Dez anos de Quartabê

Seria só o show de lançamento de um EP, mas o Quartabê aproveitou para transformar a apresentação dessa sexta-feira no Sesc Vila Mariana em um espetáculo celebrando sua primeira década, numa sessão de tirar o fôlego. A primeira parte da noite foi baseada em Repescagem, disco que lançaram há pouco e que funciona como um complemento do álbum de 2018, que celebra a obra do mestre Caymmi e a primeira surpresa da noite surgiu logo que as cortinas se abriram, revelando apenas as silhuetas de suas integrantes, todas empunhando um violão, que não é o instrumento de nenhuma delas – e sim de Dorival. Aos poucos, cada um desceu da bancada em que começaram a brincar com o instrumento-base da música brasileira e tomou seus lugares à frente de suas ferramentas musicais: Chicão entre teclados e piano de cauda, Maria Beraldo e Joana Queiroz entre saxes, clarinetes e clarones e Mariá Portugal pilotando sua bateria. E assim começamos a colocar os pés na praia do baiano, envoltos pelo transe instrumental conduzido pelas quatro. A próxima surpresa veio como um voz do além, quando outra silhueta surgiu atrás do grupo – era a primeira convidada da noite, Ná Ozzetti, improvisando antes de sua entrada formal, quando participou da música que canta no recém-lançado EP, “Maricotinha”, esta misturada com “Batuque no Morro”, de Herivelto Martins, uma favorita do saudoso Zé Celso Martinez Correa, que o grupo homenageou nesta inclusão, como Chicão explicou. Depois foi a vez de receber a antiga integrante Ana Karina Sebastião e seu contrabaixo elétrico parecia nunca ter saído da banda, quando visitaram o autor homenageado do disco que gravaram quando a carioca integrava o grupo, Li​ç​ã​o #1: Moacir, em homenagem a Moacir Santos. A musicalidade e o carisma da segunda convidada engrossou ainda mais o caldo da noite e o público, boquiaberto, assistia em silêncio tanto os momentos mais intensos quanto os mais silenciosos, transformando a celebração da primeira década da banda em uma festa para os ouvidos – e olhos, este graças à integrante honorária do grupo, a iluminadora Olivia Munhoz, que brilhou mais do que o normal, como é quando apresenta-se com o grupo. “A gente faz uma linda trilha pra luz da Olivia”, brincou Beraldo, ao apresentar o time que faz o show e não estava no palco. A noite terminou com nova participação de Ná Ozzetti, quando as quatro voltaram à bancada de trás do palco com os violões, a luz destacou suas silhuetas e pudemos ver a participação sensível da cantora veterana que, na segunda volta ao palco, apenas dançou – lindamente. Fácil fácil um dos melhores shows do ano.

Assista a um trecho aqui.

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Repescando Dorival Caymmi


(Foto: Ilana Bar/Divulgação)

O nome da banda Quartabê foi inspirado no humor de fundo de sala de aula de seus integrantes, mas serviu como molde para seus trabalhos, cada um deles uma aula que fazem em relação a um compositor. E como fizeram no primeiro Lição #1, em homenagem ao pernambucano Moacir Santos, quando, depois do lançamento do disco, fizeram um EP a partir do que ficou de fora da primeira obra, agora repetem a recuperação de Lição #2, lançando um EP a partir do que fizeram ao costurar a obra de Dorival Caymmi. O EP Repescagem, que lançam nesta quinta-feira e que mostram em primeira mão no Trabalho Sujo, muda um pouco a estrutura do disco inicial, como explica Maria Beraldo. “No Lição #2 a gente fez uma escolha de estrutura que, em vez fazer arranjos de cada música, a gente resolveu fazer uma grande composição, uma suíte de 40 minutos, uma peça só – tudo ali é Dorival mas também é uma composição nossa, de alguma maneira”, conta a musicista. “E nesse processo a gente teve várias ideias de arranjos que ficaram de lado porque não cabiam no Lição #2 na ideia que a gente queria – e agora essas ideias voltam no Repescagem, à moda Quartabê, com uma visão distante das versões originais e ressignificando essas músicas que pra gente são das coisas mais valiosas e preciosas que a gente tem na música.” Além disso, Beraldo, Chicão, Joana Queiroz e Mariá Portugal recebem duas participações preciosas, ídolos do grupo: “A Mart’nália faz nosso reggae descompassado, nosso balanço diferente”, continua Maria, “e a Ná Ozzetti vem na nossa versão de ‘Maricotinha’, que mistura com a nossa conexão com o Zé Celso. É um disco muito ritualístico pra gente, costurado com a canção ‘Quem Vem Pra Beira do Mar’, que aparece em três sessões.” O grupo lança o disco no próximo dia 28, no Sesc Vila Mariana.

