Quando Betty Davis apresentou Miles Davis a Jimi Hendrix

, por Alexandre Matias

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Betty Davis é uma dessas forças da natureza personificadas numa deusa funky, infelizmente ofuscada por ter adotado o nome do marido famoso, mestre Miles. Mas mesmo antes de conhecer Miles Davis, Betty já gravava seu nome na história, ainda como Betty Mabry ao conhecer músicos como Sly Stone e Jimi Hendrix após ter se mudado para Nova York, atuando como cantora (lançou os singles “Get Ready For Betty” e “I’ll Be There” no início dos anos 60), compositora (é a autora de “Uptown (to Harlem)” dos Chambers Brothers) e modelo. Mas foi após conhecer Miles Davis que soltou todo seu potencial criativo. O mesmo pode ser dito sobre a evolução mais radical do trompetista que, sob sua influência, começou a experimentar com a psicodelia e a eletricidade. Encantado por Betty, Davis batizou uma música do disco Filles de Kilimanjaro com seu nome além de ter colocado-a na capa do mesmo.

Durante os anos 70, ela gravou discos que a tornaram uma espécie de segredo bem guardado entre os apreciadores do funk e do groove. Betty Davis (1973), They Say I’m Different (1974) e Nasty Gal (1975) são destas obras-primas desconhecidas do grande público que eletrizam qualquer pista de dança e cabeça-feita. Os três discos foram relançados pela excelente gravadora Light in the Attic, que, além de desenterrar seu quarto e inédito disco Is It Love or Desire? (de 1976) em 2009 e relançar seus três primeiros álbuns em vinil, agora surge com o disco que prova a influência de Betty no trabalho de dois dos maiores ícones de seu tempo: Jimi Hendrix e Miles Davis. Embora não estejam tocando no disco The Columbia Years (1968-1969), os dois pairam em música e alma sobre a gravação, até então considerada uma espécie de lenda urbana.

Gravado em duas sessões nos dias 14 e 20 de maio de 1969 no estúdio da Columbia na rua 52, em Nova York, o disco foi produzido pelo próprio Miles Davis e seu braço-direito Teo Macero, mago da pós-produção responsável por nada menos que Bitches’ Brew (título que teria sido inspirado por Betty e suas amigas e que chamaria-se apenas Witches’ Brew caso a própria Betty não interferisse, exigindo o título gangsta), e conta com um time de músicos de cair o queixo. Além de Betty, The Columbia Years conta com o baterista do Jimi Hendrix Experience Mitch Mitchell, o baixista da Band of Gyspsys (o outro grupo de Hendrix) Billy Cox, o guitarrista John McLaughlin, o saxofonista Wayne Shorter, os tecladistas Herbie Hancock e Larry Young e o baixista Harvey Brooks (que tocou com Miles Davis e Bob Dylan) – e mostra como tanto Miles quanto Hendrix foram inspirados pela presença magnética de Betty e como ela própria veio criando a base para seus discos clássicos. Saca só algumas músicas:

O disco pode ser comprado direto no site da gravadora.

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