Uma sexta-feira com um coração imenso: assim foi a edição de outubro do Inferninho Trabalho Sujo no Picles. A noite começou com a usina de força que é a banda Tietê. Ancorada no reggae, o novíssimo septeto paulistano tempera sua mistura de ritmos com funk, soul, grooves latinos e música brasileira e a energia que transborda no palco inevitavelmente contagia o público. Atiçados pelo carisma inacreditável da vocalista e saxofonista Dodô, os integrantes da banda trocam de instrumentos enquanto passeiam por diferentes vibes, sempre carregando a expectativa do público junto, seja nos momentos mais introspectivos ou na fritação completa. E eles estão só começando: acabaram de gravar o segundo disco (no estúdio Abbey Road, em Londres, olha só) e o repertório da noite ficou por conta destas músicas ainda inéditas, que deverão vir a público apenas em 2025.
A banda deixou o o caminho pronto para a estonteante Soledad enfeitiçar o público com o repertório de seu novo trabalho, chamado de Desterros, que misturas suas composições às da geração clássica do cancioneiro cearense, como Fagner, Fausto Nilo, Ednardo (revisto em uma versão apaixonante para “Beira Mar”), Rodger Rogério, entre outros. Seu terreiro é encantado com a ajuda de bruxos da música, com Davi Serrano e Allen Alencar revezando-se entre o baixo e a guitarra, Xavier e Clayton Martins trocando lugares entre a bateria e a percussão (acústica e eletrônica), enquanto Paola Lappicy serpenteava pelos teclados e sintetizadores. E entre estes hinos, ela ainda contou com as participações de Julia Valiengo (com quem dividiu “Santo ou Demônio”, de Fagner) e de Fernando Catatau, que ainda puxou duas músicas próprias, “Completamente Apaixonado” de seu primeiro disco solo e a clássica “Homem Velho” do grupo Cidadão Instigado. No centro de tudo, a voz e a o corpo de Sol, completamente entregues à emoção e à música, hipnotizava o público, que embarcava naquela viagem intensa de sentimentos e sons. Quando eu e a Bamboloki assumimos o som depois de seu show – e fomos de dance music a rock clássico, passando por clássicos da disco music, do funk e aquela mistura de summer eletrohits com o disco novo da Charli. E depois eu contei pra Bam o que o público que não estava na pista tinha mais… Que noite!
Tá sentindo falta do Inferninho Trabalho Sujo? Pois cá estamos nessa sexta-feira mais uma vez no Picles, quando recebo pela primeira vez a promissora banda Tietê e a maga cearense Soledad num show que ainda contará com participações de Fernando Catatau e Júlia Valiengo. Depois dos shows, meia-noite em diante, esquento a pista ao lado da minha fiel escudeira ícone do desvario Bamboloki e já decidimos de antemão que vamos pesar pra eletrônica, ela quer Justice e eu quero Charli. O Picles fica no número 1838 da rua Cardeal Arcoverde, no coração de Pinheiros, e quem chegar antes das 21h paga mais barato. Vamos?
