Amálgama de som

Coisa fina essa Sinfonia Orgânica Musical que o músico Marco Nalesso armou no Centro da Terra nessa terça-feira. Ao lado de seus velhos compadres Benedito Rapé (percussão), Marcelo Laguna (teclados), Sergio Ugeda (bateria), Pedro Silva (som e efeitos) e Rodrigo Coelho (trompete), ele amalgamou diferentes facetas de uma musicalidade quase instrumental que passeia pelo jazz rock, pelas músicas caribenha e nordestina, por uma psicodelia mineira, pela moda de viola, pelo reggae e pelo samba, pegando nos quadris e nos corações, às vezes ao mesmo tempo. Boa parte do repertório da noite saiu de seu recém-lançado disco, batizado apenas de Nalesso e que ainda irá sair nas plataformas digitais, mas que ele aproveitou essa apresentação para colocá-lo no mundo em seu próprio Bandcamp. A noite, com uma iluminação quase na penumbra como se nos induzisse a um espaço de vigília, entre o despertar e o sonho, ainda contou com a participação de Lúcio Maia, que soltou sua guitarra lisérgica nas duas últimas canções da noite, rasgando ainda mais o tecido musical do show. Emocionante.

#marconalessonocentrodaterra #marconalesso #centrodaterra #centrodaterra2025 #trabalhosujo2025shows 119

Rastilho derretido é só o começo da nova fase de Kiko Dinucci

“Eu preciso destruir pra nascer”, cantava Kiko Dinucci no início de seu último show de 2024, que aconteceu nesta quinta-feira, na Porta, olhando tanto para seu passado recente quanto para um futuro próximo ao convidar Pedro Silva para derreter seu Rastilho num remix ao vivo de um dos discos mais marcantes dos últimos anos. Trilha sonora involuntária do período trevoso que atravessamos no início da década, o segundo disco solo de Kiko foi lançado pouco antes de afundarmos no abismo da pandemia, mas já à sombra de outro pesadelo, quando já descíamos a íngreme ladeira abaixo que foi a presidência brasileira anterior à atual, mas quando o vírus maldito entrou em nossas rotinas, o realismo na cara do disco acústico ganhou contornos ainda mais distópicos que nem Kiko poderia imaginar ao compor canções que falavam que não ia dar, que íamos explodir e de sermos arremessado no tranco. Quatro anos depois e lá estavam os mesmos versos e violão sendo submetidos à distorção e reinvenção por meios elétricos e digitais, reconectando Kiko à microfonia e a glitches eletrônicos que os acompanharam em outro projeto seu do mesmo período, o pós-moderno Delta Estácio Blues, de Juçara Marçal. Mas o que no disco de Juçara eram paisagens e horizontes antianalógicos, naquele Rastilho derretido aos poucos assumia a centralidade em uma nova fase do disco que o torna ainda mais apocalíptico a partir das intervenções de Pedro, aproximando-o tanto do caos elétrico noise quanto de um eletrônico esquizofrênico que por vezes pairava ambient, noutros era pura distorção. Os dois só haviam feito uma apresentação desta versão anteriormente, que Kiko até considerou comportada comparada à desta quinta, e prometem seguir nesse rumo 2025 adentro, expandindo os rumos para o que pode se tornar o próximo trabalho do músico, que encerrou a noite tocando uma versão atravessada de “Silêncio no Bixiga”, de Geraldo Filme. Vai, Kiko!

Assista abaixo:  

Sem Palavras: Março de 2019

sem-palavras-marco-2019

Passado o carnaval, retomamos 2019 no Centro da Terra com mais um Segundamente dedicado à música instrumental, quando reunimos quatro expoentes da atual produção brasileira em mais uma temporada Sem Palavras. Na primeira segunda, dia 11 de março, a multiinstrumentista Luísa Putterman se junta ao baixista Arthur Decloedt e ao saxofonista Mateus Humberto no projeto Nó, desconstruindo ao vivo paisagens sonoras e texturas orgânicas e sintéticas, tocadas na hora e sampleadas. Na segunda segunda, dia 18, é a vez da apresentação Desde Até Então que o guitarrista Lello Bezerra – que toca com Siba – toca com o baterista Sérgio Machado, fritando entre o pós-punk, o free jazz e a música brasileira. Depois, dia 25, assistiremos à apresentação do trio de música espontânea Dentaduro, que reúne o vibrafonista Victor Vieira-Branco, o baixista Bernardo Pacheco e o baterista Pedro Silva, mostrando seu Live at the Budokan. A última sessão do Sem Palavras acontece no dia primeiro de abril, quando o guitarrista Marcos Campello, líder dos Chinese Cookie Poets e guitarrista de Ava Rocha, faz sua apresentação solo experimental chamada Viagem Não-linear ao Centro da Abstração em Ruínas. As apresentações, sempre às segundas, começam a partir das 20h. Abaixo, entrevistas que fiz com Luísa Puterman, idealizadora da primeira noite desta temporada com seu projeto Nó, o guitarrista Lello Bezerra, autor do espetáculo da segunda segunda-feira, Desde Até Então, com Bernardo Pacheco, baixista do Dentaduro, que toca na terceira terça-feira, e com Marcos Campello, que fará a última apresentação da temporada.

https://soundcloud.com/trabalhosujo/sets/no