Rita e o titã

Rita Oliva encerrou com chave de ouro a temporada Em Brisas bolada com seu nome artístico Papisa, em que recebeu diferentes convidados a cada segunda-feira deste mês. E o convidado da noite se materializou a partir de sua coragem, como ela comentou no meio da apresentação, ao chamar o titã Paulo Miklos para dividir o palco do Centro da Terra com ela, que ela não conhecia pessoalmente, abordado através de mensagens no Instagram. A cara de pau deu certo e os dois não só fizeram uma linda apresentação a dois – visitando o repertório um do outro sempre em dupla -, como passearam por canções alheias (passando por músicas de Tim Bernardes, Evinha, Sabotage e, claro, Titãs) e mostraram até músicas que compuseram juntos especialmente para esta ocasião. Trocando de instrumentos, passaram do baixo para a guitarra para o violão para o bandolim para o piano e para a flauta, além de contar com a participação do pernambucano Arquétipo Rafa, que havia tocado com Rita na semana passada, e voltou ao palco do teatro para encerrar a noite. Foi demais.

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Aceitando o minimalismo

Alinhamento perfeito no encontro entre Papisa e Arquétipo Rafa proporcionado como mais um capítulo da temporada que a primeira está fazendo no Centro da Terra. Ao reduzir as canções dos repertórios de ambos a poucos instrumentos (Rita entre guitarra, piano e synths e Rafa entre a bateria e o baixo synth) inevitavelmente deixaram seus arranjos mais minimalistas e isso fez com que pudessem se aprofundar bem nas próprias músicas, nas versões alheias que fizeram (passaram por “Na Hora do Almoço” de Belchior, “Esperar Pra Ver” de Evinha e “Wicked Game” de Chris Isaak, que fechou a noite) e até uma inédita, que compuseram para a ocasião. No meio do show, os dois convidaram a cantora Luna França, que passou por uma tragédia pessoal que, felizmente, conseguiu contornar e voltar aos palcos, para participar de uma música nova de Rafa chamada “Pode Vir”, quando o baterista foi para o piano, Rita para a guitarra, deixando a convidada soltar sua voz num momento tocante. Foi bem bonito.

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Entre o ocultismo e a psicanálise

“Quanto mais escura a noite, mais claro fica o que tem por dentro.” Rita Oliva atravessou a metade de sua temporada Em Brisas nesta segunda-feira no Centro da Terra, quando pela primeira vez deixou sua persona Papisa ser levada para o território do texto falado, entregando-se à poesia guiada pelo poeta Bobby Baq, único convidado desta noite. Além do texto – que incluía com poemas de Marina Colasanti, Clarice Lispector, Yoko Ono e obras dos dois -, Papisa ainda tocou guitarra, teclados e disparou samples, citando Lulu Santos, Sidney Magal e Radiohead e suas próprias canções, entre inéditas e desenterradas, dividindo a apresentação, que usava a água como fio condutor, em quatro partes e conversando com o público entre essas partes – abrindo, inclusive uma roda de sonho em pleno teatro. Foi sua noite mais experimental, em que o encontro da música com a poesia abriu portas para o ocultismo e a psicanálise.

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Brisas ou brumas?

Que noite mágica foi a primeira apresentação da temporada que Papisa está fazendo nestas segundas-feiras de agosto no Centro da Terra. Ao chamar a carioca Janine (dona de um dos discos que mais amei este ano, o EP Muda), ela sintonizou-se com os primeiros anos de sua carreira solo, quando fez suas primeiras apresentações naquele mesmo teatro, transformando um projeto de estúdio feito no quarto num trabalho coletivo com uma banda formada apenas por mulheres, em duas apresentações batizadas de Tempo Espaço Ritual, quando tocou à frente de uma banda formada por Laura Wrona, Luna França, Sílvia Tape e Larissa Conforto. Oito anos depois, Rita Oliva aproveitou a primeira noite da temporada para ecoar aquela época, de sonoridade mais rock e psicodélica, sem perder a carga dramática. E o que seria uma apresentação em dupla com as duas empunhando guitarras, cresceu em outra banda de mulheres, desta vez com Irina Bertolucci nos teclados e vocais e Francisca Barreto no cello, percussão e vocais, ritualizando mais uma vez o encontro em uma espécie de conciliábulo público feminino, em que suas duas sacerdotisas cantavam suas primeiras orações – Janine soltando voz e guitarra nas músicas de seu EP e algumas inéditas e Rita abrindo vozes e rasgando sua guitarra nas canções de seus primeiros anos de carreira solo (a sequência que emendou “Uníssono” de Janine com “Fenda”, faixa-titulo do primeiro álbum de Rita foi um dos vários momentos especiais da noite), criando uma superposição de repertórios e personalidades musicais, endossadas e adoçadas pelo teclado e cello de Irina e Chica. Adornadas pela bela luz encarnada de Beeau Gomez, foi uma apresentação que não apenas funcionou como uma bela introdução às próximas segundas como um número à parte que pode inclusive funcionar fora do contexto da temporada, que embora batizada de Em Brisas, tinha uma atmosfera mais Em Brumas nesta primeira noite.

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Papisa: Em Brisas

Que satisfação receber Papisa em sua temporada no Centro da Terra. O projeto autoral de Rita Oliva tomou forma a partir de um espetáculo que ela realizou no teatro em 2017 e de lá para cá ela conseguiu consolidar-se como uma das principais novas autoras musicais da cena brasileira, retornando ao palco do teatro para experimentar novas canções ao lado de novos parceiros. A cada segunda-feira de agosto, ela recebe diferentes cúmplices para noites específicas: na primeira, dia 4, chama carioca Janine; dia 11 é a vez de Bobby Baq; no dia 18 ela recebe o pernambucano Arquétipo Rafa para encerrar com a participação de Paulo Miklos, dia 25. Na primeira apresentação, ela retoma a guitarra distorcida ao lado de Janine e de duas outras musicistas que convidou para a noite, Irina Bertolucci dos Garotas Suecas e Francisca Barreto. O espetáculo começa sempre às 20h e os ingressos já estão à venda no site do Centro da Terra.

