Expandindo horizontes juntos


(Foto: Marcos Ramos Zenin)

Ao ser chamado para participar do projeto Instrumental Poesia, o poeta Caco Pontes convocou o grupo instrumental Projetonave – conhecido por já ter acompanhado alguns dos maiores nomes do rap brasileiro – para uma apresentação ao vivo em 2019, colaboração que já vinha cogitando há tempos. O encontro, que aconteceu no Sesc Avenida Paulista, fez a parceria se consolidar para além daquele único show e o grupo entrou em 2020 cogitando o disco em parceria que só agora vê a luz do dia. Órbita, que começou a ser gestado antes da pandemia começar, finalmente será lançado nesta sexta-feira e os caras toparam mostrar o disco em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. É um disco em que Pontes, com seu canto falado, abre novas portas de percepção para o grupo, que aproveita a deixa e abre referências musicais que vão do punk rock ao jazz, passando pelo trip hop e música nordestina, viagens asiáticas e africanas. O grupo lança o álbum ao vivo na outra sexta-feira, quando trazem o disco para o palco do Studio SP, com participações do rapper Sombra e abertura da poeta Mel Duarte.

Ouça aqui.  

Matéria-Prima e Projetonave no CCSP

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Duas entidades do novo rap brasileiro se encontram nesta quinta-feira na Sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo: de um lado o bardo do rap mineiro que já passou pelo Quinto Andar e Subsolo e agora chega à sua carreira solo, do outro o ótimo grupo instrumental paulistano Projetonave, a banda do Manos e Minas que já acompanhou grandes nomes da black music brasileira. O encontro acontece no lançamento do disco 2 Atos, produzido por Gui Amabis, a partir das 21h (mais informações aqui).

Projetonave + Emicida: “É Necessário Voltar ao Começo”

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Completando vinte anos na ativa no ano que vem, o clássico grupo Projetonave prepara-se para lançar duas mixtapes que dão uma geral em suas duas primeiras décadas. Remix reúne quase cinquenta colaboradores da banda tanto do hip hop quanto da música eletrônica – que recriaram várias faixas em dois volumes: o primeiro mais baseado em rimas e rap, enquanto o segundo é mais experimental. Assim, eles abriram todas as masters de seus discos e chamaram amigos para trabalhar com as faixas, as rimas, os timbres e os beats que quisessem. Entre elas está a faixa “É Necessário Voltar ao Começo”, primeira música da primeira mixtape de Emicida, Pra Quem Já Mordeu Um Cachorro Por Comida Até que Eu Cheguei Longe, de 2009, apresentada em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. Saca só:

Vale a comparação com a faixa original, lançada há oito anos, também com o Projetonave.

Além de Emicida, participam do volume 1 de remix nomes como Síntese, Sombra, Yoka, Munhoz, Elo da Corrente, Sala 70, Indee Style, Neguim Beats, entre outros. O volume 2 conta com Cybass, Nave, Sants, Soul One, Mental Abstrato, Master San, Seixlack e Cesrv, entre outros – este último recria “Kings of Sarjeta”, também apresentada em primeira mão aqui:

A relação completa das faixas e colaboradores está no final deste post. Remix vai ser lançado na semana que vem ( tanto em versão streaming (dia 4 de maio em todas as plataformas) quanto física (em um estojo com duas fitas cassete, que começam a ser vendidas no site deles em junho), além de ter uma versão para download no site deles. Conversei sobre o lançamento por email com o Akilez, que segura os vocais e programações do grupo ao lado do baixista Alex Dias, do guitarrista Marcopablo, do baterista Flávio Lazzarin, do tecladista Willian Aleixo e do DJ B8.

