“Eu preciso destruir pra nascer”, cantava Kiko Dinucci no início de seu último show de 2024, que aconteceu nesta quinta-feira, na Porta, olhando tanto para seu passado recente quanto para um futuro próximo ao convidar Pedro Silva para derreter seu Rastilho num remix ao vivo de um dos discos mais marcantes dos últimos anos. Trilha sonora involuntária do período trevoso que atravessamos no início da década, o segundo disco solo de Kiko foi lançado pouco antes de afundarmos no abismo da pandemia, mas já à sombra de outro pesadelo, quando já descíamos a íngreme ladeira abaixo que foi a presidência brasileira anterior à atual, mas quando o vírus maldito entrou em nossas rotinas, o realismo na cara do disco acústico ganhou contornos ainda mais distópicos que nem Kiko poderia imaginar ao compor canções que falavam que não ia dar, que íamos explodir e de sermos arremessado no tranco. Quatro anos depois e lá estavam os mesmos versos e violão sendo submetidos à distorção e reinvenção por meios elétricos e digitais, reconectando Kiko à microfonia e a glitches eletrônicos que os acompanharam em outro projeto seu do mesmo período, o pós-moderno Delta Estácio Blues, de Juçara Marçal. Mas o que no disco de Juçara eram paisagens e horizontes antianalógicos, naquele Rastilho derretido aos poucos assumia a centralidade em uma nova fase do disco que o torna ainda mais apocalíptico a partir das intervenções de Pedro, aproximando-o tanto do caos elétrico noise quanto de um eletrônico esquizofrênico que por vezes pairava ambient, noutros era pura distorção. Os dois só haviam feito uma apresentação desta versão anteriormente, que Kiko até considerou comportada comparada à desta quinta, e prometem seguir nesse rumo 2025 adentro, expandindo os rumos para o que pode se tornar o próximo trabalho do músico, que encerrou a noite tocando uma versão atravessada de “Silêncio no Bixiga”, de Geraldo Filme. Vai, Kiko!
Por motivos de força maior, este show foi adiado para o dia 21 de janeiro, uma terça-feira – e todos que compraram ingressos antecipadamente serão ressarcidos através do site de compras.
O ano está chegando no fim, mas ainda não acabou, por isso conseguimos reunir mais uma vez Manu Julian, Thales Castanheira e Lauiz para uma segunda apresentação de Matar Um Homem Morto, em que celebramos os 30 anos do emblemático Dummy, o primeiro disco do Portishead, no dia 18 de dezembro. É a primeira vez que a Porta recebe a sessão Trabalho Sujo Apresenta, num espetáculo multimídia que conta com a minha direção e visuais feitos por Danilo Sansão e pela própria Manu. O disco de 1994 inaugurou o gênero trip hop e conta com músicas emblemáticas como “Sour Times”, “Mysterons”, “Glory Box” e “Roads” na mesma ordem do disco, trazendo aquela encruzilhada entre jazz, soul, trilha sonora de cinema dos anos 50, dub e funk para o século 21. A Porta fica no número 95 da rua Horácio Lane, entre os bairros Vila Madalena e Pinheiros, e os ingressos já estão à venda neste link.
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E quarta-feira também foi dia de comemorar o aniversário do Guilherme Held, quando ele colocou seu CØMA, projeto pós-punk que inventou com a baterista Bianca Godoi, em prática na Porta, em sua segunda apresentação. E por mais que a primeira, que aconteceu no Centro da Terra, tenha funcionado, foi nesta vez que o grupo mostrou a que veio, pra começar pelo próprio guitarrista ter se apresentado de pé (o que não aconteceu no teatro porque sua correia arrebentou minutos antes do show), o que permitia que o aniversariante regesse o groove quadrado da banda em seus riffs instantâneos, fazendo a baterista e o baixista Rubens Adati o acompanharem na base repetitiva enquanto o vocalista Otto Dardenne e Joana Bergman e Danilo Sansão, ambos pilotando synths, pudessem florear por sobre o ritmo primal. O fato do público também estar de pé ajudou bastante no fluxo da noite, até contar com uma participação especial surpresa – até pra banda – quando Tony Gordin invadiu o palco para tocar bateria (ao lado de Bianca) ou dividir os vocais com Otto, tão surpreso com o feat inusitado quanto todos os presentes. É pós-punk que você quer? Então toma! E a noite encerrou com a hashtag puxada por Décio 7, que chegou quase no fim, exigindo #mudalogoguiheld.
Mais uma vez apareço na Porta, desta vez pra discotecar após a segunda apresentação do grupo CØMA, o projeto pós-punk criado por Guilherme Held, Bianca Godoi, Otto Dardenne, Rubens Adati, Joana Bergman e Danilo Sansão, que se apresentará nesta quarta-feira, a partir oito da noite. Quem abre a noite é o trio Los Otros, que prepara o terreno para outras discotecagens, do DJ André Pio, do DJ Cosmic Pulses (que criou a playlist que inspirou a existência da banda) e do Érico Theobaldo, que também tocam na mesma noite. Lembrando que o Porta fica na rua Horácio Lane, 95, e os shows devem acontecer às 20h e às 21h. Vamos lá?
