Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Pra fechar bem janeiro

Fechando esse longo janeiro de 2025 com o belo espetáculo proporcionado por Giovani Cidreira ao lançar seu ótimo Carnaval Eu Chego Lá, no Sesc Vila Mariana. Celebrando a obra do conterrâneo Ederaldo Gentil (falecido em 2012 e autor de joias como “Feira do Rolo” e “O Ouro e a Madeira”, eternizadas por Alcione e Clara Nunes, entre outras), o disco do ano passado verteu-se num show emotivo e impulsivo – como é típico de Giovani – em que o músico liderou uma banda formada por Filipe Castro (percussão, que também produziu o disco), seu velho compadre Cuca Ferreira (sax e flauta), Lu Manzin (teclados e vocais), Pedro Bienemann (baixo), Ed Trombone (trombone) e Pedro Lacerda (bateria) dividindo-se entre o violão e os teclados, deixando sua bela voz conduzir a apresentação, que ainda contou com músicas de seus discos anteriores, e com a participação das Pastoras – as três cantoras que Kiko Dinucci reuniu a Juçara Marçal para acompanhá-lo em seu disco Rastilho – , Graça Reis, Dulce Monteiro e Maraísa, que subiram ao palco em uma mesa de bar, quando acompanharam Giovani em momentos únicos deste show, trazendo um calor ainda mais afetivo para a noite. Foi bonito.

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Os sobreviventes do Nirvana acompanham Kim Gordon, St. Vincent, Joan Jett e Violet Grohl em clássicos do grupo

O FireAid foi um evento realizado nesta quinta-feira para arrecadar fundos para as vítimas do incêndio que devastou a cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, neste mês de janeiro. Realizado em duas arenas simultaneamente na cidade de Inglewood, o festival contou com apresentações breves de artistas de todo porte e gênero musical e contou com alguns momentos históricos, como a reunião dos três sobreviventes do Nirvana com vocalistas convidadas assumindo as letras de Kurt Cobain. E assim Dave Grohl, Pat Smear e Krist Novoselic acompanharam St. Vincent (que cantou “Breed”), Kim Gordon (que cantou “School”), Joan Jett (que cantou “Territorial Pissings”) e a filha do baterista Violet Grohl (que cantou “All Apologies” com Kim Gordon no baixo). Assista à íntegra da apresentação abaixo:  

A queda de Patti Smith e o cancelamento de sua apresentação no Brasil

E a Patti Smith deu um susto em todo mundo nesta quarta-feira, quando realizou a primeira das duas apresentações que está fazendo em São Paulo, dentro da programação renovada do Cultura Artística. Nossa senhora do rock passou mal após o terceiro poema da noite, caiu pra trás no palco e deixou todos estarrecidos. Mas parece que foi apenas uma enxaqueca forte e felizmente logo depois ela voltou de cadeira de rodas e fez o público cantar “Because the Night” com ela, como vemos no vídeo abaixo.  

Marianne Faithfull (1946-2025)

Marianne Faithfull, que nos deixou nesta quinta-feira sem que a causa de sua morte fosse revelada, foi mais do que um dos principais ícones da cultura inglesa dos anos 60. Com sua trajetória errática e sempre cercada de grandes artistas, ela viveu uma saga que poderia ser uma parábola para seu tempo, encostando no céu daquela década transformadora ao mesmo tempo em que afundava seus pés no inferno do mesmo período. Musa dos Rolling Stones e depois uma das principais parceiras de Mick Jagger, ela gravou a primeira música composta por Jagger e Keith Richards, que nunca haviam composto em dupla até então, eternizando-se com a incrível balada “As Tears Goes By”. Sua carreira musical misturava-se com o fato de ser um ícone da moda da Swinging London e também uma atriz cobiçada pelos grandes nomes do cinema do período – de Orson Welles a Jean-Luc Godard (que chamou-a para interpretar ela mesma no filme Made in the USA), passando por Alain Delon e Anna Karina e grandes nomes do teatro da época, como Glenda Jackson, Anjelica Huston e Oliver Reed. Seu envolvimento com cocaína e heroína foi também inspiração para grandes músicas dos Stones, como You Can’t Always Get What You Want”, “Wild Horses” e “Sister Morphine”. Ela terminou a década como um retrato do período: viciada e morando na rua, só conseguiu se reerguer quase dez anos depois, quando gravou o álbum Broken English e voltou a colaborar com outros nomes da música, como PJ Harvey, Nick Cave, David Bowie, Lou Reed, Jarvis Cocker, Damon Albarn, Emmylou Harris, Beck e Metallica, além de seguir atuando – interpretou deus em dois episódios da série cômica inglesa dos anos 90 Absolutely Fabulous, o diabo em uma produção de 2004 do musical The Black Rider, escrito por Tom Waits e William Burroughs, e a imperatriz Maria Tereza no Marie Antoinette de Sofia Coppola. Morre com a reputação no lugar depois de altos e baixos e deixando um legado que vai além de sua obra, mostrando a importância da arte de viver.