Conta a história dessa nova mixtape, como começou a gravação e como elas evoluíram para o projeto final? A ideia sempre foi lançar dois volumes, cada um com uma cara?
Tudo partiu do fato de já trabalharmos muito com samples e recortes, temos essa linguagem de beatmaker já nas nossas composições, principalmente quando acompanhamos MCs, gostamos de dar um caráter de loop e produção adaptado a banda. Partindo desse principio e a data comemorativa dos 20 anos em 2017, pensei em abrir todas nossas sessões de gravação para que todos amigos que convivemos pudessem desconstruir e fazer o que quisessem com as faixas abertas. O critério foi totalmente livre de qualquer direção, na real não tinha nenhuma idéia de como poderia soar a obra toda, pois convidamos pessoas com métodos, conceitos e idéias completamente diferentes, mas com afinidades na maneira de tratar a música. A fita dupla surgiu por necessidade, pois convidei pessoas a mais pensando em que 50% entregaria o remix, mas além de 99% entregarem, surgiram mais amigos querendo contribuir. Tive que brecar, pois não conseguiríamos arcar com todo esse material. Todo o processo foi feito de forma colaborativa e para nós é um dos maiores valores desse trabalho: ter a contribuição de várias pessoas que gostamos somando e respeitando nossa relação com a música. O critério de divisão se deu pela quantidade de músicas, tempo e flow das sequencias. Algumas mais trips quebravam as que continham rima, ai decidimos fazer uma mais de rap mesmo e outra mais experimental, da pra escolher o clima em que se quer viajar sem sobrecarregar.

Como é o processo de colaboração entre vocês e seus convidados? O quanto a colaboração é ao vivo e o quanto evolui durante a produção?
Gostamos de fazer tudo junto e ao vivo, nesse quesito temos essa escola de banda mesmo. Em alguns casos fazemos à distância, mas curtimos começar uma idéia juntos e ir evoluindo mutuamente. Partimos sempre do principio de afinidade e em quase todos os casos temos relação de amizade, acreditamos mais na experiência do que em colabs comerciais, trabalhamos todos esses anos construindo algo sólido entre nós e as pessoas que dividem isso com a gente entendem esse sentimento. Nunca assinamos um contrato com quem quer que seja, isso é muito relevante, e com todos que trabalhamos mantemos uma boa relação até hoje. Gostamos desse formato liberal, colaborativo, mais punk.

Como escolheram os convidados destas duas mixtapes?
Temos uma convivência com grande parte dos convidados, de uma forma ou de outra. Nesse trabalho surgiu a oportunidade de envolver mais pessoas que gostaríamos de trabalhar ou simplesmente por admirar o corre, além de registrar esse momento que essa forma de produção esta latente em SP, poder ter nosso soundbank reciclado por essas pessoas que vivem a musica de forma verdadeira é muito importante pra nós. É um trabalho que possibilita envolver tudo isso ao mesmo tempo, tem muita gente que ficou de fora e que gostaríamos de ter junto nessa tape. Mas acho entraram nomes representativos desse movimento atualmente, e tendo em vista que tudo foi feito de forma lúdica e independente, estamos felizes com o resultado.

Por que vocês não vão fazer shows destas mixtapes?
Chegamos a pensar nisso, mais abortamos a idéia porque seria quase impossível juntar todos em um show, e pela forma que foi feito seria desonesto alguém ficar de fora, então, optamos só pelo lançamento digital mesmo.

Como vocês vêem a evolução do rap brasileiro nos últimos dez anos? As brigas e rixas internas diminuíram, o clima ficou menos pesado e há uma abertura maior para outros gêneros musicais.
É um assunto complexo! Como cultura de rua é um movimento sem dono, todos podem se apropriar, e é o que aconteceu nessa década. A ótica do mais “abrangente” e mais “pesado” depende de qual ponto da cidade ele é feito, nos anos 90 ele era 100% de periferia, muitos apanharam de polícia para manter a coisa funcionando, inclusive eu! Hoje temos pessoas de outras classes sociais no meio, o que eu acho importante… Mas vejo que tem uma lacuna entre as questões levantadas no seu início e isso fica claro no momento atual de pouco envolvimento de MCs novos com a situação política do país. Acredito que nesse momento estamos nos dois pontos da pirâmide, vai levar uns anos pra se juntar la em cima, abertura musical somado a consciência hip hop – como cultura, não gênero musical – e seus fundamentos. Acredito que a evolução não pode ser apenas musical. O rap é um dos poucos gêneros musicais iniciado pela voz do oprimido a trazendo questões sociais bem fortes em sua história, então a evolução é relativa a ótica de quem a vê! Temos muita coisa pra construir e evoluir no nosso país ainda para aparecer em clipe com ouro e carros de luxo.

