Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Juçara Marçal: Curima

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Que prazer receber Juçara Marçal no Centro da Terra neste mês de outubro, quando ela toma conta das segundas-feiras com sua temporada Curima (mais informações aqui). “É uma palavra que vem do quimbundo e designa várias coisas ligadas a um rito: o próprio rito, a música, a dança, o canto, a festa, a brincadeira”, me explica na entrevista abaixo, em que disseca o que pensou para este mês. Curima parte de trabalhos estabelecidos da cantora carioca, cujo trabalho é pilar fundamental de duas grandes instituições da músicia independente brasileira, os grupos A Barca e Metá Metá. Mas em paralelo a estes trabalhos, ele sempre envolveu-se com colaborações, parcerias e outros experimentos sonoros, justamente os que revive durante este mês, trazendo elementos que ela vem flertando há pouco tempo: o improviso livre e a presença da dança em sua obra.

Na primeira data, dia 7, batizada de Outras Curima ela convida Rodrigo Brandão para um mergulho do canto falado, ao lado da baixista Clara Bastos, do trompetista Rômulo Alexis e da bailarina Aysha Nascimento. Na segunda, dia 14, que ela chamou de Curima 24h, ela mergulha no improviso ao lado do velho compadre Thomas Rhorer e de Marco Scarassatti, além da dançarina Marina Tenório. No dia 21, ela visita as canções eternizadas pela francesa Brigitte Fontaine, em Curima para Brigitte, quando leva este seu já conhecido trabalho para o campo do improviso, ao lado dos comparsas de Metá Metá Kiko Dinucci e Thiago França, além de Lincoln Antonio e do bailarino Ernesto Filho. Finalmente, no dia 28, ela invade o terreno de seu trabalho Anganga, feito ao lado de Cadu Tenório, na noite Anganga Curima, que contará com as presenças de Cadu e a volta da bailarina Aysha Nascimento. Ela conta a concepção geral da temporada e como ela conversa com a preparação de seu segundo disco solo na entrevista abaixo:

O que é Curima?
É uma palavra que vem do quimbundo e designa várias coisas ligadas a um rito: o próprio rito, a música, a dança, o canto, a festa, a brincadeira. Por isso, achei que seria um bom nome para as sessões que farei no Centro da Terra. Essas segundas-feiras serão abertas a essas várias maneiras de ritualizar o encontro.

Como você dividiu este conceito em quatro noites?
Quatro encontros de improvisação. Em cada um, o nó acontece a partir de algum projeto já existente, juntando amigos com quem já improvisei antes, e outros que convido para improvisar pela primeira vez. Em todos, uma bailarina – ou bailarino – interagindo com o som.

Fale sobre os convidados e o clima da primeira noite, Outras Curima,
Pra abertura, chamei Rodrigo Brandão. E essa aconteceu com a ajuda do acaso. Rodrigo está morando em Lisboa. Calhou de estar aqui para a tour Outros Espaço, com os músicos da Sun Ra Arkesrta. Quando soube disso, não tive dúvida, chamei-o pra abertura que acontece um dia após o fim da tour pelo interior. E a coincidência vinha a calhar. Eu participei do álbum do Rodrigo, o Outros Barato, de spoken word mergulhado no improviso livre. Além de participar cantando, um texto meu acabou entrando no disco. Então, o que era pra ser uma simples participação, foi momento de experimentação e descoberta também pra mim. Assim, Outras Curima celebra o encontro com Rodrigo, com o spoken word, com o improviso… Todas matérias novas na minha vida de cantora.
Chamei também a Clara Bastos, baixista da banda Orquídeas do Brasil. A gente já tocou junto no som do Paulo Padilha, por bastante tempo, mas é a primeira vez que nos juntamos para uma sessão de improviso. O trompetista Rômulo Alexis foi toque da Clara. Já tinha ouvido falar bastante dele, mas nunca rolou de tocarmos juntos. Nos conheceremos no palco. Desafio sempre instigante. E na performance corporal, a atriz, bailarina, diretora, que eu tive a sorte de conhecer mais de perto na montagem de Gota d’água {Preta}, Aysha Nascimento.

