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De portas fechadas

Maron me cutucou ontem no Gtalk, pasmo, para dizer que a Virgin de Londres tinha sido fechada. Assim, do nada. Ele foi dar uma passada e, quando menos esperou, a loja havia fechado as portas. E não foi só ela, não – além da loja de Piccadilly Circus, outras 21 lojas da empresa, que mudou seu nome para Zavvi, fecharão as portas na Inglaterra. E não é só: até abril, a Virgin da Times Square, em Nova York, também venderá seus últimos discos para fechar logo em seguida. Desculpa é o que não falta: de problemas adminstrativos internos à inevitabilidade digital no consumo de entretenimento, passando pela sempre conveniente crise no mercado financeiro – qualquer coisa pode justificar o simples fato de que o fim das lojas de discos como conhecemos já está em curso.

Mesmo porque não vai ser só a Virgin…

Indiegraça

Um blog de MP3 começa a rascunhar um quadro da primeira década do século no pop brasileiro



Existe um pop brasileiro dos anos 00 como houve em décadas anteriores, que pode ser visto como uma geração? Além das viúvas da MPB, das bandas intermináveis dos anos 80, dos jingles da TV vendidos como música e das sobras da axé music, do pagode e da música sertaneja, existe sim uma cena independente sólida, com protagonistas (e até antagonistas), escalões, referências, discos clássicos, shows históricos, momentos de catarse e modelos de negócios e gestão. Por mais que pareça estar às brechas do grande mercado, todo esse cenário se comunica, se freqüenta e se conhece a ponto de não serem mais encarados como movimentos esparsos e isolados. Pra mim é cada vez mais evidente que veremos, nos próximos dez anos, estas mesmas bandas que começaram a dar seus primeiros passos no século 21 fazendo a história da música brasileira e, aí é mais torcida minha, tirar o vínculo de pop com a adolescência que ainda existe no país.

Porque, não sei se você já percebeu, se você faz, ouve ou gosta de música pop depois dos, hmm, chutando…, 28 anos, no Brasil, é automaticamente rotulado de imaturo. Toda rebeldia juvenil e graça descartável que movem o melhor pop desde seu nascimento são usadas como forma de rebaixar o ouvinte como tendo um gosto musical infantil – e que isso pode ser refletido no resto de suas ações. O estereótipo do roqueiro velho sem ter onde cair morto é rogado em discussões de boteco como se fosse praga e inevitavelmente são evocadas a rudeza, a simplicidade, a selvageria e o ruído do gênero como forma de denegri-lo. Seu interlocutor provavelmente se considera um “amante da boa música” e desfila discos de jazz e MPB como se exibisse vinhos, gravatas, charutos – enquanto você sabe muito bem o que ele poderia fazer com esse charuto.

É claro que esse elitismo chinfrim do “bom gosto adulto” existe fora do Brasil, mas aqui ele atende pela singela sigla de MPB. O “gênero”, inventado nos anos 70, é responsável por engessar a expansão de consciência da música brasileira entre o virtuosismo jazzista e o formato voz e violão, tratando a bossa nova como se fosse o segundo sopro de Deus. A partir dali, qualquer manifestação fora deste formato era visto como “primitiva” e “rústica”. Se ainda lembramos que, nos tempos da ditadura, a MPB era a trilha sonora de uma geração que se opunha fortemente à “dominação cultural” dos Estados Unidos, o pop ainda era rotulado de “produto capitalista” e “alienante”. E tome aspas.

Ou seja: ou você faz música pop ou você faz MPB. Ou faz música descartável, desimportante, de fácil aceitação mas de difícil retenção ou deixará seu legado para a história. Papo furado. Quem acompanha a produção musical brasileira sabe que o som que menos tem importância – e que é mais facilmente aceito – hoje em dia é a própria MPB. A onipresença de cantores de barzinho inclusive nas paradas de sucesso (afinal de contas, o que são artistas como Seu Jorge, Ana Carolina ou Jorge Vercilo?) é só a ponta do iceberg deste problema chamado MPB – se formos além, perceberemos que o número de combinações de regravações, parcerias e discos ao vivo é finito e teremos uma geração inteira que cresceu ouvindo mais músicas regravadas do que compostas em sua época.

Por outro lado, onde ouvir essa tal produção musical pop brasileira que eu digo que é tão madura e sofisticada quanto a MPB? Primeiro: ela não é tão madura e sofisticada quanto a MPB – nem sequer aspira a isso. Essa geração dos anos 00 junta dois aspectos do pop produzido na década anterior – a vontade de experimentar com todo os generos musicais que reuniam em um denominador comum bandas tão diferentes como Chico Science & Nação Zumbi, Raimundos, Skank, Planet Hemp e Graforréia Xilarmônica e a tentativa romântica e heróica de criar um mercado independente na marra que unia selos e bandas com nomes e refrões em inglês. Esse segundo ponto especificamente foi crucial na consolidação de um pop em caráter nacional graças à forma como esta cena abraçou a internet. Se muita gente ainda se empolga ao descobrir o funcionamento de redes sociais como o MySpace, saiba que a raiz disso já acontecia no Brasil há mais de dez anos – incluindo aí até a troca de MP3.

