Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
“Baunilha, morango…”, parece ser um jeito estranho de assumir uma guinada, mas é assim que o Fujiya & Miyagi caminham aos poucos rumo à uma popularidade maior – para frustração dos indies e felicidade da pista de dança. Mas sem delírio eletrônico – a pegada aqui ainda é o bom e velho krautrock em que o F&M construiu sua casa – a tensão rítmica e repetitiva sussurrando riffs, deslizes de baixo e uma letra que mistura a maçã bíblica com o fantasma de uma modelo infantil. E não é um movimento isolado, como talvez tenha sido seu primeiro espasmo rumo ao pop, a deliciosa “Collarbone” – afinal, além de “Knickerbocker” funcionar como introdução para um disco estável (Lightbulbs, também deste ano), o quarteto ainda desequilibrou o melhor momento do disco do Bomb the Bass desse ano, em “Butterfingers”. Preste atenção que, em um próximo disco, com mais um hit redondo desses, eles saem de seu gueto.
34) Fujiya & Miyagi – “Knickerbocker“
O programa de hoje fala de como foi a Macworld e a CES deste ano, além de falar com um blogueiro que está na Faixa de Gaza, de sincronização entre celular, laptop e notebook e de uma visita ao escritório do Al Gore na Current TV. No som, temos Memento, Elizeth Cardoso, Smoke City, Benji Hughes, mashup de Radiohead com Kanye West e Ruído/mm. O Link Eldorado vai ao todo domingo, às 21h, na rádio Eldorado de São Paulo.
…quanto tempo você consegue assistir isso?
Alguém precisa dar um toque na menina, tem limite pra tudo…
Num extra de DVD desses, bem antes de assumir o relacionamento com a moça. Interessante. Mas a parte dos Racionais eu juro que não entendi.
Lançada no fim do ano passado, a colaboração inusitada do cantor malawiano Esau Mwamwaya e da dupla eletrônica Radioclit ficou a alguns milímetros da contagem dos melhores de 2008 que eu retomo sem falta a partir de amanhã. Colaborador de Evison Matafale, o Bob Marley do Malawi, que morreu em 2001, Esau morou na capital de seu país Lilongwe até 1999, quando mudou-se para Londres e abriu uma loja na mesma rua em que, anos mais tarde, a dupla franco-sueca Radioclit montaria seu estúdio. Até que um dos integrantes da dupla comprou uma bicicleta de Esau e, papo vai, papo vem, descobriram-se apaixonados por música e cogitam uma colaboração. Assumindo o nome de Very Best, lançaram alguns remixes ou releituras de hits indies da blogosfera gringa, quase sempre com Esau em primeiro plano, cantando na língua cinianja, de seu país. O resultado é mais uma grupo a engrossar o coro do revival de world music (no sentido quase pejorativo do termo) que vem acontecendo atualmente – um escopo que abrange bandas tão diferentes quanto o Vampire Weekend, Do Amor e Animal Collective e que resgata o tempo em que Bob Geldof, Paul Simon, Peter Gabriel e Sting tinham sua importância renovada ao mirar seus olhos e ouvidos para a música do terceiro mundo. A diferença é que os Very Best não sampleiam nem recriam ou citam: eles têm o elemento que é o “real deal”, o próprio Esau. E seu suíngue manhoso e presença sossegada é tão dominante quanto sua voz e idioma, que dança sobre bases da dupla européia que deita samples de M.I.A. e Cannibal Ox, reggaeton e kuduro, sugerindo refrões dos Beatles, de Michael Jackson e Santogold. E isso só é a mixtape – eles estão gravando material inédito. Vem por aí coisa finíssima.
Esau Mwamwaya and Radioclit are The Very Best
1) Kamphopo (vocals: Esau Mwamwaya, music: Architecture In Helsinki – Heart It Races)
2) Wena (vocals: Esau Mwamwaya & Bleksem, music: DJ Cleo – Wena)
3) Tengazako (vocals: Esau Mwamwaya, music: M.I.A – Paper Planes)
4) Chikondi (vocals: Esau Mwamwaya, music: Hans Zimmer – True Romance Theme)
5) Cape Cod Kwassa Kwassa (The Very Best Remix) (vocals: Esau Mwamwaya, music: Radioclit & Vampire Weekend)
6) Hide And Seek (vocals: Esau Mwamwaya & Teki Latex, music: TTC – Batards Sensibles)
7) Salota (vocals: Esau Mwamwaya and Blk Jks, music: Cannibal Ox – Life’s Ill)
8) Boyz (vocals: Esau Mwamwaya, Akon & M.I.A, music: M.I.A -Boyz)
9) Sister Betina (vocals: Esau Mwamwaya & Mgarimbe, music: Mgarimbe – Sister Betina)
10) Birthday (vocals: Esau Mwamwaya & The Ruby Suns, music: The Ruby Suns)
11) Funa Funa (vocals: Esau Mwamwaya, music: Radioclit)
12) Kada Manja (classic version) (vocals: Esau Mwamwaya, music: Radioclit)
13) Dinosaur Of The Lost Ark (The Very Best remix) (vocals: Esau Mwamwaya & Ben Brewer, music: Bermuda)
14) Get it Up (The Very Best Remix) (vocals : Esau Mwamwaya, Santogold, M.I.A & Northern Cree, music: Radioclit)
15) Will You Be There (vocals: Esau Mwamwaya & Michael Jackson, music: Michael Jackson – Will You Be There)
***
E assim a sessão “Mixtape de Sábado” muda de nome: “On the Run” é o nome da nova sessão, todo domingo, com músicas que ganham novo sentido ao enfileiradas uma atrás da outra. Como sábado agora é dia de folga, a seção veio para o domingo e eu não queria outra “seção do domingo” com o nome do dia da semana no título para atritar com as “Palavras para o Domingo“. O próprio termo “mixtape” não era de todo preciso – às vezes a obra é uma peça só como “45:33” do James Murphy ou uma sucessão de samples ou bases anônimas, venha como um imenso mashup ou como um DJ set. Fora que “On the Run” homenageia o Pink Floyd enquanto aciona nominalmente um meus dos planos para 2009. Mas a numeração continua a mesma. Simbora!
