Tunísia, La Cardinale surgiu como deusa idealizada pela sétima arte nos anos 70, foi a partir de 1963 que atingiu um novo patamar, ao estrelar, quase que simultaneamente, dois monumentos do cinema da península mediterrânea erigidos por dois de seus maiores nomes: o épico O Leopardo de Luchino Visconti e o pós-moderno 8 e 1/2, obra-prima de Federico Fellini. Estrelar estes dos dois filmes a elevou a um patamar que apenas Sophia Loren, entre suas conterrâneas contemporâneas, teve neste mesmo período. Foi a partir destes dois filmes que parou de ser dublada (os diretores anteriores tinham vergonha de seu sotaque, abraçado pelos autores dos dois filmes citados) e começou a usar seu estrelato como uma forma de mostrar como uma nova mulher estava pronta para surgir e dominar o mundo, longe da família, maternidade e afazeres domésticos. Esta fama a leva para os EUA naquele mesmo ano, quando realiza o primeiro filme da série A Pantera Cor de Rosa (de Blake Edwards, com Robert Wagner, Peter Sellers e David Niven) e torna-se um nome recorrente em filmes do período. Sua fase áurea terminou com Era uma Vez no Oeste, de 1968, Sergio Leone, mas ela seguiu fazendo filmes e recusando-se a fazer cirurgias plásticas ou intervenções cosméticas para disfarçar a idade, atuando ao lado de Brigitte Bardot, outro ícone do período, no faroeste As Petroleiras (1971), e sob a batuta insana de Werner Herzog em seu épico amazônico Fitzcarraldo (1982). Defensora dos direitos das mulheres desde cedo, ela foi mãe após ser vítima de um estupro ainda adolescente e teve de fingir nos primeiros anos de sua carreira que seu filho era seu irmão mais novo – e sustentá-lo foi o motivo de aceitar trabalhar no cinema. Ao assumir a maternidade após ter se tornado um nome de peso na indústria de seu país, ela passou a vocalizar necessidades e exigências femininas na década em que transformações sociais eram impostas pela base da sociedade. Ela trouxe essas discussões para o cinema, principalmente nos bastidores. E morreu cercada pelos dois filhos, Patrick e Claudia, que nasceu após o casamento com o diretor Pasquale Squitieri, falecido em 2017, que considerava seu único amor.
Um coadjuvante de luxo do rock dos anos 50, Sonny Curtis, que morreu nesta sexta-feira, após complicações com uma pneumonia, foi o primeiro parceiro musical de Buddy Holly e era um dos Crickets que acompanharam o ás da canção da era do rock, que morreu tragicamente aos 23 anos. Curtis e os companheiros de Buddy seguiram com um grupo e em seu primeiro álbum, lançado em 1960, em que trouxeram dois clássicos escritos pelo guitarrista: “Walk RIght Back”, que tornou-se um sucesso antes da gravação dos Crickets pois o baterista da banda, Jerry Allison, havia sugerido-a para os Everly Brothers, com quem ele também tocava, e “I Fought the Law”, hino de rebeldia roqueira que foi regravado por gente tão diferente quanto Roy Orbison, Tom Petty, Bruce Springsteen, Dead Kennedys e, claro, o Clash. Curtis alternou sua carreira solo com reuniões recorrentes dos Crickets, mas acertou mais uma vez na mosca quando foi incumbido de compor a música-tema para o novo seriado estrelado por Mary Tyler Moore nos anos 70 – e a irresistível “Love is All Around” certamente pagava boa parte de suas contas até sua morte.
Um dos maiores nomes da história do cinema norte-americano, Robert Redford, que morreu nesta terça-feira, também é uma de suas maiores trajetórias – que começa como ídolo juvenil, torna-se um dos maiores nomes do cinema comercial, depois autor, alicerce do cinema independente (ele que criou o festival de Sundance) e ativista político. Isso sem contar uma filmografia invejável, tanto como ator quanto como diretor.
Hermeto Pascoal nunca vai morrer.
Morre uma das principais autoras e intérpretes da música brasileira – Angela Ro Ro tem um espaço na história de nossa música – e cultura – que mal começou a ser investigado.