Pensando em voz alta

, por Alexandre Matias

Sobre a polêmica Cicarelli x YouTube:

– Cada vez parece mais evidente que a peça de vídeo em questão foi armada. Cada novo parágrafo publicado com o nome da modelo a deixa mais em evidência. É o efeito Paris Hilton, que, fingindo-se de efeito Pamela Anderson, colocou a socialite em evidência no mondo pop. Daniela (e, mais do que ela, o namorado empregado da Merryll Lynch, como puseram na Wikipedia) cresce aos olhos do mundo como celebridade pop, mas não contava com o efeito colateral censura (ou contava? Afinal, até este amplia o alcance da garota). O vídeo até pode não ter sido armado (embora nessa era do Big Brother gente boa cada vez mais vale o conselho da vovó – “Não quer que saiba, faça escondido”), mas que, vendo o desenrolar de tudo, parece, parece;
– A mobilização antiproibição do YouTube mostra alguns aspectos interessantes do desenvolvimento do cidadão brasileiro online: um início de consumo consciente (ao cogitarem boicotar os produtos e programas que exibam a modelo), uma clara opção pelo vídeo online como canal de entretenimento de parte dos brasileiros, a memória ainda viva do fantasma da censura, a indignação brasileira que se forma mais virtualmente do que nas ruas. Tudo é muito incipiente, tudo é muito lento, tudo é muito em formação. Mas existe este movimento e cada vez mais torna-se popular e prático.
– Neste cenário pouco a pouco surgirão novos players, gente que canalizará essa indignação para canais práticos, lobbistas do povo. Aí você pode pensar em uma reinvenção do conceito de parlamentar no país – e, mais do que isso, até de parlamento. Afinal, se todo deputado-senador só advoga em causa própria (tá, tem as “exceções”, os que mordem menos) e se em, sei lá, quinze anos, todo brasileiro estiver online, pra que vamos precisar de congresso? Ou, pelo menos, deste tipo de congresso?
– E, ao mesmo tempo, percebemos as entranhas e as vísceras da máquina de fabricar notícias que se tornou o jornalismo mundial e, conseqüentemente, o brasileiro. A cada polêmica que coloca um apagado em evidência, a cada golpe de marketing fantasiado de notícia, a cada celebridade televisiva que lança livro/disco/peça/filme fica mais evidente que tudo é fake, fantasioso e fabricado. Ou que, pelo menos, se não é, pode ser.

Deixa eu te botar uma pulga atrás da orelha: o Saddam tá morto? O cara que apertou a mão do Rumsfeld nos anos 80, o cara que deu motivo pros EUA torrarem duas guerras inteiras no sertão do mundo, o cara que foi “achado” por um exército que não encontrou nem arma de destruição em massa e que de tanto jogar Doom ao vivo só enfileira uma lista de crimes bárbaros de guerra (como se a guerra em si não fosse um crime) e é afeito a queimar as próprias tropas no eufemístico “fogo-amigo”? Não tou nem falando que eu chego a duvidar. Mas um enforcamento às vésperas do ano novo, filmado por um celular e com cenas oficiais distribuídas às agências de notícias como se fosse uma solenidade oficial?

Como diria o Robert Plant: “OOOOOOOOOOOOoooooooooooooooooummmmmmmmmm and it makes me wonder…”. Ainda bem.