Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
“Cantar no Brasil é cantar no berço da música”, comemorou a cantora espanhola Sílvia Pérez Cruz ao anunciar sua temporada de shows no Brasil ao lado do português Salvador Sobral em agosto. O espetáculo Sílvia & Salvador, em que os dois são acompanhados por Dario Barroso (guitarra), Sebastià Gris (guitarra, banjo e bandolim) e Marta Roma (violoncelo) e já virou disco ao vivo, passa por cinco cidades do Brasil no início do próximo mês, começando pelo Recife (dia 8 de agosto, no Teatro RioMar, ingressos aqui), passando por Brasília (dia 12 no Teatro Nacional, ingressos aqui), Rio de Janeiro (dia 13, Teatro Riachuelo, ingressos aqui), Franca (dia 14 no Sesc Franca) e São Paulo (dias 16 e 17, no Sesc Vila Mariana), sendo que estes três últimos shows não começaram a vender ingressos ainda. Trazendo canções de artistas como Jorge Drexler, Luísa Sobral, Carlos Montfort, Jenna Thiam, Marco Mezquida, Javier Galiana de la Rosa, David Montiel e da brasileira Dora Morelenbaum, além de músicas próprias, o espetáculo certamente deve contar com participações especiais brasileiras em cada uma dessas cidades. Resta saber quem irá tocar com eles…
O primeiro Inferninho Trabalho Sujo no Fervo reuniu dois shows que funcionam como bons exemplos da amplitude musical da nova geração de bandas e como, apesar de virem de áreas sonoras distintas, harmonizam com gosto. A noite começou com o delírio prog-jazz do Tubo de Ensaio, que apesar de não negar suas raízes no rock clássico e na música brasileira, partem dessa mistura para voos instrumentais e viagens vocais que misturam improviso e psicodelia. Num transe instrumental que mistura doces harmonias vocais, groove hipnótico e equipamentos fabricados em casa, o quinteto mostrou algumas músicas de seu recém-lançado Endoefloema com várias canções inéditas que eles já estão preparando para o próximo trabalho. É bonito ver como a sinergia do grupo, tanto a presença performática e carismática da vocalista Manuela Cestari – interagindo constantemente com o pequeno e avassalador baterista Gabriel Ribeiro, que por vezes deixa seu kit para tocar metalofone, à simbiose de contrapontos do baixo melódico de Francisco Barbosa e a guitarra jazzy e psicodélica de Lorenzo Zelada, entrelaçando-se com os teclados espiralados de Lorena Wolther, que, ao lado de Lorenzo, compõe jogos vocais suaves e lisérgicos junto a Manu. A intensidade do show e a cumplicidade da banda amplia muito as dimensões das canções do disco, que por vezes esticam de duração em solos e improvisos contínuos, que conversavam diretamente com as trips instrumentais do Tutu Naná, que por sua vez vêm de um outro universo musical.
Depois foi a vez do Tutu Naná mostrar que o transe instrumental simbiótico também pode vir de uma outra fonte sonora, que mistura tanto referências de jazz brasileiro, quanto de noise, rock clássico, shoegaze e pós–punk. O quarteto catarinense nascido das cinzas da banda John Filme acabou de lançar o ótimo Itaboraí, em que mostram que não há fronteiras musicais quando se transcende o vínculo artístico para além da convivência, transformando o trabalho musical dos quatro num mesmo organismo vivo. Quase sem precisar trocar olhares, seus integrantes abrem fronteiras musicais que por vezes começam em dedilhados sutis da guitarra de Akira Fukai nas linhas de baixo elípticas de Jivago Del Claro, crescem nos vocais entrelaçados dos dois ao lado da vocalista Carol Acaiah, que por vezes puxa sua flauta transversal para liberar o ruído coletivo ou para domá-lo em momentos de êxtase, quase sempre impulsionados pela bateria impetuosa e quebrada de Fernando Paludo, um monstro que parece ter saído de uma mutação genética entre Dom Um Romão, Ginger Baker, Milton Banana, Art Blakey e Keith Moon (além de ficar fazendo loops com seu vocal distorcido entre as músicas). Cada apresentação é um convite a um novo transe e não foi diferente neste primeiro Inferninho Trabalho Sujo no Fervo, quando o público desceu para perto dos trilhos do trem na Água Branca para uma noite de puro delírio musical. E como se não bastasse, o Tutu Naná encerrou sua apresentação com uma improvável versão “Duas Opiniões”, do Tom Zé. Foi demais.
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Desbravamos mais um ano do Inferninho Trabalho Sujo mostrando uma nova geração de artistas que está vindo com tudo nesta década ao mesmo tempo em que espalhamos a festa por diferentes casas da cidade. Desta vez, chegamos pela primeira vez na Ocupação Fervo, que desde o começo do ano está agitando ali na Água Branca. Quem abre a noite é a banda paulistana psicodélica Tubo de Ensaio, estreando no Inferninho, que vem mostrar seu recém-lançado primeiro disco Endofloema, que conecta diferentes pontas, de diferentes épocas, da música lisérgica brasileira. Depois é a vez do noise açucarado do Tutu Naná, quarteto de Maringá residente em São Paulo que acaba de lançar mais um disco, o inspirado Itaboraí, batizado com o nome da rua em que moram – juntos, tocando quase todo dia – na cidade. A casa abre às 18h e o primeiro show começa às 21h – e enquanto as bandas não estiverem tocando eu discoteco. O Fervo fica na rua Carijós, 248, na Água Branca, e dá para vir tanto pela rua Guaicurus (perto do Sesc Pompeia), quanto pelo outro lado do trilho do trem – e o melhor é que não custa nada pra entrar, é só chegar! Vamos nessa!