Depois temos Curima 24h. O que é isso?
O segundo dia é uma deferência ao parceiro de longa data, Thomas Rohrer, um dos maiores improvisadores que conheço. Tocamos juntos desde o grupo A Barca. Depois o chamei pra compor o trio que me acompanhava no Encarnado. Recentemente, a gente formou esse Duo 24Horas pro Festival de Moers, que rolou em junho. Já tínhamos feito algumas sessões de improviso, sempre com mais gente, inclusive o Marco Scarassatti, que também é convidado desse segundo dia. Marco tem um trabalho incrível como improvisador e criador de novos instrumentos sonoros. Voltando ao 24Horas, pro festival, eu e Thomas propusemos um show do duo, que precisava ter um nome. Esse nome surgiu de uma brincadeira dele, da época d’A Barca. Nas pesquisas que fazíamos, nos deparávamos frequentemente com músicas tão encantadoras que a gente não queria nunca mais parar de tocar. Cada vez que surgia na roda uma música com essa vocação, o Thomas já anunciava: “Música 24 Horas”. Daí a chegar no nome do duo, foi um pulo!
A performance corporal desse dia é da Marina Tenório, atriz e bailarina que quando vi dançando numa sessão de improviso, com Thomas e Philip Somervell, fiquei encantada. Foi por causa desse dia que tive a ideia de fazer as sessões com participação de performers corporais. A Marina foi muito inspiradora nesse sentido.

Como Curima conversa com seu espetáculo em homenagem à Brigitte Fontaine? Quem mais toca contigo neste terciero dia?
Pro dia da Curima para Brigitte, a ideia é que as músicas que canto dela surjam em meio aos movimentos improvisados que vamos criar. Eu, Kiko e Lincoln já temos no repertório algumas das músicas da Brigitte arranjadas. Então o desafio será puxar essas canções em meio ao improviso. O Lincoln é parceiro de longa data – de antes d’A Barca até. Mas nunca estivemos juntos numa sessão de improviso. Por isso, resolvi propor o desafio pra ele e pra mim. Pra completar o time e a trama de improviso, chamei o outro parceiro do Metá Metá, Thiago França.
Na performance corporal, o Ernesto Filho, que é um aficcionado pela Brigitte Fontaine. Ele até fez um filme inspirado em suas canções. Por isso, no dia 21, teremos também a projeção desse filme, como elemento mobilizador das performances, que se chama: Pas Ce Soir (Esta Noite Não).

E a última noite, Anganga Curima, como conversa com seu trabalho com Cadu Tenório?
Este dia vai ser dedicado ao repertório do disco Anganga, que fiz em parceria com o Cadu. Com a Aysha Nascimento de volta pra fechar o ciclo. Ideia semelhante ao da segunda anterior. As músicas que já tocamos no Anganga, mas num contexto ininterrupto de improvisação. Os arranjos já estruturados surgirão – ou não! – em meio aos movimentos sonoros que formos criando na hora.

Curima já é uma preparação para seu próximo disco solo? Em que pé está este processo?
Estou bem interessada em cada um dos encontros ser momento de experimentar a elasticidade do canto, do verso, em meio aos movimentos sonoros improvisados. Testar possibilidades rítmicas da voz, timbres, pedais, buscar saídas diferentes pra algo já arranjado. Acho que a abertura natural de uma sessão de improviso vai me ajudar a aprofundar algumas questões que estou investigando pro disco novo. Mas não haverá nada do disco… Até onde eu sei!

O fato de você realizar esta temporada num teatro muda muito em relação a apresentá-lo em casas de show tradicionais?
Só o fato de a temporada poder ser pensada de forma mais experimental, pra apresentar um processo, não necessariamente um show pronto, já muda totalmente o jeito de encarar cada apresentação. E o fato de ser num teatro como o Centro da Terra torna tudo mais especial, pois é um teatro muito aconchegante. Propício a experiências mais intimistas, e também mais radicais.

O pior já aconteceu

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O bardo australiano Nick Cave, sempre escudado pelos fiéis Bad Seeds, evoca os espíritos de Scott Walker e Leonard Cohen para manter seu filho intacto no tocante Ghosteen.

O novo disco consegue apertar ainda mais que seu predecessor Skeleton Tree, de 2016, contemporâneo da morte de seu filho adolescente, mas não inspirado por ele. Em Ghosteen, escrito após sua pior perda, ele encerra o ciclo iniciado com o pesado Push the Sky Away, de 2013, vendo esperança num futuro sem esperança, colorindo sem ironia e com arranjos assustadores e belíssimos um cenário que antes era só trevas, nos guiando para um novo lugar depois que o pior já aconteceu.

