A volta dos Gremlins e Goonies 2!

Gremlins-Goonies

Estão mexendo nos tesouros da nossa juventude – e depois do quarto Indiana Jones e de uma nova trilogia de Guerra nas Estrelas na mão de J.J. Abrams é a vez de cogitarem relançamentos de dois clássicos dos anos 80: uma sequência para o filme Goonies e uma nova versão para a grife Gremlins. Goonies 2 foi confirmado pelo diretor do filme original Richard Donner, que deve produzir o filme ao lado de Steven Spielberg e Chris Columbus (que escreveu o roteiro do primeiro filme) e a nova versão trará o velho elenco de volta. Resta saber se vão contar uma nova história com os velhos Goonies ou se eles apenas farão pontas numa aventura com um novo elenco (opção mais plausível), mas isso ainda está no estágio inicial do projeto.

Já refazer Gremlins é de uma obviedade tamanha que é de se pensar porque ninguém havia cogitado isso antes. Afinal, apresenta-se para uma nova geração o Pikachu dos anos 80, o ícone de fofura Gizmo, que pode se transformar em um monstro se for alimentado após a meia-noite (hahaha, ah, como aquela época era inocente…). Junte isso ao fato de que ninguém se lembra de quem fazia parte do elenco original dos dois filmes e que os efeitos especiais poderão deixar os gizmos mais fofinhos e os gremlins mais assustadores. É um filme infantil com um gostinho de adolescência – a cara de Hollywood nos anos 2010. No entanto, as notícias sobre os Gremlins no século 21 ainda são mais esparsas que a de Goonies 2.

E ainda me pergunto como é que ninguém cogitou ainda refazer os De Volta para o Futuro (as mudanças entre as décadas de 2010 e 1980 são muito mais bruscas do que entre 1980 e 1950) ou o bloomsday de Ferris Bueller. Já um terceiro Caça-Fantasmas não se realizará completo, visto que o Egon morreu no início do ano (ave, Harold Ramis).

13 de 2013: Lou Reed

loureed

A primeira vez que ouvi a voz de Lou Reed foi quando um professor de história me emprestou uma fita cassete com o terceiro disco do Velvet de um lado, algumas músicas do Loaded do outro e “Venus in Furs” no final. Eu era adolescente em Brasília no início dos anos 90 e o acesso à informação em geral (principalmente se comparado a hoje em dia) era praticamente nulo. Comecei a gostar de música com uns 10 anos de idade e descobri o rock clássico ao mesmo tempo em que o rock brasileiro dos anos 80 paria um de seus principais representantes na minha cidade-natal – e enquanto os Beatles puxavam toda uma linhagem clássica e estabelecida (Stones, Cream, Hendrix, Doors, Led, Pink Floyd), o Legião Urbana citava toda a geração pós-punk (Smiths, Joy Division, Cure, Echo & the Bunnymen, Jesus & Mary Chain) além dos próprios punks ingleses (Sex Pistols, Clash, Buzzcocks) e americanos (Patti Smith, Talking Heads, Ramones). O raro contato com esse universo acontecia através da única revista regular de música (a Bizz) e especiais esporádicos de outras editoras (em geral, as revistas-pôster da Somtrês), em programas específicos de rádio (uns contrabandeados do Rio e de São Paulo em fitas cassete) e discos que raramente entravam no circuito, seja através do relançamento em CD (a novidade da indústria fonográfica da época) ou de amigos que traziam discos importados em raríssimas viagens ao exterior. Haviam duas dezenas de livros sobre música nas prateleiras das livrarias (dois do Nelson Motta, dois da Ana Maria Bahiana e vários Songbooks do Almir Chediak) e não existia internet.

Nesse garimpo de informações musicais começou a pintar, vez por outra, o nome do Velvet Underground. Sempre apresentado com excesso de estranheza, o grupo nova-iorquino não estava preso a nenhuma cena musical específica e era cria da mente de dois cérebros pervertidos – o estudante de música John Cale e o estudante de literatura Lou Reed. Os dois universitários negavam suas origens acadêmicas num projeto musical que misturava sexo, drogas e rock’n’roll sem um pingo do hedonismo bicho-grilo de seus contemporâneos. O clima do Velvet Underground era sujo e noturno, quase sempre barra pesada, com alguns ecos sentimentais funcionando como clareiras emocionais no meio do caos ali representado. Além da fita do professor de história, meu outro contato com a música de Lou Reed havia sido no disco VU, lançado em 1984, com as gravações daquele que deveria ter sido o terceiro disco do Velvet ainda com John Cale. Umas músicas do terceiro disco, outras do quarto, a íntegra do VU, “Venus in Furs”, algumas poucas fotos e muitos textos sobre a ruptura provocada pelo primeiro disco, as performances nos shows, os temas tabu, a baterista unissex, a viola elétrica, a microfonia de duas guitarras histéricas, a associação com Andy Warhol, a vocalista Nico vindo direto da Europa para ganhar três músicas-chave no primeiro disco. A biografia do Velvet é uma lenda sedutora para qualquer fã de rock’n’roll e o mínimo glamour combinado ao excesso sonoro e cênico até hoje é uma das matrizes do que chamamos de punk rock.

