Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Toda segunda-feira, às 21h, tem Vida Fodona ao vivo no twitch.tv/trabalhosujo.
Mundo Livre S/A – “Manguebit”
Bonsucesso Samba Clube – “Pensei Se Há”
Eddie – “Sentado na Beira do Rio”
Karina Buhr – “Eu Menti Pra Você”
Mombojó – “Antimonotonia”
Beck – “Mixed Bizness”
Talking Heads – “Crosseyed and Painless”
B-52’s – “Planet Claire”
Yoko Ono – “Walking On Thin Ice”
ESG – “Erase You”
Saskia + Edgar – “Tô duvidando”
Racionais MCs – “Você Me Deve”
Sade – “Paradise”
Massive Attack – “Unfinished Sympathy”
Primal Scream – “Higher than the Sun”
DJ Shadow – “What Does Your Soul Look Like, Pt. 4”
Warpaint – “Above Control”
Cure – “One Hundred Years”
Legião Urbana – “Andrea Doria”
Bob Dylan – “Subterranean Homesick Blues”
Yma – “Par de Olhos”
Chromatics – “The Page”
Captain Beefheart & His Magic Band – “Ella Guru”
Cornelius – “Crash”
Bruno Schiavo – “Amores Incríveis”
Mutantes – “Jogo de Calçada”
Haim – “Want You Back”
Gregory Isaacs – “Night Nurse”
Gilberto Gil + BaianaSystem – “Sarará Miolo”
Daft Punk + Julian Casablancas – “Instant Crush”
Hall & Oates – “Kiss on My List”
Sam Cooke – “You Send Me”
Shuggie Otis – “Strawberry Letter 23”
O vocalista da Trupe Chá de Boldo Gustavo Galo chega aos finalmentes do disco que lançou ano passado, Se Tudo Ruir, Deixa Entrar o Ruído, ao mostrar single e clipe novos. Primeiro apresentou o clipe de “Nijinski”, chamando amigos para cair na dança, entre eles o parceiro pernambucano Otto, com quem faz dueto em uma canção que exalta a dança.
Depois estreou a inédita e bela “Até Chegar no Mar”, com Mariá Portugal na bateria, Chicão Montorfano nos teclados e Gustavo Ruiz e o pai Luiz Chagas nas guitarras.
Mesmo sem lançar nada desde seu clássico instantâneo Lemonade – o disco que considero o mais importante da década passada -, Beyoncé vem aos poucos mostrando que não vai ficar quieta em 2020, principalmente levando em conta o clima tenso em que seu país se encontra desde a morte de George Floyd por um policial. Ela foi uma das primeiras artistas a se pronunciar publicamente sobre a tragédia e suas consequências para os EUA, deu um belo discurso na iniciativa Dear Class of 2020 organizada pelo casal Obama e agora lança “Black Parade”, o primeiro single em mais de meia década, sincronizado com a comemoração do 19 de junho, a data do fim da escravidão nos EUA, conhecida pelo apelido de “Juneteenth” (misturando o nome do mês e o número do dia nesta nova palavra).
A deliciosa faixa não é um hit dedo na cara como ela fez quando lançou “Formation”, mas embala tradições negras que vão da música africana à Jamaica, passando pelo R&B e pelo trap, e a rainha Bey desliza seus versos com o apoio de um irresistível coral. É inevitável associar à versão cinematográfica para o filme Rei Leão que ela fez com ano passado com a Disney. Será que vem mais algo por aí…?
Homegrown, o disco que Neil Young lançaria no inicio de 1975 mas preferiu engavetar para só lançar agora, começa com um solavanco brusco, como se fosse uma porta emperrada de uma casa de fazenda que não visitamos há décadas. Ela abre no primeiro empurrão, revelando um ambiente sonoro reconhecível, que vai sendo desenhado primeiro pelo baixo, violão e bateria, que são seguidos por uma guitarra pedal-steel que nos ajuda a nos acostumar com a escuridão. Quando o mestre canadense começa a cantar “Separate Ways” abrem-se as janelas e o sol finalmente pode entrar no disco, depois de anos. Os timbres dos instrumentos – a bateria delicada conduzida por ninguém menos que Levon Helm, a guitarra chorosa de Ben Keith, o baixo truculento e calado de Tim Drummond, o violão e a gaita de Young – pairam no ar como uma névoa de poeira, erguida do chão pela luz e pelo movimento. É o lugar que esperávamos encontrar, mas há algo diferente.
