Perder-se em si

O Set que Paola Ribeiro armou nesta terça-feira no Centro da Terra fez os espectadores seguir o rumo que os artistas propunham no palco, abrindo um caminho para que a consciência possa perder-se em si mesma. A noite começou com Paola, sozinha, fora do palco, atrás do público, filmando sua boca que era projetada por Laysa Elias na performance “Ah!”, em que estendia a vogal entre a fala e o canto até ela tornar-se tão abstrata quanto a boca sem rosco que aparecia em frente à plateia. Depois, no palco, juntaram-se a ela, primeiro Douglas Leal e depois Panamby que, passeando por instrumentos, acompanharam a voz de Paola que, por sua vez, desconstruía um berimbau, ora tocando-o apenas como instrumento de corda, ora apenas como instrumeto de percussão. O transe abstrato tomou conta do público, que assistiu calado aos sentimentos crus expostos em sua frente – tudo isso iluminado pela luz discreta e intensa de Charlie Ho, que trabalhou apenas com as cores primárias, para preservar a aura elemental da noite.

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Paola Ribeiro: Set

E encerramos a programação de música do Centro da Terra em agosto nesta terça-feira com uma apresentação solo de uma das mais promissoras cantoras em ascensão na cena musical paulistana. Paola Ribeiro apresenta o espetáculo Set, que divide em quatro momentos: um solo, dois em duos e um em trio. A apresentação começa com a performance de “AH!” que faz em parceria com Laysa Elias na parte audiovisual. Os dois duos vêm em seguida, quando ela divide o palco com Douglas Leal e depois com Elton Panamby divindindo vocais, sopros, percussão e cordas, para finalmente reunir-se com os três na parte final da noite – que tem a iluminação a cargo de Charlie Ho. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados na bilheteria ou no site do Centro da Terra.

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Centro da Terra: Agosto de 2024

Agosto começa agora e essa é a programação de música do Centro da Terra no mês do cachorro louco. Quem toma conta das segundas-feiras é o conterrâneo Gabriel Thomaz, que assina a temporada do mês com seus inúmeros projetos – dos Autoramas a uma volta ao Little Quail, passando por algumas surpresas. Às terças-feiras, temos primeiro, no dia 6, a cearense Soledad retoma sua carreira depois de um período longe dos palcos e aponta para seu futuro próximo. No dia 13 é a vez de Ana Spalter mostrar o início de seu primeiro disco solo, que ainda está sendo gravado, no palco do Sumaré. Dia 20 temos a estreia nos palcos da carreira solo de Olívia Munhoz, mais conhecida como uma das melhores iluminadoras de música do Brasil, que mostra suas composições ao lado de um grupo da pesada. E no dia 27 é a vez de Paola Ribeiro mostra a força de sua voz ao mesmo tempo em que começa a mostrar seu primeiro trabalho autoral. Os espetáculos começam pontualmente sempre às 20h e os ingressos já estão à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra.

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Final apoteótico

O encerramento da temporada Cosmofonias de Romulo Alexis nesta segunda-feira no Centro da Terra foi apoteótico, quando chamou seu compadre Wagner Ramos, que, com Romulo, forma o duo Rádio Diáspora, para uma versão intensa dessa formação, chamada de Ensemble Cachaça!, que contou ainda com o trombone de Allan Abbadia, o contrabaixo de Clara Bastos, a voz e o berimbau de Paola Ribeiro e o sax de Stefani Souza. O sexteto partiu de momentos soturnos e silenciosos para picos de estridência e dissonância, quando timbres graves e agudos se encontravam canalizados pelo trompete e bateria do duo proponente do encontro, com direito a instrumntos de sopro desmontados para buscar novas sonoridades e um berimbau tocado com arco, além da voz livre e espacial de Paola. A última de quatro intensas noites de improviso e exploração musical foi um encerramento desnorteador.

