Vamo lá, Recife!

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Criado no início do século, o Porto Musical, no Recife, antecipou uma série de tendências e questionamentos sobre o mundo da música quando o país ainda engatinhava nestes temas e entrou para o mapa nacional como uma das principais referências sobre estas discussões. Depois de um tempo parado, o evento volta a acontecer neste início de fevereiro e mais uma vez participo desta conversa, pela quarta vez, desta vez representando o Centro Cultural São Paulo em uma série de encontros com artistas e produtores que acontece nesta sexta-feira. Mais detalhes sobre a programação aqui.

Olha o bonecão de Olinda do David Bowie aí!

“Turn and face the strange…”

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É sério, vi aqui.

Como foi o Porto Musical 2015

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Participei do conselho da edição de 2015 do Porto Musical, em Recife, que aconteceu em fevereiro e falei sobre a importância do evento – misto de conferência e festival – para a cena local, para o showbusiness nacional e para o contexto global.

Nem lembro se publiquei aqui os shows que assisti quando estive por lá, apresentações memoráveis do DJ Dolores, Marcelo Jeneci, O Terno, The Baggios, Cumbia All Stars e Anelis Assumpção. Filmei algumas músicas, saca só:

Siba, Dolores, China e os apelidos do Pernambuco

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E quem imaginaria que o nome de Siba – nascido Sérgio Veloso – vem de “sibito baleado”, porque ele era muito magro?

“Siba veio de “sibito baleado” (magro em excesso), um apelido que ganhei na adolescência. Tinha quase uns 18 anos. Na escola, era pejorativo, tiração de onda porque eu era bem magrinho. Nessa época, não gostava. A gente, quando é novo, é meio besta. Mas já era natural, deixou de ser uma coisa ruim e se tornou meu nome mesmo. Acabou servindo”.

As histórias dos apelidos de vários nomes da cena pernambucana foram contadas nessa divertida matéria do Diário de Pernambuco, que ainda traz Canibal,, dos Devotos do Ódio comemorando ser “único canibal herbívoro”. Leia toda a matéria aqui.

Siba, Ocupe Estelita e uma força contra o preconceito institucionalizado há séculos em Pernambuco

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O jovem mestre Siba anuncia o sucessor de seu ótimo Avante, de 2012, confrontando passado, presente e futuro de seu Pernambuco, como é de praxe de seus conterrâneos contemporâneos. Mas como seu novo disco De Baile Solto, que será lançado ainda este mês, surge no mesmo mês em que as tensões a respeito da ocupação Estelita, no Recife, começam a ficar mais sérias, ele antecipa a música “Marcha Macia” para contrapor duas lutas de resistência: a de 2015 contra a especulação imobiliária e a perseguição histórica aos maracatus pernambucanos. Ele explica:

“O texto de ‘Marcha Macia’ seria inicialmente sobre a história recente de ‘toque de recolher’ imposto aos Maracatus de Baque Solto em Pernambuco. Mas o tema, que a princípio parece restrito, localizado, ‘regional’, reverbera questões políticas muito atuais e pertinentes ao momento que o Brasil vive: preconceito racial e religioso contra as populações mais pobres e a consequente ‘naturalização’ do uso de repressão e restrições de vários tipos, amparadas por sua vez na cultura do medo amplamente disseminada pelos principais veículos de mídia; aparelhamento e neutralização das organizações populares através da dependência do dinheiro do estado e o consequente silêncio e incapacidade de reação articulada por parte dos mesmos; ‘Desenvolvimento’ e ‘Modernização’ como palavras mágicas que a tudo justificam, e assim por diante…

Num quadro assim mais amplo, o Movimento Ocupe Estelita cumpre uma função de referência, por ter conseguido corajosamente expor e questionar a submissão absoluta e descarada do poder público aos interesses privados, assim como um pequeno punhado de Maracatuzeiros se expôs denunciando o Racismo Institucional do Estado de Pernambuco contra sua tradição secular.”

O próprio Siba indica o texto que a querida Carol Almeida escreveu sobre o que está acontecendo hoje no Recife. Clique aqui e aperte o play:

“Marcha Macia”, cuja letra segue abaixo, pode ser baixada de graça no site da OneRPM.

MARCHA MACIA
Acorda amigo, o boato era verdade
A nova ordem tomou conta da cidade
É bom pensar em dar no pé quem não se agrade
Sendo você eu me acomodaria…
Não custa nada se ajustar às condições
Estes senhores devem ter suas razões
Além do mais eles comandam multidões
Quem para o passo de uma maioria?
Progrediremos todos juntos, muito em paz
Sempre esperando a vez na fila dos normais
Passar no caixa, voltar sempre, comprar mais
Que bom ser parte da maquinaria!
Teremos muros, grades, vidros e portões
Mais exigências nas especificações
Mais vigilância, muito menos excessões
Que lindo acordo de cidadania!
Sai!
A gente brinca, a gente dança
Corta e recorta, trança e retrança
A gente é pura­ ponta ­de ­lança
Estrondo, Marcha Macia!
Vossa Excelência, nossas felicitações
É muito avanço, viva as instituições!
Melhor ainda com retorno de milhões
Meu deus do céu, quem é que não queria?
Só um detalhe quase insignificante:
Embora o plano seja muito edificante
Tem sempre a chance de alguma Estrela irritante
Amanhecer irradiando dia!
Sai!
A gente brinca, a gente dança
Corta e recorta, trança e retrança
A gente é pura­ ponta­ de ­lança
Estrondo, Marcha Macia!

