A excelente premissa do clássico de Philip K. Dick, O Homem do Castelo Alto, funcionou bem como seriado – como seriam os anos 50 de um mundo em que não apenas o Terceiro Reich tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial como também, à maneira da Alemanha em nossa realidade, os Estados Unidos tivessem sido divididos entre a Alemanha e o Japão. E embora a primeira temporada da série produzida pela Amazon não tenha ganho a repercussão merecida (como acontece com a maioria de seus seriados, uma vez que ficam restritos à plataforma da loja online, que ainda engatinha em popularidade), a segunda temporada, que estreou no fim do ano passado, trouxe uma joia escondida na manga: uma trilha sonora em que clássicos daquele período foram regravados por artistas atuais.
A grande sacada de Resistance Radio, o nome desta trilha, não reside apenas nas escolha de quais artistas tocam quais músicas, embora só isso já valha a audição: tem Beck tocando “Can’t Help Falling in Love”, Norah Jones tocando “Unchained Melody”, além de versões assinadas por Sharon Van Etten, Angel Olsen, Karen O, Shins, Kelis, Michael Kiwanuka e Andrew VanWyngarden, do MGMT, entre outros. Mas a escolha do próprio repertório – revivendo músicas daquele período que ficaram conhecidas em versões tardias -, dá uma aura fantasmagórica e surreal à coleção de músicas. “Spoonful”, mais conhecida com o Cream, ressurge como um blues tradicional cantado por Benjamin Booker, “Who’s Lovin’ You” volta ao início dos anos 60 como foi gravada pelas Miracles (diferente das versões mais conhecidas asssinadas pelos Temptations ou pelos Jackson 5) na voz da Kelis – mas talvez o melhor exemplo seja a versão que o Grandaddy faz para “Love Hurts”, resgatando a balada dos Everly Brothers para longe daquela versão farofa do Nazareth.
A trilha inteira vale à pena:
Sharon Van Etten – “The End of the World”
Andrew VanWyngarden – “Nature Boy”
Beck – “Can’t Help Falling in Love”
Benjamin Booker – “Spoonful”
Sam Cohen – “The House of the Rising Sun”
Shins – “A Taste of Honey”
Angel Olsen – “Who’s Sorry Now”
Waterstrider – “Speaking of Happiness”
Michael Kiwanuka – “Sometimes I Feel Like a Motherless Child”
Grandaddy – “Love Hurts”
Big Search – “Lonely Mound of Clay”
Kevin Morby – “I Only Have Eyes for You”
Kelis – “Who’s Lovin’ You”
Norah Jones – “Unchained Melody”
Curtis Harding – “Lead Me On”
Maybird – “All Alone Am I”
Karen O – “Living in a Trance”
Sam Cohen – “Get Happy”
Escrevi lá no meu blog no UOL sobre o anúncio do seriado Electric Dreams, que leva o universo de Philip K. Dick para a TV com produção de Bryan “Walter White” Cranston e Ron “Battlestar Galactica” Moore.
E a Amazon vem entrando com tudo no mundo das produções – e agora prepara-se para levar a maior das distopias de Philip K. Dick para o formato seriado. O Homem no Castelo Alto parte do pressuposto que os aliados perderam a Segunda Guerra Mundial e foram os Estados Unidos – e não a Alemanha – que foram divididos em dois, a metade Leste ficou com os nazistas e a metade oeste com o Japão. O livro usa esse cenário para falar de falsificação e autenticidade, já que um dos personagens é falsificador de relíquias norte-americanas da primeira metade do século 20, colecionadas por ávidos japoneses. É uma abordagem muito sutil sobre universos paralelos e realidades alternativas que usa o I Ching como fiel da balança. Algumas cenas da série já foram liberadas no canal do YouTube da loja online e o resultado é de deixar qualquer fã de ficção científica empolgado. Dá uma sacada:
Parece promissor…
A editora Aleph, que vem construindo um belo catálogo de ficção científica, acrescentou mais um volume essencial à bibliografia do mítico Philip K. Dick ao lançar pela primeira vez a obra Valis, em que o escritor romantiza a revelação psicodélica-religiosa que mudou completamente sua vida em um livro que deu um novo rumo aos seus livros. A edição traz de brinde a HQ A Experiência Religiosa de Philip K. Dick, escrita e desenhada por Robert Crumb, que eu havia traduzido de brincadeira no começo desse século – e o velho compadre Mateus, que incentivou a tradução, letreirou o quadrinho e a hospedou em seu Ovelha Elétrica (ela está lá até hoje). Ao saber que o quadrinho já havia sido traduzido, a editora pediu para que eu desse um tapa na versão original para incluí-la como extra em Valis, oficializando assim a sexta obra de Crumb que participei da adaptação para o Brasil.
É isso aí: o episódio dos Simpsons do domingo passado foi um enorme mashup de Simpsons com Lego, veja o trailer:
E nesta realidade paralela feita de tijolos não poderiam faltar referências a Philip K. Brick… digo, Dick:
Veja mais imagens do episódio Brick Like Me abaixo:
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E por falar em Matrix, olha o Philip K. Dick, em 1977, falando sobre o tema do filme de 1999.
Clica na imagem que ela fica maior, mas cuidado que tem spoilers.
É do Tremulant Design, mas quem deu a dica foi o Danilo.
Olha a cara do PKD e entenda o que eu acho disso. Mas vai saber, Gondry é oito ou oitenta, pode ser bonzão ou uma bosta. Acho mais provável vir uma bomba, mas se bem que o melhor filme dele (o Brilho Eterno) é uma ficção científica…
Me diz se não é uma época ótima essa em que vivemos – em que filmes desse tipo não estão mais sendo feitos na marra no fundo de quintal (como era a obra do autor que inspirou este Adjustment Bureau, o mestre Philip K. Dick), e sim virando mega produções hollywoodianas.