Fotos do último show do Velvet Underground que apareceram em Juiz de Fora

Demais essa história das fotos do último show do Velvet Underground com Lou Reed que foram encontradas em Juiz de Fora que a Carime Elmor contou na revista Zum. Os registros feitos por Leee Black Childers, fotógrafo da turma de Andy Warhol que assistiu à transformação de Nova York provocada pelo Velvet em tempo real, marcam o final da temporada que o grupo fez no Max’s Kansas City no verão nova-iorquino de 1970 e são do mesmo dia (23 de agosto daquele ano) em que outra habitué da turma do Velvet, a modelo Brigid Polk, gravou a íntegra da apresentação em seu gravador portátil, sendo abordada logo em seguida pelo agitador Danny Fields para ver se conseguia lançar aquele registro comercialmente, e fazendo Live at Max’s Kansas City, lançado em 1972, “o primeiro álbum pirata da história a ser editado e lançado oficialmente”, como reforça Carime em sua reportagem. As imagens mostram um Lou Reed genuinamente feliz numa apresentação em que estava acompanhado do compadre Sterling Morrison, de Doug Yule no baixo (que entrou no grupo depois da saída de John Cale e canta algumas das principais músicas da banda no dois últimos discos) e o irmão de Doug, Billy Yule, na bateria, substituindo a baterista original Moe Tucker que estava grávida de sua primeira filha. Além das fotos desse dia, a matéria ainda traz outras fotos, de John Cale e Nico tocando em 1972 no Le Bataclan parisiense (apresentação que também contou com Lou Reed, que não aparece nestas fotos) e outras do grupo no campus de uma universidade em 1969. Dá uma sacada lá na Zum.

Veja algumas abaixo:  

E Buzzcocks no Brasil também!

Quem também acaba de anunciar sua vinda ao país é a banda inglesa Buzzcocks, um dos principais nomes da cena punk daquele país, que além de tocar em São Paulo (no dia 24 de maio, no Carioca Club) e em Curitiba (dia 25, no Basement), passa também pelo México (dia 18), Colômbia (20), Chile (22) e Argentina (23). A morte de seu líder Pete Shelley em 2018 fez a banda suspender as atividades por um tempo, abrindo uma exceção apenas em 2019, quando celebraram o fundador da banda em um show tributo ao grupo no Royal Albert Hall, com convidados como Captain Sensible e Dave Vanian (ambos do Damned), Pauline Murray (dos Penetrations), Peter Perrett (dos Only Ones), Tim BUrguess (dos Charlatans) e Thurston Moore (do Sonic Youth), entre outros. O grupo foi ressuscitado em 2022 pelo outro fundador da banda, o também guitarrista Steve Diggle, que reuniu o baixista Chris Remington (que tocava com a banda desde 2008) e o baterista Danny Farrant (um buzzcock desde 2006) para retomar a formação que agora vem à América Latina. Os ingressos para o show de São Paulo estão à venda neste link e os do show em Curitiba neste link.

Fuzztones no Brasil!

Quem desembarca em breve no Brasil é o clássico grupo de garage rock dos anos 80 Fuzztones, que toca pela primeira vez no país no dia 17 de abril, no Cine Joia. Heróis do rock cru e garageiro que saiu de moda depois que o punk redesenhou o underground no final dos anos 70, a banda nova-iorquina liderada pelo mitológico Rudi Protrudi mudou-se para Los Angeles no meio daquela década, onde estabeleceu-se até hoje, tornando-se o único integrante fundador a tocar o grupo em frente. Os Fuzztones vêm à América do Sul com a formação iniciada no meio da década passada e passam por São Paulo depois de tocar na Argentina e no Uruguai. A noite brasileira ainda conta com a abertura de duas bandas igualmente históricas no que diz respeito ao rock de garagem no Brasil: os Autoramas e os Gasolines. Os ingressos já estão à venda neste link.

