Sonic Youth, LCD Soundsystem, Teenage Fanclub, Vitor Ramil, Stevie Wonder, Strokes, Mercury Rev, Fleet Foxes, Sade e Sufjan Stevens – Rodrigo Levino, que hoje comanda o abençoado restaurante Jesuíno Brilhante, já militou nas trincheiras do jornalismo cultural e, num papo nostálgico, enfileirou dez shows que havia assistido em 2011 que mudaram sua relação com a música – e nas conversas alguns em que também estive presente. A lista deu origem a um podcast muito pessoal, Na Década Passada Dez Shows Salvaram a Minha Vida, que ele me chamou para dirigir no ano passado, quando os tais dez shows completavam dez anos de memórias. O podcast, com todos seus dez episódios, já está no Spotify – dá pra ouvir aqui.
Conversei com Cleber Facchi do Vamos Falar Sobre Música?, Fábio Silveira do Fast Forward, Lucio Ribeiro do Popcast e Thiago França do Sabe Som?, autores de podcasts que abordam diferentes aspectos da produção musical em uma reportagem para a revista da UBC – confere lá no site deles.
Você já deve ter ouvido falar nesse podcast sensação chamado Serial, né? A Gi Ruaro tá tão viciada no programa que pediu pra escrever sobre ele pra cá – afinal, faltam apenas dois episódios pro fim da primeira temporada. Fala Gi:
“Support for Serial comes from Mailchimp. Mailchimp. Mail-kimp?” Todas as quintas-feiras mais de um milhão e meio de pessoas ao redor do mundo esperam ansiosamente o iTunes atualizar e ouvir a frase acima. É o começo do podcast-fenômeno Serial, que em dois episódios chegará ao final da primeira temporada. O equivalente ao “Previously, on Lost” de 2014.
Dos mesmo produtores de This American Life, Serial é um podcast sobre um crime que aconteceu em 1999. Hae Min Lee, estudante na cidade de Baltimore, Estados Unidos, foi encontrada morta e seu ex-namorado, Adnan Syed, foi considerado culpado e condenado a prisão perpétua. A jornalista americana Sarah Koenig investiga o que aconteceu no dia da morte de Hae e como que Adnan foi sentenciado.
A construção da narrativa, sem utilizar imagens, apenas vozes, entrevistas e storytelling no seu momento mais cru, é hipnotizante. Como se fosse uma amiga te contando uma história, Sarah compartilha sua investigação, conclusões e dúvidas em tempo real.
Em uma internet que está migrando para o vídeo, o podcast Serial faz parte de um novo movimento de storytelling. Alguns chamam de a Renascença do Podcast. Não importa o meio, o que nos fascina mesmo são as histórias de gente como a gente. E nenhuma história é mais fascinante do que a de um rapaz, preso em prisão perpétua, que jura que não cometeu o crime. Que tinha 17 anos. Que era que nem eu e você: estudava, tinha namorada, bebia de vez em quando, fumava de vez em quando, aprontava, mas era uma pessoa boa, tinha família e amigos que o amavam. Que não tinha motivo para matar a ex. Que jura que não a matou. E mesmo assim, acabou na prisão. Como?
São várias os envolvidos em Serial. São várias as versões do dia em que Hae Lee morreu. Temos Adnan, Jay, Asia, Jenn… Mas depois de 15 anos, é difícil lembrar o que aconteceu em uma época em que não existia mídias sociais, celulares eram raros, pagers eram o meio de comunicação mais popular. Quando Adnan foi preso, seis semanas tinham se passado desde o crime. Você lembra o que fez seis semanas atrás? Com quem falou no telefone? Qual caminho fez ao trabalho? Com quem falou no caminho do trabalho? Sobre o que falou? Mas lembra mesmo? Tem certeza? Poderia contar o seu dia em detalhes na frente de um júri? Difícil.
Outro motivo que ajudou Serial e virar fenômeno foi o reddit. Envolvido em outros casos controversos de detetivão da internet, o subreddit /r/serialpodcast se tornou o ponto de encontro dos fãs Serial e também o local ideal para postar e discutir as mais variadas teorias sobre o caso. A maior parte das discussões são sobre Adnan ser culpado ou inocente. Tem usuário ali que está achando pêlo em tartaruga, mas a popularidade do reddit chegou até a família de Hae e de amigos de Adnan. Todos querem dar seu pitaco e contar a sua versão dos fatos.
O podcast não é mais de SK (como reddit chama Sara Koenig), mas de todos. A história já era pública, os detalhes não são de posse somente dos produtores, a internet virou o grande e incontrolável fórum de debate. Somos todos SK, todos queremos saber o final, todos queremos saber se Adnan é culpado ou inocente. No episódio nove e dez de Serial, SK fala que com ajuda de e-mails e novas informações, ela pôde tirar dúvidas da narrativa. Serial precisa dos detetives reddit tanto quanto a recíproca.