Mais um Inferninho Trabalho Sujo na Porta e comecei a vislumbrar outra transformação da festa a partir do que aconteceu nessa sexta-feira. Reuni dois artistas distintos com propostas diferentes mas que juntos trouxeram uma atmosfera diferente da que venho construindo neste último ano e meio abrindo espaço para artistas iniciantes, criando uma atmosfera mais introspectiva e plácida do que o ritmo intenso e abrasivo característico dos outros inferninhos. Assim, apesar de tecnicamente lidar com duas atrações que davam seus primeiros passos, o clima da noite não era propriamente jovem. Sim, Fernando Catatau e Isa Stevani estão aí há um tempo com seus trabalhos pessoais, mas a junção do trabalho dois, no espetáculo batizado de Outra Dimensão, é novíssimo e estava na terceira apresentação. E Francisca Barreto, apesar de ter acabado de entrar em seus vinte anos, já rodou o planeta tocando com Demian Rice e está desenvolvendo uma maturidade artística própria que vai além do que sua quantidade de shows autorais – aquele era apenas seu segundo, mas não parecia. Tocando mais uma vez com Bianca Godoi e Victor Kroner, ela convidou Valentim Frateschi para o lugar da viola de Thales Hashiguti, que não pode tocar nessa sexta, abrindo uma nova dimensão para além de seu primeiro show, realizado no Centro da Terra há algumas semanas. Com a banda toda de pé, ela criou uma correia para seu próprio violoncelo tocando ela mesma de pé e apresentou-se com mais confiança e dinâmica que na outra ocasião, dando preferência ao próprio repertório – tocando músicas lindas que ainda não têm nome – e deixando as versões para momentos pontuais do show, quando tocou “Habana” de seu professor de cello Yaniel Matos (que deverá ser seu primeiro single, produzido por Kroner), a maravilhosa versão para “Teardrop” do Massive Attack (quando deixa sua voz resplandecer como deve ser) e “Ponta de Areia” de Milton Nascimento (esta última só em seu instrumento e a pedidos do público). Uma apresentação mais concisa, sem participações especiais e mais direto ao ponto que a primeira, mostrando com ela aos poucos vai tomando conta do próprio voo.
Depois foi a vez de Fernando Catatau e Isa Stevani mostrar mais uma vez seu espetáculo Outra Dimensão, que realizam juntos: enquanto Isa projeta imagens tridimensionais que vão se desintegrando e reestruturando em movimento, Fernando faz sua guitarra rugir provocando reações nas imagens exibidas por Isa. E assim o público da Porta, onde foi realizada mais uma edição do Inferninho Trabalho Sujo, ia aos poucos entrando em paisagens silenciosas que hora pareciam estar numa gruta, num planeta inóspito, no espaço sideral ou numa floresta, imagens abstratas que ganhavam novas camadas com os movimentos propostos pelo som das duas guitarras tocadas por Catatau, que também cantarolou no final da apresentação, causando momentos de reflexão, meditação e transe entre o ruído e o silêncio, reforçando a sensação que o Inferninho na Porta abre uma outra categoria de festa. Uma que, quando discotequei, não pedia apenas música para dançar, mas abria espaços para misturar The Cure com Boards of Canada com instrumentais do BaianaSystem, Big Star e Tulipa Ruiz. Alguma coisa está acontecendo…
Mais Inferninho Trabalho Sujo essa semana? Outra vez na Porta? Sim, numa programação relâmpago reuni duas apresentações novíssimas para celebrar a parceria com esta que é uma das melhores novas casas de show de São Paulo. A noite começa com a segunda apresentação autoral de Francisca Barreto, que desta vez juntou-se a Bianca Godoi e Victor Kroner para mergulhar em canções lindíssimas com sua voz e violoncelo formidáveis. Depois é a vez de Fernando Catatau e Isa Stevani apresentarem a composição audiovisual Outra Dimensão, performance em que imagens digitais geradas em 3D reagem de forma generativa ao som de guitarras e samplers em tempo real. E além das duas apresentações, também discoteco antes, entre e depois dos shows. A Porta fica na rua Horácio Lane, 95, entre os bairros de Pinheiros e Vila Madalena, em frente ao cemitério, e abre a partir das 19h. Os ingressos já estão à venda neste link – e comprando antes sai mais barato.