Mas não só. Lou Reed é desses marcos do rock que expandem suas fronteiras. Depois dos Beatles, talvez apenas o Velvet Underground tenha ampliado tanto os horizontes de uma música que nasceu como som do inconformismo adolescente norte-americano para tornar-se a trilha sonora do século 20. Tudo bem que o pacto feito com John Cale antes da banda existir (fazer música para agradar apenas a si mesmos) tenha suas raízes em bases opostas: Lou Reed não aguentava mais escrever músicas sob encomenda na gravadora Pickwick e John Cale havia chegado à conclusão de que a música erudita contemporânea o limitava. Mas o acordo entre os dois mudou completamente o rumo do rock – e da históra. Fodam-se os fãs, a indústria, os pais, o país. A única coisa que realmente importava era fazer barulho com outros amigos em uma garagem qualquer e falar do que viesse à cabeça. Esse é o principal legado do Velvet Underground.

Já a principal contribuição de Lou Reed veio da aspiração erudita em elevar a carpintaria do gênero às esferas da alta literatura – e para isso, contou com o submundo. A noite eterna, que se arrasta por bares, puteiros, ruas mal iluminadas e frequentadas por trambiqueiros, estelionatários, marginais e outras almas que se perderam na ingenuidade de um dia ser alguém. Contraposto ao mondo pop criado ao redor do padrinho do Velvet, Andy Warhol, aquele cenário fora habitados séculos antes por personagens de Shakespeare, Dostoiévsky, Dickens e agora vinha colidir-se com o mundo das artes do século 20. De repente prostitutas e viciados tornavam-se modelos e atores e a desolação do gueto era combustível para letras e riffs que cantavam as dores de Janes, Candys, Bills e Lisas e a transformavam em poesia mudana, suja, cantada com um sorriso irônico e um olhar perdido.

Sua morte é a mais importante no pop de 2013, pois vivemos num mundo que um dia só existiu na imaginação de Lou Reed. Poucos podem gabar-se de fazer a própria criatividade ter dado origem a uma mudança de comportamento que se espalhou pelo planeta. Lou Reed era um desses.

Reginaldo Rossi (1944-2013)

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Mais um mestre que 2013 nos tira – só vi o Lou Reed do Pernambuco ao vivo uma única vez, ao lado de outro mito que 2013 também levou, meu amigo Fred Leal.

Nelson Mandela (1918-2013)

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Sério: a história ainda não mediu a importância de Nelson Mandela, que morreu nesta quinta-feira, basicamente porque ele foi a pequena alavanca que começou, finalmente, a mover todo o continente africano. Quando a África se erguer novamente e mostrar toda sua desenvoltura para o resto do mundo, aí sim talvez tenhamos alguma noção do quanto ele foi importante para o século 20. E a África só vai se reerguer porque Nelson Mandela chegou a tempo de salvá-la. Ainda vai levar algum tempo, porque as coisas ainda estão num estágio bem inicial. Mas já começaram e a responsabilidade é de uma pessoa – que viveu 95 anos intensos, nos ensinando uma outra aplicação para o termo “força” – sem agressividade, sem raiva, sem rancor. Força plena.

Não vamos lamentar a morte deste líder, vamos celebrá-la: salve Nelson Mandela.

A foto acima é de Eli Weinberg e foi tirada em 1961.

Junior Murvin (1949-2013)

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Mais um mestre jamaicano que se vai

A aposentadoria de Edna Krabappel

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A dubladora da professora de Bart Simpsons, Marcia Wallace, faleceu no sábado passado e a produção do seriado achou melhor aposentar a personagem em vez de encontrar uma substituta.

Lou Reed (1942-2013)

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Lou Reed, o homem que salvou o rock’n’roll de sua primeira grande crise ao fundar o Velvet Underground ao lado de John Cale, morreu neste domingo. A causa da morte ainda não foi revelada, embora ele tenha sofrido um transplante de figado no semestre passado. Um dos nomes mais influentes da história da cultura pop no século passado, ele também foi responsável por aproximar a música pop da cultura erudita, tanto por ter sido apadrinhado por Andy Warhol quanto por aspirar elevar as letras da música pop à alta literatura. Foi o pai do punk nova-iorquino e um dos avós da Nova York que conhecemos hoje, que em nada lembra a cidade decadente em que nasceu e cresceu – além de ser o padrinho da áurea cool da era moderna, que mistura ruído, arte, poesia e design. Bukowski evoluído, Woody Allen da sarjeta – ele era um dos poucos do primeiro escalão do século passado que ainda habitava entre nós. Se você é indie, hipster, rocker, artsy, beat ou gay pode fazer sua homenagem ao velho Lou – seu mundo seria bem diferente – e pior – sem ele. Fará falta.

Qual sua principal lembrança relacionada à carreira dele?

George Duke (1946-2013)

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Outro mestre que 2013 leva.

Dominguinhos (1941-2013)

Dominguinhos

Um mestre se reúne a seu professor. Fará falta.

Carol lembrou do Milagre de Santa Luzia, documentário sobre Luiz Gonzaga que conta com Dominguinhos como condutor da narrativa:

James Gandolfini (1961-2013)

Putaqueopariu, o eterno Tony Soprano morreu hoje, na Itália, vítima de um ataque cardíaco. Com apenas 51 anos! 🙁

James Gandolfini. photo: Barry Wetcher

Quais são as melhores cenas de Sopranos? Mandaí links de cenas clássicos, vamos celebrar esse grande protagonista.