Engavetado pois lembrava do relacionamento que Young estava terminando na época (junto à atriz Carrie Snodgress), Homegrown perdeu-se com o tempo e algumas de suas canções apareceram em outros seus discos, mas seu lançamento nos leva àquele momento dos anos 70 em que o cantor e compositor canadense estava vivendo seu auge musical. O artesanato de suas canções segue intacto como se estivéssemos ouvindo as gravações de Harvest ou Tonight’s the Night, mas há uma sensação caseira e confortável que torna o novo velho disco mais despretensioso e tranquilo, mesmo com as presenças mágicas de nomes como Helm, a cantora Emmylou Harris e Robbie Robertson.
O disco apresenta uma coleção de canções que nos faz lembrar de um passado que mal lembramos, mas que é estranhamente familiar. É como revirar fotos de um casamento passado, encontrar pertences de um parente morto, anotações pessoais de outros anos. Há uma tristeza daquilo ter se perdido, mas ao mesmo tempo um calor ao lembrarmos de como era, algo que Neil traduz em três grupos distintos de canções: baladas melancólicas (“Separate Ways”, “Try” e “Mexico” abrem o disco com essa sensação, que volta ao final, com “Little Wing” e “Star Of Bethlehem”), canções do campo (“Love is a Rose”, “Kansas” e “White Line”), faixas country com algum sabor rock (a faixa-título, “We Don’t Smoke It No More” e “Vacancy”), apenas a falada “Florida” destoa destes grupos, mas acaba funcionando como uma longa e estranha introdução para “Kansas”.
Ao cancelar o lançamento de Homegrown, Neil Young decidiu tirar da gaveta o disco Tonight’s the Night, que havia gravado em 1973 mas não estava certo de lançá-lo por ser uma homenagem ao guitarrista Danny Whitten, que havia falecido há pouco. Ao adiar Homegrown indefinidamente, o canadense abriu espaço para o disco anterior, que logo que saiu foi consagrado como uma de suas obras-primas. O disco relançado este ano não tem a força e o sentimento profundo dos grandes clássicos de Neil, mas seu despojo e intimidade o tornam um belo retrato do artista longe das pressões que o atravessavam à época. Discaço.
Em seu oitavo disco, Pick Me Up Off The Floor, a cantora, compositora e pianista norte-americana Norah Jones encontra timbres e ambiências que ajudam a lapidar de forma mais precisa seu pop perfeito, abandonando de vez as afetações plásticas do jazz pop que a revelou e afinando suas canções com os experimentos a que se propôs nos últimos anos. Na última década ela tirou onda com sua versatilidade musical na coletânea Featuring… (mostrando músicas ao lado de nomes como Foo Fighters, Herbie Hancock, Willie Nelson, Outkast, Q-Tip, Talib Kweli, Belle and Sebastian, Ray Charles, Ryan Adams, Dolly Parton e outros) e gravou duas vezes com o produtor Danger Mouse, primeiro no projeto Rome, que ainda contava com o italiano Daniele Luppi e Jack White, depois no ótimo álbum, Little Broken Hearts, de 2012. Ela retomou o piano no belo Day Breaks, de 2016, e agora amarra tudo num disco que, apesar da sonoridade moderna (mesmo querendo soar retrô), poderia ser gravado nos anos 60 ou 70. É seu melhor disco – e se ela seguir esse padrão daqui pra frente, não tem com o que se preocupar…
Isso sem contar a ambiguidade que letras como “This Life”, “Hurts To Be Alone”, “To Live” e “Were You Watching”, todas maravilhosas, ganharam ante a quarentena…
Comemorando os 30 anos de seu quarto disco, os Pixies relançarão o sensacional Bossanova em edição comemorativa de aniversário, em vinil vermelho e com um encarte de 16 páginas que só saiu na versão inglesa do disco, na primeira impressão (e já está em pré-venda). O disco foi lançado logo após a baixista Kim Deal lançar o primeiro disco com sua outra banda, as Breeders, e aos poucos abalar a já conflituosa relação entre os integrantes do mitológico grupo indie norte-americano, o que acelerou o processo do fim da banda, que aconteceu no ano seguinte.
https://www.youtube.com/watch?v=27VLlQ1Ax5k&list=OLAK5uy_nYa3x-Z7-QP-7sVKt4cP9pKJ5PV1Du-jw
Quando Bob Dylan começou a mostrar Rough And Rowdy Ways, nem sabíamos que era um álbum que viria. A sombra da pandemia pesava sobre o ocidente quando um de seus maiores artistas cantava um épico inesperado: os quase dezessete minutos de “Murder Most Foul” recontava o assassinato do presidente norte-americano John Kennedy como um divisor cultural, o fim da inocência estadunidense e o início da queda no abismo em que nos encontramos hoje, citando músicos e canções como testemunhos destas transformações. Ele depois lançou a bucólica “I Contain Multitudes” e parecia que estava apenas mostrando umas músicas novas para nos reconfortar, uma melhor que a outra. Até que o groove quadrado de “False Prophet” anunciou a vinda do novo álbum, que só por conter estas três músicas já mostrava que seria um dos melhores discos do mestre.