Rumo ao Recife

portomusical2015

Embarco hoje rumo ao Recife, onde acompanho a edição 2015 do Porto Musical, um dos principais eventos brasileiro sobre o mercado de música. Participei das primeiras edições como conferencista (em 2006 falando sobre conteúdo gerado pelo usuário, ao lado do saudoso Fred Leal e em 2007 falando sobre a era de ouro do vídeo) e me convidaram este ano para ajudar na curadoria das palestras e showcases (que reúnem bambas como O Terno, Guilherme Arantes, Anelis Assumpção, Emicida, DJ Dolores, Paulo André, David McLoughlin, Ana Garcia, The Baggios, Marcelo Jeneci, Sistema Criolina, Mestre Vieira, Evandro Fióti, Cumbia All Stars, Lirinha, Gutie, Anderson Foca, entre outros. Além de participar da rodada de negócios na sexta de tarde também estarei no debate Música de Guerrilha, ao lado do compadre Gustavo “Mini” Bittencourt, Raul Luna e Bruno Consentino. A programação completa está aqui. Se estiver pelo Recife apareça para dar um alô, vai ser bom matar as saudades dessa cidade (e salta mais uma imersão gastromarinha aí!).

Contra o mangue beat: “Eu não consigo viver nessa lama com vocês”

Com a faixa “Mangue Beatle”, a banda pernambucana Volver traçou uma linha que os separa da cena que recolocou Recife no mapa no pop brasileiro nos anos 90 e está causando confusão no estado, como conta o Helal do Megazine:

“Em Pernambuco, o movimento manguebeat é considerado uma instituição acima de qualquer crítica. Sou fã de Mundo Livre S/A, mas acho que o meu estado é grande demais para comportar só carangueijos. Eu adoro a cultura indígena, mas isso não quer dizer que eu quero morar numa oca”, comenta o vocalista do Volver, Bruno Souto. Próxima estação é o terceiro CD da banda. O primeiro desde que o quinteto se mudou para São Paulo.

“O fanatismo é tão grande que as pessoas acham que criticar qualquer aspecto do mangue é o mesmo que xingar o estado de Pernambuco. Gravamos o clipe com a bandeira para mostrar que somos pernambucanos até a alma. Mesmo assim, muita gente achou que fizemos isso para provocar. Tudo bem. Artista não tem só que agradar. Precisa cutucar um pouco também.”

Tá certo. E o disco novo do Volver já saiu pra download. Não que eu recomende, mas há quem goste. Olhaê o clipe:

Dona Cila do Coco no Prata da Casa

Que maravilha foi o show de Dona Cila do Coco na semana passada no Prata da Casa. Até quem mais tinha expectativa (como eu) ficou surpresa: do alto de seus 73 anos (“74 em abril!”, gritava), a velhinha transformou a choperia do Sesc Pompéia em um imenso bailão, com todo mundo disposto a se acabar de dançar. Não faltaram homenagens a Chico Science, Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, mas o grande momento do show foi o final, quando ela fez todo mundo da platéia formar uma grande ciranda. Já tinha visto Lia do Itamaracá fazer isso no Recife, mas aqui em São Paulo, foi a primeira vez… Sente só:


Dona Cila do Coco – “Lia é Lia” / “A Rolinha”

Tem mais vídeos que fiz aí embaixo:

 

Hoje no Prata da Casa: A Banda de Joseph Tourton

Sigo com a minha curadoria do Prata da Casa, no Sesc Pompéia – e o show que encerra o primeiro mês de atividades é com os pernambucanos da Banda de Joseph Tourton. Abaixo segue o texto que escrevi sobre a banda para a programação:

A música instrumental brasileira vem se reinventando depois que uma geração inteira de bandas de rock descobriu que conseguiria se expressar sem necessariamente ter de usar palavras. Essa reivenção, consolidada a partir da virada do século, também acompanhou o momento da segunda fase do mangue beat, quando a cena criada por Chico Science e Fred 04 começou a pesar sobre as novas bandas. É deste cruzamento que surge a Banda de Joseph Tourton, que traz os ângulos não convencionais de bandas como Burro Morto, Hurtmold e Macaco Bong, mas temperados pelo filtro dub característico do Recife, o mesmo que os conecta ao Mombojó e ao produtor Buguinha, e pela presença de duas guitarras pesadas e de sopros lúdicos (flauta e escaleta entoam melodias sobre as ambiências propostas pelo quarteto), mesmo que o flerte instrumental ainda transite pelo jazz, krautrock, funk e, claro, música brasileira.

E na semana que vem, vamos assistir ao lançamento do primeiro disco do Max B.O.!

“BBC Olinda” trolla pernambucanos

Muito bom isso:

O que eu mais gosto é como ela repete “BBC Olinda, direto do carnaval do Recife”, em inglês.