Wilco sem guitarras

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E esse disco novo do Wilco, hein? Ode to Joy é uma espécie de Sky Blue Sky desta estranha e familiar nova fase do grupo, coroando uma década em que o grupo de Jeff Tweedy experimenta compor para além do formato rock, como se buscasse, nesta negação, sua essência, deixando de lado aquilo que considera como acessório ou facilmente datável.

Ainda não dá pra cravar se é um novo clássico, mas é o melhor disco do grupo desde, justamente, o Sky Blue Sky.

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“Bright Leaves”
“Before Us”
“One and a Half Stars”
“Quiet Amplifier”
“Everyone Hides”
“White Wooden Cross”
“Citizens”
“We Were Lucky”
“Love Is Everywhere (Beware)”
“Hold Me Anyway”
“An Empty Corner”

Francisco El Hombre no Centro Cultural São Paulo

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O grupo méxico-paulistano Francisco El Hombre coloca toda pressão de seu Rasgacabeza, lançado no começo do ano, no palco da Adoniran Barbosa, no Centro Cultural São Paulo, neste domingo, às 18h (mais informações aqui)

Como assim, quarta temporada de Twin Peaks?!

“Está acontecendo de novo!”

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Começou com um tweet nostálgico de David Lynch, lembrando do lugar onde filmou sua clássica série, no meio do mês passado:

“Caros amigos do Twitter, eu amo as pessoas em King County. Amo as locações em King County. Arrumamos um lugar perfeito para filmar Twin Peaks e as pessoas perfeitas para trabalhar com a gente. Tanto Dow Constantine quanto Kate Becker são ótimos! No fim das contas, isso tornou filmar Twin Peaks ali um sonho.”

Mas daí que, no dia 29 de setembro, surge este tweet do Hollywood Horror Museum, que dizia:

“Alguém que nós conhecemos que ‘está por dentro’ deixou escapar algo bem interessante sobre o futuro de Twin Peaks. Se for verdade, estaremos rindo e excitados com 2020!”

E continuava:

“Não queremos meter ninguém em apuros (apenas por ser estúpido o suficiente para nos contar!). Então não podemos falar mais até que ELES falem, mas isso não é só um boato.”

E mais:

“Tudo que podemos dizer é que as pessoas que cuidam disso estão preparando algo grande pra 2020. Até que elas falem disso, teremos que ficar quietos.”

Não custa mencionar que filha de Lynch, Jennifer, faz parte do conselho deste museu do horror em Hollywood, Los Angeles. No dia seguinte, dia 30, o ator Michael Horse, o xerife Hawk, publica uma foto de seu personagem nos anos 90 vendo um pedido para manter silêncio em sua conta no Instagram.

E no dia seguinte, dia 1° de outubro, Kyle MacLachlan, o eterno Agente Cooper, twitta o seguinte:

“Amo este terno elegante, mas estou pensando em donuts nesta manhã.”

Neste domingo, dia 6 de outubro, completam exatos cinco anos que David Lynch e Mark Frost anunciaram a terceira temporada de sua série, algo que era considerado impossível e inconcebível e se revelou a grande obra de arte do século 21 até agora. Será que veremos a quarta temporada em 2020? Um filme? Uma versão em realidade virtual? Ou em ASMR? Ou é só um truque pra vender mais uma edição deluxe do Blu-ray?

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ESTÁ ACONTECENDO DE NOVO!? SERÁ POSSÍVEL?

Angel Olsen: “Something that was bigger than us”

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E esse disco novo da Angel Olsen, All Mirrors, chegou e é tudo isso mesmo…

Que mulher!

Laerte nos cinemas

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O filme A Cidade dos Piratas, dirigido por Otto Guerra (mesmo diretor do ótimo Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’n’Roll, inspirado na obra de Angeli), traz para o cinema o universo mental deste grande ícone da cultura nacional, a intelectual do traço Laerte Coutinho: seus personagens, seu traço, sua ironia, sua finesse… Parece ótimo.

A estreia está marcada para o último dia deste mês.

