Psicodelia de protesto

, por Alexandre Matias

Supercordas2015

A Terceira Terra, o disco que os Supercordas lançaram no início do ano, pertence a esta já clássica safra de discos brasileiros lançada em 2015 – e como outros discos desta geração, também revela uma mudança considerável em relação aos trabalhos anteriores. A banda deixa o bucolismo e o ar rural dos outros discos para pegar mais pesado e fazer este que é seu disco mais politizado, que finalmente será lançado nesta sexta-feira na Serralheria, com abertura dos Soundscapes (mais informações na página do evento no Facebook). Conversei com o guitarrista e vocalista Pedro Bonifrate sobre o novo trabalho e a nova safra de bandas psicodélicas no Brasil.

O que é a Terceira Terra?
O conceito do disco foi sendo interpretado conforme as canções ganhavam forma no estúdio, e acabamos chegando na ideia de Terceira Terra. É livremente inspirada num aspecto da mitologia guarani, que supõe que Nhanderu teria criado três mundos: o primeiro, habitado pelos deuses, que deu lugar ao segundo, que é esse em que vivemos, onde há geração e corrupção, e o terceiro, que seria a morada sem mal. Associamos essa busca pela terceira Terra à nossa ideia ocidental do que são as utopias.

É o disco mais político de vocês.
Nos tornamos pessoas mais políticas nos últimos anos, e não foi à toa. Habitamos um continente em que os povos nativos continuam sendo exterminados pelas demandas do poder econômico, em que o Estado cada vez mais atua como lacaio desses mesmos poderes, em todas as esferas, minando iniciativas de poder popular, liberdades civis conquistadas a duras penas, destruindo nossos recursos naturais em nome da lucratividade de grandes corporações, tratando estudantes como bandidos. Não se posicionar diante disso, a meu ver, é assinar embaixo. Longe de nós assinar embaixo.

E o que vocês acham sobre este interesse recente pela psicodelia que está acontecendo aqui no Brasil e no exterior? Quais são seus artistas favoritos deste nova cena?
Acho legal, se considerarmos a psicodelia como uma percepção musical que olha pra frente de forma inventiva, que propõe perspectivas musicais diferentes e que tem a transformação como horizonte. Dessa nova onda, gosto muito do My Magical Glowing Lens, de Vitória, e dos Boogarins e do Luziluzia, de Goiânia, que se tornaram grandes amigos e colaboradores dos Supercordas.