Assista abaixo:  

Romulo Alexis: Cosmofonias

Imensa satisfação em receber o trompetista e arquiteto sonoro Romulo Alexis como o dono das segundas-feiras de maio no Centro da Terra, quando ele apresenta a temporada Cosmofonias, dedicada ao improviso coletivo a partir de quatro recortes diferentes. A temporada começa nesta segunda-feira 6, quando Romulo recebe, como Rádio Diáspora, ao lado de seu chapa Wagner Ramos, as performers Ester Lopes e Belle Delmondes numa noite chamada Fenda, em que trabalham música e corpo investigando as fronteiras do legado afrodiaspórico. Na outra terça, dia 13, ele chama a Nigra Experimenta Arkestra ao reunir To Bernado (trombone), Gui Braz (cordas e flauta), Salloma (kalimba, voz e flauta), Karine Viana (vilolino e voz), Laura Santos (clarinete e voz), Manoel Trindade e Lerito Rocha (percussões), Lua Bernardo (contrabaixo acústico, voz e flauta), Du Kiddy (guitarra), Henrique Kehde (bateria), Stefani Souza (saxofone), além do próprio Romulo. Depois, ele reúne-se à produtora Leviatã (Amanda Obara, Iago Mati e Natasha Xavier) para convidar o artista sonoro Edbras Brasil, a vocalista Inès Terra, a cellista (que também toca didjiridou) Thayná Oliveira, o percussionista Sarine e o flautista Douglas Leal. E na última segunda-feira, dia 27, ele cria, mais uma vez ao lado de Wagner Ramos, o Rádio Diáspora Ensemble Cachaça 2024, quando reúne-se ao trombonista Allan Abbadia, à contrabaixista Clara Bastos, à vocalista e percussionista Paola Ribeiro e ao sax de Steafani Souza para uma noite de criação coletiva espontânea. As apresentações começam sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados no site e na bilheteria do Centro da Terra.

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De olho na engrenagem

Lançado ao vivo em noite de gala com o teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros lotado nesta sexta-feira, o novo disco de Rodrigo Ogi é batizado com um título que nos induz à ilusão de que a realidade que descreve é como um jogo de dados, induzida por um acaso que às vezes joga contra, às vezes a favor. Mas Aleatoriamente, lançado há um mês, pertence à mesma estirpe clássica de seus melhores álbuns, Crônicas da Cidade Cinza, de 2011, e Rá!, de 2015, e da mesma forma mistura jornalismo com crônica e cinema, criando climas musicais pesados que funcionam como trilhas sonoras perfeitas para descrever situações extremas em regiões inóspitas da grande cidade, periféricas ou não. Se tudo parece uma colcha de retalhos de acontecimentos díspares, é na música que Ogi cria a tensão necessária para que todas essas histórias pareçam fazer parte de um mesmo universo – mostrando-se atento observador da engrenagem da realidade. E nesta vez seu parceiro musical foi um Kiko Dinucci recém-saído da produção do Delta Estácio Blues de Juçara Marçal, que conduziu a saga a partir de pedaços de músicas sincopados uns sobre os outros, criando grooves tensos e intrincados com texturas ruidosas, entre o pós-punk, o no wave e o hip hop nova-iorquino dos anos 80. Foi bom ver Kiko como um dos DJs da noite, dividindo com as bases com o DJ Nato PK, em vez de tocar guitarra, deixando o rap fluir apenas entre bases e vocais. E se o instrumental já estava pesado de saída, os vocais foram sendo apresentados pouco a pouco: além da natural destreza lírica do dono da noite, sempre acompanhado por seu compadre Tiagão Red na segunda voz, Vovô recebeu ninguém menos que Juçara Marçal e Don L em participações precisas – Juçara por três músicas (incluindo “Crash”, que Ogi fez para ela como primeiro single de seu Delta Estácio Blues) e Don L apenas em uma, deixando passar a oportunidade de juntar-se aos outros dois numa mesma faixa. As vozes também brilharam para além dos convidados, a começar pela voz fabulosa de Paola Ribeiro, que contrapunha tanto bases como vocais com seu canto forte, até pelo próprio Kiko, que em vez de disparar o sample com a participação que Siba fez no disco, preferiu ele mesmo cantar a parte do pernambucano. Uma apresentação e tanto – e em que as luzes de Lígia Chaim ajudaram a aumentar ainda mais o clima épico da noite.

