Claudia Cardinale (1938-2025)

Claudia Cardinale, sinônimo de musa, de mulher independente e do cinema italiano, nos deixou nesta terça-feira, aos 87 anos. Joia da cultura da Itália apesar de nascida na Tunísia, La Cardinale surgiu como deusa idealizada pela sétima arte nos anos 70, foi a partir de 1963 que atingiu um novo patamar, ao estrelar, quase que simultaneamente, dois monumentos do cinema da península mediterrânea erigidos por dois de seus maiores nomes: o épico O Leopardo de Luchino Visconti e o pós-moderno 8 e 1/2, obra-prima de Federico Fellini. Estrelar estes dos dois filmes a elevou a um patamar que apenas Sophia Loren, entre suas conterrâneas contemporâneas, teve neste mesmo período. Foi a partir destes dois filmes que parou de ser dublada (os diretores anteriores tinham vergonha de seu sotaque, abraçado pelos autores dos dois filmes citados) e começou a usar seu estrelato como uma forma de mostrar como uma nova mulher estava pronta para surgir e dominar o mundo, longe da família, maternidade e afazeres domésticos. Esta fama a leva para os EUA naquele mesmo ano, quando realiza o primeiro filme da série A Pantera Cor de Rosa (de Blake Edwards, com Robert Wagner, Peter Sellers e David Niven) e torna-se um nome recorrente em filmes do período. Sua fase áurea terminou com Era uma Vez no Oeste, de 1968, Sergio Leone, mas ela seguiu fazendo filmes e recusando-se a fazer cirurgias plásticas ou intervenções cosméticas para disfarçar a idade, atuando ao lado de Brigitte Bardot, outro ícone do período, no faroeste As Petroleiras (1971), e sob a batuta insana de Werner Herzog em seu épico amazônico Fitzcarraldo (1982). Defensora dos direitos das mulheres desde cedo, ela foi mãe após ser vítima de um estupro ainda adolescente e teve de fingir nos primeiros anos de sua carreira que seu filho era seu irmão mais novo – e sustentá-lo foi o motivo de aceitar trabalhar no cinema. Ao assumir a maternidade após ter se tornado um nome de peso na indústria de seu país, ela passou a vocalizar necessidades e exigências femininas na década em que transformações sociais eram impostas pela base da sociedade. Ela trouxe essas discussões para o cinema, principalmente nos bastidores. E morreu cercada pelos dois filhos, Patrick e Claudia, que nasceu após o casamento com o diretor Pasquale Squitieri, falecido em 2017, que considerava seu único amor.

Sonny Curtis (1937-2025)

Um coadjuvante de luxo do rock dos anos 50, Sonny Curtis, que morreu nesta sexta-feira, após complicações com uma pneumonia, foi o primeiro parceiro musical de Buddy Holly e era um dos Crickets que acompanharam o ás da canção da era do rock, que morreu tragicamente aos 23 anos. Curtis e os companheiros de Buddy seguiram com um grupo e em seu primeiro álbum, lançado em 1960, em que trouxeram dois clássicos escritos pelo guitarrista: “Walk RIght Back”, que tornou-se um sucesso antes da gravação dos Crickets pois o baterista da banda, Jerry Allison, havia sugerido-a para os Everly Brothers, com quem ele também tocava, e “I Fought the Law”, hino de rebeldia roqueira que foi regravado por gente tão diferente quanto Roy Orbison, Tom Petty, Bruce Springsteen, Dead Kennedys e, claro, o Clash. Curtis alternou sua carreira solo com reuniões recorrentes dos Crickets, mas acertou mais uma vez na mosca quando foi incumbido de compor a música-tema para o novo seriado estrelado por Mary Tyler Moore nos anos 70 – e a irresistível “Love is All Around” certamente pagava boa parte de suas contas até sua morte.

Robert Redford (1936-2025)

Um dos maiores nomes da história do cinema norte-americano, Robert Redford, que morreu nesta terça-feira, também é uma de suas maiores trajetórias – que começa como ídolo juvenil, torna-se um dos maiores nomes do cinema comercial, depois autor, alicerce do cinema independente (ele que criou o festival de Sundance) e ativista político. Isso sem contar uma filmografia invejável, tanto como ator quanto como diretor.