(Foto: Gabriela Schmidt/Divulgação)
Yma finalmente coloca seu próximo disco no horizonte ao lançar o primeiro single de seu tão aguardado segundo álbum. Criada a partir de um brainstorm sobre uma lista de filmes tão diferentes quanto Eraserhead, Terra em Transe, Lamb, A Professora de Piano, Dentes Caninos, Cheiro do Ralo, In the Mood for Love, Todo Mundo Quase Morto, Estranhos no Paraíso e Febre do Rato, 2001 tem seu título tirado não do clássico de Stanley Kubrick, mas da saudosa rede paulistana de videolocadoras especializada em cinema de arte. O recorte de uma colagem de títulos que hoje estariam no Mubi sobre uma base bossa nova spacey começa a descortinar o novo ambiente sonoro imaginado pela cantora paulistana, que vem acompanhada de um elenco de instrumentistas que a elevam a um novo patamar: Fernando Catatau (guitarra), João Barisbe (clarinete e sax), Marcelo Cabral (baixo) e Pedro Lacerda (bateria), além de seu companheiro (e produtor da faixa), Fernando Rischbieter, tocando violões, guitarra, synths, mellotron, programações e fazendo vocais. É um pequeno e bonito vislumbre num novo universo que, se tudo caminhar como anda, nos será revelado ainda este ano.
A banda de Kevin Parker acaba de deixar um link pra quem quiser comprar antecipadamente um vinil 12 polegadas que traz apenas os números [7:14] no rótulo… O quinto disco do Tame Impala está chegando…
Começou no fim da quarta-feira, quando o baterista do Fleetwood Mac, Mick Fleetwood, postou um vídeo em sua conta no Instagram em que aparece ouvindo “Frozen Love”, que o casal que era metade da banda – o guitarrista Lindsey Buckingham e a vocalista Stevie Nicks – gravou no álbum Buckingham Nicks, de 1973, quando eram apenas uma dupla iniciante. “Inacreditável”, diz o baterista ao tirar os fones de ouvido, “era mágico naquela época, é mágico hoje”. A publicação já causou certo rebuliço online, que tornou-se ainda mais intenso nesta quinta-feira, quando primeiro Nicks postou, com sua própria caligrafia, a frase “And if you go forward…” (“e se você for na frente”) em seu Instagram, seguido de uma publicação de Buckingham, seguindo igualmente com sua própria letra cursiva, que dizia “I’ll meet you there” (“te encontro lá”) – veja os posts abaixo. Será que os dois vão voltar a tocar juntos? O disco do casal ainda não está nas plataformas de áudio, será que é só isso? Ou será que vão lançar uma reedição especial do mesmo álbum? Será que o casal pode voltar a fazer shows, como antes de entrar no grupo? Disco novo vindo aí? Ou será que existe a possibilidade do Fleetwood Mac voltar a fazer shows, mesmo após a morte da vocalista e tecladista Christine McVie em 2022? Façam suas apostas…
O Daft Punk acabou mesmo? Porque vez por outra a dupla francesa aparece com algo pra que a gente não esqueça de sua existência – e desta vez, em parceria com a marca Pleasure, o grupo lança uma série de produtos, que vão de peças de vestuário a suportes de livros, bola de futebol, carteira e até um jogo de dardos. Uma boa ação de marketing, mas será que vai vir além disso?
Num ano sem novidades públicas, Tim Bernardes acaba de anunciar que fará duas novas versões de seu espetáculo Raro Momento Infinito, em que passeia por seu repertório solo ao lado de uma orquestra, nos dias 3 e 4 de setembro deste ano. Essas noites acontecerão no Auditório Simón Bolivar do Memorial da América Latina e os ingressos começam a vender na próxima segunda, ao meio-dia. São as únicas apresentações que o ex-líder do Terno fará no Brasil, a outra oportunidade de vê-lo ao vivo além dessa ficou para os portugueses, que verão este mesmo show em novembro.
Se só a ideia de um documentário sobre Jeff Buckley dirigido com a sensibilidade de Amy Berg e o aval de pessoas próximas a ele já é capaz de marejar os olhos, prepara o lenço porque esse trailer vai te fazer chorar…
Um festival de jazz com Dom Salvador, Rosa Passos, João Bosco, Vanessa Moreno e Michael Pipoquinha, Banda Black Rio, Chico César e Fabiana Cozza, Egberto Gismonti, entre outros músicos. Melhor: de graça. Esse é o Cerrado Jazz Festival, que acontece em na Caixa Cultural de Brasília, entre os dias 7 e 10 de agosto desse ano, e mostra como é possível fazer festivais sem precisar apelar pra nomes gigantescos, hypes da vez e dezenas de artistas. Coisa fina.
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