Tape 1
00:00 – Dj Nato Pk – Em Favor do Réu (Síntese)
03:00 – Nixon – Atritos e Conflitos (Sombra)
06:10 – Skeeter – Get Live (Pac Div)
08:20 – Yoka – War (Phes)
10:25 – Munhoz – Estalo (Amiri)
13:47 – Bolin – Cerrai o Cilho (Síntese)
16:57 – Emicida & Projetonave – É Necessário Voltar ao começo
22:46 – Síntese – Ahow
25:03 – Elo da Corrente – Constelações
27:37 – Comum – Asuncion
30:43 – Sala 70 – Respiro
33:03 – Coyote – Get Live (Pac Div)
35:36 – Lopez – War (Phes)
37:25 – Cabes – Até o fim sampa (Emicida)
39:31 – Diazz – Até o fim sampa (Emicida)
41:36 – Léo Grijó – Guerra (Amiri)
44:40 – Willian Monteiro & Axel Alberigi – Travessia
48:41 – Makoto – Cerrai o Cilho (Síntese)
51:40 – Ahnik – Bucle de Panico (Indee Style)
54:14 – Dario – Quarto Branco
55:50 – Neguim Beats – Constelações
57:18 – BB Jupteriano – Rap Musica (Sombra)

Tape 2
00:00 – Cybass – War (Phes)
02:44 – Cesrv – Kings of Sarjeta
06:15 – Amanda Mussi – Surprise
10:03 – Nave – Respiro
13:00 – Akilez – All Jazzera
16:17 – Sants – War
20:47 – Neguim Beats – Quarto Branco
22:49 – Sala 70 – Respiro
24:25 – Jovem Palerosi – Asunzion EP Mix
28:32 – Soul One – Até o fim sampa
32:38 – Grassmass – The Great Lagoon (DeVonte Saints)
36:46 – Marcopablo – Constelações
39:26 – Formiga – Cão Faminto
43:00 – Abud – Psico Análise
46:00 – Mental Abstrato – Respiro
48:40 – Tiago Frúgoli – Quarto Branco
51:41 – Dj B8 – As cores da cidade
54:40 – Niggas – Dubplate
57:21 – Master San – Agonia
59:56 – MJP – Heroínas e Heróis
1:02:59 – Lopes – War (Phes)
1:05:12 – SonoTws – Bucle de Panico (Indee Style)
1:07:03 – SPVic – Agonia
1:10:10 – Dario – Constelações
1:12:11 – Gondim – The Great Lagoon
1:15:43 – Seixlack – Cerrai o Cilho (Síntese)

Os 75 Melhores Discos de 2014 26) Projeto Nave + CESRV – Mixtape

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Batuque 2012: Deltron 3030 em São Paulo

E a terceira edição do festival Batuque, no Sesc Santo André, traz nada menos que Deltron 3030 para o Brasil, com Del the Funky Homosapien, Dan the Automator e Rob Swift, em duas apresentações nos dois primeiros dias de dezembro. O Batuque é a encarnação mais pansônica do velho Indie Hip Hop, comandado por Rodrigo Brandão, e além dos 3030 ainda traz shows dos Sebozos Postiços, B-Negão & Os Seletores de Freqüência, Kamau, Rodrigo Campos, Projetonave, entre outros. Um finde promissor.