O que nos leva ao assunto que deu origem a todo esse meu blábláblá – o blog Freak To Rock You, que reúne apenas discos do pop dos anos 00 para download gratuito. Com uma longa carta de intenções em forma de um disclaimer, os quatro autores – que também tocam outro blog de discos em MP3, o Glamourous Indie Rock’n’Roll – pintam uma paisagem que claramente valida o que eu disse no primeiro parágrafo, tirando toda interferência do caminho. E assim, resgatam discos que nem sequer existem mais – pois saíram com tiragem pequena, foram lançados de forma caseira ou foi material retirado da internet – e os colocam ao lado de discos que muita gente só ouviu falar de seu lançamento, mas nunca pode ouvi-lo de fato.

Está tudo lá, desde nomes que freqüentam o mainstream (Nação Zumbi, Pitty, Los Hermanos e Cansei de Ser Sexy), a outros que já estão estabelecidos neste mercado independente (como Jumbo Elektro, Mombojó, Cascadura, Superguidis, Móveis Coloniais de Acaju, Vanguart, Gram, Lucy & the Popsonics, Cachorro Grande, Júpiter Maçã e Ludov), diversos coadjuvantes esforçados e até uns EPs, como o King of the Night do Copacabana Club, o Pra Onde Voam Os Ventiladores de Teto no Inverno? do Bidê ou Balde, o Onda Mortal do Cansei (com os mashups tocados ao vivo, hits dance mal-tocados e uma versão inacreditável pra “Humanos” do Tókyo) e um “fan pack” da Mallu Magalhães, com músicas que ela gravou antes de lançar o disco (além de “10 fotos em HD” – uia). Dá até pra tentar adivinhar o gosto de cada um dos quatro a partir de seus posts (me corrijam se eu estiver errado): o Henrique é mais completista indie um tanto conservador, a Hay curte o som quando dá pra dar uma dançadinha, o Lucas é mais pop e curte canções e o мaяv é o gaúcho da história.

Pode até ter alguém que chie para tirar seu disco do blog (eu bem que queria saber quem…), mas é como pedir para sair de uma foto oficial da década, que já está quase chegando à sua pose final. Olha a responsa, hein!

E o Little Joy em Araraquara?


Click. Wind. Repeat.

É sério. Ainda sobre a banda de Amarante e Moretti, ainda sobrevoando o Sobremúsica: a turnê do Little Joy segue crescendo de tamanho e incluiu a primeira cidade que não é capital de estado no trajeto. Do jeito que as coisas andam, periga até eles barrarem a histórica turnê do Information Society no Brasil nos anos 90, que teve data até em Santarém.

Hoje tem Supercordas em São Paulo

Hoje começa o festival que a Alavanca está realizando no Centro Cultural São Paulo e quem abre as apresentações, pontualmente às 19h, são os Supercordas, do Rio (maldita pontualidade – mais um show dos Cordas que eu vou perder). No show eles vão tocar músicas do segundo disco, que estão finalizando – entre elas a ótima “Mágica”, que tem um videozinho aí em cima. Mas se você perder o show de hoje, domingo o Bonifrate – um dos Supercordas – se apresenta em versão solo no Café Elétrico. E, pra mim, esse cara lançou o melhor disco de 2007… Olha o nível:

Mais Olly…

E tem essas outras estampas camisetas que ele fez…

Frank Jorge 2009

Frank Jorge está com disco novo na praça e, mesmo tendo sido lançado no finzinho de 2008, entra na minha contagem como sendo de 2009 (mal aê, Frank, a lista já tá fechada :P). Volume 3 segue a saga inaugurada no histórico Carteira Nacional de Apaixonado, com suas letras confessionais e cançonetas pop para serem cantadas por qualquer um. Às primeiras audições, o principal diferencial que notei é a ênfase maior no aspecto latino do álbum, que já dava um molho nas faixas do disco anterior, Vida de Verdade (“Não Pense Agora” me lembra “Quizás, Quizás, Quizás”). Mas Volume 3 é só mais um veículo para o aguçado senso pop do velho Frank, que, além de um precioso tino para a canção, ainda consegue soltar pérolas de sabedoria como “Elvis mesmo decadente é bem melhor que muita gente”, “tudo o que eu queria era entender porque as bandas dos anos 80 estão sempre em nova turnê”, “Tiradentes foi dentista” ou “veja bem rapaz você nunca deve duvidar de uma garota quando quer amar” no meio de suas letras. O Mini acompanhou tanto o processo de maturação quanto o lançamento do disco e fala um pouco mais sobre a nova fase de Frank Jorge.


Frank Jorge – “Eu Demiti um Amigo


Frank Jorge – “O Que Sobrou do Mundo

Uma sexta-feira, um mashup

Um não, vários. Pra começar, Kylie Minogue com Twin Peaks.

Depois, Crystal Method com Eraserhead:

E que tal Beatles com Veludo Azul?

É, não é coincidência. O projeto Mashed in Plastik é dedicado a fundir trechos e músicas da trilha sonora de filmes de David Lynch.

Tem outros vídeos aqui, ó. E eu ia falar umas coisas sobre o velho Lynch (bem ou mal, ainda no clima da retrospectiva, mas essa semana tá foda (manja “retrabalho”?), então deixa pra semana que vem.