Esta quarta-feira assistiu a um acontecimento ímpar e insólito: Jards Macalé tocando no palco do Picles! Não pelo fato do Macalé ser um gigante da MPB que só toca em casas de grande porte ou que o Picles nunca tenha recebido artistas maiores que o underground, mas pelo fato de conectar duas histórias contraculturais ainda em curso. Por toda sua vida Jards tocou para milhares ou dezenas de pessoas, com banda ou só com seu violão, então o palco do Picles em si não era uma novidade, mas pelo fato de sua presença dar uma espécie de bênção ao sobrado mais agitado do bairro de Pinheiros, chancelando a trajetória do Picles a uma história de cultura marginal que atravessa a história do Brasil. Sentado em uma poltrona de hotel cinco estrelas (especialistas em cadeiras devem reconhecer melhor o trono dado ao mestre), Jards subiu com seu violãozinho e contando causos entre as várias pérolas que trouxe para a noite, premiou o público da noite com uma apresentação de mais de uma hora, feliz e falante. No repertório, clássicos de seu primeiro álbum (“Farinha do Desprezo”, “Revendo Amigos”, “Mal Secreto” “Movimento dos Barcos” e “Let’s Play That”), vários hinos dos anos 70 (como “Negra Melodia”, “Boneca Semiótica”, “Anjo Exterminado”, “Soluços”, “Só Morto” e “Sem Essa”), duas bossas-novas (“Corcovado” e “O Pato”, em que fez um scat como se fosse uma dessas aves – ou seria um squack?) e músicas mais recentes (como “Falam de Mim”, “Meu Amor Meu Cansaço”, “Coração Bifurcado” e a novíssima instrumental “Um Abraço do João”, quando contou a história já clássica de seu telefonema para João Gilberto), boa parte delas cantada em uníssono pelo público fanático que lotava o Picles. A emoção era recíproca e Jards chegou a esquecer como se começava uma de suas músicas mais emblemáticas, “Vapor Barato”, que emendou com “Hotel das Estrelas” quase no final. Quando o encontrei depois do show, ele me explicou que sempre confunde o começo de “Vapor Barato” com “Movimento dos Barcos”, porque as duas começam com o autor falando em estar cansado. “Os anos 70 eram muito cansativos”, confessou, tirando todo o glamour que damos àquela década. E Jards repete o feito nesta quinta, quando toca pela segunda vez no Picles – também com ingressos esgotados.
A edição desta semana do Inferninho Trabalho Sujo no Picles firmou-se em duas vertentes distintas do espectro do rock. A primeira atração foi o power blues do Orange Disaster, que, com duas guitarras, vocal e bateria, começaram a noite rasgando riffs e fazendo o chão tremer. A guitarra-baixo de Carlão Freitas dispara riffs que funcionam como chamados de guerra para os delírios noise do segundo guitarrista, Vinícius Favaretto. Juntos – e propulsionados pela bateria pesada de Davi Rodriguez – eles deixam o púlpito da noite à disposição do vocalista Julio Cesar Magalhaes, que com o visual mais antirrock possível (apesar da camiseta com um pentagrama), dispara sermões apocalípticos que conversam bem com os dias de pior qualidade do ar de São Paulo que temos atravessado. O clima de blues bad vibe descende de formações cruas como Jon Spencer Blues Explosion e Pussy Galore e fez o público grudar no palco. E o Vini no final ainda puxou um cowbell antes de entrar no meio do público. Foi demais.
Depois foi a vez do Antiprisma subir no palco do Picles e o clima pesado dissipou para dar lugar à trama delicada criada a partir do encontro das guitarras e vocais do casal que conduz o grupo, Elisa Moreira e Victor José, que vão do folk ao indie rock sem muito esforço, conduzindo tanto as velhas quanto as novas canções (do disco que o grupo lança ainda esse ano) do susurro à microfonia usando o rock clássico como régua. Ao lado deles, a dupla que forma o grupo Retrato (Ana Zumpano na bateria e Beeau Goméz no baixo), que completa a formação ao vivo do Antiprisma, fecha a cozinha da banda com cumplicidade e sutileza, sem nunca tirar o foco dos dois que deram o tom da segunda apresentação da noite. Depois, eu e Bamboloki começamos anunciando a pista com o tema de Beetlejuice (culpa dela!) para depois permabular pelo rock dos anos 80, o funk brasileiro do início do século, pepitas de dance music e indie rock e um ar meio freak entre o glam rock e o pop brasileiro. Quem foi sabe…
Inferninho Trabalho Sujo mais uma vez no Picles e desta vez reunimos duas bandas pra esquentar ainda mais essa sexta-feira 13, ambas pela primeira vez no palco da festa. Começamos com o hard blues com spoken word pós-punk do Orange Disaster e depois recebemos o rock clássico do Antiprisma mostrando as músicas que estarão em seu próximo disco, que está quase saindo do forno. Quem começa a noite e toca antes das bandas é a intrépida Lina Andreosi, que vai encarar sua primeira noite propriamente rock como DJ para depois passar a bola pra mim e pra Bamboloki, que incendiamos a madrugada com aquele toque freak chic que você bem conhece… Vamos?