Mais um Inferninho Trabalho Sujo neste sábado, num lugar em que já tínhamos realizado uma apresentação – mas agora no novo endereço. A nova Porta, que saiu da Vila Madalena rumo à divisa do antigo bairro com o bairro de Pinheiros, em frente ao cemitério, está num espaço mais amplo, com direito inclusive a um mezanino, o que torna o ambiente, que antes era aconchegante, em um salão espaçoso e ao mesmo tempo acolhedor. E quem começou os trabalhos neste sábado foi a Schlop da cantora e compositora Isabella Pontes, que agora fechou uma nova formação, com sua líder na guitarra e vocais sendo acompanhada de Lucia Esteves na guitarra, Alexandre Lopes no baixo e Antônio Valoto na bateria. E assim passaram pelas composições dos dois discos já lançados (Canções de Amor para o Fim do Mundo, do ano passado, e Senhoras e Senhores, Cachorros e Madames, deste ano), além de tocar o recém-lançado single “Julia Butterfly” e uma versão para “Gold Soundz”, do Pavement, esta tocada como gorros de Papai Noel (como no clipe da banda) e com a participação da entourage da banda Miragem, com Camilla Loreiro na guitarra e Mariana Nogueira e Thais Neres nos vocais, com Bella apresentando-as como as minas que fizeram um moshpit durante “Grounded”, do show que a banda norte-americana fez no Brasil esse ano. Orgulho indie!
Depois foi a vez da banda Miragem subir ao palco da Porta e encarar um desafio: tocar seu disco de estréia Muitos Caminhos Prum Lindo Delírio, lançado no mês passado, na íntegra e com as músicas na mesma ordem de apresentação do álbum, incluindo músicas que nunca tocaram ao vivo. O quarteto é liderado pela multitarefa Camilla Loureira – que reveza-se entre o teclado e a guitarra, além de fazer os vocais, assinar as composições, as artes e a animação do clipe da banda -, ainda conta com a segunda guitarra de Gustavo Esparça, o baixo de Rafael Biondo e a bateria de Lucas Soares e está quase incluindo a videomaker Mariana Nogueira como tecladista efetiva e tem esse som indefinível por misturar música pop com rock progressivo e guitarras pós-punk, como se cada integrante puxasse a sonoridade para um lado diferente, causando um impacto ao mesmo tempo estranho e familiar. Depois da Miragem segui discotecando até o fim da festa, que foi ótima – tanto que já estamos cogitando outra… pra essa semana?! Aguarde e confie.
No próximo sábado, dia 9 de novembro, o @inferninhotrabalhosujo estreia no Porta, quando recebemos as bandas Miragem, está lançando seu primeiro disco, Muitos Caminhos Prum Lindo Delírio, e a banda Schlop, além de discotecagens minha e da Lina Andreosi. A Porta está em novo endereço, na rua Horácio Lane 95, entre os bairros Pinheiros e Vila Madalena, do lado do Ó do Borogodó, os ingressos já estão à venda neste link e a festa também faz parte das comemorações dos 29 anos do Trabalho Sujo. Vamos?
E ainda deu tempo de passar no novo endereço do Porta, que saiu da Rua Fidalga e foi parar no quarteirão entre a Inácio Pereira da Rocha e a Cardeal Arcoverde, na fronteira entre os bairros de Pinheiros e Vila Madalena, do lado do Ó do Borogodó e em frente ao cemitério. Depois de dois anos criando público e alimentando uma cena underground, alternativa e também pop, Paula Rebellato e os irmãos Bruno e Raphael Carapia mudaram de endereço para uma casa espaçosa, de pé direito alto, com direito a mezzanino, vitrais coloridos e isolamento acústico perfeito, abrindo a casa pela primeira vez neste sábado, sem cobrar ingresso, para orgulhosos mostrar o novo espaço que estão inaugurando. A noite começou com os shows do Rádio Diáspora e das Mercenárias, mas só consegui chegar a tempo de ver a última apresentação da noite, a banda Madrugada, que conta com Paula e Raphael na formação e que agora tem dois bateristas – Yann Dardenne e Cacá Amaral – e cujo groove é completo com o baixo de Otto, irmão de Yann. A anestesia kraut a que o grupo submeteu as mais de cem pessoas que se espremiam na nova casa, numa verdadeira coluna social da cena indepnedente de São Paulo, coroou uma noite em que o novo estabelecimento mostrou a que veio. Viva o Porta!
Bem boa a primeira edição do Inferninho Trabalho Sujo na Porta, que aconteceu neste sábado com discotecagem minha, da Pérola, da Fran e da Lina e, claro, com o show da banda Celacanto, que está cada vez mais afiada. Com um pé no indie rock e outro no rock progressivo, a banda desbrava um território musical complexo e difícil, trabalhando com o entrelaçamento de texturas, andamentos e timbres ao mesmo tempo em que cantam sobre questões existenciais e sentimentais de nossas vidas. O vocalista Miguel Leite puxa o grupo com sua voz e guitarra, acompanhado de perto sempre do segundo guitarrista Eduardo Barquinho, do baixista Matheus Arruda e o baterista Giovanni Lenti, que singram por melodias tortuosas e arranjos intricados enquanto tem a atenção completa do público que compareceu à Porta. Foi demais!