Ouça abaixo:  

Quartabê reinaugura o Centro da Terra

Depois de dois anos sem ver o público, finalmente é dia de voltar ao Centro da Terra. As temporadas e a programação iniciam a partir de março, mas antecipamos a volta com a ilustre presença dos queridos Quartabê, que apresentam seu Lição #2: Caymmi nesta segunda-feira, 14 de fevereiro, a partir das 20h. Infelizmente, os ingressos já estão esgotados (vantagens de colaborar com o apoia.se do Centro da Terra – os apoiadores foram avisados anteriormente sobre este show, uma viagem densa e intensa a um oceano chamado Dorival Caymmi, tema do segundo disco do quarteto. E semana que vem anunciamos a programação de março. Confira mais informações no site do Centro da Terra.

Vida Fodona #676: Festa-Solo (14.9.2020)

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Começando mais uma semana, lembrando que segunda sempre nos encontramos online no Festa-Solo na twitch.tv/trabalhosujo a partir das 21h – o último foi assim…

Paul McCartney – “Hot as Sun”
David Bowie – “Speed of Light”
Walter Franco – “Mamãe D’Água”
Fabio Goes – “Amor na Laterna”
Letrux – “Ninguém Perguntou Por Você”
Daft Punk – “Get Lucky”
Daryl Hall & John Oates – “I Can’t Go For That (No Can Do)”
Depeche Mode – “Enjoy the Silence”
Roxy Music – “Love Is The Drug (Todd Terje Disco Dub)”
Chemical Brothers – “Hey Boy Hey Girl”
Salt-N-Pepa – “Push It”
Laid Back – “White Horse”
Talking Heads – “Crosseyed and Painless”
Rage Against the Machine – “Killing in the Name”
Smiths – “Heaven Knows I’m Miserable Now”
Duffy – “Mercy”
Radiohead – “Bodysnatchers”
Tulipa Ruiz + Lulu Santos – “Dois Cafés”
Spoon – “Do You”
Unknown Mortal Orchestra – “Ur Life One Night”
MC Carol + Karol Conka – “100% Feminista”
Flora Matos – “Preta de Quebrada”
Tim Maia – “Márcio Leonardo e Telmo”
Clarice Falcão – “Survivor”
Painel de Controle – “Black Coco”
Harmony Cats – “Margarida (Felicidade)”
Lincoln Olivetti & Robson Jorge – “Eva”
Gal Costa – “Meu Bem Meu Mal”
Djavan – “Samurai”
Stevie Wonder – “Isn’t She Lovely”
Luiza Lian – “Mira”
Quartabê – “Morena do Mar”
High Llamas – “The Sun Beats Down”
Beach Boys – “Surf’s Up”
Mutantes – “O Relógio”
Zombies – “Beechwood Park”
Beatles – “I’m Only Sleeping”

Vida Fodona #626: Hábito que as pessoas perderam

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E as novidades deste mês.

Jenny Lee – “I’m So Tired”
Tom Zé – “Fliperama”
Bruno Schiavo – “Amores Incríveis”
Gal Costa + Caetano Veloso – “Sorte”
Rupa Biswas – “Aaj Shanibar”
Classixx – “Whats Wrong With That?”
Gilberto Gil + Jeru Banto – “Refavela (Digitaldubs Remix)”
Brockhampton + Dua Lipa + Ryan Beatty + Jon B – “Sugar (Remix)”
Dur-Dur Band – “Dooyo”
Whitest Boy Alive – “Serious”
Mahmundi – “Sem Medo”
Junior Mendes – “Toque Tropical”
Rolling Stones – “Jigsaw Puzzle”
Quartabê – “Maré Alta”
Matt Berninger – “Holes”

Alessandra, Ava , Luiza e Quartabê na Virada do CCSP

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Alessandra Leão, Ava Rocha, Luiza Lian e Quartabê: quatro forças da música contemporânea brasileira se reúnem num ritual que começa às 23h30 e vai até o raiar do dia, começando com show da Luiza (23h30) passando pelo show da Alessandra (às 1h15), continuando com Ava (às 3h), indo com o grupo Quartabê (4h45) e encerrando com o encontro destas quatro usinas de energia no histórico palco da Sala Adoniran Barbosa (às 6h30). Quem viver, virará (chegue uma hora antes pra garantir o ingresso dos shows – mais informações aqui).

Virada Cultural 2019 no Centro Cultural São Paulo

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Na terceira edição da Virada Cultural do Centro Cultural São Paulo sob minha curadoria de música, vamos assistir a dois encontros pesados. Desta vez os shows acontecem apenas na parte da noite, que será dividida em duas partes.