Noite quente nessa sexta-feira no Picles, mesmo com a temperatura exterior caindo, quando reuni duas bandas que adoro e que já haviam passado pelo Inferninho Trabalho Sujo em momentos diferentes: Monstro Bom e Fernê. A primeira havia tocado no início deste ano (em uma ótima noite ao lado da Schlop), quando mal tinham músicas gravadas na internet. Seis meses depois, o quarteto liderado por Gabrielli Motta volta ao palquinho da Cardeal Arcoverde lançando seu primeiro EP, batizado de Verde-Limão. E é tão bom ver como uma banda envolui em pouco tempo ao dedicar-se ao que deve fazer: gravar músicas e fazer shows. A dinâmica entre as guitarras de Gabi e do guitarrista principal, Felipe Aranha, está cada vez mais afiada, ambos seguros pela cozinha precisa formada pelo baixo de Igor Beares e a bateria de Ian Ferreira. Com público em formação, Gabi não teve dificuldade em fazer as pessoas cantarem suas músicas que são ao mesmo tempo ácidas e cotidianas, equilibrando-se entre melodia e eletricidade, cantadas quase sempre com um sorriso no rosto.
Depois da Monstro Bom, a Fernê subiu no palco do Inferninho Trabalho Sujo em outro momento de sua carreira. Apesar de jovem, a banda já é veterana e habituou-se a fazer raros shows (o mais recente foi há quase um ano, quando os chamei para dividir a noite com o Madrugada), mas dessa vez o quinteto paulistano trouxe novidades, tirando músicas paradas de gavetas do passado (a do farol é excelente!). além da vocalista Manu Julian finalmente estar tocando teclado na banda – um sonho desde que ela tinha 16 anos de idade, como confessou no palco. Mas a essência do grupo segue intacta, a troca de olhares e notas entre os guitarristas Max Huszar e Chico Bernardes e o baixista Tom Caffé caminham entre o Radiohead e o Sonic Youth enquanto a batera esparsa e firme de Theo Cecdato segura tudo para Manu exorcisar em cantos, gritos, sussurros e gargalhadas, abrindo espaço para duas versões: “Hunter”, da Björk, que o grupo já tocava ao vivo e uma versão para “Better than Before”, do Jonathan Richman feita pelo Theo (que tocou violino!) e por sua companheira Maria Carvalhosa, batizando-a de “Mais que Melhor”. Queremos mais! E depois foi só terminar a noite discotecando com a Bamboloki, passando por Television, Gang of Four e Doors e encerrando tudo com a afetiva “Right” do David Bowie, pra deixar a noite daquele jeito…
Na próxima sexta-feira, reúno duas bandas reincidentes no Inferninho Trabalho Sujo, desta vez no Picles, para aquecer o coração indie de qualquer um. Começamos a noite com o quarteto Monstro Bom lançando seu EP Verde-Limão pela primeira vez ao vivo, seguido de mais um dos shows anuais da Fernê, a banda indie favorita de seu artista indie favorito. A noite ainda conta com a Lina Andreosi discotecando entre os shows e comigo e a minha sidekick do mundo invertido Bamboloki incendiando a pista com aquelas músicas tortas que só a gente consegue fazer o povo dançar! O Picles fica no número 1838 da Cardeal Arcoverde e abre a partir das oito da noite… Vamos?