Outro motivo da popularidade de Serial é a conexão que podemos fazer com outros fenômenos da cultura pop. Você sabia que os detetives que investigaram o crime também trabalharam como consultores da série The Wire? E a cena em que Bunk e Lester procuram por corpos no meio da mata foi filmada no mesmo local em que o corpo de Hae Lee foi encontrado. Outra coincidência é que o filme Blair Witch Project foi filmado no mesmo parque. Coincidência? Para alguns redditors, é motivo para mais uma teoria de conspiração.
Há vários artigos contra Serial, contra os artigos contra Serial, mas a maior verdade que podemos tirar desta história é: a vida não é, nem nunca será preto no branco. Acho difícil que SK chegue a uma conclusão satisfatória no último episódio, que saberemos finalmente se Adnan é inocente ou não. E teremos que viver com isso, para sempre. Que nem o final de Lost.
(Mas graças ao Mailchimp e uma vaquinha online, teremos uma segunda temporada. Novo caso, novos personagens. Eu estou mais empolgada com a segunda temporada de Serial do que True Detective!)
E por falar em Toro Y Moi, o podcast do site Modular People – infamemente batizado de Modcast – recebeu em sua 72ª edição um setzinho do próprio Chazwick Bundick, o faz-tudo da banda de um homem só. E na vibe da chillwave ele fez um set na própria cama e assim o batizou. Também, dá uma sacada no que ele escolheu… É aquela trilha sonora perfeita pra esses dias frios dessa semana, em que nem a falta de sono consegue nos tirar da cama.
Toro y Moi – Made in Bed (MP3)]
King Tubby – “A First Class Dub”
Dorothy Ashby – “Come Live With Me”
Piero Piccioni – “Part Version 8”
Chorafas – “Pealed Tomato”
Connan Mockasin – “It’s Choade My Dear”
Ennio Morricone – “Mariangela e la Seduzione”
Robert Lester Folsom – “Show Me To The Window”
Enrico Simonetti + Goblin – “Chi Mi Cerchera”
Bixio Frizzi Tempura – “Was It All In Vain”
Kathy McCord – “Rainbow Ride”
Les Wanted – “O Sabiá”
Julian Lynch – “Clay Horses”
E por falar no Camilo, ele resolveu “atacar de DJ” (huahuahua) online e nos brinda com seu podcast, em que pergunta, logo na abertura: “Deixei essa primeira edição, meio Beta ainda, só com música, sem voz. Devo falar nas próximas, só no comecinho? Ainda não decidi, o que você acha?”. Acho massa tu assumir a influência do Vida Fodona, valeu aê, hahahahaah. Olha o que ele emenda na primeira edição do Podtudo:
Benga- “Zero M2”
Nôze + Wareika – “Exodus”
Criolo – “Subirudoistiozin”
The Waitresses – “I Know What Boys Like”
The Hundred In The Hands – “Lovesick”
Télépathique – “All Your Lovers”
Primal Scream – “Movin’ On Up”
Eric Clapton – “I Shot The Sheriff (Dj Disse Re-Work Edit)”
Gil Scott-Heron & Jamie XX – “The Crutch”
Crystal Fighters – “At Home (Fusty Delights Remix)”
Benoit & Sergio – “Principles”
Marlow – “Put Off”
Raw Silk – “Just In Time And Space (Dub)”
Staple Singers – “Respect Yourself”
Foto: Bruna Beber
O grande Fred está de volta e retomou seu clássico Chá das 4:20 em grandíssimo estilo. No podcast de volta, ele enfileira Prince, Beck, Elis, Léo Jaime, Raul Seixas e outras jóias do mesmo quilate. Dá um confere.
Foto: Serjão
…não tão diferentes, no entanto. Aproveitando o gancho, não custa recomendar outro podcast pontual, do compadre Serjão, o Rádio 4:20. Curtinhos, os programas enfileiras groovezeiras finas para aquela hora mágica. Ouve tudo, mas dê atenção especial ao do dia 17 de abril, que começa com “Chase the Devil” passa por uma “Fever” descomunal e segue entre James Brown e o velho Toots. Aproveita e dá um giro pelo Flickr do cara – é o meu fotógrafo de shows favorito de todos os tempos.
Um quadrinho de Stephen Collins, publicado na revista Prospect, e indicado por Alan Moore no podcast Infinite Monkey Cage, da BBC.
E por falar na minha querida vizinha de Fubap, é dela o podcast mais legal desse ano. O Boombop Shuffle parte de uma premissa simples que dá dó – a partir do shuffle de seu iPod, Babee separa uma seqüência de músicas sempre classe A (e quase sempre com bandas que você nem ouviu falar da existência). Obrigatório, baixe todos.
Reparou? Aos poucos o movimento de rádio 2.0 surgido na cola do aparecimento do iPod (daí o “pod” no termo) está voltando à baila. Dois compadres arregaçaram a manga e começaram semana passada os seus: o Luís não fala nada durante os programas do Cauac / Imix’, em que enfileira groovezeiras, indieces e freaks vanguardistas e o Silvano promete ser quase diário com seu indie dândi Depois da Janta. Recomendo ambos.