Hermeto Pascoal (1936-2025)

Hermeto Pascoal nunca vai morrer.

Angela Ro Ro (1949-2025)

Morre uma das principais autoras e intérpretes da música brasileira – Angela Ro Ro tem um espaço na história de nossa música – e cultura – que mal começou a ser investigado.

Rick Davies (1944-2025)

Fundador, principal compositor e único integrante presente em todas as formações do Supertramp, o multiinstrumentista inglês Rick Davies morreu neste sábado e encerrou definitivamente a carreira da banda que fundou no final dos anos 60. Ele mesmo já havia largado essa carreira há dez anos, quando questões médicas o fizeram ter que parar de seguir o ritmo de vida do showbusiness, mas ele não parou de tocar, embora de forma esporádica e em muitas vezes sem intenções comerciais, tornando público que descartava a volta da banda que estabeleceu seu nome na história da música pop. Autor de clássicos do grupo como “Goodbye Stranger”, “Bloody Well Right”, “My Kind of Lady”, “Cannonball”, “From Now On” e “Crime of the Century”, ele dividia a banda com o outro compositor do grupo, Roger Hodgson (autor dos outros hits do grupo, como “Dreamer”, “Give a Little Bit”, “Take the Long Way Home”, “The Logical Song”, “It’s Raining Again” e “Breakfast in America”), que fez parte da banda até 1983. A saída de Hodgson do grupo desequilibrou a harmonia perfeita que caracterizava o grupo, tanto no casamento das vozes de Rick (mais grave) e Roger (mais aguda), quanto nos de seus respectivos principais instrumentos (piano e guitarra, respectivamente). Em algum ponto equidistante entre o pop rock, o soft rock e o rock progressivo, o Supertramp tomou as paradas de sucesso do planeta na virada dos anos 70 para os anos 80, mas a saída de Roger do grupo em 1983 fez o tecladista arrastar a banda sozinho até 1988, quando encerrou suas atividades para lançar-se em carreira solo. Anos depois, em 1996, voltou a ressuscitar o grupo (sem Roger) até parar de tocar com este nome em 2002. Entre 2010 e 2011 reuniu o grupo (novamente sem Roger) para as últimas apresentações, encerrando finalmente a história da banda – e sua rivalidade com Hodgson, que cresceu em escalas judiciais, com os dois briganndo na justiça por créditos das canções e impedindo um ao outro de tocar as músicas dos outros em seus próprios shows – com sua morte neste fim de semana, decorrente de um câncer.

Mark Volman (1947-2025)

Apesar de muitos nem saberem da existência da banda ou ter ouvido falar em seu nome, Mark Volman, norte-americano fundador dos Turtles que morreu nessa sexta-feira, nos anos 60, é autor de uma das músicas mais emblemáticas do período – e que manteve-se viva para além da década, sem nostalgia -, a deliciosa “Happy Together”, lançada em 1967. Embora o grupo tivesse emplacada outros hits (como sua versão para “It Ain’t Me Babe” de Bob Dylan como primeiro single, “Let Me Be”, “You Baby” e “She’d Rather Be With Me”), nenhuma música teve tanta proeminência quanto a citada anteriormente, que tirou “Penny Lane” dos Beatles do topo das paradas de sucesso dos EUA após seu lançamento. Mas o sucesso da banda foi atingido por questões contratuais com a gravadora White Whale, que registrou não só apenas o nome da banda como os dos próprios integrantes, que preferiram terminar com a banda e mudar de nomes a seguir com um contrato que negavam. Os fundadores dos Turtles – Mark e Howard Kaylan – adotaram respectivamente os pseudônimos de Flo & Eddie, que tornou-se seu nome artístico, como dupla. Eles foram adotados por Frank Zappa no início dos anos 70, que trouxe-os para sua banda, enquanto seguiram colaborando com outros artistas (participando de singles tão distintos quanto “Get it On (Bang a Gong)” do T.Rex em 1971 e “Hungry Heart’, que Bruce Springsteen gravou em 1982). Felizmente os dois recuperaram as fitas masters de seu antigo grupo da gravadora que os prendeu quando esta faliu no meio dos anos 70. Volman entrou para a universidade nos anos 90, estudando música e depois artes e roteiros, eventualmente deixando a vida acadêmica de lado para tocar Kaylan em shows esporádicos comemorativos dos Turtles. Morreu após uma breve doença, dois anos depois de ter sido diagnosticado com demência.