A notícia já vinha circulando à boca pequena e o Bruno confirmou nesse domingo: a nova banda a entrar na escalação do show do Radiohead em março no Brasil é ninguém menos que o Los Hermanos fazendo seu primeiro show após o “tempo”, que o grupo se deu no meio do ano retrasado. Bom, hein…?
Eis ela aqui de novo, ao lado da mesma Lúcia do Cilibrinas, mandando uma versão em inglês para “Mamãe Natureza” em um especial que a cantora fez para a Globo no início dos anos 80.
Falando em Rita Lee anos 70, muita gente já ouviu falar mas pouca gente ouviu o disco do primeiro projeto solo de Rita logo que saiu dos Mutantes. Enquanto os meninos brincavam de rock progressivo nos idos de 72, Rita, entediada, procurava o que fazer – e a idéia original de seu projeto paralelo era uma banda formada apenas por mulheres. Sem conseguir concretizar a idéia, ela juntou-se com a amiga Lúcia Turnbull e juntas formaram a dupla Cilibrinas do Éden, cuja estréia foi agendada para o dia da inauguração do palácio de convenções do Anhembi e o show foi um desastre, graças ao fato do público ser basicamente dos Mutantes (que tocavam rock pesado, longe do som light da dupla) e porque Lúcia, ao ver a multidão, travou de medo no palco.
Mesmo com o fiasco do show de estréia, a dupla gravou um disco que, depois de pronto, foi engavetado. O disco não é um primor como tudo que vinha com o selo de qualidade Mutantes da época e parece mais uma brincadeira de meninas com rock’n’roll do que propriamente um disco de verdade. O grande momento é, de longe, “Mamãe Natureza”, que Rita regravaria discos mais tarde, com o Tutti Frutti – banda que, aliás, é quem toca com as Cilibrinas em seu único álbum. Entre o glam rock, experimentalismo de araque (dá-lhe theremin!), musicalidade beatle e simpatia juvenil, Cilibrinas do Éden é um disco simpático e divertido, como deve ser um projeto paralelo. A lenda diz que o disco foi suspenso pelo próprio André Midani – o que levou Rita a juntar-se com outro recém-desafeto do produtor sírio-francês, Tim Maia, e destruir o escritório do executivo da gravadora. Mas boa parte do repertório do disco foi aproveitado por Rita em outras situações: “Nessa Altura dos Acontecimentos” apareceu em uma coletânea no início dos anos 80, “Bad Trip” virou “Shangri-lá” anos depois, “Mamãe Natureza” foi a única música aproveitada no disco seguinte de Rita, Atrás do Porto tem uma Cidade, “Gente Fina é Outra Coisa” virou “Locomotivas”.
Essa faixa, inclusive, tem uma história engraçada com a censura da época. Sua letra (“Não vá se misturar/ Com esses meninos cabeludos que só pensam em tocar/ E você escuta o papai dizendo/ Que gente fina é outra coisa… Hoje mesmo te vi/ pensei que fosse seu pai/ Não, não, não, mas que decepção/ Eu fiquei triste de ver/ A sua vida começando pelo lado errado”) foi interpretada da segunte forma pelo censor José do Carmo Andrade num documento de 30 de agosto de 1973: “Na letra em exame, uma jovem insurge-se contra o pátrio-poder, ao tentar persuadir um amigo a desacreditar de seu pai para juntar-se a um grupo juvenil de comportamento duvidoso. A mensagem é negativa e induz aos maus costumes”.
Mas não ter sido lançado oficialmente fez com que o disco ganhasse aspectos de culto e ares mitológicos, que não fazem jus à qualidade nada épica do disco – que foi relançado ano passado na Europa em vinil e em CD, graças à iniciativa de um grupo de brasileiros morando no exterior. O mesmo grupo também montou um MySpace para o disco, que ainda conta com informações sobre a banda Persona, o grupo de Lee Marcucci e Luís Carlini que depois se tornaria o Tutti-Frutti. O versão européia do disco das Cilibrinas ainda conta com duas faixas extra: uma demo para “Hoje é o Primeiro Dia do Resto de sua Vida”, do último disco que Rita gravaria com os Mutantes, e “Mande um Abraço para Velha”, da fase final do grupo, que só saiu em compacto.
Rita Lee anos 70 é muito foda…
Abri a janela
Um som diferente entrou
Meus olhos mudaram, eu sei
Ou foi o sol que mudou, babe
O som das nuvens
A conversa do vento
A voz dos astros
A história do tempo
O som das estrelas
A música do luar
Contando em segredo, eu sei
Contando todo o meu medo, babe,
O som das flores
O murmúrio do céu
Me deram um toque
Quem tem ouvidos que ouça
Você é uma criança do universo
E tem tanto o direito de estar aqui
Quanto as árvores e as estrelas
Mesmo que isto não esteja claro para você
Não há dúvidas
Que o universo segue o rumo
Que todos nós escolhemos