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Na primeira dela, Rodrigo Brandão leva seu projeto de spoken word Outros Barato para um novo patamar, ao convidar o clássico trio Azymuth para um passeio guiado pela voz do MC Gorila Urbano, com as participações de Guilherme Granado, Rogerio Martins (ambos do Hurtmold), Rodrigo Carneiro e Thomas Rohrer, pontualmente às 18h (mais informações aqui).

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E a partir das 23h30 começamos a madrugada com a força de quatro grandes artistas contemporâneas: Luiza Lian (23h30), Alessandra Leão (1h15), Ava Rocha (3h) e Quartabê (4h45) apresentam seus shows solo para finalmente se unirem num mesmo espetáculo conjunto a partir das 6h30 (mais informações aqui).

Acredite: vai ser épico – e tudo de graça (só chegue um pouco antes do horário para garantir seu ingresso).

CCSP: Maio de 2019

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Esta é a programação que teremos neste mês de maio pela curadoria de música do Centro Cultural São Paulo…

2 – A cantora cearense Soledad lança seu segundo disco Revoada, com produção de Fernando Catatau – de graça
4 – A Levis comemora o aniversário de sua calça icônica com o 501 Day Festival, que reúne apresentações de Letrux, Tássia Reis, Jaloo e MC Tha de graça a partir das 16h
5Luciana Oliveira mostra seu disco Deusa do Rio Níger a partir das 18h
9 – A banda A Place to Bury Strangers já está com ingressos esgotados (mas eu ouvi falar em sessão extra?)
11 – O sexteto instrumental Labirinto lança seu terceiro álbum (Divino Afflante Spiritu) e grava clipe ao vivo
12 – O rapper Froid vem de Brasília pra mostrar seu disco Teoria do Ciclo da Água
16Arto Lindsay e Rodrigo Coelho apresentam-se na mesma sessão, o primeiro mostra seu disco Cuidado Madame, enquanto o segundo apresenta seu espetáculo Coisas2018, em cima da obra de Moacir Santos
18 – A primeira parte da Virada Cultural no Centro Cultural São Paulo faz Rodrigo Brandão mostrar seu Outros Barato ao lado do trio Azymuth, com alguns convidados surpresa…
19 – A segunda parte da Virada Cultural no Centro Cultural São Paulo traz shows com Quartabê, Luiza Lian, Ava Rocha e Alessandra Leão – além de um espetáculo envolvendo as quatro artistas
23 – Os grupos de pós-punk Duplo (de São Paulo) e Belgrado (de Barcelona) apresentam-se na mesma sessão
24 – A big band Höröyá lança seu terceiro disco, Pan Bras’Afree’Ke Vol.2, de graça no Centro Cultural São Paulo
25 – O trio Mental Abstrato funde rap com jazz e chama Kamau e Stefanie MC como convidados
26Lara Aufranc mostra seu novo disco Eu Você Um Nó, produzido por Rômulo Froes, com abertura da banda Nã em mais um show gratuito
30Luê recebe Juliana Strassacapa e Mateo Piracés-Ugarte, da banda Francisco El Hombre, e Siba para mostrar faixas dos dois álbuns e músicas inéditas

Os 75 melhores discos de 2018: 16) Quartabê – Lição #2: Dorival

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“Maré alta”

18 de 2018: Quartabê

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Num ano em que vi shows brasileiro às centenas, a apresentação ao vivo que mais me impressionou foi o show de lançamento que o Quartabê fez para seu disco Lição #2: Dorival no Auditório Ibirapuera. O grupo causa um certo estranhamento inicial por seu jazz heterodoxo de formação inusitada e pelo clima de piada interna que mistura desde o nome da banda (que brinca com o tipo de humor entre seus quatro integrantes) até a própria escolha deste formato de discos, em que mergulham na obra de um professor para fazer este inusitado fichamento musical. Por sua formação acadêmica, o grupo disseca seus autores favoritos num nível de ciência que vai além do improviso, do ritmo, do timbre, da orelhada, do feeling – sem nunca abandonar nada disso. Mas algo foi para um lado sobrenatural neste primeiro show. Claro que a sincronicidade interna ajudou – fui ao show com zero expectativa, principalmente após ser atordoado pela intensidade do lançamento da mixtape Comunista Rico de Diomedes Chinaski no CCSP -, mas a sinergia de Beraldo, Chicão, Joana e Mariá no palco – tanto musical quanto cênica – aliada à luz miraculosa de Olívia Munhoz fez a reinvenção de Dorival Caymmi alcançar uma estratosférica estética que poucos shows brasileiros conseguiram chegar perto. Que momento mágico!