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Centro da Terra: Agosto de 2025

Agosto se avizinha e com isso já podemos anunciar as atrações de música da minha curadoria no Centro da Terra neste mês. Quem toma conta das segundas-feiras do mês é a grande Papisa, que volta aos palcos do teatro depois de anos, desta vez assumindo uma temporada chamada Em Brisas, em que chama, a cada semana, um novo convidado para explorar novas canções. A safra de shows começa dia 4, quando ela recebe a carioca Janine, numa apresentação em que as duas tocam guitarra. Dia 11 é a vez de receber Bobby Baq, que canta, faz leituras e declamações enquanto Papisa toca piano elétrico e faz programações eletrônicas. No dia 18 ela chama o baterista Arquétipo Rafa, que também toca baixo synth e percussão, enquanto ela reveza-se entre a guitarra, o sintetizador e o piano elétrico, encerrando a temporada ao lado de Paulo Miklos, dia 25, que canta, toca violão, baixo, sax e flauta transversal enquanto Papisa canta, toca violão, guitarra e piano. A primeira terça-feira do mês, dia 5, é da vocalista Marcela Lucatelli, que traz seus convidados escandinavos (o guitarrista e tecladista dinamarquês Lars Bech Pilgaard e o baterista norueguês Ole Mofjell para apresentar o projeto Necromancy, que dialoga entre a polirritmia, os cantos afrobrasileiros, o noise e o free jazz, contando com a participação do baixista paulistano Marcelo Cabral nesta apresentação. Dia 12 é a vez do paulistano Sessa começar a mostrar as canções de seu próximo trabalho no espetáculo Ensaio Aberto, em que chama mais uma vez o baixista Marcelo Cabral para o palco do teatro, trazendo ainda o baterista Biel Basile e a cantora Ina para mostrar o disco que lança até o começo do ano. Depois, dia 18 é a vez da musicista Lorena Hollander, do grupo Ushan, e do performer e vocalista Novíssimo Edgar apresentarem o projeto Hotel Shiva, em que misturam música e práticas ancestrais de cura sonora em instrumentos como o koto (harpa tradicional japonesa), kalimba, guitarra, sintetizadores e percussão. E encerrando a programação musical do mês na última terça de agosto, dia 25, recebemos o trio formado por Gabriel Milliet, Lucca Francisco e Stephanie Borgani no espetáculo Espaço Semelhante, em que encontram suas vozes, violões, teclados e flauta em atmosferas meditativas entre a música instrumental e a voz. Os espetáculos começam sempre às 20h e os ingressos já estão à venda no site do Centro da Terra.

Os 75 discos de 2024 que mais curti: 71) Papisa – Amor Delírio

“Tudo em volta me atravessa devagar”

Ouça abaixo:  

Papisa 2023: “A vida tá tão boa e pode ser melhor”


(Foto: Déborah Moreno/Divulgação)

Encontrei com a Rita Oliva por uma acaso numa noite dessas e qual a minha surpresa quando ela falou que seu projeto solo, Papisa, estava ativo e prestes a mostrar novidades. Acompanho seu trabalho desde quando fazia parte da banda Cabana Café (e depois da dupla Parati) e vi este novo projeto tomando forma tanto em dois shows que fizemos em 2017 e 2018 no Centro da Terra quanto em duas apresentações no Centro Cultural São Paulo, quando eu era o curador de música lá (a primeira como parte da programação do Centro do Rock, em 2018, e a segunda quando ela lançou seu disco Fenda no ano seguinte). Projeto solo e introspectivo, Papisa aos pouucos ia desabrochando em conexões e parcerias quando a pandemia nos encurralou naquele tétrico 2020 e Rita embarcou na onda de lives para depois deixar seu projeto musical em segundo plano. A encontrei outras vezes desde então e ela começava a retomar o rumo, até que anuncia seu novo álbum para o início do ano que vem a partir de uma música otimista e solar, adequadamente chamada de “Melhor Assim”, que ela lança nessa sexta-feira, mas antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo (ouça abaixo). “Meu último disco foi feito em solitude, com muita introspecção, e esse single representa uma fase criativa mais mundana e coletiva, em que o meu foco foi para as relações humanas”, ela me explica, reforçando que o próximo álbum fala sobre relacionamentos e tem a produção do Felipe Puperi, do Tágua Tágua. “Essa vontade de trocar com outras pessoas se refletiu também no processo: ele foi gravado em uma imersão na montanha, com muitas cabeças pensando juntas”. Ela começa a mostrar essa nova fase ao vivo no Bar Alto, numa quinta-feira, dia 9 de novembro, quando divide a noite com o cearense Indigo Mood.

Assista aqui:  

Fenda desconstruída

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Papisa está preparando um EP de remixes para fechar o ciclo de seu primeiro álbum, Fenda, e chamou sua turma para desconstruir o disco faixa a faixa. Entre as convidadas estão Tati Lisbon, Larissa Conforto, Vivian Kuczyncski, Theo Charbel, entre outros, além do remix que a senhorita My Magical Glowing Lens, a capixaba Gabriela Terra, que dá início aos trabalhos com o remix de “Semente”, que Gabi já estava fazendo quando Papisa a convidou, e leva a música da paulista para uma fronteira imaginária entre o dub e Índia, numa viagem pesada em câmera lenta.

Os 75 melhores discos de 2019: 73) Papisa – Fenda

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“A matéria cede quando o fogo despede”