18 de 2018: Professor Duprat

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Minha maior aventura profissional de 2018 foi inventar um show. Uma dúvida já acompanhava o início do ano quando me perguntava sobre a execução do trabalho de curadoria para além de um espaço físico específico, como já vinha fazendo em 2017, quando consegui me explicar a separação entre programação e curadoria, sempre provocando artistas a fazer algo diferente ou único ao apresentar-se para onde estava o convidando, seja no CCSP ou no Centro da Terra. Mas vislumbrava em buscar outros espaços para mostrar obras em que eu poderia influenciar em sua criação, mais do que simplesmente abrir espaço para a criação alheia. Foi quando pensei no gancho dos 50 anos da Tropicália e como ir além da celebração da invasão baiana de São Paulo, da reverência aos Mutantes ou ao disco-manifesto que fundou o movimento. Foi quando me veio à lembrança a importância de Duprat.

Quase vinte anos antes, eu havia entrevistado o próprio Rogério Duprat pessoalmente em uma matéria sobre os Mutantes para a falecida revista Bizz. Na pesquisa para fazer a entrevista com aquele que então conhecia como um dos mentores acadêmicos do tropicalismo, descobri um maestro erudito rebelde, progressista que flertava com o cinema e a publicidade e que tinha assinado obras históricas da música brasileira que iam para além da ebulição tropicalista. Ao cogitar um espetáculo que celebrasse a importância de Duprat, eu também estava reverenciando um personagem pouco lembrando nas homenagens clássicas da música brasileira, que quase sempre comemoram o intérprete, o compositor ou o músico. Era a possibilidade de festejar um arranjador – e transformar esta festa em um reforço sobre a importância deste personagem.

Chamei o João Bagdadi, do selo Risco, com quem havia trabalhado no ano anterior no Centro da Terra, e ele colocou o produtor Charles Tixier e o músico Arthur Decloedt para pensar como fazer este projeto. Os dois assumiriam a bateria e o baixo de uma banda que recriaria as obras arranjadas por Duprat no palco e também assinariam os arranjos e a direção musical do espetáculo. Juntos, pensamos em uma obra que pudesse ser apresentada como uma composição erudita, sem espaço para apresentações ou palmas, enfileirando diferentes aspectos da produção de Duprat à medida em que os convidados entravam. Juntos, nós quatro e o produtor Gui Jesus, pensamos em outros aspectos da apresentação: quem seria a banda, os intérpretes, quem assinaria o figurino, a iluminação, a direção de palco, o som, qual seria o repertório e quem tocaria qual instrumento. Assim nascia o Professor Duprat – Maestro da Invenção.

O resultado foram duas apresentações memoráveis no Sesc Pompeia que reuniram alguns dos maiores nomes da atual música brasileira cantando clássicos de nosso cancioneiro devidamente reverenciados pelas referências de Duprat. O time que reunimos desenvolveu-se muito tranquilamente, sem nenhum atrito e em pouco tempo tínhamos uma senhora apresentação de pé. Foi minha primeira assinatura com diretor artístico, atividade que irei exercer mais nos próximos anos, e também o primeiro trabalho com novos amigos que certamente me ajudarão a criar mais coisas.

E o Professor Duprat não ficou apenas em 2018 não – devemos ter novidades no ano que vem.

18 de 2018: Direção artística

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Há este desafio em minha frente. Quis o destino que eu começasse a lidar com shows para entender apresentações ao vivo como espetáculos únicos, obras que funcionam como um fim em si mesmo e cogitasse trabalhar nestes formatos juntos a artistas que, em outros tempos, só abririam seus processos (incluindo corações e mentes) quando tudo estivesse transformado em produto. Aos poucos venho acompanhando estes movimentos criativos dando palpites e sugerindo ideias, ouvindo conceitos ainda crus e ajudando bandas, intérpretes, compositores e músicos a darem passos rumo ao desconhecido. São conversas que começam em almoços e cafés e continuam no estúdio ou em passagens de som, passam por audições individuais e links trocados por wetransfer, longas DRs em áudios de whatsapp e enxurrada de referências para chegar a um único consenso. Funcionar como válvula de escape e câmara de eco para a criação alheia é parte do trabalho de curadoria, mas quando estas trocas são o ponto de partida da história, em vez de apenas reações a ideias já definidas, tudo fica mais fácil – inclusive a experimentação. A direção artística foi uma revelação inusitada de 2018 mas que afiou meu olhar para além do jornalismo na música – mas sem perdê-lo de vista – e me ocorreu quase simultaneamente entre o show Professor Duprat e o lançamento do disco de Paula Santisteban, ambos em setembro deste ano. E os dois são só os primeiros exemplos do que mostrarei mais em 2019.

Professor Duprat capturado

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O site bootlegger Olvécio Estava Lá registrou em áudio a apresentação em homenagem ao maestro da invenção que fizemos na semana passada no Sesc Pompéia.

“Futurível”
“Lindonéia”
“índia”
“Não Identificado”
“Deus Vos Salve Essa Casa Santa”
“6 Pequenas Peças Para Violoncelo”
“Coração Materno”
“Tuareg”
“Ave Lúcifer”
“Domingo No Parque”
“Fuga N° 2”
“Enquanto Seu Lobo Não Vem”
“Baby”
“2001”
“Irene”
“Cabeça”
“Construção”

“Como um cientista maluco da música”

Foto: Roberta Martinelli

Foto: Roberta Martinelli

Mais um dia de Professor Duprat no Sesc Pompéia – depois de uma estreia empolgante, vamos ao segundo dia. E, abaixo, a matéria que o programa Metrópolis, da TV Cultura, fez em um dos ensaios do espetáculo.

Ave Rogério Duprat!

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Chegou o grande dia! Nesta quinta e sexta-feiras, estreamos o espetáculo Professor Duprat no Sesc Pompéia – o primeiro show é quinta, 6, às 21h, e o segundo na sexta, 7, às 18h. Abaixo você ouve a entrevista que eu, o Arthur Decloedt e o Charles Tixier, que assinamos a direção artística do projeto, demos para a Roberta Martinelli em seu programa Som a Pino, na terça passada.

https://soundcloud.com/trabalhosujo/som-a-pino-professor-duprat