Bruce Loose (1959-2025)

Morreu nesta sexta-feira um dos principais nomes da história do hardcore. Embora não seja um dos fundadores do Flipper, uma das principais bandas da variação do punk rock que floresceu na costa oeste nos Estados Unidos, Bruce Richard Calderwood – que adotou o sobrenome fantasia depois de entrar na banda – gravou o clássico Album – Generic Flipper em 1982, abrindo uma nova vertente para o gênero ao divergir da pressa e velocidade para valorizar o peso e a distorção, característica intimamente ligada à entrada de Loose na banda, que além de vocalista também assumia o papel de segundo baixista na banda (que já contava com o Will Shatter, que também cantava, tocando o instrumento), aumentando ainda mais o volume e a pressão do som do grupo, que já vinha ruidosa graças à guitarra absurdamente barulhenta de Ted Falconi, que, ao lado do baterista Steve DePace, segue no grupo até hoje. Loose tornou-se o timbre vocal característico da banda e manteve-se na função até 2015, quando foi substituído primeiro por David Yow (ex-Jesus Lizard), que por sua vez saiu em 2022 para a entrada de Mike Watt (célebre baixista da cena punk americana, fundador do Minutemen, do Firehose e integrante temporão dos Stooges de Iggy Pop). A influência do grupo foi para além da cena hardcore especificamente por seu som lento e pesado, primordial na consolidação do som de Seattle, tanto que o ex-baixista do Nirvana, Krist Novoselic, tocou com o grupo entre 2006 e 2009, e o próprio Kurt Cobain não cansava de passear com uma camiseta da banda feita por ele mesmo (presente no clipe de “Come as You Are” e no encarte do disco In Utero, de 1993). Bruce morreu de ataque cardíaco e foi confirmada na página do Facebook da banda.

Silvio Tendler (1950-2025)

Um dos principais documentaristas brasileiros nos deixou nesta sexta-feira, quando o carioca Silvio Tendler cedeu a uma infecção generalizada após ficar um tempo internado em um hospital em sua cidade-natal. Conhecido como “o cineasta dos vencidos”, ele começou sua carreira ainda nos anos 60 e após o recrudescimento da ditadura militar brasileira naquela década, mudou-se para o Chile, de onde saiu após o golpe militar que derrubou o presidente daquele país, Salvador Allende. Este foi alvo de um de seus primeiros grandes filmes, quando, agora morando em Paris, participou da produção coletiva do filme La Spirale, de 1975, que também contava com participações de outros diretores, como Chris Marker e Jean Rouch. Voltou ao Brasil em 1976, quando começou a produzir seus filmes mais clássicos, que ao mesmo tempo que contava a história de grandes nomes da política brasileira abatidos pela ditadura, também preparava o terreno para, nos anos 80, o país recomeçar de novo após aquele período nefasto. Documentários como Os Anos JK – Uma Trajetória Política (1980) e Jango (1984) fizeram o país reencontrar o passado que os militares tentaram apagar e em grande escala, atingindo públicos que reuniam centenas de milhares de espectadores. Sua obsessão pelo país o fez visitar grandes nomes de nossa história, em longas, médias e curtas metragens: O Mundo Mágico dos Trapalhões (1981), Josué de Castro – Cidadão do Mundo (1994), Castro Alves – Retrato Falado do Poeta (1999), Milton Santos – Pensador do Brasil (2001), Marighella – Retrato Falado do Guerrilheiro (2001), JK – O Menino que Sonhou um País (2002), Oswaldo Cruz – O Médico do Brasil (2003), Glauber o Filme, Labirinto do Brasil (2003Paulo Carneiro – Espelho da Memória (2003), Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá (2006) e Tancredo, a Travessia (2011). Também dirigiu séries como Anos Rebeldes (1992) na Globo, Era das Utopias (2009) e Há muitas noites na noite – Poema Sujo Ferreira Gullar (2015). Tetraplégico desde 2011, ele passou por um longo período de recuperação e voltou a filmar, com dificuldades, num processo que foi registrado no filme A Arte do Renascimento (2015), de Noilton Nunes.

Mino Carta (1933-2025)

Morreu um dos maiores nomes da história do jornalismo brasileiro.