Mais um mestre que 2021 carrega: o pianista e tecladista Chuck Corea, que começou sua carreira tocando em alguns dos álbuns mais clássicos de Miles Davis (como In a Silent Way e o catártico Bitches Brew) e, ao lado do mestre, ajudou a fazer a transição do jazz dos anos 70 para os anos 80, estabelecendo uma vertente do gênero que muitos torcem o nariz mas que tem sua importância, o fusion. Antes disso, tocou no clássico grupo Return to Forever, além de tocar com alguns dos principais nomes do gênero. Ele morreu nesta terça, após ter descoberto um raro tipo de câncer que se desenvolveu muito rápido, como disse sua família em uma nota.
A morte de Mary Wilson, nesta quarta-feira, enterra de vez o sonho das Supremes, principal grupo vocal dos anos 60 (e a concorrência não era fraca…). Mesmo ela não sendo a principal estrela do grupo – trunfo que ficou para Diana Ross, que acabou desconfigurando o trio a favor de seu estrelato -, ela foi uma de suas fundadoras e era a alma do trio, com sua voz suave e aveludada, que funcionava como sua presença na banda: era a cola que segurava tanto os três vocais quanto as três estrelas no estúdio quando a situação ficava tensa. Sem contar que era maravilhosa…
O ator canadense Christopher Plummer, o eterno Barão Von Trapp, do filme A Noviça Rebelde, morreu nesta quinta-feira, em paz, com sua família, e deixando um legado que lhe fez viver personagens de Shakespeare e um general Klingon (no sexto Jornada nas Estrelas), além de atuar em clássicos modernos como O Homem Que Queria Ser Rei, Sobre Facas e Segredos, Malcolm X, Os 12 Macacos, entre vários outros.
Nem dá para medir o legado de Fernando Barbosa, o fundador dos Barbatuques, que nos deixou nesta quinta-feira. Tido como um mestre por seus pares, ele criou o grupo a partir do grupo Auê, ainda nos anos 90, quando plantou a semente de sua principal obra, o grupo de percussão corporal Barbatuques – o nome vem de “batuques do Barba”, como era mais conhecido. Não o conheci pessoalmente, mas sempre o via em alguns shows e eventos e dava para ver o quanto era querido e o quanto fará falta.
Que triste a notícia da partida da produtora escocesa Sophie neste sábado, principalmente levando em conta a ridícula causa de sua morte, que caiu após tentar subir para ver a lua cheia em Atenas, na Grécia, onde morava. Primeira artista transgênero a ser indicada ao Grammy, por seu ótimo Oil of Every Pearl’s Un-Insides, de 2018, ela também trabalhou com artistas tão diferentes quanto Flume, Arca, Madonna, Charlie XCX, MØ, entre vários outros, sempre cogitando possibilidades sonoras radicais sem perder o pé na pista de dança. Uma visionária em plena ascensão, abatida no início de um lindo voo. Ela tinha 34 anos. Que tristeza.
Phil Spector, produtor que ajudou a definir o som da segunda metade do século, morreu neste sábado, na cadeia. Ele inventou a produção “wall of sound”, que dava um ar grandiloquente e suntuoso para pequenas joias pop – a mais conhecida, deste período, é a imortal “Be My Baby”. Ajudou a parir clássicos como “You’ve Lost that Loving Feeling” e “River Deep, Mountain High”, além de ter produzido o último disco dos Beatles – o único a não ser produzido por George Martin -, o póstumo Let it Be. Também trabalhou com John Lennon, George Harrison, Leonard Cohen e com os Ramones. Junto de sua fama de produtor espartano, vinha junto a péssima reputação como ser humano – misógino e paranoico, ia armado para todas as gravações e apavorava músicos e intérpretes ameaçando-os de morte, além de ter torturado psicologicamente sua esposa Ronnie Spector, uma das Ronettes, que teve de fugir de casa para salvar-se, e ser acusado por dois de seus filhos de tê-los molestados quando ainda eram crianças. Sua carreira terminou a partir da morte de outra esposa, Lana Clarkson, em 2003, que finalmente o levou à cadeia em 2009, onde permaneceria preso até 2024, quando poderia sair sob condicional. Mas foi vítima do covid-19 e morreu devido a complicações após ter contraído a doença.
Duplo sentido como brecha, humor como resistência e sem deixar ninguém parado – o mestre paraibano Genival Lacerda nos deixou nesta quarta-feira, mais uma vítima deste maldito covid-19.
Líder do grupo Gerry and the Pacemakers, Gerard Marsden, que morreu neste domingo de uma doença sem relação com o covid-19, pegou a onda dos Beatles no início dos anos 60 e entrou para a história do pop e de sua cidade-natal, Liverpool. Além de ser a principal banda de Liverpool a rivalizar com o grupo de John, Paul, George e Ringo (perdendo o posto logo que estes quatro se tornaram uma atração nacional), os Pacemakers, que também eram administrados pelo empresário dos Beatles Brian Epstein, entrou para a história de sua cidade com dois singles específicos – “Ferry Cross the Mersey“, que consagrou o nome do rio que corta a cidade portuária e a balsa que o cruza nas paradas de sucesso dos anos 60 e “You’ll Never Walk Alone“, que tornou-se o hino informal do time de futebol da cidade, o Liverpool. Isso sem contar seu principal hit, a deliciosa “How Do You Do It?”, uma composição de Lennon e McCartney, a propósito.