Mais Sly!

Parece que Questlove conseguiu mais uma vez: lançou o trailer final de seu documentário sobre Sly Stone – o mitológico líder de um dos grupos mais importantes dos anos 60, Sly & The Family Stone – pouco antes da primeira exibição pública do filme, que aconteceu na semana passada no festival Sundance, arrancando excelentes elogios. Sly Lives! (aka The Burden of Black Genius) é o segundo documentário dirigido pelo baterista dos Roots, depois do deslumbrante Summer of Soul, que lhe garantiu seu primeiro Oscar. O novo filme, que estreia nos EUA No canal de streaming Hulu no próximo dia 13 e não tem previsão de lançamento no Brasil, conta com depoimentos de integrantes de sua banda e de discípulos do homem, como Andre 3000, D’Angelo, Chaka Khan, Q-Tip, Nile Rogers e George Clinton, que se aprofundam no legado e no mistério ao redor deste monstro sagrado e, como seu subtítulo em inglês detalha, o fardo de ser um gênio negro nos EUA.

Assista ao trailer abaixo:  

Entre luz e sombras

Apresentando-se pela primeira vez no Centro da Terra, o quinteto paulistano Naimaculada mostrou que está mais do que pronto para começar sua nova fase, que começa oficialmente no dia 28 de março deste ano, quando oficializaram o lançamento de seu disco de estreia A Cor Mais Próxima do Cinza. O jazz rock com toques de rock progressivo e heavy metal do grupo subiu o próprio patamar ao fazer um show com som surround, projeções, iluminação e participações especiais tocando pela primeira vez todos de branco – ao contrário do que vinham fazendo até então, quando tocavam todos de preto. A apresentação começou com gravações do som ambiente de São Paulo (especialmente do trânsito, ônibus e metrô) e depoimentos de pessoas aleatórias falando sobre a influência da cidade grande em suas vidas, temática subliminar da banda e central neste primeiro disco. Aquele registro, aliado à cenografia toda em preto e branco do palco, criou o clima perfeito para conduzir o público ao seu inferno urbano, cantando com dor e paixão no encontro musical do vocal soul de Ricardo Paes, a guitarra de rock clássico de Samuel Xavier, o baixo funky e pós-punk de Luiz Viegas, o sax de Gabriel Gadelha, entre o jazz e o pop, e a bateria de Pietro Benedan, que equilibra o peso do metal e do hardcore com as dinâmicas do funk e do jazz. O encontro desta noite foi enriquecido com participações, especificamente a presença de Lukas Pessoa, tecladista prog do grupo Monstro Amigo, que deu um novo molho ao ser incluído integralmente à formação, do MC CGA e da vocalista Sol Dias, que ajudaram a criar novas camadas na apresentação ao vivo da banda, bem como as projeções de Olívia Albergaria e a luz monocromática de Dara Duarte. Provocaram o público tocando o disco na íntegra e terminando com uma inédita, conduzindo noite entre luz e sombras, entre o silêncio e o ruído, entre a paz e a paranoia e impetuosamente abrindo terreno para um novo momento vivido pela jovem nova música de São Paulo, que começa a se consolidar neste meio de década.

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Naimaculada: Acromatopsia

O quinteto Naimaculada é a segunda atração de 2025 no Centro da Terra e antecipa seu disco de estreia, que será lançado ainda este semestre, no espetáculo Acromatopsia, em que amplia no palco o conceito do álbum Cor Mais Próxima do Cinza. O título a apresentação refere-se a uma condição ocular em que o indivíduo não consegue perceber cores vê tudo em tons de cinza, o que conversa com a perspectiva da banda de jazz rock sobre a vida urbana e a complexidade e monotonia que coexistem nas grandes cidades. O show contará com intervenções sonoras entre as canções e outras visuais e sonoras para deixar o espetáculo ainda mais intenso. A apresentação, como sempre, começa às 20h e os ingressos estão à venda pelo site do Centro da Terra.

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