Paes reinventado

Foto: Isabela Yu

Foto: Isabela Yu

“Quem gravou o disco foi eu e Benke, não há participações: eu gravei vozes, baixo e teclado, ele gravou guitarras e beats. A gente tinha liberdade pra gravar e parar a hora que quisesse. Então dormindo, comendo, curtindo junto, isso nos deu uma sensação muito grande de bem estar. Influenciou diretamente no mood do resultado final”, me explica o pernambucano Paes, que lança seu EP Wallace nesta sexta-feira, mas que o antecipa já em primeira mão para o Trabalho Sujo. Feito em parceria com o guitarrista dos Boogarins Benke Ferraz, que produziu e tocou no disco, o EP desconstrói a sonoridade que o cantor e compositor apresentou em seu disco de estreia, Mundo Moderno.

A colaboração com Benke surgiu quando Paes estava começando a cogitar um disco em parceria com o ex-Mombojó Marcelo Campello, que assina algumas das composições do EP. “Ana Garcia, quando tava fazendo a assessoria do Mundo Moderno, meu disco anterior, falava muito que a gente precisava se conhecer e trocar ideia, porque tinha interesses parecidos relacionados a áudio, música, fita cassete etc.”, explica o pernambucano, mencionando a participação ativa da fundadora do festival Coquetel Molotov como ponte crucial do encontro com o guitarrista. “Já havia encontrado ele algumas vezes em Recife mas nunca trocado uma ideia de fato. Mas no Coquetel Molotov do ano passado, a gente se encontrou e eu dei uma Cassete do Mundo Moderno e meses depois, em outra festa ele me deu uma do Boogarins, A Casa das Janelas Verdes, junto com uma revista que saiu pela Void. Eu adorei a fita e ficamos trocando ideia por internet.”

“Ele me pareceu ser a pessoa mais indicada no momento pra tentar tirar outro som, me ajudar a sair da zona de conforto em relação à sonoridade, instrumentação e vibe das músicas. As coisas aconteceram de uma forma bem natural”, continua. “Quando o convidei pra produzir, no outro dia já tava almoçando com eles e pensando como fazer a coisa toda. Levei as cifras, baixo e amp pra lá e já começamos a tirar as harmonias dessas três canções. Depois de dois encontros onde já se criou as bases no Ableton Live e harmonias fomos pro estúdio por dois dias e gravamos. Lá compusemos juntos outras duas faixas ‘8 bit Blues’ e ‘Espelhos’. Ele se envolveu no processo desde o início, desde os arranjos até a finalização do trabalho. Além de produzir ele tocou as guitarras, beats e mixou as nossas parcerias. O nome do álbum surgiu de uma brincadeira nossa com o título de ‘4 Paredes’: Four walls, for Wallace, por Wallace até enfim chegar no Wallace, que reflete muito o clima familiar que a gente construiu na pré, durante as gravações e na pós. Foi-se criando uma amizade bem massa e uma facilidade de decidir as coisas juntos talvez pela forma parecida de pensar música e de filosofia de vida.”

“A diferença é em relação à sonoridade, porque a instrumentação é bem diferente”, me explica. “Não tem bateria, apenas beats eletrônicos. O Mundo Moderno é mais diversificado de timbres e a formação em cada faixa. Tem músicas eletrônicas, outras com violão e piano, outra com banda. O Wallace é rock alternativo, eletrônico, pop e mais lisérgico. É experimental e mais maluco. Em uma faixa gravamos uma jam de baixo e guita encima do beat do Casiotone, depois ele processou no Live e deixou ela com cara de videogame, por isso dei o nome de ‘8 Bit Blues’. Outra surgiu de um áudio de WhatsApp que Benke ouviu, processou e picotou, criando um beat, synth e baixo. Eu criei a melodia e letra e já gravei rapidamente em cima.”