A novidade do segundo ano do Inferninho Trabalho Sujo é que a festa vai para além do Picles. Dedicada a apresentar novas bandas às que já existem, criei a festa há um ano transformando as sextas-feiras do Picles numa incubadora de talentos que mistura tanto artistas iniciantes quanto outros já estabelecidos para aproveitar o calor da cena musical brasileira pós pandemia. Em seu primeiro ano, a festa já já contou com artistas novíssimos como Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, Pelados, Varanda, Os Fadas, Monch Monch, Madre, Tangolo Mangos, Desi e Dino, Janine, Mundo Vídeo, Boca de Leoa, Odradek, Fernê, Madrugada, Cianoceronte, Schlop, Monstro Bom, Manu Julian, Celacanto, André Medeiros Lanches, Ondas de Calor, Skipp is Dead, Lauiz, Fernanda Ouro, Grisa e Tiny Bear e nomes já consagrados da cena independente brasileira como Ava Rocha, Yma, Grand Bazaar, Test, Patife Band, Di Melo, Rafael Castro, Tagore, Lulina, Garotas Suecas, Filarmônica da Pasárgada, Xepa Sounds de Thiago França, Luna França, Laurie Briard, entre outros. E a partir deste mês começo a explorar novas casas de shows, novos formatos e horários para espalhar a palavra do Inferninho por aí. A primeira delas acontece neste sábado, dia 17, no Porta, quando recebemos a banda Celacanto. No dia 23, uma sexta, seguimos no Picles trazendo o tradicional show anual da Fernê ao lado da banda Monstro Bom, que está lançando seu disco de estreia. Na sexta seguinte, dia 30, vamos pro Cineclube Cortina, quando teremos o lançamento do segundo disco da banda catarinense Exclusive os Cabides, Coisas Estranhas, com abertura da banda paulistana Os Fonsecas (ingressos à venda por aqui). E na outra quinta-feira, dia 5 de setembro, fazemos uma versão ainda maior na Casa Rockambole, trazendo os trabalhos das cantoras Luiza Villa, Marina Nemésio, Tori e Júlia Guedes, a banda Tangolo Mangos e o grande Sessa (ingressos à venda neste link). Em todas as apresentações estarei sempre bem acompanhado na discotecagem com as queridas Francesca Ribeiro, Lina Andreosi, Pérola Mathias e Bamboloki, que me ajudam a deixar essa nova fase ainda mais quente. Vamos?
Só quem foi sabe. Os Boogarins levaram o público que lotou o Picles no aniversário de primeiro ano do Inferninho Trabalho Sujo para lugares distantes dentro de si mesmo ao improvisar por quase duas horas em mais uma Sessão de Cura e Libertação – estava lembrando com eles, após a sessão, que a última que eles fizeram com público presente foi quando os chamei para tocar no Centro Cultural São Paulo quando fazia curadoria de lá. De alguma forma, portanto, o quarteto goiano estancou o pesadelo que atravessamos nos últimos anos, com Dinho soltando na voz os demônios em nome de todos os presentes, Benke derretendo-se nas paredes enquanto sua guitarra rasgava o ambiente, Fefel entre o baixo e o synth criando linhas melódicas que funcionavam como bases para o metrônomo preciso – e free – do baterista Ynaiã Benthroldo. Uma noite épica que continuou comigo e a Fran naquela pistinha que todos conhecemos bem. E em breve teremos grandes novidades sobre o Inferninho…
O que você vai fazer neste domingo? Participo da série de bate-papos que o Picles está fazendo para falar sobre música e mídia ao lado do grande Luiz Thunderbird, a partir das 18h30. O papo com o Thunder é apenas uma das atrações do dia, que ainda conta com uma conversa sobre gestão de selos e casas de show com o Rafael Farah (que toca o selo Balaclava e é um dos sócios do Bar Alto) e Roberta Youssef (que traalhou no Studio SP e no Z Carniceria) a partir das 17h e uma conversa sobre os desafios da carreira artística com Tiê e Maurício Pereira a partir das 20h. Todos os papos terão mediação do grande Juka Tavares e tanto antes quanto depois das conversas o som fica por conta do DJ Gabo. O Picles fica no número 1838 da Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, e abre desde as quatro da tarde. A entrada é gratuita, mas é preciso se inscrever neste link. Vamos?