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Ordem e caos

Especial esta terceira apresentação da temporada Mil Fitas que Sue e Desirée Marantes estão fazendo no Centro da Terra, pois foi quando elas puderam materializar uma das mais intensas versões da Mudas de Marte Improvise Orquestra, projeto de Sue que, como o nome entrega, abraça a regência de músicos tocando livremente. A técnica de condução do improviso livre é uma bandeira artística levantada pelo maestro e músico Guilherme Peluci, que criou a Ad Hoc Orquestra, que esteve na formação montada pelas duas e regeu uma das três partes da noite, além de explicar o conceito para o público. Além de Peluci, que foi para o clarone quando deixou a batuta de lado, o time reunido por Sue e Desi contava com a voz e a percussão de Paola Ribeiro, o saxofone de Sarine, os beats de Ricardo Pereira, o violino Gylez, a percussão de Melifona, a guitarra de Luiz Galvão, o trompete de Rômulo Alexis, a bateria de Rafael Cab e o contrabaixo acústico de Vanessa Ferreira (além do violino de Desirée e da guitarra de Sue, anfitriãs da noite). Além de Peluci, Alexis e Sue também puderam reger outros dois atos, cada um deles conduzindo a massa sonora para um lugar que, apesar de nascido no improviso livre, está muito mais próximo ao que nosso inconsciente classifica por música, mesmo que num processo individual nascido coletivamente e conduzido por uma única pessoa. Esse equilíbrio entre ordem e caos transforma o que poderia tornar-se apenas em uma maçaroca sonora, numa onda fluida de melodias, ritmos e harmonias espontâneas, num espetáculo mágico e envolvente. Na lateral do palco, Kiko Dinucci também esteve presente mas não fez música, desenhando os músicos enquanto a apresentação se desenvolvia e tendo suas ilustrações projetadas no fundo da apresentação. “Na próxima eu toco!”, ele desabafou no final. Uma noite única.

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Centro da Terra: Junho de 2023

Estamos entrando na terceira parte do mês de maio, então é hora de anunciar as atrações do mês de junho no Centro da Terra. A temporada das segundas-feiras fica na mão de duas produtoras, compositoras e multiinstrumentistas que cogitei reunir pensando nos pontos em comuns de seus trabalhos e Sue e Desirée Marantes me apresentaram uma proposta incrível chamada Mil Fitas, em que reúnem-se com diferentes artistas para criar paisagens sonoras em camadas. Na primeira segunda, dia 5, elas recebem as artistas Dharma Jhaz e Carol Costa. No dia 12, é a vez de tocarem ao lado do duo Carabobina (composto por Alejandra Luciani e Rafael Vaz) e de Fer Koppe. Na outra segunda, elas reúnem uma cabeçada: Kiko Dinucci, Ricardo Pereira, Romulo Alexis, Guilherme Peluci, Paola Ribeiro, Sarine, Gylez, Bernardo Pacheco, Natasha Xavier e outros nomes a confirmar, encerrando a temporada dia 26, quando reúnem a banda Ema Stoned, a produtora Saskia e o boogarinho Dinho Almeida. As terças de junho começam com uma minitemporada, Notas e Sílabas, em que o trio instrumental Atønito se aventura pelo mundo das palavras, com um novo convidado a cada apresentação – no dia 6 eles recebem o guitarrista Lucio Maia e no dia 13 a cantora e compositora Luiza Lian. As outras terças trazem dois shows solos de dois artistas distintos iniciando novas fases em suas carreiras: no dia dia 20 a cantora e instrumentista paulista Tika apresenta Marca de Nascença, quando toca ao lado de uma banda composta só por mulheres e antecipa seu próximo trabalho, enquanto no dia 27 o paulistano Bruno Bruni começa a encerrar sua trilogia de jazz funk Broovin’ apresentando as faixas do próximo disco em primeira mão no palco do Centro da Terra. Como junho é o mês do festival In Edit, nossa parceria traz o documentário Manguebit, dirigido por Jura Capela no ano passado, ma primeira quarta-feira do mês, dia 7, antes da programação oficial do evento, que terá atividades no Centro da Terra, anunciadas em breve. Os espetáculos começam sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.

Passo decisivo

Ao conectar seu trumpete com o contrabaixo acústico de Marcelo Cabral, o kit de percussão de Mamah Soares e o vocal intenso de Paola Ribeiro, Guizado começou a explorar uma nova fronteira sonora para uma nova fase de sua carreira a partir desta terça-feira, no Centro da Terra. Com esta formação chamada Guizado e a Realeza, ele abriu possibilidades de improviso a partir de temas já estabelecidos que fez com que este encontro de músicos expandisse seus próprios horizontes à medida em que se conheciam mutuamente. Um primeiro passo decisivo.

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Guizado e a Realeza

O trompetista Guizado começa mais um capítulo de sua carreira ao apresentar, pela primeira nesta terça-feira, seu projeto Guizado e a Realeza, no Centro da Terra. Cercado de cobras como Marcelo Cabral, Mamah Soares e Paola Ribeiro, o músico e produtor começa a investigar conexões entre a música eletrônica para dançar, percussão africana, a presença do baixo e a voz como instrumento de improviso, em uma apresentação inédita O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.