Se o disco é tão diferente do anterior, o mesmo não pode se dizer em relação ao tema. “As questões que abordamos nas letras é uma continuidade do que tá presente no álbum anterior: reflexões sobre a contemporaneidade, das formas de relações que a gente tem nos tempos atuais, tecnologias, formas de comunicação e como isso influencia diretamente no jeito que a gente se socializa, como se relaciona com o outro através da internet e de toda facilidade que isso traz. Tem seu lado positivo de mil possibilidades mas também cria problemas desse nosso tempo que é a sensação de isolamento, muitas vezes estamos conectados com tanta gente mas nos sentimos muito solitários. É uma coisa muito comum isso que acomete quase todos que convivo, uns menos outros mais. Vejo muita gente tendo sofrendo com depressão, ansiedade, pânico e quase sempre relacionando esses pontos levantados como cruciais pra entender o que ta acontecendo no nosso mundo. E eu acho importante falar disso abertamente, nos ajudar, ouvir e tentar encontrar um equilíbrio sabe? Porque temos que estar juntos, se ajudar. É uma coisa muito comum pra nós que vivemos nesse modelo capitalista, de trabalho, cobrança pessoal, da sociedade, do sistema, essa correria louca do dia a dia onde as horas não são suficientes pra a demanda que criamos e aos mesmo tempo passa tudo tão rápido, A vida tá passando por a gente como um vagão de metrô. E nós estamos todos no mesmo carro.”

Agora o desafio é transpor essa sonoridade para o show: “Como virou eletrônico, tanto as novas como as do anterior que serão rearranjadas pra esse formato, a banda é bem reduzida, para um formato duo, em que canto, toco baixo e synth em alguma faixas e com o amigo João Bento, que toca guitarra, backing vocal e maschine, que é basicamente um equipamento com vários pads, onde podemos samplear todos os sons do álbum, não só rítmicos mas também hamônicos e melódicos e tocar ao vivo isso. Mas também temos a formação trio, com Benke completando o time tocando guitarra enquanto João fica nas bases eletrônicas, e eventualmente baixo e sintetizador. Nessa eu tenho mais liberdade pra só cantar em algumas músicas e ficar mais livre em relação a performance.”

Pélico inquieto

Foto: Caroline Bittencourt

Foto: Caroline Bittencourt

“Esse disco é um retrato atual da minha vida, consequentemente a situação do Brasil permeia algumas canções, de forma um pouco mais sutil que o primeiro single, mas tem uma indignação, um desconforto pessoal e coletivo”, me explica o cantor e compositor paulistano Pélico, que lança o clipe de sua “Descaradamente”, dirigido por Bruno Galan e que conta com a participação de Negro Léo nos vocais, em primeira mão no Trabalho Sujo. A primeira canção poderia dar uma ideia de um trabalho mais politizado, ainda mais na situação que passamos hoje no país, mas o disco Quem Me Viu, Quem Me Vê, que será lançado nas plataformas digitais no dia 18 de outubro (e que Pélico antecipa a ordem das faixas, abaixo), aborda outros temas, além do explicitado no primeiro single. A escolha da canção é direta: “Ela representa o que de mais urgente eu preciso dizer”, continua, “estamos num momento muito delicado e perigoso da nossa história. É preciso falar, antes que a gente se arrependa de ter ficado calado.”

“Descaradamente” marca o início de uma nova fase na carreira de Pélico. “Depois de 10 anos trabalhando com o mesmo produtor musical, Jesus Sanchez, resolvi trabalhar com novos produtores, além de boa parte da banda ter mudado também”, conta ele explicando que convocou Régis Damascendo e Dudinha para ajudá-lo a parir o disco. “O Clayton Martin gravou todas as baterias, o André Lima gravou pianos e sintetizadores e o Dudinha gravou alguns baixos. Todos eles nunca tinham gravado comigo. Também tem as participações especiais do Negro Leo e do Teago Oliveira, do Maglore.”

A principal mudança, no entanto, não acontece apenas entre as pessoas com quem Pélico agora trabalha, mas principalmente em relação a método. “Pela primeira vez eu compus boa parte do repertório do disco durante o processo de gravação, escrevia de manhã e à noite levava pro estúdio pro Regis e Dudinha ouvirem e na sequencia levantar a base. Isso deu uma cara pro disco, uma crueza e uma urgência que os outros meus três discos anteriores não tem.”

“Acerto de contas”
“Quem me viu, quem me vê”
“Nosso Amor”
“Não Procurava Ninguém”
“Machucado”
“Descaradamente”
“Nunca Mais”
“Louco por Você”
“Pra te Dizer”
“Amanheci”

Kastrup no Centro Cultural São Paulo

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O compositor e percussionista carioca Guilherme Kastrup inaugura a programação de música de outubro do Centro Cultural São Paulo ao levar seu disco Ponto de Mutação ao palco da Sala Adoniran Barbosa nesta quinta-feira, a partir das 21h (mais informações aqui).