E é verdade. Por mais que ele ressoe como os últimos discos que lançou (a trilogia que gravou como intérprete formada pelos álbuns Shadows in the Night, de 2015, Fallen Angels, de 2016, e o triplo Triplicate, de 2017), Rough… conversa diretamente com todos seus discos neste século, especialmente os três primeiros do século, “Love and Theft” (2001), Modern Times (2006) e Together Through Life (2009). Neste trio de discos do início do século 21, ele comentava a nova modernidade à partir da modernidade que conheceu, voltando para os anos 50 de sua adolescência. Já a trilogia de canções que foram gravadas por Sinatra volta ainda mais no tempo, para os anos 20, 30 e 40, fazendo a ponte entre o terreno onde plantou suas Basement Tapes, a música folk americana do início do século, e a era de ouro do rádio em seu país.
O novo disco retoma o andamento do século e parece caminhar entre inferninhos do sul dos EUA, estradas desertas ao por do sol e salões de velho oeste trazidos para a era da eletricidade e da gasolina. São blues rasgados e rocks que chacoalham cadeiras e cabeças mas não os quadris (“False Prophet”, “Goodbye Jimmy Reed”, “Crossing the Rubicon”), baladas pensativas (“I’ve Made Up My Mind to Give Myself to You” é de chorar, “Black Rider” parece um presságio), delírios solitários e canções de cortar o coração (a já citada “I Contain Multitudes” e “Mother of Muses”, em que sua voz, que nos acostumamos com o timbre velho e calejado, está deslumbrante). Só esse conjunto de canções já colocaria Rough… entre os melhores discos de Dylan e seu melhor disco desde Time Out of Mind, de 1997.
As duas faixas do final, no entanto, encerram a discussão. Além da imbatível “Murder Most Foul”, ele ainda nos presenteia com a gigantesca e contemplativa “Key West (Philosopher Pirate)”, única faixa com refrão no disco, que espreguiça-se também pelo século 20, citando canções e situações, perguntando se estamos procurando a imortalidade. “O que você está olhando? Não tem nada pra ver aqui”, resmunga irônico, em “False Prophet”, “você não me conhece, querida…”, explica como se estivesse mostrando onde devemos ficar – à vontade, ouvindo-o.
Previously, on Trabalho Sujo…
PJ Harvey – “Sheela-Na-Gig (Demo)”
Burt Bacharach + Daniel Tashian – “Bells of St. Augustine”
Crime Caqui – “Your Forehead”
Sharon Van Etten + Josh Homme – “(What’s So Funny Bout) Peace, Love and Understanding”
Michael Stipe + Big Red Machine – “No Time For Love Like Now”
Jarv Is – “Save the Whale”
Àiyé – “Pulmão”
Jair Naves – “Irrompe (é quase um milagre que você exista)”
Gang of Four – “Forever Starts Now”
Flaming Lips – “Flowers of Neptune 6”
Tika + Kika + João Leão + Igor Caracas – “Astronauta”
Zé Manoel – “História Antiga”
Cat Power – “Toop Toop (A Tribute to Zdar)”
Mano Mago – “Estrelas Mortas”
Angel Olsen – “New Love Cassette (Mark Ronson Remix)”
Chromeo – “6 Feet Away”
Poolside -“Around The Sun (Body Music Remix)”
Kassin – “Relax (DJ Memê Remix)”
Guilherme Held + Letieres Leite – “Sorongo”
Hatchie + The Pains of Being Pure at Heart – “Sometimes Always”
Elvis Costello – “No Flag”
Bob Mould – “American Crisis”
Black Pantera – “I Can’t Breathe”
Stooges – “T.V. Eye (Radio Edit)”
Com cromaqui e efeitos retrô, o Metronomy produz o clipe de uma das minhas faixas favoritas de seu disco mais recente, Metronomy Forever, e o clipe de “The Light” ainda ganha um trato brasileiro quando o VJ e editor Gabriel Rolim, que faz os vídeos dos shows dos Boogarins, assina a pós-produção do vídeo produzido durante a quarentena.