E se você ainda não viu o Blur ao vivo, prepare-se – a banda está em ponto de bala, talvez melhor do que na época em que lançaram seus discos clássicos. Também pudera: Damon Albarn – calejado de showbusiness depois de dez anos entre Gorillaz, projetos paralelos com músicos esporádicos, flertes com a música africana e uma ópera sobre um mago – domina o palco sem dificuldade e sua voz está ótima; Graham Coxon não exige tanto o holofote para si pois aprendeu que esse vem naturalmente quando exibe-se no próprio instrumento; Alex James aprendeu a tocar baixo e Dave Rowntree segue mantendo o pulso firme. A banda está confiante, cúmplice e se reconhece melhor no palco do que nos anos 90. O setlist é composto basicamente por hits e a banda tirou de letra para uma platéia de fãs que sabiam todas as músicas de cor. Não deve ser muito diferente do show no Planeta Terra desse ano…
Abaixo, os vídeos que fiz do show da banda em Barcelona.
E por falar em Tame Impala, tava precisando escrever sobre eles (não só). Cheguei de volta das “minhas férias“, começou a rolar toda aquela onde de protestos e não pude recapitular o que assisti na gringa, nessas duas semanas que estive fora. Começo essa retrospectiva agora, lembrando alguns dos shows que vi no velho continente quando passei esses dias fora do ar – alguns desses shows que vi passarão pelo Brasil esse ano e uns deles merecem o bis. Primeiro comento alguns shows do Primavera para depois falar do festival como um todo – e do show do Neil Young. Mas começo pelo Tame Impala, um dos shows mais importantes da edição do evento nesse ano, da carreira da banda e de 2013 – lembrando que o Tame Imapala é um desses que volta ao Brasil ainda este semestre:
Todas estes adjetivos vêm do fato de que o Tame Impala foi o primeiro grande show do festival catalão. O Primavera começa com shows esporádicos nas noites anteriores à abertura oficial, que aconteceu numa quinta-feira e a banda de Kevin Parker marcava justamente este início, afinal era a primeira grande atração em seu palco principal. Em nítida ascendente evolutiva, é possível ver que a intimidade dos músicos com o palco e com a platéia ultrapassou aquela timidez simpática de seu líder que assistimos nos shows aqui no Brasil, há um ano. Kevin não ri mais de vergonha, mas de orgulho do que está fazendo em pleno 2013 – revivendo os anos áureos da psicodelia como se o Lennon de 67 tocasse com o Pink Floyd de 72. Não é mais uma referência ou uma citação – Kevin SABE que pertence a esse cânone technicolor com a grande vantagem de já ter visto o que de ruim pode acontecer com uma banda de rock clássico pelos motivos mais mesquinhos – dinheiro, mulher, álcool e drogas. Ele vive o sonho psicodélico da infância perdida como se ela nunca tivesse sumido – e o brilho da inocência pudesse chegar à maturidade intacto.
Ao contrário disso, ele entrega sua banda à fluidez do idioma lisérgio elétrico sessentista, intercalando riffs e solos como se tais fraseados instrumentais não fossem elementos à parte na estrutura da canção. Uma das grandes diferenças do Tame Impala que vimos no Brasil em agosto de 2012 para o Tame Impala no Primavera este ano era o fato de que a banda se sente mais à vontade como instrumentistas, não se prendendo necessariamente às canções. O show começou com o riff de “Led Zeppelin” que não deixou a canção começar – em vez disso, a introdução da faixa tornou-se apenas uma introdução à próxima música, “Solitude is Bliss”. E seguiu assim, com a banda criando pequenas vinhetas e alongando compridas jams sempre para voltar para suas músicas mais sólidas (principalmente as do segundo disco, Lonerism, que não foi tocado ao vivo nas apresentações daqui, fora “Elephant” e “Apocalypse Dreams”, as únicas faixas que haviam vazado na época).
A sinergia musical entre os cinco integrantes da banda é conduzida também pela guitarra (e pela presença de palco) de um Kevin cada vez mais seguro de si e dos rumos que tem tomado. É visível perceber que estamos frente a uma banda com um futuro brilhante pela frente, não é preciso muito esforço para imaginar que o terceiro disco talvez possa superar o impacto dos dois primeiros.
Mas basta o presente para sentirmos esperança – não no futuro do rock ou no da música pop, mas esperança pura e simples a partir do fato de que ainda há gente boa disposta a passar boas vibrações para mais gente e melhorar nossa estada neste planeta. E se essas vibrações vêm como o timbre de uma guitarra psicodélica, melhor ainda.
Fiz uns vídeos no show, saca aí embaixo. Há até o momento farofa-brasil quando o Mutlei puxou o corinho de “PROGUÊ, PROGUÊ” no momento mais “Set the Controls to the Heart of the Sun” do disco, procuraê: